Atividade judaica na visão ampla do terceiro setor

Edda Bergmann1

A B’nai B’rith é a maior entidade judaica internacional de Direitos Humanos. Existe há 157 anos e atua em 58 países, tendo assento na ONU e em vários organismos internacionais das áreas cultural, assistencial e política.

Tem lutado por um mundo melhor, mais equitativo e mais justo para todos.

A B’nai B’rith do Brasil visa promover o desenvolvimento humano, cultural, social e solidário em nosso país.

Criada sob a égide das ideias democráticas de liberdade, surgiu no Brasil quando os cerceamentos do individual e do coletivo, as ameaças à vida e à sobrevivência do judaísmo se acirraram na Europa com o advento do nazismo na Alemanha e o início da ascensão política de Adolf Hitler ao poder em 1931, e quando as perspectivas sombrias de uma II Guerra Mundial toldavam o horizonte.

O resgate de sua história é algo muito importante para as novas gerações.

Procurou salvar vidas humanas e salvaguardou princípios éticos, morais e religiosos de um mundo em chamas que desmoronava, ajudando na formação das principais entidades judaicas brasileiras.

Nasce com vocação para a modernidade e formação da cidadania participativa.

É nessa direção que ela tem se organizado. A partir do conhecimento da nossa realidade socioeconômica, cultural e política tem orientado sua dinâmica de atuação acompanhada de um contínuo desenvolvimento e aprimoramento.

Deve ser um marco na construção da democracia brasileira, na formação de uma inteligência criativa e na integração entre a comunidade judaica brasileira e a sociedade ampla.

Viabiliza parcerias com outros setores desta mesma sociedade e para isso aperfeiçoa constantemente sua capacitação com mecanismos de mobilização de pessoal e de infraestrutura para prestação de serviços com técnicas de aprimoramento.

Promove, através de suas Lojas e grupos de atuação, o acesso ao conhecimento e à capacitação.

A área de Direitos Humanos é o centro e o polo orientador de análises, articulações e ações bem como de aconselhamento e de atuação política não partidária.

Desenvolve-se na luta incessante contra a discriminação, o racismo, e o cerceamento de direitos a quem quer que seja.

Mobiliza-se contra a pobreza, o descalabro social, as diferenças inaceitáveis, a miséria, a fome, a falta de acesso aos bens da civilização e do conhecimento, às necessidades básicas, enfim, de um ser humano completo e aos seus plenos direitos de cidadão feliz e realizado no desenrolar da sua vida no planeta terra.

Os direitos da criança, do adolescente, do idoso, do deficiente, do incapacitado, constituem uma de suas preocupações básicas.

A saúde mental e física, o desenvolvimento harmonioso no crescimento individualizado do ser humano rumo a um destino menos cruel e a uma vida digna faz da valorização dos fatores individuais e coletivos um dos seus pilares de atuação em prol da vivência completa e saudável, promovendo o acesso aos bens culturais.

Na consolidação de sua autonomia como entidade não governamental sem fins lucrativos, está capacitada para conseguir recursos através de esforços coordenados de um planejamento capaz de manter o elevado padrão de qualidade de sua atuação diversificada.

À entidade compete também divulgar o potencial cultural e moral judaicos e desenvolver uma imagem positiva do judeu e do judaísmo, de seus valores éticos e morais, sua solidariedade como cidadão consciente de seus deveres e de sua atuação participativa, de sua colaboração em compasso com o mundo e como parte integrante deste mesmo mundo.

A fraternidade é um dos pontos mais fortes da instituição e sua área de ação alcança a todos.

A B’nai B’rith escolheu como símbolo o Candelabro de 7 braços, a Menorah, o mais antigo símbolo judaico. Cunhada por Bezalel durante a travessia do Êxodo no deserto acompanhou a Arca Santa em todas as suas andanças. Levada pelo rei Salomão ao Templo de Jerusalém, hoje existe um exemplar em cada sinagoga.

Quando da 1a estada do Papa João Paulo II no Brasil entregamos-lhe como símbolo do convívio entre as religiões um exemplar de prata criado pelo arquiteto Lívio Levi, e a Dra. Zilda Arns, ao receber a medalha de Direitos Humanos da B’nai B’rith brasileira, em fins de 1999, recebeu também uma Menorá como marco do reconhecimento pelo seu imenso trabalho em prol da vida, da justiça e contra o descalabro da elevada taxa de mortalidade infantil.

