RETROSPECTO
Um poema sobre a Sra. Clark

– Você está treinando um novo funcionário – diz a Sra. Clark – para ficar com seu emprego velho e chato.

Quando cria uma criança.

A Sra. Clark no palco, com os braços cruzados, as mãos segurando o cotovelo oposto

para embalar seios escolhidos por uma mulher de maior coragem.

Com costas muito mais fortes.

Os seios, agora um lembrete de todos os erros que ela esperava que pudessem salvá-la.

As pálpebras estão tatuadas com o tom laranja tão chique de

duas décadas atrás,

os lábios siliconados do tamanho e da forma de ventosas,

depois tatuados num tom desbotado de pêssego gelado.

O penteado e as roupas da Sra. Clark, congelados no tempo, na época em que ela perdeu a coragem e parou de correr riscos.

No palco, em vez do refletor, o fragmento de um filme:

Filmes caseiros mostram uma garotinha usando chapéu de aniversário, preso

sob o queixo por um elástico,

assoprando cinco velas de aniversário.

– Antes de ser demitida – diz a Sra. Clark –, você prepara essa outra pessoa dizendo…

Não toque. Está quente!

Tire os pés do sofá!

E… nunca compre nada que tenha zíper ou nylon.

A cada sermão, você é obrigada a rever toda

decisão que já tomou

ao longo do encadeamento de lições de toda a sua vida.

E depois de todos esses anos, você vê o pouco de que dispõe,

como sua vida e sua formação foram limitadas.

Como foram escassas sua coragem e sua curiosidade.

Sem falar nas expectativas.

A Sra. Clark no palco, ela suspira, os seios inflados como suflês

ou pães, que depois caem, assentam-se, descansam.

Ela diz que talvez o melhor conselho seja aquele que você não pode contar a ela de forma alguma:

Preserve-se como centro do mundo,

seja a melhor autoridade que há em tudo,

especialista em todos os tópicos,

infalível,

onisciente.

Sempre, todo dia, para o resto da vida:

Use anticoncepcional.