O que torna especialmente difícil a compreensão do dinheiro em sua determinabilidade plena como dinheiro – dificuldade da qual a Economia Política procura se esquivar esquecendo ora uma, ora outra de suas determinações, e apelando a uma quando é confrontada pela outra – é que, aqui, uma relação social, uma determinada relação dos indivíduos entre si, aparece como um metal, uma pedra, uma coisa puramente corpórea fora deles, coisa que, enquanto tal, é encontrada na natureza e na qual também não subsiste mais nenhuma determinação formal para distingui-la de sua existência natural. Ouro e prata em si e por si mesmos não são dinheiro. A natureza não produz nenhum dinheiro, da mesma maneira que não produz taxa de câmbio ou banqueirosf. No Peru e no México, ouro e prata não serviam como dinheiro, ainda que existissem como ornamento e houvesse ali um sistema de produção desenvolvido. Ser dinheiro não é uma qualidade natural do ouro e da prata e, por isso, é completamente desconhecida enquanto tal para o físico, o químico etc. Mas dinheiro é imediatamente ouro e prata. Considerado como medida, o dinheiro ainda é predominante como determinação formal; mais ainda como moeda, onde isso aparece também externamente em sua cunhagem; mas na terceira determinação, i.e., em sua completude, em que ser medida e moeda aparecem somente como funções do dinheiro, toda a determinação formal desaparece ou coincide imediatamente com seu ser metálico. Nele, não aparece em absoluto que a determinação de ser dinheiro é simples resultado do processo social; ele é dinheiro. E isso é tanto mais difícil compreender porque seu valor de uso imediato para o indivíduo não tem qualquer relação com tal função, e porque nele, como encarnação do valor de troca puro, já está de fato completamente apagada a memória do valor de uso em contraste com o valor de troca. Por essa razão, aqui se apresenta em toda a sua pureza a contradição fundamental contida no valor de troca e no modo de produção da sociedade que lhe corresponde. Já foram criticadas acima as tentativas de superar essa contradição em que se retira a forma metálica do dinheiro, e ele também é posto externamente como algo posto pela sociedade, como expressão de uma relação social, tentativas das quais a última forma seria a do dinheiro-trabalho. Deve estar inteiramente claro agora que isso é uma inépcia enquanto for mantida a base do valor de troca e, além disso, que a ilusão de que o dinheiro metálico falsearia a troca resulta de um total desconhecimento de sua natureza. Por outro lado, é igualmente claro que, na medida em que aumenta a oposição às relações de produção dominantes e que essas próprias relações pressionam de maneira mais violenta para a mudança da antiga pele, a polêmica se dirige contra o dinheiro metálico ou contra o dinheiro em geral como a manifestação mais evidente, mais contraditória e mais difícil em que o sistema se manifesta tangivelmente. Contradições, das quais o dinheiro é simples e óbvia manifestação, devem então ser superadas por meio de todo tipo de artifício com o dinheiro. É igualmente claro que muitas operações revolucionárias poderiam ser realizadas com o dinheiro, desde que um ataque a ele pareça deixar tudo como antes e sirva unicamente para retificar. Desse modo, bate-se no alforje visando o burro. Porém, enquanto o burro não sente o golpe no alforje, acerta-se de fato somente o alforje, e não o burro. Tão logo o sinta, bate-se no burro, e não no alforje. Enquanto as operações são dirigidas contra o dinheiro enquanto tal, trata-se de um simples ataque às consequências, cujas causas continuam existindo; portanto, perturbação do processo produtivo, que possui a base sólida e, em consequência, também a força para pô-las como simples perturbações temporárias e para dominá-las por meio de uma reação mais ou menos violenta.
Por outro lado, na determinação da relação monetária, tal como desenvolvida até aqui em sua pureza e sem referência a relações de produção mais desenvolvidas, está implícito que todas as antíteses imanentes da sociedade burguesa parecem apagadas nas relações monetárias concebidas de modo simples, e, sob esse aspecto, refugia-se sempre no dinheiro para fazer a apologia das relações econômicas existentes, pela democracia burguesa mais ainda do que pelos economistas burgueses (que ao menos são consequentes o suficiente para remontar à determinação ainda mais simples do valor de troca e da troca). De fato, como a mercadoria ou o trabalho estão determinados tão somente como valor de troca e a relação pela qual as diferentes mercadorias se relacionam entre si [se apresenta] como troca desses valores de troca, como sua equiparação, os indivíduos, os sujeitos, entre os quais esse processo transcorre, são determinados simplesmente como trocadores. Entre eles não existe absolutamente nenhuma diferença, considerada a determinação formal, e essa determinação é econômica, a determinação em que se encontram reciprocamente na relação de intercâmbio; o indicadori de sua função social ou de sua relação social mútua. Cada um dos sujeitos é um trocador, i.e., cada um tem a mesma relação social com o outro que o outro tem com ele. A sua relação como trocadores é, por isso, a relação da igualdade. É impossível detectar qualquer diferença ou mesmo antagonismo entre eles, nem sequer uma dissimilaridade. Além disso, as mercadorias que trocam são, como valores de troca, equivalentes ou ao menos valem enquanto tais (poderia ocorrer apenas um erro subjetivo na avaliação recíproca, e caso um indivíduo lograsse o outro, isso se daria não pela natureza da função social na qual se confrontam, pois esta é a mesma; nela, os dois são iguais; mas somente devido à astúcia natural, à arte da persuasão etc., em suma, unicamente devido à pura superioridade de um indivíduo sobre o outro. A diferença seria uma diferença natural, que não diria respeito à natureza da relação enquanto tal e que, como pode ser dito tendo em vista desenvolvimento ulterior, é até mesmo atenuada pela concorrência etc. e privada de sua força original). Na medida em que é considerada a forma pura, o lado econômico da relação – o conteúdo fora dessa forma está de fato ainda completamente fora do âmbito da economia, ou é posto como conteúdo natural diferente do econômico, do qual se pode dizer que está totalmente separado da relação econômica porque ainda coincide imediatamente com ela –, destacam-se então apenas três momentos que são formalmente distintos: os sujeitos da relação, os trocadores, postos na mesma determinação; os objetos de sua troca, valores de troca, equivalentes, que não apenas são iguais, mas devem ser expressamente iguais e são postos como iguais; e finalmente o próprio ato da troca, a mediação pela qual os sujeitos são postos precisamente como trocadores, como iguais, e seus objetos postos como equivalentes, como iguais. Os equivalentes são a objetivação de um sujeito para o outro; i.e., eles próprios são de mesmo valor e se confirmam no ato da troca como valendo igual e, ao mesmo tempo, como reciprocamente indiferentes. Na troca, os sujeitos são sujeitos uns para os outros exclusivamente pelos equivalentes, como sujeitos de igual valor, e se afirmam enquanto tais pela permuta da objetividade em que um é para o outro. Uma vez que só são assim, um para o outro, como sujeitos de igual valor, como possuidores de equivalentes e como sujeitos que atestam essa equivalência na troca, como sujeitos de igual valor são ao mesmo tempo indiferentes uns aos outros; suas outras diferenças individuais não lhes interessam; são indiferentes a todas as suas outras peculiaridades individuais. No que se refere agora ao conteúdo exterior ao ato de troca, que é tanto pôr como comprovação dos valores de troca como dos sujeitos como trocadores, tal conteúdo, que se encontra fora da determinação econômica, só pode ser: 1) a particularidade natural da mercadoria que é trocada; 2) a necessidade natural particular dos trocadores; ou ambas combinadas, o valor de uso diferente das mercadorias a serem trocadas. Esse conteúdo da troca, que está totalmente fora de sua determinação econômica, longe de ameaçar a igualdade social dos indivíduos, faz de sua diferença natural o fundamento de sua igualdade social. Se o indivíduo A tivesse a mesma necessidade que o indivíduo B e tivesse realizado seu trabalho no mesmo objeto que o indivíduo B, não existiria nenhuma relação entre eles; considerados do ponto de vista de sua produção, não seriam indivíduos diferentes. Ambos têm a necessidade de respirar; para ambos o ar existe como atmosfera; isso não os coloca em nenhuma relação social; como indivíduos que respiram, relacionam-se entre si apenas como corpos naturais, não como pessoas. A diversidade de sua necessidade e de sua produção fornece unicamente a oportunidade para a troca e para sua igualação social na mesma; por conseguinte, essa diversidade natural é o pressuposto de sua igualdade social no ato da troca e dessa conexão em que se relacionam como agentes produtivos. Considerado desde o ponto de vista dessa diversidade natural, o indivíduo [A] existe como possuidor de um valor de uso para B e B, como possuidor de um valor de uso para A. Sob esse aspecto, a diversidade natural os coloca reciprocamente de novo na relação da igualdade. Consequentemente, não são indiferentes um ao outro, mas se completam, necessitam um do outro, de modo que o indivíduo B, enquanto objetivado na mercadoria, é uma necessidade para o indivíduo A e vice-versa; de modo que não só estão em uma relação de igualdade entre si, mas também em relação social recíproca. Mas isso não é tudo. Que a necessidade de um pode ser satisfeita pelo produto do outro, e vice-versa, que um é capaz de produzir o objeto da necessidade do outro e que cada um se enfrenta com o outro como proprietário do objeto da necessidade do outro, prova que cada um, como ser humano, vai além de sua própria necessidade particular etc. e se comporta um em relação ao outro como ser humano; que sua essência genérica comum é conhecida por todos. De mais a mais, não acontece de elefantes produzirem para tigres, ou animais para outros animais. Por exemplo. Um enxame de abelhas consiste, |na verdadef, de apenas uma abelha, e todas produzem a mesma coisa. Além disso[a]. Na medida em que agora essa diversidade natural dos indivíduos e das próprias mercadorias (produtos, trabalho etc. ainda não são aqui completamente diferentes; mas existem na forma de mercadorias ou, como o quer o senhor Bastiat seguindo Say, de serviços; Bastiat, porque reduz a determinação econômica do valor de troca ao seu conteúdo natural, mercadoria ou serviço, e, por conseguinte, é incapaz de captar a relação econômica do valor de troca enquanto tal, imagina ter feito um grande progresso em relação aos economistas clássicos da escola inglesa, que são capazes de captar as relações de produção em sua determinabilidade enquanto tal, em sua forma pura[3]) constitui o motivo para a integração desses indivíduos, para a sua relação social como trocadores, relação em que são pressupostos e se afirmam como iguais, à determinação da igualdade soma-se a da liberdade. Ainda que o indivíduo A sinta necessidade da mercadoria do indivíduo B, não se apodera dela pela força, nem vice-versa, mas reconhecem-se mutuamente como proprietários, como pessoas cuja vontade impregna suas mercadorias. Em decorrência, aqui entra de imediato o momento jurídico da pessoa e da liberdade, na medida em que está contida na primeira. Nenhum deles se apodera da propriedade do outro pela força. Cada um a cede voluntariamente. Mas isso não é tudo: o indivíduo A serve à necessidade do indivíduo B por meio da mercadoria a somente na medida em que, e porque, o indivíduo B serve à necessidade do indivíduo A por meio da mercadoria b, e vice-versa. Cada um serve ao outro para servir a si mesmo; cada um se serve reciprocamente do outro como seu meio. Ambos os aspectos estão agora presentes na consciência dos dois indivíduos: 1) que cada um só alcança seu objetivo à medida que serve como meio para o outro; 2) que cada um só devém meio para o outro (ser para outro) como fim em si mesmo (ser para si); 3) que a reciprocidade, segundo a qual cada um é ao mesmo tempo meio e fim, e de fato só alcança seu fim à medida que devém meio, e só devém meio à medida que se põe como fim em si mesmo; que, portanto, cada um se põe como ser para outro à medida que é ser para si, e que o outro se põe como ser para ele quando é ser para si mesmo – que essa reciprocidade é um fatoi necessário, pressuposto como condição natural da troca, mas que é, enquanto tal, indiferente para cada um dos dois trocadores, e essa reciprocidade tem interesse para o indivíduo apenas na medida em que satisfaz seu interesse, como interesse que exclui o interesse do outro, sem ligação com ele. O que significa dizer que o interesse comum, que aparece como motivo do ato como um todo, é certamente reconhecido como fatoi por ambas as partes, mas não é motivo enquanto tal, ao contrário, atua, por assim dizer, por detrás dos interesses particulares refletidos em si mesmos, do interesse singular contraposto ao do outro. Sob esse último aspecto, o indivíduo pode ter no máximo a consciência reconfortante de que a satisfação de seu interesse singular contraditório é justamente a realização da contradição superada, do interesse social universal. Pelo próprio ato da troca, o indivíduo, cada um dos indivíduos, está refletido em si mesmo como sujeito exclusivo e dominante (determinante) do ato da troca. Com isso, portanto, está posta a completa liberdade do indivíduo: transação voluntária; nenhuma violência de parte a parte; posição de si como meio, ou a serviço, unicamente como meio de se pôr como fim em si, como o dominante e o prevalecente; enfim, o interesse egoísta, que não realiza nenhum interesse superior; o outro também é reconhecido e conhecido como sujeito que realiza seu interesse egoísta exatamente da mesma maneira, de modo que ambos sabem que o interesse comum consiste precisamente na troca do interesse egoísta em sua bilateralidade, multilateralidade e autonomização. O interesse universal é justamente a universalidade dos interesses egoístas. Se, portanto, a forma econômica, a troca, põe a igualdade dos sujeitos em todos os sentidos, o conteúdo, a matéria, tanto individual como objetiva, que impele à troca, põe a liberdade. Igualdade e liberdade, por conseguinte, não apenas são respeitadas na troca baseada em valores de troca, mas a troca de valores de troca é a base produtiva, real, de toda igualdade e liberdade. Como ideias puras, são simples expressões idealizadas dessa base; quando desenvolvidas em relações jurídicas, políticas e sociais, são apenas essa base em uma outra potência. E isso também se verifica historicamente. A igualdade e a liberdade nessa extensão são exatamente o oposto da liberdade e igualdade antigas, que não têm justamente o valor de troca desenvolvido como fundamento, mas se extinguem com seu desenvolvimento. Elas pressupõem relações de produção que ainda não haviam se realizado no mundo antigo nem tampouco na Idade Média. O trabalho compulsório direto é o fundamento do mundo antigo; a comunidade repousa sobre ele como suporte real; na Idade Média, prevalece como fundamento o próprio trabalho como privilégio, ainda em sua particularização, não como trabalho produzindo universalmente valor de troca. O trabalho não é nem compulsório nem, como no segundo caso, tem lugar em respeito a uma entidade comunal como algo superior (corporações).
Ora, é certamente verdadeiro que a [relação] dos trocadores sob o ponto de vista dos motivos, i.e., dos motivos naturais que estão fora do processo econômico, também se baseia em uma certa compulsão; mas essa própria compulsão é, de um lado, só a indiferença do outro ante minha necessidade enquanto tal, perante minha individualidade natural, portanto, sua igualdade comigo e sua liberdade, que, no entanto, é igualmente o pressuposto da minha; de outro lado, na medida em que sou determinado, forçado por minhas necessidades, é somente minha própria natureza, que é um todo de necessidades e impulsos, que me violenta, e não algo estranho (ou meu interesse posto em forma universal, refletida). Mas também é precisamente o modo pelo qual constranjo o outro, que o forço para o sistema de troca.
Por isso, no direito romano o servus é corretamente determinado como aquele que não pode adquirir nada para si pela troca (ver Institut)[4]. Por essa razão, é igualmente claro que esse direito, embora corresponda a uma situação social na qual a troca não estava de modo algum desenvolvida, pôde, entretanto, na medida em que estava desenvolvido em determinado círculo, desenvolver as determinações da pessoa jurídica, precisamente as do indivíduo da troca, e antecipar, assim, o direito da sociedade industrial (em suas determinações fundamentais); mas, sobretudo, teve de se impor como o direito da sociedade burguesa nascente perante a Idade Média. Mas seu próprio desenvolvimento coincide completamente com a dissolução da comunidade romana.
Como o dinheiro é unicamente a realização do valor de troca, e como o sistema de valores de troca só se realizou no sistema monetário desenvolvido ou inversamente, o sistema monetário só pode ser de fato a realização desse sistema da liberdade e igualdade. Como medida, o dinheiro só dá ao equivalente a expressão determinada, faz dele equivalente também de acordo com a forma. De fato, na circulação ainda emerge uma diferença na forma: os dois trocadores aparecem nas determinações diferentes de comprador e de vendedor; o valor de troca aparece uma vez como valor universal na forma do dinheiro, depois, como valor particular na mercadoria natural que tem um preço; mas, em primeiro lugar, essas determinações variam; a própria circulação não é uma desigualação, mas só uma igualação, uma supressão da diferença meramente imaginada. A desigualdade é puramente formal. Enfim, no próprio dinheiro como dinheiro circulante, dinheiro que ora aparece em uma mão, ora em outra, e que é indiferente frente a essa manifestação, a igualdade se põe inclusive de maneira objetiva. Considerado o processo de troca, cada qual aparece ante o outro como possuidor de dinheiro, até mesmo como dinheiro. Por isso, a indiferença e a equivalência estão explicitamente presentes na forma da coisa. A diversidade natural particular que existia na mercadoria está apagada e é constantemente apagada pela circulação. Um trabalhador que compra uma mercadoria por 3 shillings aparece ao vendedor na mesma função, na mesma igualdade – na forma de 3 shillings –, em que apareceria o rei que fizesse o mesmo. Toda diferença entre eles é apagada. O vendedor enquanto tal aparece apenas como possuidor de uma mercadoria com o preço de 3 shillings, de maneira que ambos são completamente idênticos; só que os 3 shillings existem uma vez em prata, outra em açúcar etc. Na terceira forma do dinheiro, poderia parecer que surge uma determinação diferente entre os sujeitos do processo. Mas como o dinheiro aparece aqui como material, como mercadoria universal dos contratos, toda diferença entre os contratantes é, ao contrário, apagada. Se o dinheiro devém objeto da acumulação, o sujeito parece só retirar dinheiro da circulação, i.e., a forma universal da riqueza, desde que não retire dela mercadorias do mesmo preço. Logo, se um dos indivíduos acumula e o outro não, nenhum deles o faz às custas do outro. Um deles usufrui a riqueza real, o outro se apossa da forma universal da riqueza. Se um deles empobrece e o outro enriquece, esse é seu livre-arbítrio e não tem origem na própria relação econômica, no próprio vínculo econômico em que estão postos um em relação ao outro. A própria herança e outras relações jurídicas similares que perpetuam as desigualdades assim surgidas em nada afetam essa liberdade e essa igualdade naturais. Se a relação original do indivíduo A não está em contradição com esse sistema, essa contradição certamente não poderá se produzir porque o indivíduo B assume o lugar do indivíduo A, perpetuando-o. Trata-se, ao contrário, de uma vigência da determinação social para além do limite natural da vida: uma consolidação dessa determinação em face da ação contingente da natureza, cujo efeito enquanto tal seria muito mais a supressão da liberdade do indivíduo. Ademais, como o indivíduo nessa relação nada mais é do que a individuação do dinheiro, ele é enquanto tal tão imortal quanto o dinheiro, sendo sua representação por herdeiros, ao contrário, a efetivação dessa determinação.
Se essa interpretação não é sublinhada em seu significado histórico, mas é apresentada como refutação das relações econômicas mais desenvolvidas, nas quais os indivíduos não se apresentam mais simplesmente como trocadores ou compradores e vendedores, mas aparecem em relações determinadas entre si, relações em que todos não são mais postos na mesma determinabilidade; isso seria o [mesmo] que pretender afirmar que não existe nenhuma diferença e, menos ainda, oposição e contradição, entre os corpos naturais, porque na determinação do peso, p. ex., todos têm peso e, por isso, são iguais; ou são iguais porque todos ocupam um espaço de três dimensões. O próprio valor de troca é igualmente mantido aqui em sua determinabilidade simples, em oposição às suas formas contraditórias mais desenvolvidas. Consideradas no processo da ciência, essas determinações abstratas aparecem justamente como as primeiras e as mais pobres; tal como em parte ocorrem também historicamente, o mais desenvolvido como o mais tardio. No conjunto da sociedade burguesa existente, esse pôr como preços e sua circulação etc. aparece como o processo superficial sob o qual, no entanto, na profundidade, sucedem processos inteiramente diferentes, nos quais desaparece essa aparente igualdade e liberdade dos indivíduos. Por um lado, se esquece que, desde logo, o pressuposto do valor de troca, como o fundamento objetivo da totalidade do sistema de produção, já encerra em si a coação sobre o indivíduo de que seu produto imediato não é um produto para ele, mas só devém para ele no processo social e tem de assumir essa forma universal e, todavia, exterior; que o indivíduo só tem existência social como produtor de valor de troca e que, portanto, já está envolvida a negação total de sua existência natural; que, por conseguinte, está totalmente determinado pela sociedade; que isso pressupõe, ademais, a divisão do trabalho etc., na qual o indivíduo já é posto em outras relações distintas daquelas de simples trocador etc. Que, portanto, o pressuposto não só de maneira alguma resulta da vontade e da natureza imediata do indivíduo, como é um pressuposto histórico e põe desde logo o indivíduo como determinado pela sociedade. Por outro lado, se esquece que as formas superiores nas quais [aparece] agora a troca, ou as relações de produção que nela se realizam, de forma alguma permanecem nessa determinabilidade simples, na qual a maior diferença a que se chega é uma diferença formal e, por isso, indiferente. Finalmente, não se vê que na determinação simples do valor de troca e do dinheiro já está contida de forma latente a oposição entre salário e capital etc. Toda essa sabedoria, portanto, em nada mais consiste do que parar nas relações econômicas mais simples, as quais, tomadas autonomamente, são puras abstrações; abstrações que na realidade são mediadas pelas mais profundas antíteses e só mostram um lado, aquele em que a expressão das antíteses está apagada.
Por outro lado, evidencia-se igualmente a tolice dos socialistas (notadamente dos franceses, que querem provar que o socialismo é a realização das ideias da sociedade burguesa expressas pela Revolução Francesa), que demonstram que a troca, o valor de troca etc. são originalmente (no tempo) ou de acordo com o seu conceito (em sua forma adequada) um sistema da liberdade e igualdade de todos, mas que têm sido deturpados pelo dinheiro, pelo capital etc. Ou ainda, que a história só fez até o momento tentativas malsucedidas de realizá-las de um modo correspondente à sua verdade, e agora os socialistas, como Proudhon, por exemplo, descobriram o verdadeiro Jacob, com o que deve ser providenciada a genuína história dessas relações, em lugar de sua falsa história. Cabe responder-lhes: o valor de troca ou, mais precisamente, o sistema monetário é de fato o sistema da igualdade e liberdade, e as perturbações que enfrentam no desenvolvimento ulterior do sistema são perturbações a ele imanentes, justamente a efetivação da liberdade e igualdade, que se patenteiam como desigualdade e ausência de liberdade. É tão piedoso quanto tolo desejar que o valor de troca não se desenvolva em capital, ou que o trabalho produtor de valor de troca não se desenvolva em trabalho assalariado. O que distingue esses senhores dos apologistas burgueses é, de um lado, a sensibilidade das contradições que o sistema encerra; de outro, o utopismo, não compreender a diferença necessária entre a figura real e a ideal da sociedade burguesa e, consequentemente, pretender assumir o inútil empreendimento de querer realizar novamente a própria expressão ideal, expressão que de fato nada mais é do que a fotografia dessa realidade.
Agora, a demonstração insípida, tal como ocorre contra esses socialistas por parte da decadente Economia mais recente (cujo representante clássico, no que [se refere] à insipidez, à afetação de dialética, à sincera arrogância, à platitude tola e autocomplacente, e à total incapacidade de compreender processos históricos, pode ser considerado Frédéric Bastiat, pois o norte-americano Carey ao menos insiste nas determinações peculiares norte-americanas em face das europeias), que prova que as relações econômicas sempre expressam as mesmas determinações simples e, por isso, expressam sempre a igualdade e a liberdade da troca de valores de troca simplesmente determinada, reduz-se a uma abstração inteiramente pueril. A relação entre capital e juro, por exemplo, é reduzida à troca de valores de troca. Assim, depois que é aceito da empiria que o valor de troca não existe apenas nessa determinabilidade simples, mas existe também na determinabilidade essencialmente diferente do capital, o capital é novamente reduzido ao conceito simples do valor de troca, e o juro, que expressa uma relação determinada do capital enquanto tal, também arrancado da determinabilidade, é posto igual ao valor de troca; [é] abstraído da relação como um todo em sua determinabilidade específica e restituído à relação não desenvolvida da troca de mercadoria por mercadoria. Se abstraio de um concreto aquilo que o distingue de seu abstrato, ele é naturalmente o abstrato e de modo algum se distingue dele. De acordo com isso, todas as categorias econômicas são apenas outros e outros nomes para a mesma relação de sempre, e essa tosca incapacidade de capturar as diferenças reais pretende então representar o puro |senso comumi enquanto tal. As “harmonias econômicas” do senhor Bastiat[5] significam |no fundof que existe uma única relação econômica que recebe diversos nomes, ou que tem lugar uma diversidade exclusivamente nominal. A redução nem mesmo é uma redução pelo menos formalmente científica, que reduziria tudo a uma relação econômica efetiva ao deixar de lado a diferença que o desenvolvimento comporta, mas ora é deixado de lado esse aspecto, ora aquele, para descobrir a identidade ora nesse aspecto, ora naquele. Por exemplo, o salário é pagamento por serviço que um indivíduo presta a outro. (A forma econômica enquanto tal é aqui omitida, como já foi observado acima.) O lucro também é pagamento por serviço que um indivíduo presta a outro. Salário e lucro, portanto, são idênticos, e é verdadeiramente uma aberração da linguagem chamar um pagamento de salário e o outro de lucro. Agora, no entanto, lucro e juro. No lucro, o pagamento do serviço está sujeito ao acaso; no juro, é fixado. Portanto, dado que no salário, |relativamente falandof, o pagamento é fixo, enquanto no lucro, em contraste com o trabalho, está sujeito ao acaso, a relação entre juro e lucro é a mesma que a relação entre salário e lucro, a qual, como vimos, é uma troca de equivalentes entre si. Os adversários[6] levam então a sério esses disparatesf (que emergem porque vão das relações econômicas em que a oposição é manifesta de volta às relações em que ela ainda está apenas latente e encoberta) e mostram que, por exemplo, no caso do capital e do juro, não há uma troca simples, uma vez que o capital não é substituído por um equivalente, mas que o proprietário, após ter consumido 20 vezes o equivalente sob a forma de juro, ainda o preserva na forma de capital e pode trocá-lo novamente por 20 novos equivalentes. Daí o fastidioso debate no qual um assegura que não existe diferença entre o valor de troca desenvolvido e o não desenvolvido, enquanto o outro assegura que infelizmente existe diferença, mas que, por uma questão de justiça, não deveria existir.