A Menorá simboliza a luz e a vida. Quando uma mulher dá à luz, dá a vida a um novo ser humano. Seus 7 braços representam: Luz, Justiça, Paz, Verdade, Beneficência, Fraternidade e Harmonia, preceitos estes que indicam opções e valores a serem defendidos e trabalhados em prol da humanidade em geral e do ser humano em particular.

A B’nai B’rith brasileira desde os seus primórdios atuou na área de Direitos Humanos, tanto no sentido do resgate de vidas humanas oprimidas pelas ditaduras, quanto na área de solidariedade e auxílio às carências de pessoas necessitadas, refugiadas, a fim de reintegrá-las no processo produtivo e na vida atuante do dia-a-dia.

Assim é que criou a Gota de Leite B’nai B’rith, que se transformou pela união com outros grupos de trabalho no que é hoje a Unibes, entidade modelo na área de serviço social, que atua em parceria, inclusive, com a Comunidade Solidária e que acaba de receber o prêmio de “Bem Eficiente” da Fundação Kanitz & Associados S.A.

Ao completar 70 anos de existência no Brasil, podemos dizer que a entidade sempre atuou na defesa da democracia, de uma democracia compartilhada e vivida dentro do âmbito de respeito à pessoa humana, ao seu desenvolvimento e adequação.

Na promoção da cidadania, da solidariedade e de valores e princípios enaltecedores do indivíduo e de sua inserção na sociedade ampla, na visão de que a exclusão e a marginalização não promovem a existência de uma sociedade justa e equitativa.

Há 18 anos promove um programa em escolas da periferia de São Paulo, visando sanar e detectar problemas de visão, buscando a adequação da criança ao desenvolvimento e sua capacitação ao estudo, através de consultas de oftalmologistas, da distribuição de óculos, quando necessário e de cirurgias de recuperação da visão.

Tem atendido a mais de 22.000 crianças e continua atuando neste setor, partindo da premissa de que a saúde integral é um direito da criança e que o estudo e o aproveitamento do ensino não é plausível sem uma visão completa.

A distribuição de material escolar em escolas que dele necessitam para adequação do ensino, com distribuição regular de kits de material individual para cada criança, o que, geralmente, os pais não podem fazer com seus poucos recursos, que mal dão para o sustento alimentar da família.

A montagem de bibliotecas escolares infanto-juvenis para incentivo à leitura e ao desenvolvimento integrado da criança e do jovem, tão atingidos pela disseminação da violência e dos programas negativos da televisão, promovendo o contato com valores universais, com o desenvolvimento do sonho, do belo e dos anseios que não fazem parte de suas vidas sofridas e mal-adequadas à uma sobrevivência difícil; também é preciso poder e saber sonhar para algum dia conseguir transformar estes sonhos em realidade.

Numa tentativa de não marginalizar o adolescente da periferia da cidade grande tão atingida pelos desvios comportamentais das gangues e das drogas.

A montagem de brinquedotecas infantis em hospitais como a Santa Casa de São Paulo, onde a criança internada se recupera mais facilmente ao poder utilizar brinquedos que desenvolvam sua criatividade e vontade de sarar e de viver uma vida feliz.

Brinquedotecas em pronto-socorro infantil, onde a criança também permanece, às vezes por tempo prolongado, lutando pela sobrevivência em ambientes muito deprimentes e desencorajadores. O incentivo à recuperação mais rápida e mais eficiente.

Quanto vale o sorriso de uma criança? A montagem de brinquedoteca infantil em cadeia pública de mulheres, onde os pequenos compartilham das celas com as mães detentas num ambiente terrivelmente negativo para o desenvolvimento infantil rumo a uma vida adequada e nos moldes de convivência normal. Experiência em Porto Alegre.

A distribuição de leite para recém-nascidos, cujas mães, portadoras de AIDS, não podem e não devem amamentar a criança, com risco de torná-la infectada por essa doença incurável.

Através de uma campanha bem estruturada e completa, a entidade promoveu um estudo em relação às carências do interior do Ceará e chegou à conclusão que a mortalidade infantil aumentava no período das águas, ou seja, era maior em época de chuva que em época de seca.

Ao verificar as causas, percebeu-se que, apesar da água clorada e desinfetada dentro dos potes de barro, a inserção de uma caneca ou de uma concha com a mão suja e de objetos não adequados em termos de limpeza, contaminava a água para beber e o pote aberto facilitava a criação de mosquitos portadores do dengue.

Foi assim que a B’nai B’rith do Brasil se engajou numa campanha chamada das Torneirinhas e forneceu 250.000 torneirinhas que foram instaladas nos potes de barro das famílias interioranas em grande número de municípios do Ceará. E acompanhando o trabalho foi possível verificar o grande decréscimo na taxa da mortalidade infantil e na propagação da Dengue.

