– Se você ama alguma coisa – diz Casamenteiro –, liberte-a.
Só não se surpreenda se ela voltar com herpes.
Casamenteiro no palco, ele anda desmazelado com as mãos enfiadas fundo
nos bolsos do macacão.
Suas botas cobertas de cocô de cavalo.
A camisa xadrez. De flanela. Com fecho perolado em vez de botões.
No palco, em vez do refletor, o fragmento de um filme:
de vídeos de casamento onde noivas e noivos trocam anéis
e se beijam antes de correr sob nevascas de arroz branco.
Enquanto isso escorre pelo seu rosto, o lábio inferior de Casamenteiro se estica para pegar uma goma
de tabaco para mascar.
Casamenteiro diz:
– A mulher que eu amava, ela achou que conseguia coisa melhor.
A mulher, no caso, queria um homem mais alto, mais bronzeado, com cabelo comprido e um pau maior.
Que tocasse violão.
Então ela disse “não” quando ele se ajoelhou para pedi-la em casamento.
Assim, Casamenteiro contratou um prostituto chamado Alazão, que se propagandeava:
Cabelo comprido e pau grosso como lata de sopa. E que, se precisasse, podia aprender a tocar alguns acordes.
E Alazão fingiu encontrá-la por acidente, na igreja.
Depois, de novo, na biblioteca.
Casamenteiro pagava duzentos dólares por encontro
e anotava conforme o prostituto lhe dizia como a mulher gostava que brincassem
com seus mamilos por trás. E qual era o melhor jeito de fazê-la gozar pela segunda ou terceira vez.
Alazão mandou rosas. Cantou músicas. Alazão a comeu em bancos de trás e em ofurôs,
onde fez juras de amor e devoção eternos.
Depois ficou uma semana sem ligar. Duas semanas. Um mês.
Até que fingiu encontrá-la por acidente, de novo na igreja.
Lá, Alazão disse que estava tudo acabado porque ela era muito vagabunda. Quase uma prostituta.
– Eu juro – diz Casamenteiro. – Ele chamou ela de puta. Que ousadia a desse cara…
Deus o abençoe.
Tudo isso, o plano secreto de Casamenteiro de dar à namorada um coração partido acelerado, prematuro. Depois pegá-la no rebote.
No último encontro com Alazão, ele pagou cinquentinha por um boquete.
Alazão lá, ajoelhado, trabalhando entre os joelhos dele.
Assim, quando sua futura esposa tivesse orgasmos múltiplos, frutos de uma pesquisa profunda,
o homem na cabeça dela não seria totalmente estranho para seu marido,
Casamenteiro.