O dinheiro como capital é uma determinação do dinheiro que vai além de sua determinação simples como dinheiro. Pode ser considerado como realização superior, do mesmo modo que pode ser dito que o macaco se desenvolve no ser humano. Mas, nesse caso, a forma inferior é posta como o sujeito predominante sobre a forma superior. De qualquer modo, o dinheiro como capital é diferente do dinheiro como dinheiro. A determinação nova tem de ser desenvolvida. Por outro lado, o capital enquanto dinheiro parece a regressão do capital a uma forma inferior. Mas é somente o seu pôr em uma particularidade que já existia antes dele como não capital e constitui um de seus pressupostos. O dinheiro reaparece novamente em todas as relações posteriores; mas aí já não funciona mais como simples dinheiro. Se, como aqui, o importante é, antes de tudo, segui-lo até sua totalidade como mercado monetário, o desenvolvimento restante é pressuposto e deve ser incluído quando for o caso. Desse modo, trata-se aqui da determinação universal do capital, antes de passarmos à sua particularidade como dinheiro.
Se digo, como Say[7], por exemplo, que o capital é uma soma de valores, não digo nada além de que o capital = valor de troca. Toda soma de valores é um valor de troca, e todo valor de troca é uma soma de valores. Por simples adição não posso ir do valor de troca ao capital. Na simples acumulação de dinheiro ainda não está posta, como vimos, a relação de capitalização.
No assim chamado comércio a varejo, no intercâmbio cotidiano da vida burguesa, como se dá diretamente entre produtores e consumidores, no pequeno comércio, no qual a finalidade é, de um lado, a troca de mercadoria por dinheiro e, de outro, a troca de dinheiro por mercadoria para a satisfação de necessidades individuais – é somente nesse movimento, que transcorre na superfície do mundo burguês, que o movimento dos valores de troca, sua circulação, se realiza de maneira pura. Um trabalhador que compra um pão e um milionário que faz o mesmo aparecem nesse ato só como simples compradores, do mesmo modo que o comerciante aparece frente a eles apenas como vendedor. Todas as outras determinações estão aqui canceladas. O conteúdo de suas compras, bem como o seu volume, aparece completamente indiferente diante de essa determinação formal.
Se na teoria o conceito de valor precede o de capital, mas, por outro lado, subentende um modo de produção fundado no capital para seu desenvolvimento puro, o mesmo sucede na prática. Daí porque os economistas consideram necessariamente o capital ora como criador, fonte dos valores, ora, por outro lado, pressupõem valores para a formação do capital e apresentam ele próprio só como uma soma de valores em uma função determinada. A existência do valor em sua pureza e universalidade pressupõe um modo de produção em que o produto singular em geral deixou de ser produto enquanto tal para o produtor e mais ainda para o trabalhador individual, e não é nada sem a realização pela circulação. Para aquele que criou uma parte infinitesimal de uma vara de chita, o fato de que ela é valor, valor de troca, não é nenhuma determinação formal. Se não tivesse criado um valor de troca, dinheiro, não teria criado absolutamente nada. Essa própria determinação de valor tem como seu pressuposto, portanto, um estágio histórico dado do modo de produção social, sendo ela própria uma relação dada com o modo de produção, logo, uma relação histórica.
Por outro lado, momentos singulares da determinação de valor desenvolvem-se em estágios anteriores do processo de produção histórico da sociedade e aparecem como resultado deles.
Por isso, no interior do sistema da sociedade burguesa, o capital vem imediatamente depois do valor. Na história, ocorrem outros sistemas que constituem o fundamento material do desenvolvimento incompleto do valor. Como o valor de troca desempenha aqui apenas um papel acessório ao lado do valor de uso, aparece como sua base real não o capital, mas a relação da propriedade fundiária. A propriedade fundiária moderna, por comparação, não pode de modo algum ser compreendida sem o pressuposto do capital, porque não pode existir sem ele e aparece historicamente de fato como uma forma engendrada pelo capital, posta como forma adequada a ele, da configuração histórica precedente da propriedade fundiária. Por essa razão, é precisamente no desenvolvimento da propriedade fundiária que podem ser estudadas a vitória e a formação progressivas do capital, razão pela qual Ricardo, o economista da época moderna, considerou com grande senso histórico as relações entre capital, trabalho assalariado e renda da terra dentro dos limites da propriedade fundiária, para determiná-las em sua forma específica. A relação do capitalista industrial com o proprietário fundiário aparece como uma relação situada fora do âmbito da propriedade fundiária. No entanto, como relação do fazendeiroi moderno com o rentista fundiário, ela aparece como relação imanente à própria propriedade fundiária, e a outra, como tendo sua existência posta exclusivamente em sua relação com o capital. A história da propriedade fundiária que mostrasse a transformação progressiva do senhori feudal em rentista fundiário, do arrendatário vitalício por herança, semitributário e frequentemente privado de liberdade no moderno fazendeiroi, e dos servos da gleba e do camponês sujeito a prestação de serviços no assalariado rural, seria de fato a história da formação do capital moderno. Compreenderia a relação com o capital urbano, o comércio etc. Porém, aqui tratamos da sociedade burguesa consumada, que se move sobre sua própria base.
O capital provém inicialmente da circulação, na verdade, do dinheiro como seu ponto de partida. Vimos que o dinheiro que entra na circulação e ao mesmo tempo dela retorna a si é a última forma em que o dinheiro supera a si mesmo. É ao mesmo tempo o primeiro conceito do capital e a sua primeira forma fenomênica. O dinheiro nega-se ao simplesmente se dissolver na circulação; mas nega-se da mesma forma ao confrontar autonomamente a circulação. Essa negação, sintetizada em suas determinações positivas, contém os primeiros elementos do capital. O dinheiro é a primeira forma em que aparece o capital enquanto tal. D-M-M-D; quer dizer, o dinheiro é trocado por mercadoria e a mercadoria por dinheiro; esse movimento do comprar para vender, que constitui a determinação formal do comércio, o capital como capital comercial, verifica-se nas condições mais incipientes do desenvolvimento econômico; é o primeiro movimento em que o valor de troca enquanto tal forma o conteúdo, em que não é apenas forma, mas seu próprio conteúdo. O movimento pode ocorrer no interior de povos e entre povos para os quais o valor de troca ainda não deveio de forma alguma o pressuposto da produção. O movimento afeta apenas o excedente de sua produção destinada ao uso imediato e tem lugar apenas em suas fronteiras. Da mesma maneira que os judeus na sociedade polonesa antiga ou a sociedade medieval de maneira geral, povos comerciantes inteiros, como na Antiguidade e, mais tarde, os lombardos, podem ocupar essa posição entre povos cujo modo de produção ainda não estava condicionado pelo valor de troca como pressuposto fundamental. O capital comercial é simplesmente capital circulante, e o capital circulante é a primeira forma do capital; forma na qual o capital ainda não deveio de forma alguma o fundamento da produção. Uma forma mais desenvolvida é o capital dinheiro e o juro do dinheiro, a usura, cuja aparição autônoma pertence igualmente a uma fase anterior. Finalmente, a forma M-D-D-M, na qual o dinheiro e a circulação em geral aparecem como simples meio para a mercadoria circulante, que, por sua vez, sai novamente da circulação e satisfaz diretamente a necessidade, essa própria circulação é o pressuposto desse aparecimento originário do capital comercial. Os pressupostos aparecem distribuídos por diversos povos, ou, no interior da sociedade, o capital comercial enquanto tal está condicionado apenas por essa circulação orientada exclusivamente para o consumo. Por outro lado, a mercadoria circulante, a mercadoria que só se realiza pelo fato de que assume a forma de outra mercadoria que sai da circulação e satisfaz necessidades imediatas, aparece da mesma maneira como primeira forma do capital, que é essencialmente capital mercadoria.
Por outro lado, é igualmente claro que o movimento simples dos valores de troca, tal como existe na circulação pura, jamais pode realizar capital. Pode levar à retirada e ao acúmulo de dinheiro, mas tão logo o dinheiro retorna à circulação, dissolve-se em uma série de processos de troca com mercadorias que são consumidas; por isso, desaparece, tão logo se esgota o seu poder de compra. Da mesma maneira, a mercadoria que se trocou por mercadoria por meio do dinheiro sai da circulação para ser consumida, destruída. Mas se a mercadoria se autonomiza no dinheiro ante a circulação, ela representa nada mais do que a forma universal, insubstancial da riqueza. Como são trocados equivalentes por equivalentes, a forma da riqueza fixada como dinheiro desaparece tão logo é trocada por mercadoria, assim como desaparece o valor de uso presente na mercadoria tão logo é trocado por dinheiro. Pelo simples ato da troca cada um só pode se perder em sua determinação perante o outro, tão logo nele se realize. Nenhum dos dois equivalentes pode conservar-se em sua determinação ao converter-se no outro. Contra os sofismas dos economistas burgueses, que embelezam o capital ao pretenderem reduzi-lo à pura troca, é por isso formulada a exigência oposta, igualmente sofística, não obstante legítima no que diz respeito a eles, de reduzir efetivamente o capital à pura troca, com o que o capital desapareceria como poder e seria destruído seja na forma de mercadoria, seja na de dinheiro[b].
A repetição do processo a partir de ambos os pontos, dinheiro e mercadoria, não está posta nas condições do próprio intercâmbio. O ato só pode ser repetido até ter sido consumado, i.e., até que o montante do valor de troca esteja trocado. Não pode reacender por si mesmo. É por isso que a circulação não traz consigo mesma o princípio da autorrenovação. Os seus próprios momentos lhe são pressupostos, não são postos por ela mesma. As mercadorias têm de ser lançadas continuamente na circulação desde o exterior, como combustível no fogo. Do contrário, a circulação se extingue na indiferença. Ela se extinguiria no dinheiro como resultado indiferente, que, não estando mais relacionado a mercadorias, preços, circulação, teria deixado de ser dinheiro, de expressar uma relação de produção; dele restaria tão somente sua existência metálica, mas sua existência econômica estaria destruída. A circulação, que aparece, portanto, na superfície da sociedade burguesa como o imediatamente dado, existe somente à medida que é incessantemente mediada. Considerada em si mesma, a circulação é a mediação de extremos pressupostos. Mas não põe esses extremos. Por conseguinte, ela própria tem de ser mediada não só em cada um de seus momentos, mas como totalidade da mediação, como processo total. É por isso que seu ser imediato é pura aparência. A circulação é o fenômeno de um processo transcorrendo por trás dela. Ela é negada agora em cada um de seus momentos – como mercadoria – como dinheiro – e como relação de ambos, como troca simples e circulação de ambos. Se o ato da produção social aparecia originalmente como o pôr de valores de troca e este, em seu desenvolvimento ulterior, como circulação – como movimento plenamente desenvolvido dos valores de troca entre si –, agora, a própria circulação retorna à atividade que põe ou produz valor de troca. Retorna ela como ao seu fundamento. O que lhe é pressuposto são mercadorias (seja na forma particular, seja na forma universal de dinheiro), que são a efetivação de um certo tempo de trabalho e, enquanto tais, são valores; logo, seu pressuposto é tanto a produção de mercadorias pelo trabalho quanto sua produção como valores de troca. Esse é o seu ponto de partida, e por seu próprio movimento ela retorna à produção criadora de valores de troca como seu resultado. Portanto, chegamos novamente ao ponto de partida, na produção que põe, cria valores de troca, mas dessa vez de modo tal que a produção pressupõe a circulação como momento desenvolvido e aparece como processo contínuo que põe a circulação e dela retorna continuamente a si mesmo para pô-la novamente. O movimento que põe valores de troca aparece agora, portanto, em forma muito mais complicada, uma vez que já não é mais somente o movimento dos valores de troca pressupostos ou que os põe formalmente como preços, mas movimento que ao mesmo tempo os cria, os gera como pressupostos. A própria produção não mais existe aqui antes de seus resultados, i.e., não é mais pressuposta; ela própria aparece como produzindo ao mesmo tempo esses resultados; no entanto, não mais os produz, como no primeiro estágio, como resultados que simplesmente conduzem à circulação, mas que ao mesmo tempo supõem a circulação, a circulação desenvolvida, em seu processo. (A circulação, |no fundof, consiste somente no processo formal de pôr o valor de troca uma vez na determinação da mercadoria, outra vez na determinação do dinheiro.)
Esse movimento apresenta-se sob diversas configurações, tanto como movimento que historicamente conduz ao trabalho produtor de valor, como igualmente no interior do próprio sistema da produção burguesa, i.e., da produção que põe valor de troca. Entre povos semi ou totalmente bárbaros se interpõem inicialmente os povos comerciantes, ou as tribos, cuja produção é diferente por natureza, entram em contato e trocam seu excedente. O primeiro caso é a forma mais clássica. Fiquemos nele, portanto. A troca do excedente é um intercâmbio que põe a troca e o valor de troca. Mas afeta apenas a troca [do excedente] e transcorre à margem da própria produção. Porém, se o aparecimento de povos comerciantes que buscam a troca se repete (os lombardos, os normandos etc. desempenham esse papel com quase todos os povos europeus) e desenvolve-se um comércio regular no qual o povo produtor pratica tão somente o assim chamado comércio passivo, porquanto o impulso à atividade que põe o valor de troca provém do exterior e não da configuração interna da produção, nesse caso o excedente da produção tem de ser não apenas fortuito, ocasionalmente disponível, mas um excedente renovado continuamente, e dessa maneira a própria produção interna adquire uma tendência direcionada à circulação, ao pôr valores de troca. De início, o efeito é mais material. O círculo das necessidades é ampliado; o objetivo é a satisfação das novas necessidades e, em consequência, maior regularidade e aumento da produção. A organização da própria produção interna já está modificada pela circulação e pelo valor de troca; mas ainda não foi por ela capturada nem em toda sua extensão nem em toda sua profundidade. É isso que se denomina efeito civilizador do comércio exterior. Nesse caso, a extensão com que o movimento que põe valor de troca afeta a totalidade da produção depende em parte da intensidade desse efeito desde o exterior, em parte do grau já alcançado pelo desenvolvimento dos elementos da produção interna – divisão do trabalho etc. Na Inglaterra, p. ex., no século XVI e início do século XVII, a importação de mercadorias holandesas tornou basicamente decisivo o excedente de lã que o país tinha de dar em troca. Para produzir mais lã, a terra cultivável foi transformada em pastagem para ovelhas, o sistema de pequenos arrendamentos foi desmantelado etc., teve lugar o clearing of estates[c] etc. Por conseguinte, a agricultura perdeu o caráter de trabalho visando a produção de valor de uso, e a troca de seu excedente perdeu o caráter indiferente em relação à sua estrutura interna. Em certos pontos, a própria agricultura é inteiramente determinada pela circulação, é convertida em produção que põe o valor de troca. Com isso, não só o modo de produção foi modificado, mas foram dissolvidas todas as antigas relações de população e de produção e as relações econômicas a ele correspondentes. Assim, nesse caso estava pressuposta à circulação uma produção que criava valores de troca só como excedente; mas ela deu lugar a uma produção que só tinha lugar relacionada à circulação, uma produção pondo valores de troca como seu conteúdo exclusivo.
Por sua vez, na produção moderna, em que são pressupostos o valor de troca e a circulação desenvolvida, por um lado, os preços determinam a produção; por outro, a produção determina os preços.
Quando se afirma que o capital “é trabalho acumulado (realizado) (na verdade, trabalho objetivado) que serve de meio para um novo trabalho (produção)”[8], só é considerada a simples matéria do capital, abstraída da determinação formal sem a qual não é capital. Isso nada mais significa que capital é instrumento de produção, uma vez que, em sentido mais amplo, todo objeto, mesmo aquele inteiramente fornecido pela natureza, como pedras, por exemplo, tem de ser primeiro apropriado por uma atividade qualquer antes de poder servir como instrumento, como meio de produção. Sob essa ótica, o capital teria existido em todas as formas da sociedade, é algo completamente a-histórico. Dessa maneira, todo membro do corpo humano é capital, pois cada um deles não só tem de ser desenvolvido, mas nutrido e reproduzido pela atividade, pelo trabalho, para poder funcionar como órgão. O braço e, sobretudo, a mão, são assim capital. Capital seria somente um novo nome para uma coisa tão antiga quanto a humanidade, visto que todo tipo de trabalho, inclusive o menos desenvolvido, a caça, a pesca etc., pressupõe que o produto do trabalho passado é utilizado como meio para o trabalho vivo, imediato. A outra determinação contida na definição acima abstrai completamente da substância material dos produtos, e o próprio trabalho passado é considerado como seu único conteúdo (substância); da mesma forma que é abstraída também a finalidade determinada, específica, para cuja produção esse produto deve, por sua vez, servir como meio, sendo posta como finalidade, ao contrário, unicamente uma produção – tudo isso pareceria apenas obra da abstração, que é igualmente verdadeira em todas as condições sociais e que tão somente dá seguimento à análise e à fórmula de maneira mais abstrata (mais universal) do que de resto costuma acontecer. Se a forma determinada do capital é assim abstraída e é enfatizado só o conteúdo, que, enquanto tal, é um momento necessário de todo trabalho, naturalmente nada é mais fácil do que demonstrar que o capital é uma condição necessária de toda produção humana. A demonstração é feita justamente pela abstração das determinações específicas que fazem do capital um momento de uma fase histórica particularmente desenvolvida da produção humana. A ironia é que se todo capital é trabalho objetivado que serve de meio para uma nova produção, nem todo trabalho objetivado que serve de meio para uma nova produção é capital. O capital é concebido como coisa, não como relação.
Se, por outro lado, é dito que o capital é uma soma de valores aplicada para a produção de valores, isso significa que: o capital é o valor de troca que reproduz a si mesmo. Mas, formalmente, o valor de troca se reproduz também na circulação simples. É verdade que nessa explicação é retida a forma pela qual o valor de troca é o ponto de partida, mas é deixada de lado a relação com o conteúdo (que, no capital, ao contrário do valor de troca simples, não é indiferente). Se é dito que o capital é valor de troca que produz um lucro, ou que ao menos é utilizado com o propósito de produzir um lucro, o capital já está pressuposto em sua própria explicação, pois lucro é a relação determinada do capital consigo mesmo. O capital não é uma relação simples, mas um processo, nos diferentes momentos do qual é sempre capital. Por isso, é preciso desenvolver esse processo. No trabalho acumulado há também algo de sub-reptício, pois na determinação conceitual o capital deve ser somente trabalho objetivado, no qual está certamente acumulado um quantum determinado de trabalho. Porém, o trabalho acumulado já compreende um quantum daqueles objetos em que o trabalho está realizado.
No começo, cada um se bastava a si mesmo, |a troca se baseava somente em objetos sem valor para cada trocador; não se lhe dava importância, e cada um estava satisfeito em receber uma coisa útil em troca de uma coisa sem utilidadef. Mas quando a divisão do trabalho fez de cada qual um comerciante e da sociedade uma sociedade mercantil, |ninguém queria entregar seus produtos, exceto em troca de seu equivalente; para determinar esse equivalente, portanto, foi necessário conhecer o valor daquilo que se recebiaf. (Ganilh, 12, b)[9]
Isso significa dizer, em outras palavras, que a troca não se deteve no pôr formal de valores de troca, mas necessariamente partiu daí para submeter a própria produção ao valor de troca.
Para desenvolver o conceito de capital, é necessário partir não do trabalho, mas do valor e, de fato, do valor de troca já desenvolvido no movimento da circulação. É tão impossível passar diretamente do trabalho ao capital quanto passar diretamente das diversas raças humanas ao banqueiro, ou da natureza à máquina a vapor. Vimos que, no dinheiro enquanto tal, o valor de troca já contém uma forma autônoma em relação à circulação, mas uma forma somente negativa, fugaz ou ilusória, quando fixado. Ele só existe em relação à circulação e como possibilidade de nela ingressar; mas perde essa determinação tão logo se realiza e recai em suas duas determinações anteriores de medida dos valores de troca e de meio de troca. Tão logo o dinheiro é posto como valor de troca que não só se autonomiza em relação à circulação, mas nela se conserva, não é mais dinheiro, já que o dinheiro enquanto tal não vai além da determinação negativa, mas é capital. Que o dinheiro é a primeira forma em que o valor de troca continua até a determinação do capital, e que, por isso, a primeira forma fenomênica do capital é confundida com o próprio capital ou é considerada como a sua única forma adequada, é um fatoi histórico que, longe de contradizer nosso desenvolvimento, antes o confirma. A primeira determinação do capital é, portanto: que o valor de troca procedente da circulação e que, por isso, a pressupõe se conserva nela e por meio dela; que não se perde ao ingressar nela; que a circulação não é o movimento de seu desaparecimento, mas antes o movimento de seu efetivo autopôr como valor de troca, a sua autorrealização como valor de troca. Não pode ser dito que o valor de troca enquanto tal é realizado na circulação simples. Ele é realizado tão somente no momento de seu desaparecimento. Se a mercadoria é trocada por mercadoria por meio do dinheiro, sua determinação de valor desaparece no momento em que ela se realiza, e ela sai da relação, devém indiferente em relação a ela e unicamente objeto direto da necessidade. Se o dinheiro é trocado por mercadoria, está posto inclusive o desaparecimento da forma da troca como simples mediação formal para tomar posse do material natural da mercadoria. Se a mercadoria é trocada por dinheiro, a forma do valor de troca, do valor de troca posto como valor de troca, o dinheiro, subsiste só enquanto se mantém fora da troca, se esquiva dela, e, por conseguinte, é efetivação puramente formal, puramente ideal nessa forma em que a autonomia do valor de troca existe de maneira palpável. Finalmente, se o dinheiro é trocado por dinheiro – a quarta forma na qual a circulação pode ser analisada, mas que |no fundof é apenas a terceira forma expressa na forma da troca [–], não aparece mais sequer uma diferença formal entre os diferentes; |distinção sem uma diferençai; desaparece não só o valor de troca, mas o movimento formal de seu desaparecimento. |Na verdadef, essas quatro determinações formais da circulação simples são redutíveis a duas, que, todavia, coincidem entre si; a diferença consiste em qual das duas é posta a ênfase, qual das duas é acentuada; qual dos dois momentos – dinheiro e mercadoria – constitui o ponto de partida. A saber, dinheiro por mercadoria, i.e., o valor de troca da mercadoria desaparece diante de seu conteúdo material; ou mercadoria por dinheiro, i.e., seu conteúdo desaparece diante de sua forma como valor de troca. No primeiro caso, é suprimida a forma do valor de troca, no segundo, sua substância; nos dois casos, portanto, sua realização é evanescente. É somente no capital que o valor de troca é posto como valor de troca, pelo fato de que se conserva na circulação, i.e., nem devém insubstancial, mas se efetiva sempre em outras substâncias, em uma totalidade delas; nem perde sua determinação formal, mas conserva em cada uma das diferentes substâncias sua identidade consigo mesmo. Portanto, permanece sempre dinheiro e sempre mercadoria. Ele é, em cada momento, ambos os momentos que, na circulação, desaparecem um no outro. Mas o é apenas porque ele próprio é um circuito de trocas que se renova continuamente. Sob esse aspecto, sua circulação é diferente da circulação simples do valor de troca enquanto tal. A circulação simples só é circulação, na verdade, desde o ponto de vista do observador ou em si, não é posta enquanto tal. Não é o mesmo valor de troca – justamente porque sua substância é uma mercadoria determinada – que primeiro devém dinheiro e, em seguida, novamente mercadoria; mas são sempre outros valores de troca, outras mercadorias, que aparecem diante do dinheiro. A circulação, o circuito, consiste meramente na simples repetição ou alternância da determinação de mercadoria e dinheiro, e não no fato de que o ponto de partida efetivo é também o ponto de retorno. Por isso a circulação simples, na medida em que é considerada enquanto tal e só o dinheiro é o momento persistente, foi descrita como simples circulação de dinheiro, como simples curso do dinheiro.
“|Os valores capitais se perpetuamf.” (Say, 21.)[10] “O capital – valor permanente” (“que se multiplica” ainda não cabe aqui) “que não mais pereceu; esse valor se desprende da mercadoria que o tinha criado; como uma qualidade metafísica, insubstancial, ficou sempre de posse do mesmo lavradorf” (aqui é indiferente: digamos, proprietário) “para o qual se revestiu de diferentes formas”. (Sism., VI.)[11]
A imortalidade a que o dinheiro aspirava quando se pôs negativamente perante a circulação, quando se retirou dela, o capital consegue porque se conserva precisamente pelo fato de que se expõe à circulação. O capital, como valor de troca pressuposto à circulação, ou pressupondo a circulação e nela se conservando, não só é idealmente, em cada momento, cada um de ambos os momentos contidos na circulação simples, como também assume de maneira alternada a forma de um e do outro, porém, não mais como na circulação simples, em que simplesmente passava de um momento ao outro, mas é ao mesmo tempo, em cada uma das determinações, relação com a determinação oposta, i.e., a contém idealmente em si. O capital devém alternadamente mercadoria e dinheiro; mas 1) ele próprio é a alternância dessas duas determinações; 2) ele devém mercadoria; não essa ou aquela mercadoria, mas uma totalidade de mercadorias. Ele não é indiferente à substância, mas à forma determinada; sob esse aspecto, aparece como uma metamorfose incessante dessa substância; portanto, na medida em que [o capital] é posto como conteúdo particular do valor de troca, essa própria particularidade é uma totalidade de particularidades; por isso, é indiferente não à particularidade enquanto tal, mas à particularidade singular ou singularizada. A identidade, a forma da universalidade que ele conserva, é a de ser valor de troca e, enquanto tal, dinheiro. Por isso, [o capital] é posto ainda como dinheiro, se troca |de fatoi como mercadoria por dinheiro. Mas posto como dinheiro, i.e., como essa forma contraditória da universalidade do valor de troca, está simultaneamente posto nele que não deve perder a universalidade, como na circulação simples, mas sua determinação antitética, ou só deve assumi-la de maneira evanescente; logo, trocando-se novamente por mercadoria, mas como mercadoria que, mesmo em sua particularidade, expressa a universalidade do valor de troca e, em consequência, muda incessantemente sua forma determinada.