A entidade tem ajudado a fundação dos cegos, inclusive importando de Israel há alguns anos a primeira máquina de escrever para as pessoas carentes de visão.

Ajuda o hospital do Câncer em várias ocasiões, inclusive no momento, com a doação de lençóis e fronhas.

Doações em espécie e serviços para entidades que distribuem alimentos em quentinhas para a população carente.

Apoio e doações continuadas a orfanatos e adequação às suas necessidades de sobrevivência, para superar a crise econômica que o país enfrenta. Realiza campanha dos agasalhos, cobertores e mantimentos, sempre que necessário, para vítimas de enchentes, desabrigados ou calamidades públicas.

O quanto vale uma amizade?

Realmente não tem preço!

Partindo desta premissa, a B’nai B’rith mantém e desenvolve há muitos anos a Tarde da Amizade para pessoas idosas, em tardes recreativas e de convívio social em ambiente especialmente preparado para um gostoso chá completo, com atividade cultural e social.

Mantém ainda e desenvolve um excelente coral, que proporciona satisfação e atualização musical a seus integrantes e satisfação plena à entidade.

A B’nai B’rith do Brasil tem uma Editora, que publica uma revista trimestral de altíssimo nível e a distribui por todos os rincões deste imenso Brasil.

Entidade composta por voluntários, que dedicam e desenvolvem seus esforços de atuação em tudo o que foi relatado acima em termos de Brasil, e que está estruturada nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Campinas, como polos principais, mantendo contato com Brasília e Belém.

Em suas ligações internacionais se ocupa com o Bem Estar do Menor, a capacitação do jovem para o mercado de trabalho, a melhora no desenvolvimento da infância e nos programas de desenvolvimento sustentável que não firam o ecossistema do planeta Terra.

Acompanha o desenvolvimento científico na erradicação de doenças e no exercício pleno dos direitos individuais e coletivos.

Luta pelo entendimento entre os povos e as nações e pela compreensão plena e o desenvolvimento de amizade recíproca entre as religiões em termos de diálogo inter-religioso em alto nível sem premissas conversionistas e discriminatórias.

Atua no conselho de Fraternidade Cristão Judaico, do qual é uma das fundadoras e na Comissão do Diálogo Católico Judaico da CNBB.

Acompanha os trabalhos do CLAI (Conselho Latino-Americano de Igrejas Evangélicas), do Conselho Mundial de Igrejas às andanças Vaticanas, desenvolve esforços rumo a uma identidade comum do ser humano perante a natureza e as origens de um mundo criado.

Parte da premissa de que todos os homens são iguais, com iguais direitos e iguais deveres e de que a consciência é a maior dádiva divina que o ser humano possui.

Defende o direito a uma vida saudável, com educação e oportunidades de trabalho, de realização pessoal, de desenvolvimento de aptidões.

A Alimentação Alternativa, programa de preparação de alimentos ricos em proteínas e sais minerais, elaborados de forma simples com as partes das verduras, cascas e leguminosas geralmente desprezadas nas feiras livres, com a cabeça de peixe, a casca do ovo, a casca da banana, da batata e outras; numa apresentação agradável à vista e de paladar gostoso e até sofisticado.

Ensinando às mães das crianças das escolas e das creches e às mães carentes em geral, fazendo com que sua família se torne mais bem alimentada, a baixo custo financeiro.

Este programa entra no espírito do desenvolvido pela pastoral da criança, sob a exímia e competente batuta da Dra. Zilda Arns.

Empreendeu também a entidade um Programa de Combate ao uso de Drogas para crianças e adolescentes, que chegou a ser um empreendimento em parceria com o governo em Curitiba, Campinas e teve grande repercussão em São Paulo.

Trata-se de um preparo para os pais se comunicarem melhor na abordagem de seus filhos e dialogar com eles de maneira franca e aberta sobre os perigos da utilização de drogas e entorpecentes, que geralmente lhes são oferecidos por colegas da mesma faixa etária, pessoas que às vezes até convivem com eles, ou por influências de envolvidos com o vício.

Nada é melhor do que o diálogo entre pais e filhos em ambiente de amor e carinho, com firmeza, de maneira clara e sem subterfúgios.

A melhor forma de querer bem a seus filhos é adverti-los a tempo, antes que seja tarde demais.

A B’nai B’rith do Rio de Janeiro tem em andamento um belíssimo projeto chamado Voluntários da Aliança. Convém lembrar que o nome da entidade significa Filhos da Aliança; da primeira Aliança feita por Abrão com Deus de seguir os preceitos de um Monoteísmo Ético e Absoluto.

