Educação para o diálogo
Somos todos chamados a cooperar na promoção da paz, da justiça, dos direitos humanos, da concórdia e do respeito à vida. O diálogo é o meio por excelência e prioritário que abre aos valores universais e à Transcendência.
O Papa João Paulo II declara que o diálogo “é uma atividade que apresenta motivações, exigências, dignidade própria” (Redemptoris Missio, 56); através dele pretende-se fomentar o potencial unificador e libertador de toda religião, mostrando assim a relevância da religião para o bem-estar humano, a justiça e a paz mundial. Os fiéis de outras religiões são nossos próximos; os elementos comuns de nossas heranças religiosas e de nossos empreendimentos humanos nos forçam a estreitar os laços, baseando-os em valores éticos universalmente aceitos. Ser religioso hoje equivale a ser interreligioso no sentido de que a relação positiva com os fiéis de outras religiões é uma exigência num mundo onde existe pluralismo religioso. O diálogo estende a mão ao mistério de Deus ativo nos outros.
A pessoa humana é digna de respeito e em como tarefa a autorrealização, assumindo, como sujeito, sua condição corporal e psíquica, graças ao sentido que confere à sua existência. O ser humano é digno de respeito porque, não nascendo pronto, tem o direito de percorrer o seu itinerário singular, buscando na liberdade um sentido para a sua vida.
A pessoa define-se também pela reciprocidade, traço que tem suas implicações na compreensão da dignidade humana. A pessoa humana constitui-se na relação com o outro. Nesse sentido descobre-se a própria dignidade, quando se reconhece essa mesma dignidade espelhada no outro. O respeito à dignidade acontece no mútuo reconhecimento e responsabilidade recíproca. Violar a dignidade do outro significa negar a própria.
A escola, como instituição de cultura, é articuladora de todo e qualquer processo de educação que promova o reencontro da razão com a vida. Ela abre perspectivas para a evolução diferencial do Eu e de sua determinação subjetiva para a relação interativa global do Nós. O seu compromisso é abrangente. Envolve a sociedade por inteiro, oferecendo-lhe princípios, critérios, horizontes amplos, concepção de valores, mecanismos que favoreçam a qualificação da vida, em vista da inserção e da integração de pessoas num mundo concreto, com desafios a superar, espaços a conquistar e projetos a construir.
A inserção dos valores fundamentais da vida no contexto global da educação visa tornar as relações do saber mais solidárias e participativas, ajudando a descobrir instrumentos eficazes para a compreensão e a ação transformadora da realidade social. Devemos contribuir na formação de atores sociais sensíveis às diferenças e leitores críticos da realidade, capazes de agir de modo a concretizar uma ética humana e social.
A pluralidade é uma característica da pós-modernidade. Nos estabelecimentos de ensino ela está realmente presente, inclusive na dimensão religiosa, nos impulsionando a ver o quanto é possível conviver com as diferenças, crescendo com elas, não tendo assim uma postura que impeça a aceitação do outro. Ao contrário, leva cada indivíduo a reafirmar sua própria identidade.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’S – têm uma clara intenção de fornecer elementos de reflexão para que as escolas se encaminhem, cada vez mais, em direção a um processo educacional includente, mostrando que a diversidade e a pluralidade são riquezas a serem compartilhadas. Propõem conteúdos relacionados às situações e acontecimentos do dia-a-dia e geradores de outros valores, como a honestidade, a justiça, a solidariedade, a gratuidade, o respeito, a responsabilidade, o amor, a esperança e outros. Na dimensão antropológica mostram a importância de uma relação consigo mesmo, com o outro, com o Transcendente, procurando despertar para a sensibilidade diante de situações desumanas, que ferem a dignidade humana.
Nas escolas é necessário articular as disciplinas, construir o texto escolar. Ser cada um capaz de realizar ações de integração. É fundamental superar uma pedagogia fragmentária e fragmentada, em que o ensino analisa o conhecimento em si e não em suas múltiplas relações. Trabalhar com projetos propicia um percurso interessante, pois é dada a ênfase ao que se quer ensinar em um currículo interdisciplinar. A construção de uma prática interdisciplinar contém como subtexto a percepção da diferença, a admissão da falta, do limite, da complementaridade e, ao mesmo tempo, a busca discriminada da tarefa comum.
Saber ler a história é uma conquista de sensibilidade por parte dos profissionais de educação, pois o processo escolar não é algo descontextualizado.
A linguagem é a maneira que o ser humano criou para se relacionar com o mundo. Ela faz a humanidade ser e dialogar, possibilitando ao homem situar-se no tempo e no espaço.
O diálogo com o mundo através da linguagem só é possível porque, para produzir condições necessárias à vida, são desenvolvidas ao mesmo tempo ações que transformam a realidade. O resultado individual e coletivo dessas ações permite à humanidade apropriar-se do mundo.
A pessoa humana precisa ter em mente as seguintes vertentes/ disposições:
- o diálogo da vida, que requer espírito de abertura, de troca, compartilhando alegrias e dores, tudo o que fez parte da experiência da vida humana;
- o diálogo da ação, que visa ajudar na libertação de pessoas, para que a existência delas possa ser integrada e integradora;
- o diálogo da experiência religiosa, que aceita as tradições religiosas e compartilha suas riquezas espirituais, como fé e busca do Absoluto, oração e contemplação;
- o diálogo do intercâmbio teológico, que aprofunda a compreensão de suas respectivas heranças religiosas e aprecia os valores espirituais uns dos outros.
Para um terceiro milênio mais pacífico e mais solidário é necessário romper com qual-quer resquício de intolerância. Reconhecer o pluralismo é condição básica para o verdadeiro diálogo inter-religioso. Diálogo implica numa interlocução de pessoas que se comunicam com a totalidade de sua fé, que têm identidade religiosa, uma convicção própria.
Deus é Deus. Ama a todos igualmente. Manifesta sua intimidade àqueles que se propõem a amá-lo. Não existe um só caminho para encontrar a Deus. O mistério de Deus é o mistério da verdade, que nunca se esgota. Tudo é graça: nossa vida, nossas descobertas, nossos encontros e desencontros humanos. Como Pai misericordioso e justo acolhe em seus braços todos os seus filhos, sem distinção.
Aprender a sair de si revela maturidade humana e espiritual, e possibilita dialogar verdadeiramente, com disposição interna de construir um mundo novo, que saia da mediocridade para a humanização, cultivando a reconciliação com toda a vida do planeta.
Acreditar na potencialidade inscrita no coração humano é também lapidar a alma do espírito humano.
Aleluia!
Louvai a lahweh, nações todas,
glorificai-o, todos os povos!
Pois seu amor por nós é forte,
e sua verdade é para sempre!
(Sl 117)
Referências Bibliográficas
DECRETOS DA CONGREGAÇÃO GERAL XXXIV –XV desde a restauração da Companhia 1995. Ed. Loyola, 1995.
BINGEMER, Maria Clara Lucchetti. Alteridade e Vulnerabilidade – Experiência de Deus e pluralismo religioso no moderno em crise. São Paulo: Loyola, 1993.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – MEC
JOÃO PAULO II, Papa. Carta Encíclica – sobre o empenho ecumênico. São Paulo: Ed. Loyola, 1995.