Quando falamos aqui de capital, ainda se trata apenas de um nome. A única determinabilidade em que o capital é posto, à diferença do valor de troca imediato e do dinheiro, é a determinabilidade do valor de troca que se conserva e se perpetua na circulação e pela circulação. Consideramos até aqui apenas um aspecto, a autoconservação na e pela circulação. O outro aspecto igualmente importante é o de que o valor de troca é pressuposto não mais como simples valor de troca, tal como existe como determinação simplesmente ideal da mercadoria antes de ela entrar na circulação, ou como, mais precisamente, determinação somente pensada, uma vez que ela só devém valor de troca evanescente na circulação; nem tampouco como o valor de troca tal como existe como um momento na circulação, como dinheiro; ele existe aqui como dinheiro, como valor de troca objetivado, mas de tal maneira que nele está posta a relação antes descrita. O que distingue a segunda determinação da primeira é que ele 1) existe na forma da objetividade; 2) provém da circulação, portanto, a pressupõe, mas ao mesmo tempo parte de si mesmo como pressuposto em relação à circulação.
O resultado da circulação simples pode ser expresso por dois aspectos:
O simplesmente negativo: as mercadorias lançadas na circulação alcançaram seu objetivo; são trocadas umas pelas outras; cada uma devém objeto da necessidade e é consumida. Com isso, portanto, a circulação está terminada. Nada mais resta além do dinheiro como simples resíduo. Enquanto tal resíduo, entretanto, deixa de ser dinheiro, perde sua determinação formal. Colapsa em sua matéria, que sobra como cinza inorgânica de todo o processo.
O positivamente negativo: o dinheiro é negado não como valor de troca objetivado, [existente] para si – não apenas evanescente na circulação; mas é negada a autonomia contraditória, a universalidade simplesmente abstrata na qual ele se fixou; mas,[d]
em terceiro lugar: o valor de troca, como o pressuposto e ao mesmo tempo o resultado da circulação, do mesmo modo que se supôs que emergiu da circulação, tem de emergir dela novamente. Se isso acontecesse só de maneira formal, o valor de troca se tornaria de novo simplesmente dinheiro; se ele saísse como mercadoria efetiva, tal como ocorre na circulação simples, se tornaria mero objeto da necessidade, seria consumido enquanto tal, e do mesmo modo perderia sua determinação formal. Para que a saída se torne efetiva, [o valor de troca] tem de devir igualmente objeto da necessidade e ser consumido enquanto tal, mas tem de ser consumido pelo trabalho e, desse modo, se reproduzir novamente.
Expresso de outra maneira: o valor de troca era originariamente, de acordo com seu conteúdo, quantum objetivado de trabalho ou de tempo de trabalho; enquanto tal, ele continuou em sua objetivação por meio da circulação até a sua existência como dinheiro, dinheiro tangível. Agora, ele próprio tem de pôr novamente o ponto de partida da circulação, o qual se situa fora dela, que lhe era pressuposto e para o qual ela própria aparecia como um movimento que se apodera do valor de troca a partir do exterior e o transforma no interior dela mesma, a saber, o trabalho; agora, contudo, não mais como simples equivalente ou simples objetivação do trabalho, mas como o valor de troca objetivado e autonomizado que só se entrega ao trabalho, só devém seu material, para renovar-se a si mesmo e para começar a circulação a partir de si mesmo. Com isso, também não se trata mais da simples equiparação, da preservação de sua identidade, como na circulação; mas de multiplicação de si mesmo. O valor de troca só se põe como valor de troca à medida que se valoriza, que, portanto, aumenta o seu valor. Como capital, o dinheiro (que, da circulação, regressa a si mesmo) perdeu sua rigidez e, de coisa tangível, deveio um processo. De outro lado, porém, o trabalho modificou sua relação com a sua objetividade: ele também retornou a si mesmo. O retorno, entretanto, é o retorno em que o trabalho objetivado no valor de troca põe o trabalho vivo como um meio de sua reprodução, enquanto originalmente o valor de troca aparecia apenas como um produto do trabalho.
{I. 1) Conceito universal do capital. – 2) Particularidade do capital: |capital circulantef, |capital fixof. (Capital como meio de subsistência, matéria-prima, instrumento de trabalho.) 3) O capital como dinheiro. II. 1) Quantidade do capital. Acumulação. 2) O capital medido em si mesmo. Lucro. Juro. Valor do capital, i.e., o capital em contraste consigo como juro e lucro. 3) A circulação dos capitais. a) Troca do capital por capital. Troca de capital por renda. Capital e preços. b) Concorrência dos capitais. g) Concentração dos capitais. III. O capital como crédito. IV. O capital como capital por ações. V. O capital como mercado monetário. VI. O capital como fonte da riqueza. O capitalista. Depois do capital, teria de ser tratada a propriedade fundiária. Depois desta, o trabalho assalariado. Todos os três pressupostos, o movimento dos preços, como circulação agora determinada em sua totalidade interna. De outro lado, as três classes, como presume a produção em suas três formas básicas e pressupostos da circulação. Em seguida, o Estado. (Estado e sociedade burguesa. – O imposto, ou a existência das classes improdutivas. – A dívida pública. – A população. – O Estado em suas relações exteriores: colônias. Comércio exterior. Taxa de câmbio. Dinheiro como moeda internacional. – Finalmente, o mercado mundial. Propagação da sociedade burguesa sobre o Estado. As crises. Dissolução do modo de produção e da forma de sociedade fundados sobre o valor de troca. O pôr real do trabalho individual como trabalho social, e vice-versa.)}
(Nada é mais falso do que o modo pelo qual a sociedade é considerada tanto por economistas como por socialistas em relação às condições econômicas. Proudhon, por exemplo, afirma contra Bastiat (XVI, 29)[12]): “|Para a sociedade, a diferença entre capital e produto não existe. Essa diferença é inteiramente subjetiva aos indivíduosf”. Portanto, chama justamente o social de subjetivo; e chama a sociedade de abstração subjetiva. A diferença entre produto e capital é precisamente a de que, como capital, o produto exprime uma relação particular, pertencente a uma forma histórica de sociedade. A assim chamada consideração sob o ponto de vista da sociedade nada mais significa do que perder de vista as diferenças, justamente as diferenças que expressam a relação social (relação da sociedade burguesa). A sociedade não consiste de indivíduos, mas expressa a soma de vínculos, relações em que se encontram esses indivíduos uns com os outros. É como se alguém quisesse dizer: do ponto de vista da sociedade, não existem escravos e cidadãosi: ambos são seres humanos. Pelo contrário, são seres humanos fora da sociedade. Ser escravo e ser cidadãoi são determinações, relações sociais dos seres humanos A e B. O ser humano A enquanto tal não é escravo. É escravo na e pela sociedade. O que o senhor Proudhon diz aqui do capital e do produto equivale a dizer que, para ele, do ponto de vista da sociedade, não existe nenhuma diferença entre capitalistas e trabalhadores, uma diferença que só existe precisamente do ponto de vista da sociedade.)
(No escrito polêmico de Proudhon contra Bastiat, Gratuité du Crédit [Crédito gratuito], tudo se resume ao fato de que ele quer reduzir a troca entre capital e trabalho à troca simples de mercadorias como valores de troca, aos momentos da circulação simples, i.e., que abstrai justamente da diferença específica da qual tudo depende. Ele diz: “|todo produto, em um dado momento, devém capitalf, porque tudo o que é consumido em um dado momento |se consome reprodutivamentef”[13]. Isso é inteiramente falso, |mas não importai.
|O que faz com que a noção de produto se transforme de repente na de capital? É a ideia de valor. Isso significa que o produto, para devir capital, deve ter passado por uma avaliação autêntica, deve ter sido comprado ou vendido, seu preço discutido e fixado por uma espécie de convenção legalf. P.ex., o couro |saindo do matadouro é o produto do magarefe. Esse couro foi comprado pelo curtidor? No mesmo instante este último o leva ou leva o valor ao seu fundo de exploração. Graças ao trabalho do curtidor, esse capital devém novamente produto etc.f.[14]
Cada capital é aqui “|um valor feitof”. O dinheiro é o “|o valor mais perfeitof”, o valor feitof na máxima potência. Isso significa, portanto: 1) o produto devém capital pelo fato de que devém valor. Ou o capital nada mais é do que valor simples. Não existe nenhuma diferença entre eles. Por isso, ele fala alternadamente ora de mercadoria (cujo aspecto natural é expresso como produto), ora de valor, ou, melhor dizendo, de preço, uma vez que pressupõe o ato de compra e venda. 2) Dado que o dinheiro aparece como a forma consumada do valor, como o é na circulação simples, o dinheiro também é, por essa razão, o verdadeiro |valor feitof.)
A transição do simples valor de troca e de sua circulação no capital também pode ser expressa da seguinte maneira: na circulação, o valor de troca aparece duplamente, ora como mercadoria, ora como dinheiro. Quando está em uma determinação, não está na outra. Isso vale para cada mercadoria particular. Mas a totalidade da circulação considerada em si mesma consiste em que o mesmo valor de troca, o valor de troca como sujeito, põe-se uma vez como mercadoria, outra vez como dinheiro, e é justamente esse movimento de se pôr nessa dupla determinação e de se conservar em cada uma delas como seu contrário, como dinheiro na mercadoria e como mercadoria no dinheiro. No entanto, isso que, em si, está presente na circulação simples, não está posto nela. O valor de troca posto como unidade de mercadoria e dinheiro é o capital, e esse próprio pôr aparece como a circulação do capital. (Circulação que, contudo, é uma espiral, uma curva que se amplia, não um simples círculo.)
Analisemos primeiro as determinações simples contidas na relação entre capital e trabalho, de modo a descobrir a conexão interna – tanto dessas determinações quanto de seus desenvolvimentos ulteriores – com o antecedente.
O primeiro pressuposto é que de um lado está o capital e do outro o trabalho, ambos como figuras autônomas entre si; por conseguinte, ambos são também estranhos entre si. O trabalho que se confronta com o capital é trabalho alheio [fremde], e o capital que se confronta com o trabalho é capital alheio [fremdes]. Os extremos que se confrontam são especificamente diferentes. No primeiro pôr [Setzung] do valor de troca simples, o trabalho era determinado de tal maneira que o produto não era valor de uso imediato para o trabalhador, não era meio de subsistência direto. Essa era a condição geral da criação de um valor de troca e da troca em geral. Caso contrário, o trabalhador teria produzido somente um produto – um valor de uso imediato para si mesmo –, mas nenhum valor de troca. Esse valor de troca, todavia, estava materializado em um produto que, enquanto tal, tinha valor de uso para outros e, nessa condição, era objeto de suas necessidades. O valor de uso que o trabalhador tem para oferecer ao capitalista, portanto, que em geral ele tem para oferecer a outros, não está materializado em um produto, não existe de qualquer maneira fora dele, logo, não existe realmente, mas só potencialmente, como sua capacidade. Só devém efetividade quando é solicitado pelo capital, quando é posto em movimento, pois atividade sem objeto não é nada, ou é no máximo atividade intelectual, da qual não se trata aqui. Tão logo recebe o movimento do capital, esse valor de uso existe como a atividade determinada, produtiva do trabalhador; é sua própria vivacidade dirigida a um objetivo determinado e, por isso, manifesta em uma forma determinada.
Na relação de capital e trabalho, o valor de troca e o valor de uso estão postos em uma relação recíproca; um lado (o capital) é primeiro posto diante do outro como valor de troca[e], e o outro (o trabalho) é posto diante do capital como valor de uso. Na circulação simples, cada uma das mercadorias pode ser considerada alternadamente em uma ou outra determinação. Em ambos os casos, quando considerada como mercadoria enquanto tal, ela sai da circulação como objeto da necessidade e fica completamente fora da relação econômica. Na medida em que é fixada como valor de troca – dinheiro –, a mercadoria tende ao mesmo amorfismo, mas permanece no interior da relação econômica. De qualquer modo, na relação de troca (circulação simples), as mercadorias só têm interesse na medida em que têm valor de troca; por outro lado, seu valor de troca só tem um interesse temporário, uma vez que supera a unilateralidade – da utilidade, do valor de uso referido apenas ao indivíduo determinado e, por isso, imediatamente existente para ele –, mas não o próprio valor de uso; pelo contrário, o põe e medeia; como valor de uso para outros etc. Entretanto, à medida que o valor de troca é fixado no dinheiro, o valor de uso se confronta com ele tão somente como caos abstrato; e precisamente pela separação de sua substância, colapsa em si mesmo e afasta-se da esfera do valor de troca simples, cujo movimento supremo é a circulação simples e cuja consumação suprema é o dinheiro. No entanto, no interior da própria esfera a diferença existe |de fatoi somente como uma diferença superficial, como distinção puramente formal. O próprio dinheiro, em sua máxima fixidez, é ele mesmo de novo mercadoria e só se distingue das outras mercadorias pelo fato de que expressa o valor de troca de modo mais perfeito, mas justamente por isso perde, como moeda, seu valor de troca como determinação imanente e devém simples valor de uso, ainda que seja valor de uso para a fixação de preço etc. das mercadorias. As determinações ainda coincidem imediatamente e, da mesma forma, imediatamente divergem. Onde se comportam de forma autônoma uma em relação à outra, positivamente, como na mercadoria que devém objeto do consumo, que deixa de ser momento do processo econômico; quando negativamente, como no dinheiro, ela devém loucura; a loucura, entretanto, como um momento da economia e determinante da vida prática dos povos.
Vimos antes[15] que não se pode afirmar que o valor de troca se realiza na circulação simples. Mas isso acontece porque o valor de uso não se confronta com ele enquanto tal, enquanto determinado por ele próprio como um valor de uso; ao passo que, inversamente, o valor de uso enquanto tal não está em relação com o valor de troca, mas só devém valor de troca determinado pelo fato de que o atributo comum dos valores de uso – ser tempo de trabalho – é-lhes aplicado como padrão externo. A sua unidade se desagrega imediatamente, e sua diferença se agrega imediatamente em unidade. O que tem de ser posto agora é que o valor de uso devém valor de uso por meio do valor de troca, e que o valor de troca medeia a si mesmo por meio do valor de uso. Na circulação do dinheiro, tínhamos apenas duas formas diferentes do valor de troca (preço da mercadoria – dinheiro) ou somente valores de uso diferentes (M-M), para os quais o dinheiro, o valor de troca, é simples mediação evanescente. Não havia nenhuma relação efetiva entre valor de troca e valor de uso. Por essa razão, a mercadoria enquanto tal – sua particularidade – é também um conteúdo indiferente, apenas fortuito e |em geralf imaginado, que se situa fora da relação formal econômica; ou a relação formal econômica é apenas uma forma superficial, determinação formal, fora do âmbito no qual se encontra a substância efetiva e que não se vincula à substância enquanto tal; por isso, caso essa determinação formal enquanto tal seja conservada no dinheiro, ela se transforma às escondidas em um produto natural indiferente, um metal, do qual está apagado o último vestígio de relação, seja ao indivíduo, seja ao intercâmbio dos indivíduos. O metal enquanto tal não expressa naturalmente nenhuma relação social; a forma da moeda também está nele extinta; o último sinal de vida de seu significado social.
Posto como parte da relação, o valor de troca, contraposto ao próprio valor de uso, se defronta com ele como dinheiro, mas o dinheiro que lhe está contraposto dessa maneira não é mais dinheiro em sua determinação de dinheiro enquanto tal, mas como capital. O valor de uso ou mercadoria que se contrapõe ao capital ou ao valor de troca posto não é mais a mercadoria tal como aparecia perante o dinheiro, cuja determinabilidade formal era tão indiferente quanto seu conteúdo, e que só se apresentava como uma substância absolutamente qualquer. 1) Em primeiro lugar, como valor de uso para o capital, i.e., como um objeto pela troca com o qual o capital não perde sua determinação de valor, como ocorre com o dinheiro, p. ex., ao ser trocado por uma determinada mercadoria. A única utilidade que um objeto pode ter em geral para o capital só poder ser a de conservá-lo e de aumentá-lo. Já vimos, no dinheiro, como o valor autonomizado enquanto tal – ou a forma universal da riqueza – não é capaz de nenhum outro movimento que não seja o quantitativo; o de se multiplicar[16]. De acordo com seu conceito, ele é a quintessência de todos os valores de uso; mas como sempre é somente um determinado quantum de dinheiro (aqui, capital), seu limite quantitativo está em contradição com sua qualidade. Por essa razão, é de sua natureza ser constantemente impelido para além de seu próprio limite. (Por isso, como riqueza desfrutável, como na época do Império Romano, p. ex., aparece como dissipação ilimitada, dissipação que procura igualmente elevar a fruição à imaginária ilimitabilidade devorando saladas de pérolas etc.) Já por essa razão, para o valor que se mantém em si como valor, o aumentar coincide com o autoconservar, e ele só se conserva precisamente pelo fato de que tende continuamente para além de seu limite quantitativo, limite que contradiz sua determinação formal, sua universalidade intrínseca. O enriquecimento é, assim, uma finalidade em si. A atividade determinante da finalidade do capital só pode ser o enriquecimento, i.e., a expansão, o aumento de si mesmo. Uma determinada soma de dinheiro (e o dinheiro sempre existe para o seu dono somente em uma quantidade determinada; está sempre presente como determinada soma de dinheiro) (isso tem de ser desenvolvido já no capítulo do dinheiro) pode satisfazer inteiramente um consumo determinado, no qual deixa justamente de ser dinheiro. Mas não pode satisfazer como representante da riqueza universal. Como soma quantitativamente determinada, soma limitada, o dinheiro é tão somente representante limitado da riqueza universal, ou representante de uma riqueza limitada, que não vai além do seu valor de troca; é exatamente medido nele. Por isso, ele não tem de forma alguma a capacidade, que deveria ter em conformidade com seu conceito universal, de comprar todos os prazeres, todas as mercadorias, a totalidade das substâncias materiais da riqueza; não é um “|epítome de todas as coisasf”[17] etc. Fixado como riqueza, como forma universal da riqueza, como valor que vale como valor, o dinheiro é, portanto, o impulso permanente de continuar para além de seu limite quantitativo: processo sem fim. A sua própria vitalidade consiste exclusivamente em que: só se conserva como valor de troca diferindo do valor de uso e valendo por si à medida que se multiplica continuamente. (Para os senhores economistas é terrivelmente difícil avançar teoricamente da autoconservação do valor no capital à sua multiplicação: isto é, à sua multiplicação em sua determinação fundamental, não só como acidente ou como resultado. Ver, p. ex., como Storch introduz essa determinação fundamental por meio do advérbio “propriamente”[18]. Decerto que os economistas procuram incluir tal aspecto na determinação do capital como algo essencial, mas quando isso não se dá na forma brutal de acordo com a qual o capital é determinado como aquilo que produz lucro, onde o próprio aumento do capital já está posto no lucro como forma econômica particular, só se realiza de maneira sub-reptícia e muito débil, como será mostrado mais tarde em uma breve sinopse de tudo o que os economistas ensinaram sobre a determinação conceitual do capital. A verborragia de que ninguém aplicaria seu capital sem disso extrair algum ganho reduz-se seja à tolice de que os bravos capitalistas permaneceriam capitalistas mesmo sem aplicar seu capital; seja [à ideia de] que, dito de forma muito comezinha, a aplicação com ganho é inerente à definição de capital. Bemi. Nesse caso, seria preciso justamente demonstrá-lo.) – O dinheiro, como soma de dinheiro, é medido por sua quantidade. Esse ser medido contradiz sua determinação, que tem de ser orientada à desmedida. Tudo o que é dito aqui do dinheiro vale ainda mais para o capital, em que o dinheiro realmente se desenvolve pela primeira vez em sua determinação consumada. Como valor de uso, i.e., como algo útil, só pode se contrapor ao capital enquanto tal aquilo que o aumenta, o multiplica e, por isso, o conserva como capital.
2) Em conformidade com seu conceito, o capital é dinheiro, mas dinheiro que não existe mais na forma simples de ouro e prata, nem tampouco como dinheiro em oposição à circulação, mas dinheiro na forma de todas as substâncias – mercadorias. Nesse particular, portanto, como capital não está em oposição ao valor de uso, mas existe, além do dinheiro, justamente nos valores de uso. Por conseguinte, essas suas próprias substâncias são agora transitórias e não teriam valor de troca se não tivessem valor de uso; mas [são substâncias] que, como valores de uso, perdem seu valor, são dissolvidas pelo simples metabolismo da natureza se não são efetivamente usadas; e desaparecem em definitivo quando são efetivamente usadas. Sob tal aspecto, o contrário do capital não pode ser de novo uma mercadoria particular; porque, enquanto tal, ela não constitui uma oposição ao capital, pois a substância do próprio capital é valor de uso; não é essa ou aquela mercadoria, mas é qualquer mercadoria. A substância comum a todas as mercadorias, i.e., sua substância dessa vez não como seu substrato material, determinação física, portanto, mas sua substância em comum como mercadorias e, por isso, valores de troca, é a de que são trabalho objetivado. {Mas só se pode falar dessa substância econômica (social) dos valores de uso, i.e., da sua determinação econômica como conteúdo em contraste com sua forma (mas essa forma é valor porque é determinado quantum desse trabalho), quando se busca sua antítese. No que se refere às suas diferenças naturais, nenhuma delas impede o capital de tomar o seu lugar e fazê-la seu próprio corpo, uma vez que nenhuma exclui a determinação do valor de troca e da mercadoria.} A única coisa distinta do trabalho objetivado é o trabalho não objetivado, mas ainda se objetivando, o trabalho como subjetividade. Ou ainda, o trabalho objetivado, i.e., como trabalho presente no espaço, pode ser contraposto, como trabalho passado, ao trabalho presente no tempo. Como deve existir como trabalho no tempo, vivo, só pode existir como sujeito vivo, no qual existe como capacidade, como possibilidade; logo, como trabalhador. Por isso, o único valor de uso que pode constituir uma antítese ao capital é o trabalho {mais precisamente, trabalho criador de valor, i.e., trabalho produtivo. Esse comentário incidental está antecipado; tem de ser primeiramente desenvolvido, |a seu tempoi. O trabalho, como mera prestação de serviço destinada à satisfação de necessidades imediatas, não tem absolutamente nada a ver com o capital, uma vez que o capital não procura tal satisfação. Quando um capitalista manda cortar lenha para assar seu carneiroi, não só o lenhador se relaciona com o capitalista na relação da troca simples, mas também o capitalista se relaciona com o lenhador na mesma relação. O lenhador lhe dá seu serviço, um valor de uso que não aumenta o capital, mas no qual ele se consome, e o capitalista lhe dá em troca uma outra mercadoria sob a forma de dinheiro. O mesmo acontece com todas as prestações de serviço que os trabalhadores trocam diretamente pelo dinheiro de outras pessoas e que são consumidas por essas pessoas. Isso é consumo de renda, que, enquanto tal, sempre pertence à circulação simples, não à do capital. Se um dos contratantes não se contrapõe ao outro como capitalista, tal prestação de serviço não pode entrar na categoria de trabalho produtivo. Da puta ao papa, há uma multidão dessa ralé. Mas também faz parte dela o lumpemproletariado honesto e “trabalhador”; p. ex., grandes bandos de serviçais etc. que prestam serviço nas cidades portuárias etc. O que representa o dinheiro só quer o serviço em virtude de seu valor de uso, que desaparece imediatamente para ele; mas o serviçal exige o dinheiro, e dado que ao que fornece o dinheiro interessa a mercadoria, e ao que fornece a mercadoria, o dinheiro, eles representam, um perante o outro, somente os dois lados da circulação simples; é claro que o serviçal, como aquele a quem interessa o dinheiro, ou seja, imediatamente a forma universal da riqueza, procura enriquecer à custa de seu improvisado amigo, o que deixa este último, um |frio calculistai, tão mais profundamente angustiado, porque tal prestação de serviço de que agora necessita é imputável exclusivamente à sua universal fraqueza humana, mas de forma alguma [é] desejada por ele em sua qualidade de capitalista. A. Smith estava fundamentalmente certo com seu trabalho produtivo e improdutivo, certo do ponto de vista da economia burguesa. O que os outros economistas alegam contra isso ou é um monte de tolices (|p. ex.i, Storch, e Senior ainda mais piolhento etc.), a saber, que toda ação tem algum efeito, por conseguinte, confusão de produto em seus sentidos natural e econômico; nesse sentido, um patife é também um trabalhador produtivo, uma vez que ele produz indiretamente livros sobre direito criminal; (esse raciocínio é ao menos tão correto quanto o de chamar um juiz de trabalhador produtivo porque protege contra o roubo). Ou então, os economistas modernos se converteram em tais sicofantas do burguês que pretendem convencê-lo de que é um trabalho produtivo quando alguém lhe cata piolhos na cabeça ou lhe esfrega o cacete, porque o último movimento talvez deixe sua cabeça dura – estúpidai – mais disposta para o trabalho no escritóriof no dia seguinte. Por isso, é absolutamente justo – mas, ao mesmo tempo, igualmente característico – que, para os economistas consequentes, os trabalhadores empregados em lojas de luxo, p. ex., sejam trabalhadores produtivos, embora os sujeitos que consomem tais objetos sejam explicitamente fustigados como perdulários improdutivos. O fatoi é que esses trabalhadores são efetivamentei produtivos |à medida que aumentam o capital de seu patrão; são improdutivos com respeito ao resultado material de seu trabalho. Na verdadei, esse trabalhador “produtivo” está tão interessado na merda que tem de fazer quanto o próprio capitalista que o emprega e que não dá a mínima para a porcaria. Considerado com mais precisão, entretanto, descobre-se que a definição verdadeira de um trabalhador produtivo consiste no seguinte: um ser humano que não necessita nem exige mais do que o estritamente necessário para capacitá-lo a conseguir o maior proveito possível para o seu capitalista. |Tudo isso é nonsensei. Digressão. Mas examinar mais de perto o produtivo e improdutivo.}
O valor de uso que confronta o capital como o valor de troca posto é o trabalho. O capital se troca ou está nessa determinabilidade só em relação com o não capital, a negação do capital, e só é capital relativamente a esta última; o não capital efetivo é o trabalho.
Quando consideramos a troca entre capital e trabalho, descobrimos que ela se decompõe em dois processos não apenas formal, mas qualitativamente diferentes, e até mesmo opostos:
1) O trabalhador troca sua mercadoria, o trabalho, o valor de uso que, como mercadoria, também tem um preço, como todas as outras mercadorias, por uma determinada soma de valores de troca, determinada soma de dinheiro que o capital lhe cede.
2) O capitalista recebe em troca o próprio trabalho, o trabalho como atividade que põe valor, como trabalho produtivo; i.e., recebe a força produtiva que conserva e multiplica o capital e que, com isso, devém força produtiva e força reprodutiva do capital, uma força pertencente ao próprio capital.
A separação desses dois processos é tão evidente que eles podem dissociar-se no tempo e não têm absolutamente de coincidir. O primeiro processo pode estar concluído, e na maioria das vezes o está em certo grau, antes de começar o segundo. A consumação do segundo ato presume a finalização do produto. O pagamento do salário não pode esperar que isso aconteça. Veremos que o próprio fato de não esperar a finalização do produto é uma determinação essencial da relação.