É o surgimento da ideia da existência de um Deus único e igual para todos.

E o pacto de Abrão com Deus de se transformar no pai de um grande povo e numa benção para a humanidade inteira.

O judaísmo é teocrático, mas não é teocêntrico, ou seja, coloca Deus e o Homem numa mesma linha de relacionamento, no sentido de que o ser humano é participe na Criação. O mundo não foi criado perfeito. Cabe ao homem aperfeiçoá-lo, a cada um de nós, em separado e em conjunto.

Esta é a Base Ética e Moral do termo:

– Direitos Humanos: compete a cada um zelar por eles e ser o guardião, para que todos possam promovê-los, utilizá-los e usufruí-los.

O ser humano também não foi criado perfeito, e é na ajuda mútua, na transmissão de conhecimentos, na capacitação e no desenvolvimento de aptidões inatas, na adequação a interesses adquiridos, no desenvolvimento de atividades construtivas, na complementação e na criação de motivações, na convivência e na solidariedade que ele deve se aperfeiçoar.

Os Voluntários da Aliança lidam com a constituição de cooperativas, microcrédito, banco de empregos, capacitação e recapacitação profissional, atendimento médico gratuito a famílias que não conseguem mais pagar os planos de saúde e outras áreas congêneres.

Neste sentido, atua também a B’nai B’rith Latino-americana nos países que abrange, com muito afinco, dedicação e resultados positivos.

A organização se compõe de voluntários, tendo iniciado com voluntários do sexo masculino, conta hoje principalmente com a participação de casais, ou com trabalho de pessoas de ambos os sexos.

Participando, através de sua área específica de Direitos Humanos, da elaboração da Constituição Brasileira em vigor, no que tange aos direitos das minorias e à área de combate ao racismo e à discriminação em seu sentido abrangente.

Esteve atuante e participativa na elaboração de todas as leis que se referem a esta área tão importante dos direitos do cidadão, como na lei “Afonso Arinos”, na lei “Ibsen Pinheiro”, na lei “Alberto Goldman”, e na lei “Paulo Paim”, que é um exemplo claro e inequívoco para muitos outros países do mundo.

Foi uma honra para nós ter recebido em nossa sede nacional o nobre Deputado Paulo Paim para receber uma homenagem e nos apresentar detalhes da lei que leva o seu nome e que é um exemplo de respeito à cidadania plena e participativa dos direitos do indivíduo na sociedade brasileira.

A B’nai B’rith entrega de dois em dois anos, em sua Convenção Nacional, uma medalha de Direitos Humanos à personalidades nacionais que se destacaram em atuação nesta área, em cerimônia pública sempre muito concorrida e prestigiada, sendo que o nome da pessoa a ser agraciada é escolhido por votação em pré-convenção na qual participam Irmãos e Irmãs de todo o Brasil.

O combate ao neonazismo e a suas premissas discriminatórias contra judeus, negros, estrangeiros e outros grupos é prioritário, bem como a defesa do direito à liberdade de expressão e de participação do indivíduo nos destinos do país, dentro de um regime de estabilidade democrática, de respeito pela opinião do outro e do direito de ser diferente, de pensar de forma diferenciada e de atuar dentro dos seus princípios da vida.

A liberdade de pensamento e a liberdade religiosa são pontos intocáveis dos princípios defendidos pela organização no Brasil e no mundo.

Participamos de forma atuante da Eco 92, no Rio de Janeiro, na qual a B’nai B’rith brasileira representou o Board of Jewish Organizations.

Assuntos como os direitos da mulher, no Fórum do Flamengo, o entrosamento das religiões junto ao Dalai Lama, a apresentação da experiência dos princípios da alimentação alternativa para as representantes dos países africanos, mereceram todo o nosso empenho.

A agenda 21 da defesa do Ecossistema, a preocupação com um desenvolvimento sustentável, com a sobrevivência de uma vida saudável no Planeta Terra.

A preocupação com a natureza, com a despoluição e o abastecimento de água para todos os povos, o direito à erradicação de doenças, fizeram parte das temáticas abordadas.

A B’nai B’rith promove simpósios, cursos, palestras nas mais variadas áreas do conhecimento e, através de debates, procura envolver várias faixas etárias numa atualização constante e no desenvolvimento de interesses os mais variados e abrangentes.

Esta é a B’nai B’rith que nós vivenciamos no dia-a-dia, a cada hora e a cada minuto. Uma organização a serviço do mundo.