PLANO B
Um poema sobre Chef Assassin

– Para cair na boca do mundo – diz Chef Assassin – você só precisa de um fuzil.

Isso ele aprendeu ainda cedo, assistindo ao noticiário. Lendo jornal.

Chef Assassin no palco, usando aquela calça xadrez preto e branca

que só cozinheiros profissionais podem usar.

Grande demais, mas ainda bem esticada para cobrir a bunda dele.

Suas mãos, seus dedos, uma colcha de retalhos de crostas e cicatrizes.

Antigas queimaduras.

As mangas de camisa branca enroladas para cima,

e todo o cabelo chamuscado da pele dos antebraços.

Braços e pernas fortes que não dobram

mas, sim, cedem no joelho e no cotovelo.

No palco, em vez do refletor, o fragmento de um filme que tremeluz:

no qual duas mãos em close, de unhas limpas e

palmas perfeitas

como um par de luvas cor-de-rosa,

arrancam a pele do peito de frango.

Seu rosto, uma tela redonda, perdida sob uma camada de gordura, sua

boca perdida sob o pincel de cozinha

de um bigodinho,

Chef Assassin diz:

– Este é meu plano B.

O Chef diz:

– Caso minha banda de garagem não consiga um contrato com uma gravadora…

caso seu livro nunca encontre uma editora…

caso seu roteiro nunca seja aprovado…

caso nenhuma emissora compre o piloto…

O chef, seu rosto se torce e se retorce com aquelas mãos perfeitas:

tirando pele e desossando,

martelando e temperando,

empanando, fritando e decorando,

até aquela carne morta ficar bonita demais para comer.

Uma arma. Um alvo. Boa mira e uma carreata.

O que ele aprendeu quando criança, assistindo ao noticiário na TV, todas as noites.

– Para que eu não seja esquecido – diz Chef.

Para que sua vida não seja desperdiçada.

Ele diz:

– Esse é meu plano B.