Na troca simples, na circulação, esse duplo processo não tem lugar. Se a mercadoria a é trocada pelo dinheiro b e este, em seguida, pela mercadoria c destinada ao consumo – o objeto original da troca para a –, a utilização da mercadoria c, seu consumo, se dá totalmente fora da circulação; não diz respeito à forma da relação; está situada fora da própria circulação, e é um interesse puramente material que só expressa uma relação do indivíduo A, em sua naturalidade, com um objeto de sua necessidade singular. O que ele faz com a mercadoria c é uma questão que está fora da relação econômica. Aqui, inversamente, o valor de uso do que é trocado por dinheiro aparece como relação econômica particular, e a utilização determinada do que é trocado por dinheiro constitui a finalidade última de ambos os processos. Por conseguinte, isso já diferencia formalmente a troca entre capital e trabalho da troca simples – dois processos distintos.
Se, além disso, perguntamos agora como a troca entre capital e trabalho é diferente da troca simples (circulação) do ponto de vista do conteúdo, descobrimos que essa diferença não emerge por meio de uma relação ou comparação externa, mas que, na totalidade do último processo, a segunda forma mesma se diferencia da primeira, que essa própria comparação está incluída. A diferença do segundo ato em relação ao primeiro – mais precisamente, o segundo ato é o processo particular de apropriação do trabalho pelo capital – é exatamentei a diferença entre a troca de capital e trabalho e a troca de mercadorias mediada pelo dinheiro. Na troca entre capital e trabalho, o primeiro ato é uma troca, pertence inteiramente à circulação ordinária; o segundo é um processo qualitativamente diferente da troca, e é apenas impropriamentei que poderia ser qualificado de troca, não importa o tipo. Se opõe diretamente à troca; fundamentalmente, [é] outra categoria.
{Capital. I. Universalidade: 1) a) Devir do capital a partir do dinheiro. b) Capital e trabalho (mediando-se pelo trabalho alheio). c) Os elementos do capital decompostos de acordo com sua relação com o trabalho. (Produto. Matéria-prima. Instrumento de trabalho.) 2) Particularização do capital: a) Capital circulantef, capital fixof. Circuito do capital. 3) A singularidade do capital: capital e lucro. Capital e juro. O capital como valor, diferente de si mesmo como juro e lucro.
II. Particularidade: 1) Acumulação dos capitais. 2) Concorrência dos capitais. 3) Concentração dos capitais (diferença quantitativa do capital como diferença simultaneamente qualitativa, como medida de sua magnitude e de sua eficácia).
III. Singularidade: 1) O capital como crédito. 2) O capital como capital por ações. 3) O capital como mercado de dinheiro. No mercado de dinheiro, o capital é posto em sua totalidade; nele, o capital determina os preços, dá trabalho, regula a produção, em uma palavra, é fonte de produção; o capital, entretanto, não só enquanto se produzindo a si mesmo (materialmente, pela indústria etc., pondo preços, desenvolvendo as forças produtivas), mas ao mesmo tempo como criador de valores, tem de pôr um valor ou forma de riqueza especificamente diferente do capital. Esse valor é a renda da terra. Ela é a única criação de valor do capital como valor diferente de si mesmo, diferente de sua própria produção. Tanto por sua natureza quanto historicamente, o capital é o criador da moderna propriedade fundiária, da renda da terra; por isso, sua ação aparece igualmente como dissolução da forma antiga de propriedade fundiária. A nova forma emerge da ação do capital sobre a antiga. O capital é isso – sob um aspecto – como criador da agricultura moderna. Nas relações econômicas da propriedade fundiária moderna, que aparece como um processo: renda da terra-capital-trabalho assalariado (a forma do silogismo pode também ser concebida de outra maneira: como trabalho assalariado-capital-renda da terra; mas o capital tem sempre de aparecer como o termo médio ativo), está posta, por isto, a construção interna da sociedade moderna, ou o capital na totalidade de suas relações. Pergunta-se agora: como se dá a passagem da propriedade fundiária ao trabalho assalariado? (A passagem do trabalho assalariado ao capital se dá por si mesma; uma vez que, nesse caso, o capital regressou ao seu fundamento ativo.) Historicamente, a passagem é indiscutível. Já está contida no fato de que a propriedade fundiária é produto do capital. Por essa razão, observamos sempre que ali onde a propriedade fundiária, pela ação retroativa do capital sobre as formas mais antigas da propriedade fundiária, se transforma em renda monetária (o mesmo ocorre, de outra maneira, ali onde é criado o camponês moderno) e, por isso, a agricultura, como agricultura explorada pelo capital, se transforma simultaneamente em agronomia industrial, ali, os cottiers[f], servos da gleba, camponeses sujeitos à prestação de serviços, enfiteutas, colonos etc. necessariamente devêm diaristas, trabalhadores assalariados; por conseguinte, o trabalho assalariado em sua totalidade é inicialmente criado pela ação do capital sobre a propriedade fundiária e, posteriormente, tão logo esta está desenvolvida como forma, pela ação do próprio proprietário fundiário. O próprio proprietário então limpai a terra de suas bocas supérfluas, como diz Steuart, arranca os filhos da terra do seio no qual cresceram e transforma, assim, o próprio trabalho na terra, de trabalho que, segundo sua natureza, aparece como fonte imediata de subsistência, em trabalho como fonte de subsistência mediada, inteiramente dependente de relações sociais[19]. (A dependência recíproca tem de ser elaborada de início em sua pureza, antes que uma comunidade social efetiva possa ser pensada. Todas as relações como relações postas pela sociedade, não como relações determinadas pela natureza.) Só assim é possível a aplicação da ciência e o pleno desenvolvimento da força produtiva. Não pode haver qualquer dúvida, portanto, de que o trabalho assalariado em sua forma clássica, quando impregnando[20] a sociedade em toda a sua extensão e, no lugar da terra, fazendo-se em solo sobre o qual a sociedade se erige, é criado de início pela moderna propriedade fundiária, i.e., pela propriedade fundiária como valor criado pelo próprio capital. Por isso a propriedade fundiária leva de volta ao trabalho assalariado. Visto sob um aspecto, não se trata senão da transferência do trabalho assalariado das cidades para o campo, logo, do trabalho assalariado disseminado por toda a superfície da sociedade. O antigo proprietário fundiário, se é rico, não precisa de nenhum capitalista para devir um moderno proprietário fundiário. Precisa tão somente transformar seus trabalhadores em trabalhadores assalariados e produzir para obter lucro, em lugar de rendaf. Em sua pessoa estão pressupostos então o moderno arrendatário e o moderno proprietário da terra. Todavia, não se trata de uma diferença formal o fato de que se modifica a forma pela qual ele recebe sua renda, ou a forma pela qual o trabalhador é pago, mas pressupõe uma reconfiguração total do próprio modo de produção (da agricultura); por isso, tem pressupostos baseados em determinado grau de desenvolvimento da indústria, do comércio e da ciência, em síntese, das forças produtivas. Da mesma maneira que, em geral, a produção baseada no capital e no trabalho assalariado não é só formalmente diferente de outros modos de produção, mas pressupõe também uma revolução e um desenvolvimento total da produção material. Embora o capital como capital comercial possa se desenvolver de forma plena (mas não tanto quantitativamente) sem a reconfiguração da propriedade fundiária, como capital industrial não pode fazê-lo. O próprio desenvolvimento da manufatura pressupõe uma dissolução inicial das antigas relações econômicas da propriedade fundiária. Por outro lado, a partir dessa dissolução pontual, a nova forma só devém em sua totalidade e extensão quando a indústria moderna alcança um alto grau de desenvolvimento, desenvolvimento que, todavia, sempre avança mais rápido quanto mais se tenham desenvolvido a agricultura moderna e suas correspondentes formas de propriedade e relações econômicas. Por isso a Inglaterra é, nesse sentido, o país modelo para os outros países continentais. Do mesmo modo: se a primeira forma da indústria, a grande manufatura, já pressupõe a dissolução da propriedade fundiária, tal dissolução, por sua vez, é condicionada pelo desenvolvimento subordinado do capital em suas próprias formas ainda não desenvolvidas (medievais), ocorrido nas cidades, e, ao mesmo tempo, pela influência da manufatura que florescia com o comércio em outros países (a Holanda exerce tal efeito sobre a Inglaterra no decorrer do século XVI e na primeira metade do século XVII). Nesses países, o processo já havia se consumado, a agricultura já havia sido sacrificada à criação de gado e os cereais eram importados de países atrasados, como a Polônia etc. (Holanda novamentei). É preciso considerar que as novas forças produtivas e relações de produção não se desenvolvem do nada, nem do ar nem do ventre da ideia que se põe a si mesma; mas o fazem no interior do desenvolvimento da produção existente e das relações de produção tradicionais herdadas, e em contradição com elas. Se no sistema burguês acabado cada relação econômica pressupõe a outra sob a forma econômico-burguesa e, desse modo, cada elemento posto é ao mesmo tempo pressuposto, o mesmo sucede em todo sistema orgânico. Como totalidade, esse próprio sistema orgânico tem seus pressupostos, e seu desenvolvimento na totalidade consiste precisamente em subordinar a si todos os elementos da sociedade, ou em extrair dela os órgãos que ainda lhe faltam. É assim que devém uma totalidade historicamente. O vir a ser tal totalidade constitui um momento de seu processo, de seu desenvolvimento. – Por outro lado, quando, no interior de uma sociedade, as relações de produção modernas, i.e., o capital está desenvolvido em sua totalidade e essa sociedade se apodera de um novo território, como as colônias, p.ex., ela descobre, mais especificamente, seu representante, o capitalista, [descobre] que seu capital deixa de ser capital sem trabalho assalariado, e que um dos seus pressupostos não é só a propriedade fundiária em geral, mas a propriedade fundiária moderna; propriedade fundiária que, como renda da terra capitalizada, é cara, e, enquanto tal, exclui a utilização imediata da terra pelos indivíduos. Por essa razão a teoria das colônias de Wakefield é seguida na prática pelo governo inglês na Austrália. A propriedade da terra é aqui encarecida artificialmente para transformar os trabalhadores em trabalhadores assalariados, para fazer o capital atuar como capital e, desse modo, tornar a nova colônia produtiva; para nela desenvolver a riqueza, em lugar de utilizá-la, como na América, para o provimento momentâneo dos trabalhadores assalariados. A teoria de Wakefield é imensamente importante para a compreensão correta da moderna propriedade fundiária. – O capital como criador da renda da terra retorna, portanto, à produção do trabalho assalariado como seu fundamento criativo universal. O capital tem origem na circulação e põe o trabalho como trabalho assalariado; forma-se dessa maneira e, desenvolvido como totalidade, põe a propriedade da terra tanto como sua condição quanto como sua antítese. Mas isso evidencia que assim ele apenas criou o trabalho assalariado como seu pressuposto universal. Por isso, é preciso examinar este último por si mesmo. Por outro lado, a propriedade fundiária moderna aparece ela mesma com extremo poder no processo do clearing of estates[g] e na transformação dos trabalhadores rurais em trabalhadores assalariados. Logo, dupla passagem ao trabalho assalariado. Isso quanto ao aspecto positivo. Negativamente, após o capital ter posto a propriedade da terra e, com isso, ter alcançado seu duplo objetivo [–] 1) agricultura industrial e, dessa maneira, o desenvolvimento da força produtiva da terra; 2) trabalho assalariado, por conseguinte, dominação generalizada do capital sobre o campo [–], o capital considera a própria existência da propriedade da terra como um desenvolvimento simplesmente transitório, necessário como ação do capital sobre as antigas relações de propriedade fundiária e um produto de sua decomposição; mas que, enquanto tal, uma vez alcançado esse objetivo, é simples limitação do lucro, não sendo uma necessidade para a produção. O capital procura, portanto, dissolver a propriedade fundiária como propriedade privada e transferi-la ao Estado. Esse é o aspecto negativo. Para assim transformar toda a sociedade interna em capitalistas e trabalhadores assalariados. Quando o capital atinge esse estágio, o trabalho assalariado também chega a tal ponto que, por um lado, procura eliminar o proprietário de terra como superfluidade, de modo a simplificar a relação, aliviar os impostos etc., da mesma forma como o faz o burguêsf; por outro lado, exige a destruição da grande propriedade fundiária para escapar do trabalho assalariado e devir produtor autônomo – para uso imediato. A propriedade da terra é, assim, negada de dois lados; a negação por parte do capital é somente modificação da forma para seu domínio exclusivo. (A renda da terra como a renda (imposto) estatal universal, de modo que a sociedade burguesa reproduz de outra maneira o sistema medieval, mas como a sua negação completa.) A negação por parte do trabalho assalariado é somente negação velada do capital e, portanto, também sua própria negação. Por conseguinte, é preciso considerar agora o trabalho assalariado como autônomo em relação ao capital. Nesse caso, a transição é dupla: 1) transição positiva da propriedade fundiária moderna, ou do capital mediado pela propriedade fundiária moderna [ao] trabalho assalariado universal; 2) transição negativa: negação da propriedade fundiária pelo capital, i.e., negação, portanto, do valor autônomo pelo capital, i.e., precisamente negação do capital por si mesmo. Mas a sua negação é o trabalho assalariado. Logo, negação da propriedade fundiária e, por meio dela, negação do capital por parte do trabalho assalariado. I.e., o trabalho assalariado que pretende pôr-se como independente.}
{O mercado, que, no princípio, aparece na Economia como determinação abstrata, assume configurações totais. De início, o mercado de dinheiro. Este engloba o mercado de câmbio; o mercado de empréstimos em geral; logo, comércio de dinheiro, mercado de metais preciosos. Como mercado de empréstimos de dinheiro, aparece tanto nos bancos, |p.ex.i, no desconto que efetuam: |mercado de empréstimos, corretores de empréstimosi etc.; mas, além disso, também como mercado de todos os títulos portadores de juros: fundosi do Estado e |mercado de açõesi. Os últimos se dividem em grupos maiores. Em primeiro lugar, as açõesi dos próprios institutos monetários; |ações de bancosi; |ações de bancos de capital abertoi; açõesi dos meios de comunicação (|estradas de ferroi como as mais importantes; |ações de canaisi; |ações de navegação a vapori, |ações de telégrafosi, |ações de ônibusi); |ações de empresas industriais em gerali (|ações de empresas de mineraçãoi, as principais). Em seguida, para o suprimento de elementos gerais (açõesi de gás, açõesi de companhias de abastecimento de água). Variedadei aos milhares. Para a estocagem das mercadorias (|ações de docasi etc.). Variedadei tendendo ao infinito, como as empresasi industriais por ações ou companhias comerciais. Finalmente, como garantia do todo, |ações de seguroi de todos os tipos. Assim como o mercado, em linhas gerais, se decompõe em |mercado internoi e |mercado externoi, da mesma maneira o próprio mercado interno se decompõe em |mercado de ações nacionaisi, |fundos nacionaisi etc., e mercado de |fundos estrangeirosi, |ações estrangeirasi etc. Mas esse desenvolvimento faz parte, realmente, do mercado mundial, que não é só o mercado interno na relação com todos os |mercados estrangeirosi existentes fora dele, mas é simultaneamente o [mercado] interno de todos os |mercados estrangeirosi como partes integrantes, por sua vez, do |mercado nacionali. A concentração do mercado de dinheiro em um centro principal no interior de um país, enquanto os demais mercados se distribuem em conformidade com a divisão do trabalho; muito embora haja, nesse caso, grande concentração na capital, quando essa é ao mesmo tempo um porto de exportação. – Os mercados distintos do mercado de dinheiro são, em primeiro lugar, tão diferentes quanto são os diferentes produtos e ramos de produção, e constituem igualmente outros tantos mercados distintos. Os mercados principais desses diferentes produtos se constituem em centros que são mercados principais, seja em relação à importação, seja à exportação, seja porque são eles próprios centros de uma determinada produção, seja porque são os locais de abastecimento direto de tais centros. Mas esses mercados vão da simples diversidade a uma divisão mais ou menos orgânica em grandes grupos que necessariamente se decompõem de acordo com os elementos fundamentais do capital em: mercado de produtos e mercado de matérias-primas. O instrumento de produção enquanto tal não constitui nenhum mercado particular; ele existe enquanto tal principalmente, em primeiro lugar, nas próprias matérias-primas que são vendidas como meios de produção; depois, no entanto, particularmente nos metais, uma vez que estes excluem qualquer ideia de consumo imediato, e depois em produtos como carvão, óleo, substâncias químicas, que estão destinados a desaparecer como meios acessórios da produção. Da mesma forma, tintas, madeira, drogasi etc. De acordo com isso:
I. Produtos. 1) Mercado de cereais com suas diversas subdivisões. P. ex.: mercado de sementei: arroz, sagu, batata etc. Muito importante economicamente; mercado ao mesmo tempo para a produção e para o consumo imediato. 2) |Mercado de produtos coloniaisi. Café, chá, cacau, açúcar; tabaco; especiarias (pimenta-do-reino, |pimenta, canela, canela-da-china, cravo, gengibre, macis, noz-moscadai etc.). 3) Frutas. |Amêndoas, passas, figos, ameixas, ameixas secas, uvas, laranjas, limõesi etc. Melaçoi (para a produção etc.). 4) |Artigos de consumoi. |Manteiga; queijo, toucinho, presuntos, banha de porco, carne de porco, carne bovina (defumada), peixesi etc. 5) |Bebidas alcoólicas. Vinho, rum, cervejai etc. II. Produtos Brutos. 1) As matérias-primas da indústria mecânica. Linho; cânhamo; algodão; seda; lã; peles; couros; guta-percha etc. 2) Matérias-primas da indústria química. Potassa, salitre, terebintina, |nitrato de sódioi etc. III. Matérias-primas que são ao mesmo tempo instrumentos de produção: metais (cobre, ferro, estanho, zinco, chumbo, aço etc.). Madeira. |Madeira. Madeira para construçãoi. Madeiras corantes. Madeira para construção naval etc. Meios de produção e matérias-primas assessórios. |Drogas e tinturasi (cochonilha, índigo etc). Alcatrão. Sebo. Óleos. Carvão etc. Naturalmente, cada produto tem de ingressar no mercado; entretanto, diferentemente do comércio a varejo, só os grandes produtos de consumo formam um mercado grande de fato: importantes economicamente, apenas o mercado de cereais, de chá, de açúcar, de café (o mercado de vinho em certa medida, e o mercado de bebidas alcoólicas de modo geral), ou aqueles que constituem as matérias-primas da indústria (mercados da lã, de sedas, de madeira, de metais etc.). Vai ser visto em que lugar tem de entrar a categoria abstrata de mercado.}
A troca do trabalhador com o capitalista é uma troca simples; cada um obtém um equivalente; um, um dinheiro, outro, uma mercadoria cujo preço é exatamente igual ao dinheiro pago por ela; o que o capitalista obtém nessa troca simples é um valor de uso: disposição sobre trabalho alheio. Do lado do trabalhador – e essa é a troca na qual ele aparece como vendedor –, é evidente que o uso que faz o comprador da mercadoria por ele cedida, a determinação formal da relação, lhe interessa tão pouco quanto ao vendedor de qualquer outra mercadoria, de um valor de uso. O que ele vende é a disposição sobre o seu trabalho, que é um trabalho determinado, habilidade determinada etc.
