No camarim de Miss América, no concreto cinza com tubulação à mostra, ajoelhada ao lado da cama de solteiro, a Sra. Clark está dizendo que ter um filho nem sempre é o sonho que se imagina.
O restante de nós está no corredor, espiando. Todos nós estamos com medo de perder um acontecimento importantíssimo e ser obrigados a ouvir a palavra de outra pessoa.
Miss América aninhada na cama, enroscada de lado, com o rosto virado para a parede de concreto cinza, nessa cena ela não tem falas.
E, ajoelhada ao lado, a Sra. Clark e seus seios gigantes, secos, encaixados na beirada da cama, ela diz:
– Lembra-se da minha filha, Cassandra?
A menina que olhou dentro da Caixa Pesadelo.
Que cortou os cílios e depois sumiu.
– Quando ela sumiu, foi a primeira vez que notei o anúncio do Sr. Whittier – diz ela.
Enfiado dentro de um livro, no quarto que ela deixou para trás, Cassandra escrevera numa folha de papel: Retiro de Escritores. Abandone Sua Vida Durante Três Meses.
A Sra. Clark diz:
– Eu sei que o Sr. Whittier já fez isso antes.
E Cassandra estava aqui – presa nesse lugar – da última vez.
Crianças, diz ela. Quando pequenas, elas acreditam em tudo que você conta sobre o mundo. Sendo mãe, você é o almanaque mundial, a enciclopédia, o dicionário e a Bíblia, todos juntos. Mas depois que eles chegam numa idade mágica, é justamente o contrário. Após isso, você é mentirosa, boba ou vilã.
Enquanto o restante de nós anota, quase não se ouve o barulho das nossas canetas no papel. Todos escrevemos: mentirosa, boba.
Do gravador de Conde Calúnia, ouvimos:
– … ou vilã.
Tudo que a Sra. Clark sabe de fato é que, depois de passar três meses desaparecida, a encontraram. A polícia achou Cassandra.
Ajoelhada ao lado da cama de Miss América, ela diz:
– Aceitei ajudar Whittier porque eu queria saber o que tinha acontecido com a minha filha… – A Sra. Clark diz: – Eu queria saber, e ela nunca me contaria…