OTIMIZAÇÃO DO PRODUTO
Um poema sobre Miss América

– Estou sempre procurando – diz Miss América – o que NÃO gostar.

Toda vez que se olha no espelho.

Miss América no palco, seus cachos e espirais loiros,

ondulando e avultando-se,

para deixar seu rosto o menor possível.

O pé no salto alto, posicionado só um pouquinho à frente do outro

para fazer suas pernas se sobreporem,

e suas coxas parecerem mais

finas.

De perfil para o público, ela torce os ombros

para encarar a plateia.

Toda esta contorção esbaforida para que sua cintura pareça uma cinturinha.

No palco, em vez do refletor, o fragmento de um filme.

Seu rosto sob o véu de vídeos de ginástica.

Suas feições, seus olhos e lábios ressaltados pelo collant rosa-shocking e pelas polainas.

Sua pele de Miss América salta e dança com uma multidão de mulheres,

todas se olhando no espelho.

O filme: a sombra de um reflexo de uma imagem de uma ilusão.

Ela diz:

– Cada espiada que dou no espelho é como uma pesquisa de mercado sigilosa.

Ela é sua própria pesquisa de público-alvo.

Avaliando sua fachada numa escala de um a dez.

Todos os dias testando uma nova versão atualizada de si mesma, o

ela-ponto-cinco.

Sempre antenada para as tendências do mercado.

Seu vestido, justo como um maiô, justo como um collant,

sua meia-calça com mulheres pedalando bicicletas, rumo a lugar algum,

a mil calorias por hora.

– Na seção “Talentos” do meu programa – diz ela –, vou mostrar como desengolir.

Uma barriga cheia de sorvete de pêssego,

uma sacolinha de doces de Halloween com barrinhas de chocolate,

seis donuts com glacê,

dois cheesebúrgueres duplos.

O de sempre.

E, às vezes, esperma.

* * *

Seu rosto reluzente e tremeluzindo com exercícios aeróbicos, sua ambição imediata é

baixar a resistência inicial do consumidor.

Com a meta a longo prazo de se tornar o investimento a longo prazo de alguém.

Um bem de consumo durável.