É completamente indiferente o que o capitalista faz com o seu trabalho, não obstante só possa utilizá-lo, naturalmente, de acordo com a sua determinabilidade, e sua própria disposição sobre o trabalho se limite apenas a um trabalho determinado e a um comando sobre ele temporalmente determinado (tanto ou quanto de tempo de trabalho). O sistema de pagamento do trabalho por peça dá certamente a aparência de que o trabalhador recebe uma parte determinada do produto. Entretanto, trata-se apenas de uma outra forma de medir o tempo (em lugar de dizer “você trabalha durante 12 horas”, diz-se “você recebe tanto por peça; i.e., nós medimos o tempo que você trabalha pelo número de produtos”); isso não nos interessa aqui, na consideração da relação geral. Se o capitalista se satisfez com a simples capacidade de dispor do trabalho, sem fazer o trabalhador trabalhar efetivamente, p. ex., para ter o seu trabalho como reserva etc. ou para privar seus concorrentes da capacidade de dispor do trabalho (como, por exemplo, diretores de teatro que contratam cantoras para uma temporada, não para fazê-las cantar, mas para que não cantem em um teatro concorrente), a troca se realizou de forma plena. No dinheiro, o trabalhador recebe evidentemente o valor de troca, a forma universal da riqueza em quantum determinado, e o mais ou menos que recebe lhe proporciona uma cota maior ou menor na riqueza geral. Como é determinado esse a mais ou a menos, como é medida a quantidade de dinheiro que recebe, tem tão pouco a ver com a relação geral que não pode ser desenvolvido a partir dela enquanto tal. Considerado em termos gerais, o valor de troca de sua mercadoria não pode ser determinado pela maneira como o comprador usa sua mercadoria, mas somente pela quantidade de trabalho objetivado que existe nela mesma; nesse caso, portanto, pelo quantum de trabalho que custa produzir o próprio trabalhador. Pois o valor de uso que oferece existe somente como aptidão, capacidade de sua constituição corpórea; não tem existência fora dela. O trabalho objetivado que é necessário tanto para conservar fisicamente a substância geral na qual sua capacidade de trabalho existe, o próprio trabalhador, portanto, quanto para modificar essa substância geral para o desenvolvimento da capacidade particular, é o trabalho objetivado nessa substância geral. Tal trabalho mede, em geral, a quantidade de valor, a soma de dinheiro que o trabalhador obtém na troca. O desenvolvimento ulterior, como o salário é medido, como todas as outras mercadorias, pelo tempo de trabalho que é necessário para produzir o trabalhador enquanto tal, não vem aqui ao caso. Na circulação, quando troco uma mercadoria por dinheiro, em troca do qual compro mercadoria e satisfaço minha necessidade, o ato está no fim. Assim é com o trabalhador. Mas ele tem a possibilidade de recomeçá-lo porque sua vitalidade é a fonte na qual seu próprio valor de uso constantemente se reacende, até um certo tempo, até estar desgastado, e permanece sempre contraposto ao capital para iniciar mais uma vez a mesma troca. Como todo indivíduo presente como sujeito na circulação, o trabalhador é possuidor de um valor de uso; troca-o por dinheiro, a forma universal da riqueza, mas só para trocá-lo de novo por mercadorias como objetos de seu consumo imediato, como os meios para a satisfação de suas necessidades. Como troca seu valor de uso pela forma universal da riqueza, o trabalhador devém coparticipante no desfrute da riqueza universal até o limite do seu equivalente – um limite quantitativo que, aliás, vira limite qualitativo, como em qualquer troca. Mas ele não está vinculado a objetos particulares nem a uma maneira de satisfação particular. Ele não está excluído qualitativamente do círculo de seus prazeres, mas só quantitativamente. Isso o diferencia do escravo, do servo etc. O consumo certamentei retroage sobre a própria produção; mas essa retroação tem tão pouco a ver com o trabalhador em sua troca quanto com qualquer outro vendedor de uma mercadoria; melhor dizendo, do ponto de vista da simples circulação – e não temos ainda nenhuma outra relação desenvolvida diante de nós –, ela está fora da relação econômica. Contudo, já pode ser constatado de passagem que a relativa limitação qualitativa do círculo de prazeres dos trabalhadores, relativa só quantitativa e não qualitativamente, e posta apenas pela quantidade, também lhes confere como consumidores (no desenvolvimento ulterior do capital tem de ser examinada mais de perto a relação entre consumo e produção) uma importância completamente diferente como agentes da produção da que possuem e possuíam, p. ex., na Antiguidade, na Idade Média e na Ásia. Mas, como já foi dito, isso ainda não vem ao caso aqui. Do mesmo modo, uma vez que obtém o equivalente na forma do dinheiro, na forma da riqueza universal, o trabalhador encontra-se nessa troca como igual frente ao capitalista, como qualquer outro participante da troca; ao menos de acordo com a aparência. Na realidadei, essa igualdade já está desfigurada pelo fato de que sua relação como trabalhador com o capitalista, como valor de uso na forma especificamente diferente do valor de troca, em oposição ao valor posto como valor, é pressuposta para essa troca aparentemente simples; pelo fato de que o trabalhador, portanto, já se encontra em uma relação determinada economicamente de outra maneira – para além da relação da troca, na qual é indiferente a natureza do valor de uso, do valor de uso particular da mercadoria enquanto tal. Essa aparência, contudo, existe como ilusão de sua parte e, em certo grau, da outra parte, e, por isso, também modifica essencialmente sua relação, à diferença da relação dos trabalhadores em outros modos sociais de produção. Mas o que é essencial é que a finalidade da troca, para ele, é a satisfação de suas necessidades. O objeto de sua troca é objeto imediato da necessidade, não o valor de troca enquanto tal. Ele certamente obtém dinheiro, mas só em sua determinação como moeda; i.e., somente como mediação que supera a si mesma e [é] evanescente. O que ele troca não é, por conseguinte, o valor de troca, não é a riqueza, mas meios de subsistência, objetos para a preservação de sua vitalidade, para a satisfação de suas necessidades de modo geral, físicas, sociais etc. É um determinado equivalente em meios de subsistência, de trabalho objetivado, medido pelos custos de produção de seu trabalho. O que o trabalhador cede é a disposição sobre o trabalho. Por outro lado, é verdade agora que mesmo no interior da circulação simples a moeda transita para o dinheiro, e que o trabalhador, portanto, visto que recebe moeda na troca, pode transformá-la em dinheiro, à medida que a acumula etc., que a retira da circulação; a retém como forma universal da riqueza e não como meio de troca efêmero. Sob essa ótica, portanto, poderia ser dito que, na troca do trabalhador com o capital, o seu objeto – e, consequentemente, também o produto da troca para ele – não são os meios de subsistência, mas a riqueza, não um valor de uso particular, mas o valor de troca enquanto tal. Nesse caso, o trabalhador só poderia fazer do valor de troca seu próprio produto da mesma maneira que a riqueza em geral pode aparecer como produto exclusivo da circulação simples, onde são trocados equivalentes, a saber, sacrificando a satisfação substancial em favor da forma da riqueza, logo, retirando menos bens da circulação do que os que lhe dá, por meio da abstinência, poupança, corte de seu consumo. Essa é a única forma possível de enriquecer que é posta pela própria circulação. A abstinência poderia aparecer ainda na forma mais ativa, que não está posta na circulação simples, na qual o trabalhador renuncia ainda mais ao repouso, renuncia completamente ao seu ser como algo separado de seu ser como trabalhador e, na medida do possível, só é como trabalhador; por conseguinte, renova com mais frequência o ato da troca, ou estende-o qualitativamente ainda mais, ou seja, pela laboriosidade. Por essa razão, também na sociedade atual a exigência de laboriosidade e, especialmente, também de poupança, de abstinência, é requerida não dos capitalistas, mas dos trabalhadores, e precisamente pelos capitalistas. A sociedade atual faz justamente a exigência paradoxal de que deve renunciar aquele para quem o objeto da troca é o meio de subsistência, não aquele para quem o objeto da troca é o enriquecimento. A ilusão de que os capitalistas realmente “renunciaram” – e dessa maneira devieram capitalistas – uma exigência e representação que só tinham sentido na época primitiva em que o capital se desenvolve a partir das relações feudais etc. – foi abandonada por todos os economistas modernos responsáveis. O trabalhador deve poupar, e muito alarde foi feito em torno das caixas de poupança etc. (Neste último caso, é admitido inclusive pelos próprios economistas que sua verdadeira finalidade também não é a riqueza, mas só uma distribuição mais adequada dos gastos, de maneira que, na velhice ou em caso de doenças, crises etc., os trabalhadores não dependam de instituições de caridade, do Estado ou da mendicância (em uma palavra, particularmente para que não se tornem um ônus para os capitalistas e vegetem às custas deles, mas sim para a própria classe trabalhadora), que, portanto, poupem para os capitalistas; que reduzam os seus custos de produção para os capitalistas.) Mas o que nenhum economista irá negar é que se os trabalhadores em geral, logo, como trabalhadores (o que o trabalhador singular faz ou pode fazer, à diferença de seu genus, só pode existir precisamente como exceção, não como regra, porque não está contido na determinação da relação mesma), cumprissem essas exigências como regra (abstraindo dos danos que causariam ao consumo geral – a perda seria enorme – e, por conseguinte, também à produção, também, portanto, à quantidade e ao volume das trocas que poderiam realizar com o capital, consequentemente, a si mesmos como trabalhadores), eles empregariam meios que aboliriam absolutamente sua própria finalidade, e justamente os degradariam ao nível dos irlandeses, ao nível do trabalhador assalariado, em que o mínimo mais animal de necessidades, de meios de subsistência, se apresenta ao trabalhador como o único objeto e finalidade de sua troca com o capital. Ao fazer da riqueza a sua finalidade, em lugar do valor de uso, o trabalhador, portanto, não só não alcançaria nenhuma riqueza, mas perderia além disso o valor de uso na compra. Pois, de modo geral, o máximo de laboriosidade, de trabalho, e o mínimo de consumo – e esse é o máximo de sua renúncia e de seu poder de fazer dinheiro – não poderiam levar a mais nada senão a que o trabalhador recebesse um mínimo de salário por um máximo de trabalho. Com seu esforço, o trabalhador só teria reduzido o nível geral dos custos de produção de seu próprio trabalho e, em consequência, o seu preço geral. Somente como exceção pode o trabalhador, com força de vontade, força física e perseverança, avareza etc., transformar sua moeda em dinheiro, como exceção de sua classe e das condições gerais de sua existência [Dasein]. Caso fossem todos, ou em sua maioria, superdiligentes (tanto quanto, na indústria moderna, a diligência depende de seu arbítrio, o que não ocorre nos ramos de produção mais importantes e mais desenvolvidos), os trabalhadores não aumentariam o valor de sua mercadoria, mas tão somente a sua quantidade; portanto, aumentariam as exigências que lhes seriam feitas como valor de uso. Se todos poupassem, uma redução geral do salário iria colocá-los em seu devido lugar; pois a poupança generalizada indicaria ao capitalista que seu salário em geral está muito elevado, que recebem mais do que o equivalente por sua mercadoria, a capacidade de disposição sobre seu trabalho; dado que a essência da troca simples – e nessa relação encontram-se os trabalhadores perante o capitalista – é precisamente que ninguém lança na circulação mais do que dela retira; mas também só pode dela retirar o que nela lançou. Um trabalhador singular só pode ser diligente acima do nível, mais diligente do que tem de ser para viver como trabalhador, porque um outro está abaixo desse nível, é mais preguiçoso; só pode poupar porque e se um outro dissipa. Em média, o máximo que pode conseguir com sua parcimônia é poder suportar melhor o ajuste dos preços – altos e baixos, o seu ciclo; portanto, só distribuir seus desfrutes de maneira mais adequada, e não obter riqueza. E essa é igualmente a verdadeira exigência dos capitalistas. Os trabalhadores devem poupar o suficiente quando os negócios vão bem para poderem sobreviver bem ou mal nos períodos difíceis, para suportar a |redução da jornada de trabalhoi ou a redução dos salários etc. (Nesse caso, o salário cairia ainda mais.) Em suma, exigência de que os trabalhadores devem sempre restringir seus prazeres vitais a um mínimo e aliviar as crises para os capitalistas etc. Devem se comportar como pura máquina de trabalho e, se possível, pagar inclusive pelo seu |desgaste naturali. Prescindindo da pura brutalização daí resultante – e uma tal brutalização tornaria impossível inclusive aspirar à riqueza na forma universal, como dinheiro, como dinheiro acumulado – (e a participação dos trabalhadores em prazeres mais elevados, inclusive espirituais; a agitação por seus próprios interesses, assinar jornais, assistir conferências, educar os filhos, desenvolver o gosto etc.; sua única participação na civilização que os distingue dos escravos só é economicamente possível pelo fato de que o trabalhador amplia o círculo de seus prazeres nos períodos em que os negócios vão bem, significa dizer, nos períodos em que poupar é, até certo ponto, possível), prescindindo disso, o trabalhador, se poupasse de maneira realmente ascética e dessa maneira acumulasse bônus para o lumpemproletariado, os vigaristas etc. que aumentariam em proporção à demanda – caso suas economias excedessem a soma dos cofrinhos de moedas das cadernetas de poupança das caixas econômicas oficiais, que lhes pagam uma taxa de juros mínima para que os capitalistas recebam altas taxas por suas poupanças ou o Estado as devore, com o que o trabalhador só aumenta o poder de seus adversários e a sua própria dependência –, [o trabalhador] pode meramente conservar ou tornar rentáveis suas economias à medida que as deposita em bancos etc., de modo que, posteriormente, em épocas de crise, perde seus depósitos, após ter renunciado a todos os prazeres da vida nos períodos de prosperidade para aumentar o poder do capital; portanto, de qualquer modo, poupou para o capital, não para si. Aliás – na medida em que tudo isso não passa de clichê hipócrita da “filantropia” burguesa, que consiste afinal em iludir os trabalhadores com “desejos piedosos” –, cada capitalista certamente exige que seus trabalhadores poupem, mas somente os seus, porque se defrontam com ele como trabalhadores; mas de maneira alguma o resto do mundo dos trabalhadores, pois estes se defrontam com ele como consumidores. |Apesar dei todas as fraseologias “piedosas”, o capitalista procura por todos os meios incitá-los ao consumo, conferir novos atrativos às suas mercadorias, impingir-lhes novas necessidades etc. É precisamente esse aspecto da relação entre capital e trabalho que constitui um momento essencial de civilização, e sobre o qual repousa a justificação histórica do capital, mas também do seu poder atual. (Desenvolver essa relação entre produção e consumo somente sob: Capital e Lucro etc.) (Ou também sob acumulação e concorrência dos capitais.) Todas essas considerações, entretanto, são exotéricas, mas oportunas aqui porque as exigências da hipócrita filantropia burguesa demonstram dissolver-se em si mesmas e, por conseguinte, confirmam precisamente o que deveriam refutar, a saber, que na troca com o capital o trabalhador está em uma relação da circulação simples, portanto, não obtém riqueza, mas somente meios de subsistência, valores de uso para o consumo imediato. Que a exigência contradiz a própria relação resulta da simples consideração (quanto à pretensão, apresentada recentemente, às vezes com autocomplacência, de conceder aos trabalhadores uma certa participação nos lucros, é para ser tratada na seção salário; exceto como prêmio especial, que só pode alcançar sua finalidade como exceção à regra e que |de fatoi limita-se, na prática mais perceptível, a comprar alguns capatazesi etc. no interesse do empregador e contra os interesses de sua classe; ou se limita a comprar vendedores etc., em suma, pessoas que não são mais simples trabalhadores e, em consequência, também não se referem mais à relação geral; ou é uma maneira particular de lograr os trabalhadores e de reter uma parte de seus salários sob a forma precária de lucro dependente da situação do negócio) de que, se as economias do trabalhador não devem permanecer um simples produto da circulação – dinheiro poupado que só pode ser realizado à medida que, mais cedo ou mais tarde, é trocado pelo conteúdo substancial da riqueza, por fruições –, o próprio dinheiro acumulado tem de devir capital, i.e., tem de comprar trabalho, tem de se relacionar com o trabalho como valor de uso. Tal exigência, portanto, subentende mais uma vez trabalho que não é capital, e subentende que o trabalho deveio seu contrário – não trabalho. Para devir capital, a própria poupança pressupõe o trabalho como não capital em oposição ao capital; em consequência, a antítese que deve ser suprimida em um ponto é produzida em outro. Se, portanto, na própria relação original, o objeto e o produto da troca do trabalhador – como produto da simples troca, não pode ser nenhum outro produto – não fosse o valor de uso, os meios de subsistência, a satisfação das necessidades imediatas, a retirada da circulação do equivalente ao que nela é lançado para destruí-lo no consumo –, o trabalho não se defrontaria com capital como trabalho, como não capital, mas como capital. Mas o capital também não pode se defrontar com o capital se o trabalho não se defronta com o capital, pois o capital só é capital como não trabalho; só nessa relação antitética. Consequentemente, o conceito e a própria relação do capital estariam destruídos. Não se nega decertoi que há circunstâncias em que proprietários que trabalham para si mesmos trocam entre si. Tais circunstâncias, no entanto, não são as circunstâncias de uma sociedade na qual existe o capital enquanto tal desenvolvido; tais circunstâncias, por isso, são destruídas em todos os pontos pelo desenvolvimento do capital. Como capital, ele só pode se pôr à medida que põe o trabalho como não capital, como simples valor de uso. (Como escravo, o trabalhador tem valor de troca, um valor; como trabalhador livre, não tem nenhum valor; só tem valor a disposição sobre seu trabalho, obtida por meio da troca com ele. O trabalhador se defronta com o capitalista não como valor de troca, mas é o capitalista que se defronta com ele como valor de troca. A sua ausência de valor e sua desvalorização são o pressuposto do capital e a condição do trabalho livre de modo geral. Linguet a considera um retrocesso; ele esquece que, desse modo, o trabalhador é formalmente posto como pessoa, que ainda é algo por si fora de seu trabalho e só aliena sua expressão vital como meio para sua própria vida[21]. Sempre que o trabalhador enquanto tal tem valor de troca, o capital industrial enquanto tal não pode existir e, portanto, de forma alguma pode existir o capital desenvolvido. Diante do capital desenvolvido, o trabalho tem de estar como puro valor de uso que é oferecido por seu próprio dono como mercadoria pelo capital, por seu valor de troca [, a moeda], que, aliás, só devém efetiva na mão do trabalhador em sua determinação de meio de troca universal; caso contrário, desaparece). Pois bemi. O trabalhador se encontra, portanto, unicamente na relação da circulação simples, da troca simples, e só recebe moeda por seu valor de uso; meios de subsistência; mas mediados. Essa forma da mediação, como vimos, é essencial e característica da relação. Que o trabalhador pode continuar até a transformação da moeda em dinheiro – em poupança – demonstra tão somente que sua relação é a da circulação simples; ele pode poupar mais ou menos; mas não vai além disso; ele só pode realizar o poupado à medida que amplia momentaneamente o círculo de suas fruições. O importante é que – e [isso] intervém na determinação da própria relação –, como o dinheiro é produto de sua troca, a riqueza universal como ilusão o incita; o faz industrioso. Ao mesmo tempo, abre-se, com isso, e não só formalmente, um espaço para o arbítrio, para a efetiva[ção…][22]
{Nessa troca, o trabalhador recebe o dinheiro de fato só como moeda, i.e., como simples forma evanescente dos meios de subsistência pelos quais troca o dinheiro. Meios de subsistência, e não riqueza, é a finalidade da troca para ele.
A capacidade de trabalho foi denominada capital do trabalhador na medida em que ela é o fundof que o trabalhador não exaure em uma troca isolada, mas pode repeti-la continuamente durante sua vida como trabalhador. De acordo com essa concepção, seria capital tudo que fosse um fundof de[23] processos reiterados} de um mesmo sujeito; assim, p. ex.: a substância dos olhos seria o capital da visão etc. Semelhantes lugares-comuns beletristas, que classificam tudo sob tudo por meio de qualquer analogia, podem até parecer inteligentes ao serem ditos pela primeira vez, e tanto mais quanto mais identificam as coisas mais disparatadas. Repetidos, sobretudo com autocomplacência, como máximas de valor científico, são |pura e simplesmentef tolos. Bons apenas para paroleiros letrados e charlatães, que lambuzam todas as ciências com suas imundícies meladas. Que o trabalho é sempre nova fonte da troca para o trabalhador enquanto ele está capacitado para o trabalho – mais precisamente, não da troca pura e simples, mas da troca com o capital – está implícito na própria determinação conceitual de que o trabalhador só vende a disposição temporária sobre sua capacidade de trabalho, que ele sempre pode, portanto, reiniciar a troca tão logo tenha ingerido a quantidade suficiente de matéria para poder reproduzir de novo sua expressão vital. Em lugar de dirigir seu assombro para tal ponto – e debitar ao trabalhador, como um grande mérito do capital, o fato de que ele enfim vive, que pode, portanto, repetir diariamente determinados processos vitais tão logo tenha descansado e se alimentado –, os sicofantas da economia burguesa, que douram as coisas, deveriam antes ter dirigido sua atenção para o fato de que o trabalhador, após o trabalho repetido de forma contínua, somente dispõe de seu trabalho vivo, imediato, para trocar. A própria repetição é, |de fatoi, só aparente. O que ele troca com o capital é toda a sua capacidade de trabalho, que ele despende, digamosi, em vinte anos. Em lugar de pagá-la de uma só vez, o capital a paga em doses, digamos, semanalmente, à medida que o trabalhador a coloca à sua disposição. Portanto, isso não altera em absoluto a natureza da coisa e menos ainda autoriza a conclusão de que, porque o trabalhador precisa dormir entre 10 e 12 horas para ser capaz de repetir seu trabalho e sua troca com o capital, o trabalho constitui seu capital. Por conseguinte, o que é assim compreendido como capital é, |de fatoi, o limite, a interrupção de seu trabalho, o fato de que ele não é um perpetuum mobile. A luta pela Leii das Dez Horas etc. é a prova de que o capitalista nada mais deseja senão que o trabalhador dilapide suas doses de força vital tanto quanto possível sem interrupção. Chegamos agora ao segundo processo, que, depois dessa troca, constitui a relação entre trabalho e capital. Aqui, queremos tão somente adicionar que os próprios economistas assim expressam a proposição acima: o salário não é produtivo. Para eles, ser produtivo significa, naturalmentei, ser produtivo de riqueza. Como o salário é o produto da troca entre trabalhador e capital – e o único produto que é posto nesse mesmo ato –, eles concedem que o trabalhador não produz nenhuma riqueza nessa troca, nem para o capitalista, pois, para este, é o pagamento de dinheiro por um valor de uso – e esse pagamento constitui a única função do capital nessa relação –, é renúncia à riqueza, e não criação de riqueza, razão pela qual ele procura pagar o mínimo possível; nem para o trabalhador, pois [a troca] só lhe proporciona meios de subsistência, maior ou menor satisfação de suas necessidades individuais – jamais a forma universal da riqueza, jamais a riqueza. Nem pode fazê-lo, uma vez que o conteúdo da mercadoria que vende, o trabalhador não a coloca de maneira nenhuma acima das leis gerais da circulação: obter, pelo valor que lança na circulação, um equivalente, mediado pela moeda, em um outro valor de uso que ele consome. Uma tal operação, naturalmentei, jamais pode enriquecer, mas tem de reconduzir o seu executor, no final do processo, precisamente ao ponto em que ele se encontrava no início. Como já vimos, isso não exclui, antes implica, o fato de que o círculo de suas satisfações imediatas é capaz de um certo estreitamento ou ampliação. Por outro lado, se o capitalista – que nessa troca ainda não está de modo algum posto como capitalista, mas só como dinheiro – repetisse sempre esse ato, seu dinheiro logo seria comido pelo trabalhador, que o dissiparia em uma série de outros prazeres, calças cerzidas, botas lustradas – enfim, em serviços recebidos. Seja como for, a repetição dessa operação se mediria exatamente pelo limite de sua carteira. Não o teria enriquecido mais do que o dispêndiof de dinheiro com outros valores de uso para sua querida pessoa, dispêndios estes que, como se sabe, nada lhe rendem, mas lhe custam.
Como na relação entre trabalho e capital, e também nessa primeira relação de troca entre ambos, o trabalhador compra o valor de troca e o capitalista, o valor de uso, uma vez que o trabalho não se defronta com o capital como um valor de uso, mas como o valor de uso por excelência, pode parecer estranho que o capitalista deva receber riqueza e o trabalhador, só um valor de uso que se extingue no consumo. {Na medida em que isso diz respeito ao capitalista, é para ser desenvolvido somente no segundo processo.} Isso aparece como uma dialética que se transforma precisamente no contrário do que seria de se esperar. Contudo, mais exatamente observado, evidencia-se que o trabalhador que troca sua mercadoria passa pela forma M-D-D-M no processo de troca. Se, na circulação, parte-se da mercadoria, do valor de uso como o princípio da troca, chega-se necessariamente de novo na mercadoria, uma vez que o dinheiro aparece somente como moeda e, como meio de troca, é só um mediador evanescente; mas a mercadoria enquanto tal, após ter descrito seu circuito, é consumida como objeto direto da necessidade. Por outro lado, o capital representa D-M-M-D; o momento oposto.
A separação da propriedade do trabalho aparece como lei necessária dessa troca entre capital e trabalho. O trabalho, posto como o não capital enquanto tal, é: 1) trabalho não objetivado, concebido negativamente (no entanto objetivo; o próprio não objetivo em forma objetiva). Enquanto tal, o trabalho é não matéria-prima, não instrumento de trabalho, não produto bruto: trabalho separado de todos os meios e objetos de trabalho, separado de toda sua objetividade. O trabalho vivo existindo como abstração desses momentos de sua real efetividade (igualmente não valor): esse completo desnudamento do trabalho, existência puramente subjetiva, desprovida de toda objetividade. O trabalho como a pobreza absoluta: a pobreza não como falta, mas como completa exclusão da riqueza objetiva. Ou ainda, como o não valor existente e, por conseguinte, valor de uso puramente objetivo, existindo sem mediação, tal objetividade só pode ser uma objetividade não separada da pessoa: apenas uma objetividade coincidente com sua imediata corporalidade. Como é puramente imediata, a objetividade é, de maneira igualmente imediata, não objetividade. Em outras palavras: não é uma objetividade situada fora da existência imediata do próprio indivíduo. 2) Trabalho não objetivado, não valor, concebido positivamente, ou negatividade referida a si mesma, ele é a existência não objetivada, logo, não objetiva, i.e., a existência subjetiva do próprio trabalho. O trabalho não como objeto, mas como atividade; não como valor ele mesmo, mas como a fonte viva do valor. A riqueza universal, perante o capital, no qual ela existe de forma objetiva como realidade, como possibilidade universal do capital, possibilidade que se afirma enquanto tal na ação. Portanto, de nenhuma maneira se contradiz a proposição de que o trabalho é, por um lado, a pobreza absoluta como objeto e, por outro, a possibilidade universal da riqueza como sujeito e como atividade, ou, melhor dizendo, essas proposições inteiramente contraditórias condicionam-se mutuamente e resultam da essência do trabalho, pois é pressuposto pelo capital como antítese, como existência antitética do capital e, de outro lado, por sua vez, pressupõe o capital.
O último ponto para o qual é preciso chamar a atenção no trabalho, tal como ele se defronta com o capital, é que o trabalho, como o valor de uso que se defronta com o dinheiro posto como capital, não é esse ou aquele trabalho, mas é trabalho por excelência, trabalho abstrato: absolutamente indiferente diante de sua determinabilidade particular, mas suscetível de qualquer determinação. À substância particular que constitui um capital determinado tem naturalmente de corresponder o trabalho como trabalho particular; no entanto, como o capital enquanto tal é indiferente perante a qualquer particularidade de sua substância, e é tanto a totalidade da substância quanto a abstração de todas as suas particularidades, o trabalho que o defronta possui em si subjetivamente a mesma totalidade e abstração. No trabalho corporativo, artesanal, p.ex., em que o próprio capital ainda possui uma forma limitada, ainda está completamente imerso em sua determinabilidade particular, ou seja, ainda não é capital enquanto tal, o trabalho também ainda aparece imerso em sua determinabilidade particular: não na totalidade e abstração como o trabalho, tal como ele se defronta com o capital. Significa dizer, o trabalho em cada caso singular é, na verdade, um trabalho determinado; mas o capital pode se confrontar com cada trabalho determinado; a totalidade de todos os trabalhos se lhe defronta duna´ met[h], e é fortuito qual deles exatamente o defronta. Por outro lado, o próprio trabalhador é absolutamente indiferente à determinabilidade de seu trabalho; o trabalho enquanto tal não tem interesse para ele, mas tão somente na medida em que é trabalho em geral e, enquanto tal, valor de uso para o capital. Ser portador do trabalho enquanto tal, i.e., do trabalho como valor de uso para o capital, constitui, portanto, seu caráter econômico; é trabalhador por oposição ao capitalista. Esse não é o caráter dos artesãos, dos membros da corporação etc., cujo caráter econômico reside justamente na determinabilidade de seu trabalho e na relação com um determinado mestre etc. Por isso, essa relação econômica – o caráter que o capitalista e o trabalhador portam como os extremos de uma relação de produção – é desenvolvida tanto mais pura e adequadamente quanto mais o trabalho perde todo caráter de arte; a sua perícia particular devém cada vez mais algo abstrato, indiferente, e devém mais e mais atividade puramente abstrata, puramente mecânica, por conseguinte, indiferente à sua forma particular; atividade simplesmente formal ou, o que dá na mesma, simplesmente física, atividade pura e simples, indiferente à forma. Aqui, se evidencia novamente, enfim, como a determinabilidade particular da relação de produção, da categoria – nesse caso, capital e trabalho –, só devém verdadeira com o desenvolvimento de um modo material de produção particular e de um estágio particular do desenvolvimento das forças produtivas industriais. (Ponto a ser desenvolvido em um momento posterior, particularmente em conexão com essa relação; uma vez que ele aqui já está posto na própria relação, ao passo que, nas determinações abstratas, valor de troca, circulação, dinheiro, é ainda mais relevante para nossa reflexão subjetiva.)
[2) Chegamos agora ao segundo aspecto do processo. A troca entre o capital ou o capitalista e o trabalhador está agora terminada no que se refere propriamente ao processo da troca. Passa agora para a relação do capital com o trabalho como seu valor de uso. O trabalho não é somente o valor de uso que se defronta com o capital, mas é o valor de uso do próprio capital. Como o não ser dos valores como valores objetivados, o trabalho é seu ser como valores não objetivados, seu ser ideal; é a possibilidade dos valores e, como atividade, o pôr de valor. Diante do capital, o trabalho é a simples forma abstrata, a simples possibilidade da atividade que põe valor, que só existe como habilidade, faculdade, na corporalidade do trabalhador. Contudo, convertido pelo contato com o capital à atividade efetiva – não pode fazer isso por si mesmo, uma vez que é desprovido de objeto –, ele devém uma atividade efetiva que põe valor, uma atividade produtiva. Com respeito ao capital, a atividade só pode consistir, em todo caso, na reprodução de si mesma – na conservação e aumento de si como o valor efetivo e eficaz, não do valor simplesmente imaginado, como no dinheiro enquanto tal. Por meio da troca com o trabalhador, o capital apropriou-se do próprio trabalho; o trabalho deveio um de seus momentos, que atua agora como vitalidade fecundante sobre sua objetividade meramente existente e, por isso, morta. O capital é dinheiro (valor de troca posto para si), todavia não é mais dinheiro que existe em uma substância particular e, consequentemente, está excluído das outras substâncias dos valores de troca existentes junto a ele, mas dinheiro que recebe sua determinação ideal em todas as substâncias, nos valores de troca de toda forma e de todo modo de existência do trabalho objetivado. À medida que o capital, como dinheiro existente em todas as formas particulares do trabalho objetivado, entra agora em processo com o trabalho não objetivado, com o trabalho vivo, existente como processo e ato, ele é antes de tudo essa diferença qualitativa entre a substância, de que ele consiste, e a forma, na qual existe agora também como trabalho. É no processo dessa diferenciação e de sua superação que o próprio capital devém processo. O trabalho é o fermento que é jogado no capital e produz sua fermentação. Por um lado, a objetividade de que consiste o capital tem de ser elaborada, i.e., consumida pelo trabalho, por outro, a simples subjetividade do trabalho como mera forma tem de ser abolida e objetivada no material do capital. Do ponto de vista do seu conteúdo, a relação do capital com o trabalho, do trabalho objetivado com o trabalho vivo – nessa relação, na qual o capital aparece passivo perante o trabalho, é sua existência passiva como substância particular que entra em relação com o trabalho como atividade formativa –, não pode ser senão a relação do trabalho com sua objetividade, com sua matéria (o que é para ser esclarecido já no primeiro capítulo, que tem de preceder o capítulo [do] valor de troca e tratar da produção em geral), e, com respeito ao trabalho como atividade, a matéria, o trabalho objetivado, tem apenas duas relações, a da matéria-prima, i.e., da matéria sem forma, do simples material para a atividade conformadora e finalística do trabalho, e a relação do instrumento de trabalho, do próprio meio objetivo pelo qual a atividade subjetiva insere, entre si mesma e o objeto, um outro objeto que a dirige. A determinação como produto, que os economistas introduzem aqui, ainda não vem ao caso nesse ponto como determinação distinta de matéria-prima e de instrumento de trabalho. O produto aparece como resultado, não como pressuposto do processo entre o conteúdo passivo do capital e o trabalho como atividade. Como pressuposto, o produto não é uma relação do objeto com o trabalho diferente da relação da matéria-prima e do instrumento de trabalho, porque matéria-prima e instrumento de trabalho, como a substância de valores, já são eles próprios trabalho objetivado, produtos. A substância do valor não é absolutamente a substância natural particular, mas o trabalho objetivado. O próprio trabalho objetivado aparece, por sua vez, em relação ao trabalho vivo, como matéria-prima e instrumento de trabalho. Considerado o simples ato da produção em si, pode parecer que o instrumento de trabalho e a matéria preexistem na natureza, de tal maneira que só precisam ser apropriados, i.e., feitos objeto e meio do trabalho, o que não é propriamente um processo do trabalho. Diante destes últimos, portanto, o produto aparece como algo qualitativamente distinto, e é produto não somente como resultado do trabalho sobre o material por meio do instrumento, mas como primeira objetivação do trabalho ao lado deles. Como componentes do capital, todavia, matéria-prima e instrumento de trabalho já são eles próprios trabalho objetivado, logo, produto. Isso ainda não esgota a relação. Pois, p. ex., na produção em que não existe nenhum valor de troca, portanto, nenhum capital, o produto do trabalho pode devir meio e objeto de novo trabalho. P. ex., na agricultura que produz exclusivamente para o valor de uso. O arco do caçador, a rede do pescador, em síntese, condições mais simples, já pressupõem o produto, que deixa de contar como produto e devém matéria-prima ou, especialmente, instrumento de produção, pois essa é realmente a primeira forma específica em que o produto aparece como meio da reprodução. Essa relação tampouco esgota, por conseguinte, a relação em que matéria-prima e instrumento de trabalho aparecem como momento do próprio capital. Os economistas, a propósito, também introduzem o produto, em uma relação completamente diferente, como terceiro elemento da substância do capital. Ele é o produto se tem a determinação de provir tanto do processo de produção como da circulação e de ser objeto imediato do consumo individual, o abastecimentof, tal como denominado por Cherbuliez[24]. A saber, os produtos que são pressupostos para que o trabalhador viva como trabalhador e seja capaz de viver durante a produção, antes que um novo produto seja criado. Que o capitalista possui essa capacidade está posto no fato de que cada elemento do capital é dinheiro e, enquanto tal, pode ser transformado de forma universal da riqueza na matéria da riqueza, em objeto de consumo. O abastecimentof dos economistas só se refere, portanto, ao trabalhador; i.e., é o dinheiro expresso sob a forma de objetos de consumo, de valor de uso, dinheiro que recebe do capitalista no ato da troca entre ambos. Mas isso faz parte do primeiro ato. Ainda não vem ao caso aqui até que ponto esse primeiro ato tem relação com o segundo. A única separação que é posta pelo próprio processo de produção é a separação original, posta pela diferença entre trabalho objetivado e trabalho vivo, i.e., a diferença entre matéria-prima e instrumento de trabalho. Que os economistas confundam essas determinações é perfeitamente compreensível, visto que têm de confundir os dois momentos da relação entre capital e trabalho e não podem reter sua diferença específica.
Portanto: a matéria-prima é consumida ao ser modificada, conformada pelo trabalho, e o instrumento de trabalho é consumido ao ser desgastado nesse processo, ao ser gasto. Por outro lado, o trabalho é igualmente consumido ao ser utilizado, posto em movimento, e desse modo é despendido um determinado quantum de força muscular etc. do trabalhador, pelo que ele se esgota. Contudo, o trabalho não é só consumido, mas é ao mesmo tempo fixado, materializado, da forma de atividade na de objeto, de repouso; como mutação do objeto, o trabalho modifica sua própria configuração e, de atividade, devém ser. O final do processo é o produto, no qual a matéria-prima aparece unida ao trabalho e o instrumento de trabalho se converteu igualmente de simples possibilidade em efetividade, uma vez que deveio o condutor efetivo do trabalho, com o que, entretanto, por sua relação mecânica ou química com o material de trabalho, foi consumido mesmo em sua forma estática. Todos os três momentos do processo, o material, o instrumento, o trabalho, convergem em um resultado neutro – o produto. No produto são simultaneamente reproduzidos os momentos do processo de produção que são consumidos nele. O processo como um todo se apresenta, portanto, como consumo produtivo, i.e., como consumo que nem termina no nada nem na simples subjetivação do que é objetivo, mas que é ele mesmo posto de novo como um objeto. O consumo não é simples consumo do material, mas o consumo do próprio consumo; na superação do que é material supera-se essa superação e, por isso, o pôr do material. A atividade que dá forma consome o objeto e consome-se a si mesma, mas consome somente a forma dada do objeto para o pôr em uma nova forma objetiva, e consome-se a si mesma só em sua forma subjetiva como atividade. Ela consome o que é objetivo do objeto – a indiferença à forma – e o que é subjetivo da atividade; conforma o primeiro, materializa a última. Como produto, entretanto, o resultado do processo de produção é valor de uso.
Se considerarmos agora o resultado obtido até o momento, temos que:
Em primeiro lugar: pela apropriação, incorporação do trabalho ao capital – o dinheiro, i.e., o ato de compra da capacidade de dispor sobre o trabalhador aparece aqui somente como meio para precipitar este processo, não como momento dele mesmo –, o capital entra em fermentação e devém processo, processo de produção, no qual se relaciona a si mesmo como totalidade, como trabalho vivo, não só como trabalho objetivado, mas, porque é trabalho objetivado, [como] simples objeto do trabalho.
Em segundo lugar: na circulação simples, a própria substância da mercadoria e do dinheiro era indiferente à determinação formal, i.e., desde que mercadoria e dinheiro permanecessem momentos da circulação. A mercadoria, no que dependesse de sua substância, ficava fora da relação econômica como objeto de consumo (da necessidade); o dinheiro, uma vez que sua forma se autonomizara, ainda se relacionava com a circulação, mas só negativamente, e era apenas esse relacionamento negativo. Fixado por si, extinguia-se igualmente em materialidade morta, deixava de ser dinheiro. Mercadoria e dinheiro eram ambos expressões do valor de troca e só eram diferentes como valor de troca universal e particular. Essa própria diferenciação era, por sua vez, uma diferenciação simplesmente imaginada, porque na circulação efetiva as duas determinações se alternavam, e também porque, considerada cada uma delas em si mesma, o próprio dinheiro era uma mercadoria particular, e a própria mercadoria, como preço, dinheiro universal. A diferença era somente formal. Cada qual estava posto em uma das determinações somente porque e na medida em que não estava posto na outra. Agora, todavia, no processo de produção, o próprio capital, como forma, distingue-se de si como substância. É simultaneamente as duas determinações, e simultaneamente a relação das duas entre si. Porém:
Em terceiro lugar: o capital aparecia como tal relação tão somente em si. A relação ainda não está posta, ou ela mesma está posta unicamente sob a determinação de um dos dois momentos, do momento material, que em si mesmo é diferenciado como matéria (matéria-prima e instrumento) e forma (trabalho), e como relação entre ambos, como processo efetivo, por sua vez, ele próprio é somente relação material – relação dos dois elementos materiais que constituem o conteúdo do capital diferente de sua relação formal como capital. Se considerarmos o capital sob o aspecto em que aparece originalmente em distinção ao trabalho, o capital no processo é só existência passiva, objetiva, na qual a determinação formal pela qual é capital – portanto, uma relação social existente por si – está totalmente cancelada. O capital entra no processo apenas sob o aspecto de seu conteúdo – como trabalho objetivado em geral; mas o fato de que ele seja trabalho objetivado é completamente indiferente ao trabalho, cuja relação com o capital constitui o processo; na verdade, é somente como objeto, e não como trabalho objetivado, que o capital ingressa no processo, é trabalhado. O algodão, que devém fio de algodão, ou o fio de algodão, que devém tecido, ou o tecido, que devém material da estamparia e da tinturaria, existem para o trabalho apenas como algodão, fio de algodão ou tecido disponíveis. Na medida em que eles mesmos são produtos do trabalho, trabalho objetivado, não entram em nenhum processo, mas comparecem só como existências materiais com propriedades naturais determinadas. Como tais propriedades foram postas neles nada tem a ver com a relação do trabalho vivo com eles; para o trabalho vivo, existem tão somente porquanto dele se distinguem, i.e., existem como material de trabalho. Isso, na medida em que se parte do capital em sua forma objetiva, pressuposta ao trabalho. Por outro lado, na medida em que o próprio trabalho deveio um dos elementos objetivos do capital mediante a troca com o trabalhador, sua distinção dos elementos objetivos do capital é ela mesma uma diferença meramente objetiva; os primeiros sob a forma de repouso, o último sob a forma de atividade. A relação é a relação material de um de seus elementos com o outro; mas não sua própria relação com ambos. Portanto, o capital aparece, de um lado, só como objeto passivo em que toda relação formal foi apagada; de outro, ele aparece somente como processo de produção simples em que o capital enquanto tal, enquanto distinto de sua substância, não entra. O capital não aparece nem mesmo na substância que lhe é própria – como trabalho objetivado, pois essa é a substância do valor de troca –, mas somente na forma natural de existência dessa substância em que está apagada toda relação com o valor de troca, com o trabalho objetivado, com o próprio trabalho como valor de uso do capital – e, por conseguinte, toda relação com o próprio capital. Considerado sob esse ponto de vista, o processo do capital coincide com o processo de produção simples enquanto tal, no qual sua determinação como capital está inteiramente apagada na forma do processo, da mesma maneira que o dinheiro como dinheiro estava apagado na forma do valor. No processo, tal como o consideramos até aqui, de forma alguma entra o capital como ser para si – i.e., o capitalista. Não é o capitalista que é consumido pelo trabalho como matéria-prima e instrumento de trabalho. Tampouco é o capitalista quem consome, mas o trabalho. O processo de produção do capital não aparece, assim, como processo de produção do capital, mas como processo de produção por excelência, e, à diferença do trabalho, o capital aparece apenas na determinação material de matéria-prima e instrumento de trabalho. Esse é o aspecto – que é não apenas uma abstração arbitrária, mas uma abstração que acontece no próprio processo – que os economistas fixam para representar o capital como elemento necessário de todo processo de produção. Naturalmente, fazem isso tão somente porque esquecem de prestar atenção ao seu comportamento como capital durante esse processo.
Essa é a oportunidade para chamar a atenção para um momento que se manifesta aqui não somente do ponto de vista da observação, mas que é posto na própria relação econômica. No primeiro ato, na troca entre capital e trabalho, o trabalho enquanto tal, existente para si, apareceu necessariamente como trabalhador. O mesmo se dá aqui no segundo processo: o capital em geral é posto como valor existindo para si, valor egotístico, por assim dizer (o que, no dinheiro, era somente almejado). Mas o capital existente para si é o capitalista[25]. Evidentemente, é dito por socialistas que precisamos do capital, mas não do capitalista. O capital aparece então como pura coisa, não como relação de produção, que, refletida em si mesma, é precisamente o capitalista. Eu posso naturalmente separar o capital desse capitalista singular e o capital pode passar a um outro capitalista. Mas perdendo o capital, ele perde a qualidade de capitalista. Por conseguinte, o capital é decerto separável de um capitalista singular, mas não do capitalista que, enquanto tal, se defronta com o trabalhador. Da mesma maneira, o trabalhador singular também pode deixar de ser o ser-por-si [Fürsichsein] do trabalho; pode herdar, roubar dinheiro etc. Mas deixa então de ser trabalhador. Como trabalhador, ele é somente o trabalho existente para si. (Isso deve ser desenvolvido posteriormente.)
No final do processo não pode emergir nada que, em seu início, não aparecia como seu pressuposto e condição. Mas, por outro lado, tudo isso tem de emergir. Por essa razão, se, ao final do processo, que foi iniciado sob o pressuposto do capital, o capital parece ter desaparecido como relação formal, isso só pode se dar porque foram ignorados os fios invisíveis que o capital tece no processo. Consideremos, portanto, esse aspecto.
O primeiro resultado é, assim:
α) Pela incorporação do trabalho ao capital, o capital devém processo de produção; mas, antes de tudo, processo de produção material; processo de produção em geral, de modo que o processo de produção do capital não é diferente do processo de produção material em geral. A sua determinação formal é completamente extinta. Pelo fato de que o capital trocou uma parte de seu ser objetivo por trabalho, sua própria existência objetiva decompõe-se em si como objeto e trabalho; a relação entre ambos constitui o processo de produção ou, mais exatamente, o processo de trabalho. Com isso, o processo de trabalho – que, em virtude de sua abstratividade, de sua pura materialidade, é comum a todas as formas de produção – posto antes do valor, como ponto de partida, reaparece no interior do capital como um processo que se desenrola no interior de sua matéria, que constitui seu conteúdo.
(Ficará evidente que, mesmo no interior do próprio processo de produção, essa extinção da determinação formal é apenas aparência.)
Na medida em que o capital é valor, mas que, como processo, aparece primeiro sob a forma do processo de produção simples, de um processo de produção que não está posto em nenhuma determinabilidade econômica particular, mas [posto] como processo de produção em geral, pode-se dizer – contanto que seja fixado qualquer um dos aspectos particulares do processo de produção simples (que, enquanto tal, como já vimos, de forma alguma pressupõe o capital, mas é próprio de todos os modos de produção) – que o capital devém produto, ou que é instrumento de trabalho, ou também matéria-prima do trabalho. Se, além disso, é concebido agora como um dos aspectos que, como matéria ou simples meio de trabalho, se defronta com o trabalho, diz-se com razão que o capital não é produtivo[26], precisamente porque nesse caso ele é considerado somente como o objeto que confronta o trabalho, como matéria; como simplesmente passivo. Mas a verdade é que o capital não aparece nem como um dos aspectos, nem como diferença de um aspecto em si mesmo, nem como simples resultado (produto), mas como o próprio processo de produção simples; que este último aparece agora como o conteúdo automovente do capital.
β) Para considerar agora o aspecto da determinação formal, como se conserva e se modifica no processo de produção.
{O que é trabalho produtivo ou não, um ponto que tem sido objeto de muita polêmica desde que Adam Smith fez tal distinção[27], tem de resultar da análise dos diversos aspectos do próprio capital. Trabalho produtivo é simplesmente o trabalho que produz o capital. Não é absurdo, pergunta, p. ex. (ou algo similar), o senhor Senior[28], que o fabricante de pianos seja um trabalhador produtivo, mas o pianista não o seja, não obstante o piano sem o pianista seria nonsense? Mas é exatamente assim. O fabricante de pianos reproduz o capital; o pianista só troca seu trabalho por renda. Mas o pianista, que produz música e satisfaz nosso senso musical, também não o produz de certa maneira? |De fatoi, ele o produz: seu trabalho produz algo; nem por isso é trabalho produtivo em sentido econômico; é tão pouco produtivo como o trabalho do louco que produz quimeras. O trabalho só é produtivo na medida em que produz seu próprio contrário. Outros economistas, por conseguinte, fazem do assim chamado trabalhador improdutivo indiretamente produtivo. P. ex., o pianista estimula a produção; em parte porque deixa nossa individualidade mais ativa e vívida, em parte no sentido trivial de que desperta uma nova necessidade, para cuja satisfação é aplicado mais esforço na produção material imediata. Nesse particular, já é admitido que somente é produtivo o trabalho que produz capital; que, consequentemente, o trabalho que não o faz, por mais útil que possa ser – pode muito bem ser nocivo –, não é produtivo para a capitalização, logoi, é trabalho improdutivo. Outros economistas afirmam que a diferença entre produtivo e improdutivo não se refere à produção, mas ao consumo. |Justamente o contrárioi. O produtor de tabaco é produtivo, não obstante o consumo de tabaco seja improdutivo. A produção para o consumo improdutivo é |tão produtiva quanto a produção para o consumo produtivo; sempre supondo que produz ou reproduz o capitali. Por isso, diz Malthus muito acertadamente que “|trabalhador produtivo é aquele que aumenta diretamente a riqueza de seu patrãoi” (IX, 40)[29]; certo pelo menos sob um aspecto. A expressão é demasiado abstrata, visto que essa formulação vale igualmente para o escravo. A |riqueza do patrãoi, em relação ao trabalhador, é a própria forma da riqueza em sua relação ao trabalho, o capital. |Trabalhador produtivo é aquele que aumenta diretamente o capitali.}
Como valor de uso, o trabalho só existe para o capital e é o valor de uso do próprio capital, i.e., a atividade mediadora pela qual ele se valoriza. O capital, enquanto reproduz e aumenta seu valor, é o valor de troca autônomo (o dinheiro) como processo, como processo da valorização. Em consequência, o trabalho não existe como valor de uso para o trabalhador; por isso, não existe para ele como força produtiva da riqueza, como meio ou como atividade de enriquecimento. O trabalhador o leva como valor de uso para a troca com o capital, que assim não se lhe confronta como capital, mas como dinheiro. Só é capital como capital com referência ao trabalhador, pelo consumo do trabalho, consumo que, em princípio, se dá fora dessa troca e é independente dela. O trabalho, valor de uso para o capital, é para o trabalhador simples valor de troca; valor de troca disponível. Ele é posto enquanto tal no ato de troca com o capital, por meio de sua venda por dinheiro. O valor de uso de uma coisa não diz respeito ao seu vendedor enquanto tal, mas somente ao seu comprador. A propriedade que o salitre tem de poder ser usado para fazer pólvora não determina seu preço, ao contrário, tal preço é determinado pelos custos de produção do próprio salitre, pelo quantum de trabalho nele objetivado. Na circulação, em que os valores de uso ingressam como preços, seu valor não resulta da circulação, apesar de que se realiza apenas nela; o valor lhe é pressuposto e somente é efetivado por meio da troca por dinheiro. Desse modo, o trabalho que é vendido pelo trabalhador ao capital como valor de uso é, para o trabalhador, seu valor de troca, que quer realizar, mas que já é determinado antes do ato dessa troca, é pressuposto como condição da troca, é determinado, como o valor de qualquer outra mercadoria, pela oferta e demanda ou, em geral, único aspecto com o qual nos preocupamos aqui, pelos custos de produção, o quantum de trabalho objetivado por meio do qual a capacidade do trabalhador foi produzida e que ela obtém, consequentemente, como equivalente. O valor de troca do trabalho, cuja realização tem lugar no processo de troca com o capitalista, é, por isso, pressuposto, predeterminado, e experimenta somente a modificação formal que todo preço posto só idealmente adquire por sua realização. Ele não é determinado pelo valor de uso do trabalho. Para o próprio trabalhador, o trabalho só tem valor de uso na medida em que é valor de troca, não porque produz valores de troca. Para o capital, o trabalho só tem valor de troca na medida em que é valor de uso. O trabalho é valor de uso, diferente de seu valor de troca, não para o próprio trabalhador, mas somente para o capital. O trabalhador troca, portanto, o trabalho como valor de troca simples, predeterminado, determinado por um processo passado – ele troca o trabalho mesmo como trabalho objetivado; somente na medida em que o trabalho já objetiva um determinado quantum de trabalho, que, por conseguinte, seu equivalente já é um equivalente medido, dado –; o capital o compra como trabalho vivo, como a força produtiva universal da riqueza; a atividade que aumenta a riqueza. É claro, portanto, que o trabalhador não pode enriquecer por meio dessa troca, uma vez que ele, como Esaú ao ceder sua primogenitura por um prato de lentilhas, cede sua força criativa pela capacidade de trabalho como uma grandeza dada. Ao contrário, ele tem mais de empobrecer, como veremos mais adiante, porque a força criativa de seu trabalho se estabelece perante ele como a força do capital, como poder estranho. Ele aliena o trabalho como força produtiva da riqueza; o capital apropria-se dele enquanto tal. A separação de trabalho e propriedade no produto do trabalho, de trabalho e riqueza, é posta, por conseguinte, nesse próprio ato da troca. O que parece paradoxal como resultado já está no próprio pressuposto. Os economistas exprimiram isso de modo mais ou menos empírico. Perante o trabalhador, portanto, a produtividade de seu trabalho, seu trabalho, enfim, devém um poder estranho, na medida em que não é capacidade, mas movimento, trabalho efetivo; o capital, inversamente, valoriza-se a si mesmo pela apropriação de trabalho alheio. (Ao menos a possibilidade da valorização está posta dessa maneira, como resultado da troca entre trabalho e capital. A relação só é realizada no próprio ato de produção, em que o capital efetivamente consome o trabalho alheio.) Como para o trabalhador o trabalho, enquanto valor de troca pressuposto, é trocado por um equivalente em dinheiro, este último é trocado, por sua vez, por um equivalente em mercadoria, que é consumida. Nesse processo da troca, o trabalho não é produtivo; ele devém produtivo somente para o capital; o trabalho só pode retirar da circulação o que nela lançou, um quantum predeterminado de mercadoria, que, assim como seu próprio valor, tampouco é seu próprio produto. Os trabalhadores, afirma Sismondi, trocam seu trabalho por cereal e o consomem, ao passo que “seu trabalho deveio capital para seu dono”. (Sismondi, VI.)[30] “Dando o seu trabalho em troca, os trabalhadores o convertem em capital.” (Ibidem, VIII.)[31] Ao vender seu trabalho ao capitalista, o trabalhador adquire um direito somente sobre o preço do trabalho, não sobre o produto desse trabalho nem sobre o valor que o trabalho adicionou ao produto. (Cherbuliez, XXVIII.)[32] “Vender o trabalho = renúncia a todos os frutos do trabalho”. (Loc. cit.)[33] Portanto, todos os progressos da civilização ou, em outras palavras, todo aumento das forças produtivas sociais, |se se quiseri, das forças produtivas do próprio trabalho – tal como resultam da ciência, das invenções, da divisão e combinação do trabalho, do aperfeiçoamento dos meios de comunicação, da criação do mercado mundial, da maquinaria etc. –, não enriquecem o trabalhador, mas o capital; em consequência, só ampliam o poder que domina o trabalho; só multiplicam a força produtiva do capital. Como o capital é a antítese do trabalhador, tais progressos aumentam unicamente o poder objetivo sobre o trabalho. A transformação do trabalho (como atividade viva, intencional) em capital é em si o resultado da troca entre capital e trabalho, porquanto a troca confere ao capitalista o direito de propriedade sobre o produto do trabalho (e o comando sobre o trabalho). Tal transformação só é posta no próprio processo de produção. Portanto, indagar se o capital é produtivo ou não, é uma questão absurda. O próprio trabalho só é produtivo quando incorporado ao capital, ali onde o capital constitui o fundamento da produção e o capitalista, portanto, é o comandante-em-chefe da produção. A produtividade do trabalho devém força produtiva do capital, da mesma forma que o valor de troca universal das mercadorias se fixa no dinheiro. O trabalho, tal como existe por si no trabalhador em oposição ao capital, o trabalho, portanto, em sua existência imediata, separado do capital, não é produtivo. Como atividade do trabalhador, ele também jamais devém produtivo, porque ele entra unicamente no processo de circulação simples, que só efetua transformações formais. Por essa razão, os que demonstram que toda a força produtiva atribuída ao capital é um deslocamento, uma transposição da força produtiva do trabalho, esquecem justamente que o próprio capital é em essência esse deslocamento, essa transposição, e que o trabalho assalariado enquanto tal pressupõe o capital, que, portanto, considerado em sua parte, é também essa transubstanciação; o processo necessário de pôr as próprias forças do trabalho como estranhas ao trabalhador. Por isso, deixar subsistir o trabalho assalariado e ao mesmo tempo abolir o capital é uma pretensão que contradiz e cancela a si mesma. Outros, inclusive economistas, p. ex., Ricardo, Sismondi etc., dizem que somente o trabalho é produtivo, não o capital. Nesse caso, entretanto, não concebem o capital em sua determinabilidade formal específica, como uma relação de produção refletida em si, mas pensam unicamente em sua substância material, matéria-prima etc. Mas esses elementos materiais não convertem o capital em capital. Todavia, ocorre-lhes então que o capital, de um lado, é valor, portanto, algo imaterial, indiferente ante a sua existência material. Say, por exemplo: “|O capital sempre é uma essência imaterial porque não é a matéria que faz o capital, mas o valor dessa matéria, valor que nada tem de corpóreof”. (Say, 21.)[34] Ou Sismondi: “|O capital é uma ideia comercialf”. (Sismondi, LX.)[35] Mas então ocorre-lhes que o capital é também uma outra determinação econômica diferente do valorf, porque, do contrário, de modo algum poderia-se falar do capital à diferença do valorf; e que, mesmo se todos os capitais são valores, os valores enquanto tais não são capital. Daí, refugiam-se novamente na configuração material do capital no interior do processo de produção, p. ex., quando Ricardo explica o capital como |trabalho acumulado empregado na produção de novo trabalhoi, i.e., como simples instrumento de trabalho ou material de trabalho[36]. Nesse sentido, Say fala inclusive do |serviço produtivo do capitalf, sobre o qual deve se basear sua remuneração, como se o instrumento de trabalho enquanto tal tivesse direito à gratidão do trabalhador, e como se o capital não fosse posto exclusiva e exatamente pelo trabalhador como instrumento de trabalho, como produtivo. A autonomia do instrumento de trabalho, i.e., uma determinação social dele, i.e., sua determinação como capital, é dessa maneira pressuposta para deduzir os direitos do capital. A afirmação de Proudhon, “|O capital vale, o trabalho produzf”, não significa absolutamente nada mais que: o capital é valor, uma vez que aqui nada mais é dito do capital, a não ser que é valor, que valor é valor (o sujeito da sentença é aqui apenas um outro nome para o predicado), e o trabalho produz, é atividade produtiva, i.e., o trabalho é trabalho, exatamente porque ele nada mais é do que “produzirf”. Deve ser imediatamente evidente que essas sentenças idênticas não contêm quaisquer recursosf excepcionais de sabedoria e, sobretudo, que não podem exprimir uma relação em que o valor e o trabalho entram em relação, referem-se e diferenciam-se reciprocamente, não como elementos mutuamente indiferentes posicionados um ao lado do outro. Já o fato de que o trabalho aparece perante o capital como sujeito, i.e., que o trabalhador aparece somente na determinação do trabalho, e que este não é o próprio trabalhador, tem de despertar a atenção. Nesse caso, abstraindo-se do capital, já existe uma ligação, uma relação do trabalhador com sua própria atividade que de maneira alguma é a relação “natural”, mas que já contém ela própria uma determinação econômica específica.
O capital, tal como o consideramos aqui, como relação a ser distinguida do valor e do dinheiro, é o capital em geral, i.e., a síntese das determinações que diferenciam o valor como capital do valor como simples valor ou dinheiro. Valor, dinheiro, circulação etc., preços etc. são pressupostos, assim como o trabalho etc. Mas nós ainda não estamos tratando nem de uma forma particular do capital nem do capital singular como capital diferente de outros capitais singulares etc. Nós assistimos ao seu processo de formação. Esse processo de formação dialético é apenas a expressão ideal do movimento efetivo em que o capital vem-a-ser. As relações ulteriores devem ser consideradas como desenvolvimentos a partir desse embrião. Mas é necessário fixar a forma determinada na qual o capital é posto em um certo ponto. Senão resulta confusão.
Até aqui, o capital foi considerado, de acordo com seu aspecto material, como processo de produção simples. Mas tal processo, sob o aspecto da determinabilidade formal, é processo de autovalorização. A autovalorização inclui tanto conservação do valor pressuposto quanto sua multiplicação.
O valor aparece como sujeito. O trabalho é atividade intencional e, desse modo, sob o aspecto material, é pressuposto que o instrumento de trabalho foi efetivamente utilizado no processo de produção como meio para um fim, e que a matéria-prima ganhou, como produto, um valor de uso maior do que o que possuía anteriormente, seja por metabolismo químico, seja por modificação mecânica. Contudo, esse próprio aspecto, referido exclusivamente ao valor de uso, faz parte ainda do processo de produção simples. Não se trata aqui – melhor dizendo, isso está implícito, pressuposto – de que um maior valor de uso é produzido (isso inclusive é muito relativo; quando cereal é transformado em aguardente, o próprio valor de uso superior já está posto com respeito à circulação); além disso, não foi gerado nenhum valor de uso maior para o indivíduo, para o produtor. De todo modo, isso é acidental e não diz respeito à relação enquanto tal; mas é um valor de uso maior para outrem. A questão aqui é que foi produzido um valor de troca maior. Na circulação simples, o processo se encerrava para a mercadoria singular quando, como valor de uso, chegava às mãos de seu destinatário e era consumida. Com isso, a mercadoria saía da circulação; perdia seu valor de troca, toda sua determinação formal econômica. O capital consumiu seu material pelo trabalho e o trabalho, pelo seu material; ele se consumiu como valor de uso, mas somente como valor de uso para si mesmo, como capital. O seu próprio consumo como valor de uso entra aqui, portanto, na circulação, ou, melhor dizendo, o próprio capital põe o início da circulação ou seu fim, como se queira. O próprio consumo do valor de uso entra aqui no processo econômico, porque o próprio valor de uso é determinado aqui pelo valor de troca. Em nenhum momento do processo de produção o capital deixa de ser capital ou o valor deixa de ser valor e, enquanto tal, valor de troca. Nada é mais inepto do que dizer, como o faz o senhor Proudhon, que, pelo ato da troca, i.e., pelo fato de que ingressa de novo na circulação simples, o capital, de produto, devém agora valor de troca. Com isso seríamos lançados de volta ao início, até mesmo à troca direta, na qual foi observada a gênese do valor de troca a partir do produto. O fato de que o capital, após a conclusão do processo de produção, após seu consumo como valor de uso, ingressa e pode ingressar de novo na circulação como mercadoria, já está implícito no fato de que ele estava pressuposto como valor de troca que se autoconserva. Mas na medida em que só como produto devém agora novamente mercadoria, e como mercadoria devém valor de troca, recebe preço e, enquanto tal, é realizado em dinheiro, o capital é simples mercadoria, logo, valor de troca e, nessa condição, está igualmente sujeito, na circulação, ao destino de se realizar ou não em dinheiro; i.e., sujeito ao risco de que seu valor de troca devenha ou não dinheiro. Por essa razão, seu valor de troca – que, pouco antes, fora posto idealmente – deveio muito mais problemático do que quando surgiu. E, sobretudo, porque, como um valor de troca superior realmente posto na circulação, não pode provir da própria circulação, em que só são trocados equivalentes, segundo sua determinação simples. Se o capital sai da circulação como valor de troca superior, tem de ter ingressado nela enquanto tal.
Do ponto de vista da forma, o capital não consiste de objetos de trabalho e trabalho, mas de valores, e, de maneira ainda mais precisa, de preços. O fato de que seus elementos de valor assumiram diferentes substâncias durante o processo de produção não interessa à sua determinação como valores; não são modificados em virtude disso. Se, partindo da forma do movimento – do processo –, tais elementos, ao final do processo, se combinam novamente no produto em uma figura objetiva, repouso, trata-se igualmente, quanto ao valor, de uma simples mudança de substância que não o altera. Decerto as substâncias enquanto tais foram destruídas, todavia não foram convertidas em nada, mas sim em uma substância conformada de maneira diferente. Anteriormente, as substâncias apareciam como condições elementares, indiferentes do produto. Agora, elas são produto. Logo, o valor do produto só pode ser = a soma dos valores que estavam materializados nos elementos materiais determinados do processo, como matéria-prima, instrumento de trabalho (e aqui estão incluídas também as mercadorias simplesmente instrumentais) e o próprio trabalho. A matéria-prima foi completamente consumida, o trabalho foi completamente consumido, o instrumento foi consumido apenas parcialmente, logo, continua possuindo uma parte do valor do capital em seu modo de existência determinado que lhe era próprio antes do processo. Por conseguinte, essa parte não vem absolutamente ao caso aqui, uma vez que não sofreu nenhuma modificação. Os diferentes modos de existência dos valores eram pura aparência; em seu desaparecimento, o próprio valor constituiu a essência que permanece idêntica a si mesma. Sob esse aspecto, considerado como valor, o produto não é produto, mas antes valor mantido idêntico, inalterado, valor que simplesmente está em outro modo de existência, mas que também lhe é indiferente e pode ser trocado por dinheiro. O valor do produto é = o valor da matéria-prima + o valor da parte destruída, logo, passada ao produto, suprimida em sua forma original de instrumento de trabalho + o valor do trabalho. Ou, o preço do produto é igual aos seus custos de produção, i.e., = a soma dos preços das mercadorias que são consumidas no processo de produção. Em outras palavras, isso nada mais significa que o processo de produção, sob o seu aspecto material, era indiferente ao valor; que, por conseguinte, o valor permaneceu idêntico a si mesmo e só assumiu um outro modo de existência material, está materializado em outra substância e forma. (A forma da substância nada tem a ver com a forma econômica, com o valor enquanto tal.) Se o capital originalmente era = 100 táleres, permaneceu, como antes, igual a 100 táleres, muito embora os 100 táleres no processo de produção existissem como 50 táleres de algodão, 40 táleres de salário + 10 táleres de máquina de fiar; e agora existam como fio de algodão ao preço de 100 táleres. Essa reprodução dos 100 táleres é simples permanecer-igual-a-si-mesmo, só que foi mediada pelo processo de produção material. Por isso, o processo precisa prosseguir até o produto, do contrário o algodão perde seu valor, o instrumento de trabalho é desgastado em vão, o salário é pago inutilmente. A única condição para a autoconservação do valor é que o processo de produção seja efetivamente processo total, logo, que prossiga até o produto. A totalidade do processo de produção, i.e., que continua até o produto, é aqui de fato condição da autoconservação, do permanecer-igual-a-si-mesmo do valor, mas isso já está implícito na primeira condição, a saber, que o capital devém efetivamente valor de uso, processo de produção efetivo; nesse ponto, portanto, é pressuposta. Por outro lado, o processo de produção só é processo de produção para o capital na medida em que, nesse processo, este se conserva como valor, logo, no produto. A proposição de que o preço necessário = a soma dos preços dos custos de produção é, por isso, puramente analítica. É o pressuposto da produção do próprio capital. Primeiro, o capital é posto como 100 táleres, como simples valor; em seguida, é posto nesse processo como soma de preços de seus próprios elementos de valor determinados, e determinados pelo próprio processo de produção. O preço do capital, seu valor expresso em dinheiro, = o preço de seu produto. Significa dizer, o valor do capital, como resultado do processo de produção, é o mesmo de quando ele era pressuposto do processo. Todavia, no decorrer do processo, o capital não subsiste nem na simplicidade que tem no início nem na que volta a ter no final como resultado, mas decompõe-se em componentes quantitativos de início completamente indiferentes, como valor do trabalho (salário), valor do instrumento de trabalho e valor da matéria-prima. Ainda não é posta nenhuma outra relação, exceto que, no processo de produção, o valor simples se distribua numericamente como uma pluralidade de valores que se combinam novamente em sua simplicidade no produto, mas agora como soma. Mas a soma é = a unidade original. No mais, considerado o valor, afora a divisão quantitativa, aqui ainda não está contida qualquer diferença na relação entre os diferentes quanta de valor. O capital original era de 100 táleres; o produto é de 100 táleres, mas os 100 táleres agora como soma de 50 + 40 + 10 táleres. Eu poderia ter considerado os 100 táleres originalmente como uma soma de 50 + 40 +10, mas também como uma soma de 60 + 30 + 10 etc. Que agora apareçam como soma de determinado número de unidades é posto pelo fato de que os diferentes elementos materiais em que o capital se decompõe no processo de produção representam, cada um, uma parte de seu valor, mas uma parte determinada.
Será visto mais tarde que essas quantidades nas quais é decomposta a unidade original têm elas próprias determinadas relações entre si, mas isso ainda não nos interessa aqui. Na medida em que um movimento é posto no próprio valor no decorrer do processo de produção, tal movimento é puramente formal e consiste no seguinte ato formal simples: primeiro, o valor existe como unidade; um determinado número de unidades, que é ele próprio considerado como unidade, como totalidade: o capital de 100 táleres; em segundo lugar, essa unidade é dividida no decorrer do processo de produção em 50 táleres, 40 táleres e 10 táleres, uma divisão que é essencial, na medida em que material de trabalho, instrumento e trabalho são usados em determinados quanta, mas que aqui, no que se refere aos próprios 100 táleres, nada mais são do que uma decomposição indiferente da mesma unidade em determinadas quantidades; finalmente, os 100 táleres reaparecem no produto como soma. Quanto ao valor, o único processo é que ele aparece uma vez como uma totalidade, unidade; depois, como divisão dessa unidade em determinada quantidade; finalmente, como soma. Os 100 táleres que aparecem ao final como soma são precisamente a mesma soma que aparecia no início. A determinação da soma, da adição, resultou tão somente da divisão que teve lugar no ato de produção; mas não existe no produto enquanto tal. Por conseguinte, a proposição de que o preço do produto = ao preço dos custos de produção, ou de que o valor do capital = ao valor do produto, diz nada além de que o valor do capital se conservou no ato de produção e agora aparece como soma. Com essa simples identidade do capital ou reprodução de seu valor mediante o processo de produção, ainda não estaríamos muito longe de onde estávamos no começo. O que estava presente como pressuposto no início, está presente agora como resultado, e em forma inalterada. É claro que não é isso o que os economistas têm em mente quando falam de determinação do preço pelos custos de produção. Do contrário, jamais poderia ser criado um valor maior do que o originalmente existente; nenhum valor de troca maior, embora poderia ser criado um valor de uso maior, mas que não vem aqui ao caso. Trata-se aqui do valor de uso do capital enquanto tal, não do valor de uso de uma mercadoria.
Quando se diz que os custos de produção ou o preço necessário de uma mercadoria é = 110, calcula-se da seguinte maneira: capital original = 100 (portanto, p. ex., matéria-prima = 50; trabalho = 40; instrumento = 10) + 5% de juros + 5% de lucro. Logo, os custos de produção = 110, não = 100; os custos de produção, portanto, são maiores do que os custos da produção. Não adianta absolutamente nada fugir do valor de troca para o valor de uso da mercadoria, como gostam de fazer alguns economistas. Não é o valor de troca enquanto tal que determina se o valor de uso como valor de uso é maior ou menor. As mercadorias frequentemente caem abaixo de seus preços de produção[37], embora tenham indiscutivelmente recebido um valor de uso maior do que o que possuíam na época anterior à produção. Igualmente inútil é fugir para a circulação. Eu produzo por 100, mas vendo por 110. “|O lucro não produzido pela troca. Caso não existisse antes de tal transação, tampouco poderia existir depois delai”. (Ramsay, IX, 88.)[38] Isso significa pretender explicar o aumento do valor a partir da circulação simples, quando esta, ao contrário, expressamente só põe o valor como equivalente. É também empiricamente claro que, se todos vendessem 10% mais caro, isso seria como se todos vendessem pelos preços de produção. O mais-valor[39] seria assim puramente nominal, fictíciof, convencional, um simples clichê. E uma vez que o próprio dinheiro é mercadoria, produto, também ele seria vendido 10% mais caro, i.e., o vendedor que recebesse 110 táleres, receberia de fato apenas 100. (Ver também Ricardo sobre o comércio exterior, que ele concebe como circulação simples e, por isso, afirma: “O comércio exterior não pode jamais aumentar os valores de troca de um país.” (Ricardo, 39, 40.)[40] As razões que apresenta para tanto são exatamente idênticas àquelas que “provam” que a troca enquanto tal, a circulação simples, logo, o comércio em geral, na medida em que seja concebido enquanto tal, não pode jamais aumentar os valores de troca, não pode jamais criar o valor de troca.) Caso contrário, a proposição segundo a qual o preço é = os custos de produção teria de ser também assim formulada: o preço de uma mercadoria é sempre maior do que seus custos de produção. Além da divisão e da adição numéricas simples, no processo de produção ainda se acrescenta ao valor o elemento formal, a saber, que seus elementos agora aparecem como custos de produção, i.e., precisamente, que os próprios elementos do processo de produção não são preservados em sua determinabilidade material, mas como valores que são consumidos no modo de existência que tinham antes do processo de produção.
Por outro lado, é claro que se o ato de produção é unicamente a reprodução do valor do capital, só acontece nele uma mudança material, e não uma mudança econômica, e que uma tal conservação simples de seu valor contradiz seu conceito. Ele certamente não permaneceria como o dinheiro autônomo fora da circulação; ao contrário, assumiria a figura de diversas mercadorias, mas a troco de nada; esse seria um processo desprovido de finalidade, uma vez que, ao final, o capital representaria somente a mesma soma de dinheiro e teria apenas corrido o risco de sair prejudicado do ato de produção – que pode fracassar; [seria um processo] no qual o dinheiro abandonaria a sua forma imperecível. |Pois bemi. O processo de produção chegou agora ao final. O produto está realizado de novo em dinheiro e reassumiu a forma original dos 100 táleres. Mas o capitalista também precisa comer e beber; ele não pode viver dessa mudança de forma do dinheiro. Por conseguinte, uma parte dos 100 táleres teria de ser trocada, não como capital, mas como moeda, por mercadorias como valores de uso, e ser consumida nessa forma. Os 100 táleres teriam se transformado em 90 e, no final, como o capitalista sempre reproduz o capital sob a forma do dinheiro, mais precisamente, o reproduz sob a forma do quantum de dinheiro com a qual iniciou a produção, os 100 táleres teriam sido devorados e o capital, desaparecido. Mas o capitalista é pago pelo trabalho de lançar os 100 táleres no processo de produção, não de devorá-los. Mas com que ele deve ser pago? Ademais, não parece completamente inútil o seu trabalho, uma vez que o capital inclui o salário; e os trabalhadores, portanto, poderiam viver pela simples reprodução dos custos de produção, coisa que o capitalista não pode fazer? Ele apareceria, consequentemente, sob a forma de faux frais |de produçãof[i]. Mas qualquer que possa ser o serviço que presta, a reprodução seria possível sem ele, dado que, no processo de produção, os trabalhadores só reclamam o valor que aportam, não necessitando, portanto, do conjunto da relação do capital para recomeçar continuamente o processo de produção; e, em segundo lugar, não haveria nenhum fundoi para pagar seu serviço, uma vez que o preço da mercadoria = os custos de produção. Todavia, se seu trabalho fosse concebido como um trabalho particular ao lado e à parte do trabalho dos trabalhadores, algo como o trabalho de supervisãoi etc., o capitalista receberia, assim como eles, um salário determinado, e cairia, portanto, na categoria dos trabalhadores, e de modo algum se comportaria como capitalista diante do trabalho; ele também jamais enriqueceria, mas receberia somente um valor de troca que teria de consumir por meio da circulação. A existência do capital perante o trabalho exige que o capital para si, o capitalista, possa existir e viver como não trabalhador. Por outro lado, é igualmente claro que, mesmo desde a ótica das determinações econômicas habituais, o capital que só pudesse conservar seu valor, não o conservaria. Os riscos da produção têm de ser compensados. O capital tem de se conservar nas oscilações dos preços. A desvalorização do capital, que se dá de maneira incessante pela elevação da força produtiva, tem de ser compensada etc. Por essa razão, os economistas também dizem simploriamente que, se não resultasse nenhum ganho, nenhum lucro, cada um devoraria seu dinheiro, em lugar de lançá-lo na produção e utilizá-lo como capital. Em suma, pressuposta essa não valorização, i.e., a não multiplicação do valor do capital, é pressuposto que o capital não é um elo efetivo da produção, não é uma relação de produção particular; é pressuposta uma situação em que os custos de produção não têm a forma do capital e o capital não é posto como condição da produção.
É fácil compreender como o trabalho pode aumentar o valor de uso; a dificuldade consiste em compreender como pode criar valores de troca maiores do que os pressupostos.
Suponha que o valor de troca que o capital paga ao trabalhador seja um equivalente exato do valor que o trabalho cria no processo de produção. Nesse caso, o aumento do valor de troca do produto seria impossível. O que o trabalho enquanto tal tivesse inserido no processo de produção para além do valor pressuposto da matéria-prima e do instrumento de trabalho seria pago ao trabalhador. O valor do próprio produto, porquanto é um excedente sobre o valor da matéria-prima e do instrumento, caberia ao trabalhador; com a única diferença que o capitalista lhe pagaria esse valor em salário e o trabalhador o restituiria ao capitalista em produto.
{O fato de que por custos de produção não se entende a soma dos valores que entram na produção – mesmo para os economistas que afirmam isso – fica evidente no juro sobre o capital emprestado. Para o capitalista industrial, o juro faz parte diretamente de seus gastos, de seus custos de produção efetivos. Entretanto, o próprio juro já subentende que o capital sai da produção como mais-valor, uma vez que ele próprio é somente uma forma desse mais-valor. Por conseguinte, como o juro, do ponto de vista do tomador do empréstimo, já entra em seus custos de produção imediatos, fica patente que o capital enquanto tal entra nos custos de produção, mas que o capital enquanto tal não é a simples adição de seus componentes de valor. – No juro, o próprio capital reaparece na determinação da mercadoria, mas como uma mercadoria especificamente diferente de todas as demais; o capital enquanto tal, não como uma simples soma de valores de troca, entra na circulação e devém mercadoria. Aqui, o próprio caráter da mercadoria está presente como determinação econômica, específica, nem indiferente, como na circulação simples, nem relacionada diretamente ao trabalho como antítese, como seu valor de uso, como no capital industrial; no capital tal qual é em suas primeiras determinações resultantes da produção e da circulação. Em consequência, a mercadoria como capital ou o capital como mercadoria não é trocado na circulação por um equivalente; entrando na circulação, conserva seu ser-para-si; conserva, portanto, sua relação original com seu proprietário, mesmo quando passa para as mãos de um outro possuidor. Por isso, é simplesmente emprestado. O seu valor de uso enquanto tal para seu proprietário é sua valorização, dinheiro como dinheiro e não como meio de circulação; seu valor de uso como capital. A exigência formulada pelo senhor Proudhon de que o capital não deve ser emprestado e render juros, mas deve ser vendido como mercadoria por seu equivalente, como qualquer outra mercadoria, é pura e simplesmente a exigência de que o valor de troca nunca devenha capital, mas permaneça valor de troca simples; que o capital como capital não deve existir. Essa exigência, juntamente com a outra, de acordo com a qual o trabalho assalariado deve permanecer o fundamento universal da produção, revela uma divertida confusão sobre os conceitos econômicos mais simples. Daí o papel miserável que ele desempenha na polêmica com Bastiat, do que trataremos mais tarde. O palavrório sobre considerações de equidade e de direito termina unicamente por pretender aplicar a relação de propriedade ou a relação de direito correspondente à troca simples como critério da relação de propriedade e de direito de um estágio superior do valor de troca. Por essa razão, o próprio Bastiat, inconscientemente, salienta os momentos na circulação simples que impulsionam até o capital. – O próprio capital como mercadoria é o dinheiro como capital ou o capital como dinheiro.[41]}
{O terceiro momento a ser desenvolvido na formação do conceito do capital é a acumulação originária frente ao trabalho e, por conseguinte, também o trabalho sem objeto frente à acumulação. O primeiro momento partia do valor, como valor procedente da e pressupondo a circulação. Esse era o conceito simples do capital; o dinheiro tal como estava imediatamente determinado a devir capital; o segundo momento partia do capital como pressuposto e resultado da produção; o terceiro momento põe o capital como unidade determinada da circulação e da produção[42]. É preciso distinguir entre a acumulação dos capitais; esta pressupõe capitais; a relação do capital como relação existente e, portanto, presume também suas relações com trabalho, preços (|capital fixo e circulantef), juro e lucro. Mas o capital, para vir-a-ser, pressupõe uma certa acumulação, que já está presente na antítese autônoma do trabalho objetivado frente ao trabalho vivo, na existência autônoma dessa antítese. Essa acumulação, necessária ao devir do capital, que já está contida, portanto, em seu conceito como pressuposto – como um momento –, precisa ser essencialmente diferenciada da acumulação do capital que já deveio capital, na qual já têm de existir capitais.[43]}
{Já vimos até aqui que o capital pressupõe: 1) o processo de produção em geral, tal como é próprio a todas as condições sociais, logo, sem caráter histórico, humano, |como se queirai; 2) a circulação, que já é ela própria, em cada um de seus momentos e ainda mais em sua totalidade, um produto histórico determinado; 3) o capital como unidade determinada de ambos. Todavia, até que ponto o próprio processo de produção geral é modificado historicamente, tão logo aparece exclusivamente como elemento do capital, isso é algo que tem de resultar do desenvolvimento do capital, da mesma maneira que da compreensão simples das diferenças específicas do capital devem resultar seus pressupostos históricos em geral.}
{Todo o resto é conversa sem sentido. Somente no resultado e como resultado de todo o desenvolvimento podem se evidenciar as determinações que devem ser incluídas na primeira seção, “Da produção em geral”, e na primeira parte da segunda seção, do “Valor de troca em geral”. P. ex., já vimos que a diferenciação entre valor de uso e valor de troca pertence à própria economia, e que o valor de uso não jaz morto como um simples pressuposto, como o faz Ricardo[44]. O capítulo da produção termina objetivamente com o produto como resultado; o da circulação começa com a mercadoria, ela própria, por sua vez, valor de uso e valor de troca (logo, também um valor diferente de ambos), circulação como unidade de ambos – mas unidade que é puramente formal e, em consequência, coincide na mercadoria como simples objeto de consumo, extraeconômico, e do valor de troca como dinheiro autonomizado.}
O mais-valor que o capital tem ao final do processo de produção – um mais-valor que, como preço mais elevado do produto, só é realizado na circulação, como todos os preços nela realizados, que, sendo já idealmente pressupostos à circulação, são determinados antes de nela ingressarem –, tal mais-valor significa, expresso de acordo com o conceito geral do valor de troca, que o tempo de trabalho objetivado no produto – ou quantum de trabalho (expressa estaticamente, a magnitude do trabalho aparece como quantidade espacial, mas expressa em movimento, só é mensurável pelo tempo) – é maior do que o tempo de trabalho presente nos componentes originais do capital. Agora, isso somente é possível se o trabalho objetivado no preço do trabalho é menor do que o tempo de trabalho vivo que é comprado com ele. O tempo de trabalho objetivado no capital aparece, como já vimos, como uma soma composta de três partes: a) o tempo de trabalho objetivado na matéria-prima; b) o tempo de trabalho objetivado no instrumento; c) o tempo de trabalho objetivado no preço do trabalho. Agora, as partes a) e b) permanecem inalteradas como componentes do capital; muito embora alterem sua figura no processo, seus modos de existência material, permanecem inalteradas como valores. É só c) que o capital troca por alguma coisa qualitativamente diferente: um quantum dado de trabalho objetivado por um quantum de trabalho vivo. Na medida em que o tempo de trabalho vivo só reproduzisse o tempo de trabalho objetivado no preço do trabalho, tal reprodução também seria puramente formal, assim como, no que diz respeito ao valor, teria ocorrido apenas uma troca por trabalho vivo, como outro modo de existência do mesmo valor, da mesma maneira que, no que diz respeito ao valor do material de trabalho e do instrumento, teve lugar somente uma alteração de seu modo de existência material. Caso o capitalista tivesse pago ao trabalhador um preço = um dia de trabalho, e o dia de trabalho do trabalhador só tivesse acrescentado um dia de trabalho à matéria-prima e ao instrumento, o capitalista teria simplesmente trocado o valor de troca em uma forma pelo valor de troca em uma outra. Não teria atuado como capital. Por outro lado, o trabalhador não teria permanecido no processo de troca simples; ele teria de fato recebido o produto de seu trabalho em pagamento, só que o capitalista lhe teria feito o obséquio de pagar-lhe antecipadamente o preço do produto antes de sua realização. O capitalista lhe teria dado crédito e, na verdade, grátis, pour le roi de Prusse[j]. |Isso é tudof. A troca entre capital e trabalho, cujo resultado é o preço do trabalho, por mais que seja troca simples do ponto de vista do trabalhador, tem de ser não troca do ponto de vista do capitalista. O capitalista tem de obter mais valor do que deu. Considerada do ponto de vista do capital, a troca tem de ser somente uma troca aparente, i.e., tem de fazer parte de uma determinação formal econômica distinta da correspondente à troca, caso contrário seriam impossíveis o capital como capital e o trabalho como trabalho em oposição ao capital. Eles se trocariam somente como valores de troca iguais que existem materialmente em modos de existência diferentes. – Para justificar o capital, para fazer sua apologia, os economistas buscam abrigo, por essa razão, nesse processo simples, explicam o capital justamente por um processo que torna sua existência impossível. Para demonstrar o capital, o demonstram omitindo-o. Você me paga o meu trabalho, troca meu trabalho pelo produto dele próprio e me desconta do valor da matéria-prima e do material que você me forneceu. Isso significa que somos sóciosf, que introduzimos diferentes elementos no processo de produção e os trocamos de acordo com o seu valor. Dessa maneira, o produto é transformado em dinheiro e o dinheiro é dividido de tal modo que você, capitalista, recebe o preço de sua matéria-prima e de seu instrumento, e eu, trabalhador, recebo o preço que o trabalho acrescentou a eles. A vantagem é, para você, que agora você possui a matéria-prima e o instrumento em uma forma consumível (apta a circular) e, para mim, que meu trabalho se valorizou. Você certamente logo chegaria à situação de ter comido todo seu capital na forma do dinheiro, enquanto eu, como trabalhador, tomaria posse de ambos.
O que o trabalhador troca com o capital é seu próprio trabalho (na troca, a disponibilidade sobre ele); ele o aliena. O que ele recebe como preço é o valor dessa alienação. O trabalhador troca a atividade ponente de valor por um valor predeterminado, independentemente do resultado de sua atividade.
{É uma tremenda sabedoria do sr. Bastiat afirmar que o assalariamentof é uma forma inessencial, puramente formal, uma forma da associação que, enquanto tal, nada tem a ver com a relação econômica entre trabalho e capital. Se, diz ele, os trabalhadores fossem ricos o bastante para poder esperar a finalização e venda do produto, o assalariamentof, o trabalho assalariado, não os impediria de fazer um contrato com o capitalista tão vantajoso quanto o que um capitalista faz com outro. Consequentemente, o mal não reside na forma do assalariamentof, mas em condições independentes dele[45]. Não lhe ocorre, naturalmente, que essas condições são as próprias |condições do assalariamentof. Se os trabalhadores fossem ao mesmo tempo capitalistas, eles de fato não se comportariam ante o capital que não trabalha como trabalhadores que trabalham, mas como capitalistas que trabalham – i.e., não na forma de trabalhadores assalariados. Por isso, para ele, salário e lucro também são essencialmente a mesma coisa que lucro e juro[46]. Denomina isso harmonia das relações econômicas, a saber, que as relações econômicas só existem na aparência, mas de fato, no essencial, existe somente uma relação – a da troca simples. Por essa razão, as formas essenciais lhe aparecem em si como sem conteúdo, i.e., não como formas efetivas.}
Agora, como é determinado o seu valor? Pelo trabalho objetivado que está contido em sua mercadoria. Essa mercadoria existe em sua vitalidade. Para conservá-la de hoje para amanhã – aqui ainda não vem ao caso a classe trabalhadora e, portanto, a sua reposição em virtude do desgastei, de maneira que ela possa se conservar como classe, uma vez que aqui o trabalhador se confronta com o capital como trabalhador e, por isso, como sujeito perene pressuposto, e não ainda como indivíduo perecível da espécie trabalhadora –, o trabalhador tem de consumir uma massa determinada de meios de subsistência, repor o sangue consumido etc. Ele recebe só um equivalente. Amanhã, portanto, depois de efetuada a troca – e mesmo quando conclui formalmente a troca, o trabalhador só a consome no processo de produção –, a sua capacidade de trabalho existe da mesma maneira que antes: ele recebeu um equivalente exato, porque o preço que recebeu o deixa de posse do mesmo valor de troca que tinha anteriormente. O quantum de trabalho objetivado que está contido em sua vitalidade lhe foi pago pelo capital. O capital consumiu esse quantum de trabalho objetivado e, uma vez em que este último não existia como coisa, mas como capacidade de um ser vivo, o trabalhador pode, devido à natureza específica de sua mercadoria – da natureza específica do processo vital –, entrar de novo na troca. O fato de que, além do tempo de trabalho objetivado em sua vitalidade – i.e., o tempo de trabalho que foi necessário para pagar os produtos indispensáveis à conservação de sua vida –, há também um outro trabalho objetivado em sua existência imediata, a saber, os valores que consumiu para produzir uma capacidade de trabalho determinada, uma destreza particular – e cujo valor se revela pelos custos de produção necessários para que uma similar destreza de trabalho determinada possa ser produzida –, ainda não nos interessa nesse ponto, em que se trata não de um trabalho qualificado particular, mas do trabalho por excelência, do trabalho simples.
Se fosse necessária uma jornada de trabalho para manter vivo um trabalhador, o capital não existiria, porque a jornada de trabalho seria trocada por seu próprio produto e, portanto, o capital como capital não se valorizaria e, por isso, também não poderia se conservar. A autoconservação do capital é sua autovalorização. Se o capital também tivesse de trabalhar para viver, ele se conservaria não como capital, mas como trabalho. A propriedade de matérias-primas e instrumentos de trabalho seria apenas nominal; eles pertenceriam economicamente ao trabalhador da mesma maneira que pertenceriam ao capitalista, já que somente criariam valor para o capitalista na medida em que ele próprio fosse trabalhador. O capitalista não se relacionaria com as matérias-primas e os instrumentos de trabalho como capital, mas como simples matéria e meio de trabalho, como o faz o próprio trabalhador no processo de trabalho. Se, pelo contrário, é necessária, por exemplo, somente meia jornada de trabalho para conservar vivo um trabalhador por uma jornada de trabalho inteira, o mais-valor do produto resulta evidente, visto que, no preço, o capitalista pagou só meia jornada de trabalho e recebe, no produto, uma jornada de trabalho inteira em forma objetivada; por conseguinte, não deu nada em troca da segunda metade da jornada de trabalho. Não é a troca, mas unicamente um processo em que recebe, sem troca, tempo de trabalho objetivado, i.e., valor, que pode fazer dele um capitalista. A meia jornada de trabalho nada custa ao capital; em consequência, ele recebe um valor pelo qual não deu nenhum equivalente. E o aumento dos valores só pode se dar porque é obtido um valor acima do equivalente, portanto, porque um valor é criado.
O mais-valor é, no fundo, valor para além do equivalente. O equivalente, segundo sua determinação, é somente a identidade do valor consigo mesmo. O mais-valor, consequentemente, jamais pode brotar do equivalente; portanto, tampouco pode brotar originariamente da circulação; tem de brotar do próprio processo de produção do capital. A coisa também pode ser expressa da seguinte maneira: se o trabalhador precisa de somente meia jornada de trabalho para viver uma jornada inteira, então só precisa trabalhar meia jornada para perpetuar sua existência como trabalhador. A segunda metade da jornada de trabalho é trabalho forçado, trabalho excedente[47]. O que aparece do ponto de vista do capital como mais-valor, aparece do ponto de vista do trabalhador exatamente como mais-trabalho acima de sua necessidade como trabalhador, acima, portanto, de sua necessidade imediata para a conservação de sua vitalidade. O grande papel histórico do capital é o de criar esse trabalho excedente, trabalho supérfluo do ponto de vista do simples valor de uso, da mera subsistência, e seu destino histórico está consumado tão logo, por um lado, as necessidades são desenvolvidas a tal ponto que o próprio trabalho excedente acima do necessário é necessidade universal derivada das próprias necessidades individuais; por outro, a laboriosidade universal mediante a estrita disciplina do capital, pela qual passaram sucessivas gerações, é desenvolvida como propriedade universal da nova geração; tão logo, finalmente, o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho, que o capital incita continuamente em sua ilimitada mania de enriquecimento e nas condições em que exclusivamente ele pode realizá-lo, avançou a tal ponto que a posse e a conservação da riqueza universal, por um lado, só requer um tempo de trabalho mínimo de toda a sociedade e, por outro lado, a sociedade que trabalha se comporta cientificamente com o processo de sua reprodução progressiva, com sua reprodução em uma abundância constantemente maior; que deixou de existir, por conseguinte, o trabalho no qual o ser humano faz o que pode deixar as coisas fazerem por ele. Consequentemente, capital e trabalho comportam-se aqui como dinheiro e mercadoria; o primeiro é a forma universal da riqueza, a segunda é só a substância que visa o consumo imediato. Todavia, como aspiração incansável pela forma universal da riqueza, o capital impele o trabalho para além dos limites de sua necessidade natural e cria assim os elementos materiais para o desenvolvimento da rica individualidade, que é tão universal em sua produção quanto em seu consumo, e cujo trabalho, em virtude disso, também não aparece mais como trabalho, mas como desenvolvimento pleno da própria atividade, na qual desapareceu a necessidade natural em sua forma imediata; porque uma necessidade historicamente produzida tomou o lugar da necessidade natural. Por isso o capital é produtivo; i.e., uma relação essencial para o desenvolvimento das forças produtivas sociais. Só deixa de sê-lo quando o desenvolvimento dessas próprias forças produtivas encontra um limite no próprio capital.
No Times de novembro de 1857[48], há uma invectiva das mais deliciosas de parte de um plantadori das Índias Ocidentais. Com enorme indignação moral, esse advogado – como argumentação em defesa da reintrodução da escravidão de negros – expõe como os quashees (os negros livres da Jamaica) se contentam em produzir o estritamente necessário para o próprio consumo e, à parte desse “valor de uso”, consideram a própria vadiagem (|indulgência e ociosidadei) o artigo de luxo por excelência; como não dão a mínima para o açúcar e para o |capital fixof investido nas plantaçõesi, mas antes sorriem ironicamente com malévola satisfação do plantadori que vai à ruína, e inclusive só aproveitam o cristianismo que lhes foi ensinado para encobrir essa inclinação maligna e essa indolência. Eles deixaram de ser escravos, não para se tornar trabalhadores assalariados, mas para se converter em |camponeses autossuficientesi que trabalham o estritamente necessário para o consumo próprio. No que se refere a eles, o capital como capital não existe, porque, em geral, a riqueza autonomizada só existe seja pelo trabalho forçado imediato, a escravidão, seja pelo trabalho forçado mediado, o trabalho assalariado. A riqueza não se confronta com trabalho forçado imediato como capital, mas como relação de dominação; por essa razão, com base no trabalho forçado imediato, também só é reproduzida a relação de dominação para a qual a própria riqueza só tem valor como fruição, não como riqueza propriamente dita, relação que, por isso, jamais pode criar a indústria universal. (Retornaremos a essa relação entre escravidão e trabalho assalariado.)
A dificuldade em compreender a gênese do valor se evidencia 1) nos modernos economistas ingleses[49] que censuram Ricardo porque ele não teria compreendido o excedente, não teria compreendido o mais-valor (ver Malthus, |Sobre o valori[50], que pelo menos tenta proceder cientificamente), não obstante Ricardo ser o único dentre todos os economistas que o compreendeu, como o comprova sua polêmica[51] contra a confusão de A. Smith entre a determinação do valor pelo salário e pelo tempo de trabalho objetivado na mercadoria. Os novos economistas são simplórios absolutamente superficiais. Certamente, o próprio Ricardo muitas vezes se confunde, pois embora entenda perfeitamente a gênese do mais-valor como pressuposto do capital, com frequência fica em dúvida sobre a possibilidade de se compreender sobre tal base a multiplicação dos valores, exceto pelo fato de que mais tempo de trabalho objetivado é investido no mesmo produto, em outras palavras, pelo fato de que a produção fica mais difícil[52]. Daí a antítese absoluta que há nele entre valori e riqueza. Daí a unilateralidade de sua teoria da renda da terra; sua falsa teoria do comércio internacional, que só deve produzir o valor de uso (que ele denomina riqueza), e não o valor de troca[53]. A única saída para a multiplicação dos valores enquanto tais, com exceção da crescente dificuldade da produção (teoria da renda da terra), fica sendo somente o crescimento da população (o aumento natural do número de trabalhadores pelo aumento do capital), muito embora ele próprio não tenha resumido em nenhum lugar essa relação de maneira clara. O erro fundamental é que ele não investiga em parte alguma de onde vem realmente a diferença entre a determinação do valor pelo salário e a determinação pelo trabalho objetivado. Por essa razão, o dinheiro e a própria troca (a circulação) aparecem só como elementos puramente formais em sua Economia e, não obstante, de acordo com ele, na economia se trata somente do valor de troca, do lucro etc., só aparecem como taxa de participação no produto, taxa de participação que tem lugar igualmente sobre a base da escravidão. A forma da mediação ele não investigou em parte alguma.
2) Os fisiocratas. A dificuldade de compreender o capital, a autovalorização do valor, hinc[k], o mais-valor que o capital cria no ato de produção, revela-se aqui de modo tangível, e tinha de se manifestar nos pais da economia moderna, da mesma maneira que se manifesta na última formulação clássica da economia moderna, em Ricardo, a criação do mais-valor, que ele [concebe] na forma da renda. Trata-se, |no fundof, da questão do conceito do capital e do trabalho assalariado e, em consequência, da questão fundamental que se coloca no umbral do sistema da sociedade moderna. O sistema monetário [Monetärsystem] só tinha compreendido a autonomia do valor tal como ele resulta da circulação simples – dinheiro; por isso, [seus defensores] fizeram dessa forma abstrata da riqueza o objeto exclusivo das nações, que justamente ingressavam no período em que o enriquecimento enquanto tal aparecia como o objetivo da própria sociedade. Depois veio o sistema mercantilista, coincidindo com a época em que o capital industrial – e, portanto, o trabalho assalariado na manufatura – surge e se desenvolve em oposição e às expensas da riqueza não industrial, da propriedade feudal da terra. Os mercantilistas já tinham uma ideia do dinheiro como capital, mas, no fundo, exclusivamente na forma do dinheiro, da circulação do capital mercantil, do capital se convertendo em dinheiro. O capital industrial tem valor para eles e, na verdade, o valor supremo – como meio, não como a própria riqueza em seu processo produtivo –, porque ele cria o capital mercantil, e este último devém dinheiro na circulação. O trabalho manufatureiro – i.e., |no fundof, o trabalho industrial, mas o trabalho agrícola, por contraste, era e aparecia para eles como essencialmente produtor de valor de uso; o produto bruto elaborado é mais valioso, porque, em forma mais clara, portanto, mais adequada para a circulação, para o comérciof, em forma mercantil, cria mais dinheiro (daí a concepção histórica da riqueza dos povos não agrícolas, como a Holanda, especificamente, em contraposição aos povos agrícolas, feudais; a agricultura não aparecia de modo algum sob forma industrial, mas sob forma feudal, e, por conseguinte, como fonte da riqueza feudal, não da burguesa). Eram reconhecidas como fonte de riqueza, portanto, uma forma do trabalho assalariado, a industrial, e uma forma do capital, a industrial, mas tão somente quando criavam dinheiro. O próprio valor de troca, consequentemente, ainda não era concebido sob a forma de capital. Agora, os fisiocratas. Distinguem capital do dinheiro e o concebem em sua forma universal como valor de troca autonomizado, valor que se conserva na produção e aumenta por meio dela. Por isso, eles também consideram a relação por si, de modo que ela própria não é momento da circulação simples, mas, pelo contrário, seu pressuposto, e se restaura continuamente a partir dela mesma como seu pressuposto. Eles são, portanto, os pais da Economia moderna. Eles compreendem também que o pôr [das Setzen] do mais-valor pelo trabalho assalariado é a autovalorização, i.e., a realização do capital. Mas como é criado um mais-valor pelo capital, i.e., por valores existentes, mediado pelo trabalho? Nesse caso, eles descartam inteiramente a forma e consideram somente o processo de produção simples. Em razão disso, só pode ser produtivo o trabalho que tem lugar em um domínio tal que a força natural do instrumento de trabalho patentemente permite ao trabalhador produzir mais valores do que ele consome. Em consequência, o mais-valor não provém do trabalho enquanto tal, mas da força natural que é usada e comandada pelo trabalho – a agricultura. Esse é, portanto, o único trabalho produtivo, porque os fisiocratas já haviam compreendido que somente o trabalho criador de mais-valor é produtivo (o fato de que o mais-valor tem de se expressar em um produto material é concepção rudimentar que ainda figura em A. Smith[54]. Os atores são trabalhadores produtivos, não porque produzem o espetáculo, mas porque |aumentam a riqueza de seu empregadori. Todavia, para essa relação é absolutamente indiferente o tipo de trabalho que é realizado, portanto, em que forma o trabalho se materializa. Entretanto, não é indiferente sob pontos de vista examinados posteriormente); mas esse mais-valor se transforma furtivamente em um quantum maior do valor de uso que resulta da produção, acima do valor de uso que nela foi consumido. Somente na relação da semente natural com seu produto aparece de maneira tangível essa multiplicação dos valores de uso, o excedente do produto acima do componente dele mesmo que tem de servir para a nova produção – do qual, portanto, uma parte pode ser consumida improdutivamente. Apenas uma parte da colheita tem de ser devolvida diretamente à terra como semente; de produtos encontrados na natureza, dos elementos ar, água, terra, luz, e de substâncias adicionadas no adubo ou de alguma outra maneira, a semente reproduz então o excedente em um quantum multiplicado como cereal etc. Em suma, o trabalho humano só tem de dirigir o metabolismo químico (na agricultura), em parte promovê-lo também mecanicamente, ou promover a própria reprodução da vida (pecuária), para obter o excedente, i.e., para transformar essas mesmas substâncias naturais de uma forma sem valor para o uso em uma forma valiosa. A verdadeira figura da riqueza universal é, por conseguinte, o excedente dos produtos da terra (cereal, gado, matérias-primas). Considerada economicamente, portanto, é somente a forma renda da riqueza. Razão pela qual os primeiros profetas do capital só concebem os não capitalistas, os proprietários de terra feudais, como representantes da riqueza burguesa. Mas a consequência, a incidência de todos os impostos sobre a renda, é totalmente vantajosa para o capital burguês. O feudalismo só é enaltecido pela burguesia em princípio – o que iludiu muitos senhores feudais, como o velho Mirabeau – para arruiná-lo na prática. Todos os outros valores representam somente matéria-prima + trabalho; o próprio trabalho representa o cereal ou outros produtos da terra que o trabalhador consome; consequentemente, o trabalhador fabril etc. não acrescenta nada mais à matéria-prima do que ele consome de matérias-primas. O seu trabalho, bem como o de seu empregador, portanto, nada acrescenta à riqueza – a riqueza é o excedente sobre as mercadorias consumidas na produção –, mas só lhe dá formas de consumo agradáveis e úteis. Naquela época, ainda não tinha se desenvolvido a aplicação das forças naturais na indústria nem a divisão do trabalho etc., que aumentam a força natural do próprio trabalho. Mas esse já era o caso na época de A. Smith. Por isso, nele, o trabalho é a fonte dos valores, bem como da riqueza, mas no fundo põe mais-valor tão somente na medida em que, na divisão do trabalho, o excedente aparece como dádiva natural, como força natural da sociedade, como a terra, no caso dos fisiocratas. Daí a grande importância que A. Smith confere à divisão do trabalho. Por outro lado, nele, o capital (porque, ainda que Smith, com efeito, conceba o trabalho como criador de valor, concebe o próprio trabalho, entretanto, como valor de uso, como produtividade para si, como força natural humana em geral (o que o distingue dos fisiocratas), mas não como trabalho assalariado, não em sua determinação formal específica em contraposição ao capital) não aparece originariamente contendo em si mesmo de forma antitética o momento do trabalho assalariado, mas tal como ele provém da circulação, como dinheiro e, em consequência, tal como ele devém capital a partir da circulação, por meio da poupança. Por conseguinte, o capital originalmente não se valoriza a si mesmo – justamente porque a apropriação de trabalho alheio não está incorporada em seu próprio conceito. Tal apropriação só aparece posteriormente, depois que o capital já é pressuposto como capital – |círculo viciosof –, como comando sobre trabalho alheio. Em virtude disso, de acordo com A. Smith, o trabalho deveria, na verdade, ter como salário o seu próprio produto, o salário deveria ser = o produto, portanto, o trabalho não deveria ser trabalho assalariado e o capital não deveria ser capital. Por isso, para introduzir o lucro e a renda como elementos originais dos custos de produção, i.e., para fazer sair um mais-valor do processo de produção do capital, Smith os pressupõe da forma mais rudimentar. O capitalista não pretende ceder de graça o uso de seu capital para a produção; o mesmo vale para o proprietário fundiário e suas terras. Eles exigem algo em troca. Desse modo, eles são assimilados, juntamente com suas pretensões, como fatosi históricos não explicados. A rigor, o salário é o único componente dos custos de produção justificado economicamente, porque é componente necessário. Lucro e renda são apenas deduções do salário, extorquidas arbitrariamente no processo histórico pelo capital e pela propriedade fundiária, e justificadas legalmente, mas não economicamente. Todavia, como Smith, por outro lado, também contrapõe ao trabalho, como figuras autônomas, os meios e materiais de produção na forma de propriedade da terra e de capital, ele pôs o trabalho fundamentalmente como trabalho assalariado. Daí as contradições. Daí suas hesitações na determinação do valor, sua posição no mesmo plano do lucro e da renda da terra, suas opiniões falsas acerca da influência do salário sobre os preços etc. Agora, Ricardo (ver: 1)[55]. Nele, capital e trabalho são outra vez concebidos não como forma social histórica determinada, mas como forma social natural para a produção da riqueza como valor de uso, i.e., a sua forma enquanto tal, precisamente porque é natural, é indiferente, e não é concebida em sua relação determinada com a forma da riqueza, da mesma maneira que a própria riqueza, em sua forma como valor de troca, aparece como simples mediação formal de sua existência material; daí por que o caráter determinado da riqueza burguesa não é compreendido – exatamente porque ela aparece como a forma adequada da riqueza em geral, e daí por que também, economicamente, ainda que se tenha partido do valor de troca, as formas econômicas determinadas da própria troca não desempenham absolutamente nenhum papel em sua Economia, mas não se fala nada além da repartição do produto universal do trabalho e da terra entre as três classes, como se na riqueza fundada sobre o valor de troca se tratasse apenas do valor de uso, e como se o valor de troca fosse apenas uma forma cerimonial, que, em Ricardo, desaparece da mesma maneira que o dinheiro como meio de circulação desaparece na troca. Também por essa razão, para fazer valer as verdadeiras leis da economia, ele prefere se referir a essa relação do dinheiro como relação puramente formal. Daí também sua debilidade na verdadeira teoria do dinheiro.
O desenvolvimento exato do conceito de capital é necessário, porque é o conceito fundamental da Economia moderna, da mesma maneira que o próprio capital, cuja contraimagem abstrata é seu conceito, é o fundamento da sociedade burguesa. Da concepção rigorosa do pressuposto fundamental da relação têm de resultar todas as contradições da produção burguesa, assim como o limite em que a relação impulsiona para além de si mesma.
{É importante notar que a riqueza enquanto tal, i.e., a riqueza burguesa, é sempre expressa na potência mais elevada no valor de troca, em que ela é posta como mediadora, como a mediação dos próprios extremos de valor de troca e valor de uso. Esse termo médio aparece sempre como a relação econômica consumada, porque ele contém as antíteses e finalmente aparece sempre como uma potência unilateral superior diante dos próprios extremos; porque o movimento, ou a relação, que originalmente aparece como mediador entre os extremos necessariamente prossegue de forma dialética até que ele aparece como mediação consigo mesmo, como o sujeito do qual os extremos são apenas momentos, extremos dos quais ele supera o pressuposto autônomo para se pôr, por meio da própria superação destes, como a única coisa autônoma. Da mesma maneira, na esfera religiosa, Cristo, o mediador entre Deus e os seres humanos – simples instrumento de circulação entre ambos – devém sua unidade, Deus-homem, e devém, enquanto tal, mais importante do que Deus; os santos, mais importantes do que Cristo; os sacerdotes, mais importantes do que os santos. A expressão econômica total, ela própria unilateral ante os extremos, é sempre o valor de troca, ali onde é posta como elo intermediário; p. ex., dinheiro na circulação simples; o próprio capital como mediador entre produção e circulação. Dentro do próprio capital, uma forma dele adota, por sua vez, a posição do valor de uso diante a outra forma como valor de troca. Assim, por exemplo, o capital industrial aparece como produtor perante o comerciante, que aparece como circulação. Assim, o primeiro representa o lado material e o outro o lado formal, portanto, a riqueza como riqueza. Ao mesmo tempo, o próprio capital mercantilf, por sua vez, é mediador entre a produção (o capital industrial) e a circulação (o público consumidor), ou entre o valor de troca e o valor de uso, em que ambos os lados são postos alternadamente, a produção como dinheiro, a circulação como valor de uso (público consumidor), ou a primeira como valor de uso (produto) e a segunda como valor de troca (dinheiro). O mesmo se dá dentro do próprio comércio: o atacadista como mediador entre o fabricante e o varejista, ou entre o fabricante e o agricultor, ou entre diferentes fabricantes, é o mesmo centro, em nível mais elevado. O mesmo vale também para os corretores de mercadorias perante os atacadistas. Em seguida, o banqueiro perante os industriais e os comerciantes; a sociedade anônima perante a produção simples; o financista como mediador entre o Estado e a sociedade burguesa no nível mais alto. A riqueza enquanto tal se apresenta tão mais distinta e ampla quanto mais está afastada da produção imediata, e ela própria medeia, por sua vez, entre aspectos que, considerados cada qual por si mesmo, já estão postos como relações formais econômicas. O dinheiro, de meio, devém fim, e a forma superior da mediação, como capital, põe por toda parte a própria forma inferior outra vez como trabalho, como simples fonte do mais-valor. P. ex., o |corretor de câmbioi, o banqueiro etc. perante os fabricantes e agricultoresi que, diante deles, são postos relativamente na determinação do trabalho (do valor de uso), ao passo que eles se põem perante a eles como capital, criação de mais-valor; sob a forma mais fantástica no financista.}
O capital é unidade imediata de produto e dinheiro ou, melhor dizendo, de produção e circulação. Assim, o próprio capital é, por sua vez, algo imediato, e seu desenvolvimento consiste em pôr e abolir a si mesmo como tal unidade – que é posta como relação determinada e, por conseguinte, simples. De início, a unidade aparece no capital como algo simples.
{O raciocínio de Ricardo é simplesmente o seguinte: os produtos se trocam entre si – portanto, capital por capital – segundo os quanta de trabalho objetivado contidos neles. Uma jornada de trabalho sempre se troca por uma jornada de trabalho. Esse é o pressuposto. A própria troca, por conseguinte, pode ser inteiramente deixada de lado. O produto – o capital posto como produto – é em si valor de troca, ao qual a troca só acrescenta forma, em Ricardo, forma formal. A questão, agora, é só em que taxas esse produto se reparte. Tanto faz se essas taxas são consideradas como quotas determinadas do valor de troca pressuposto ou do seu conteúdo, da riqueza material. Claro, já que a troca enquanto tal é simples circulação – dinheiro como circulação –, é melhor abstrair completamente dela e considerar unicamente as quotas da riqueza material que são distribuídas aos diferentes agentes no interior do processo de produção ou como resultado dele. Na forma da troca, todo valor etc. é somente nominal; ele só é real na forma da taxa. A troca como um todo, na medida em que não cria uma maior variedade material, é nominal. Visto que uma jornada de trabalho inteira sempre é trocada por uma jornada de trabalho inteira, a soma dos valores permanece a mesma – o aumento das forças produtivas atua somente sobre o conteúdo da riqueza, não sobre sua forma. Em consequência, o aumento dos valores somente pode resultar da dificuldade crescente da produção – e esta última só pode ter lugar ali onde a força natural não presta mais o mesmo serviço para igual quanta de trabalho humano, portanto, onde diminui a fertilidade dos elementos naturais – na agricultura. A queda dos lucros, consequentemente, é causada pela renda. Em primeiro lugar, o falso pressuposto de que, em todas as condições da sociedade, sempre se trabalha uma jornada de trabalho inteira etc. etc. (ver acima).}
Vimos: o trabalhador só precisa trabalhar meio dia de trabalho, p. ex., para viver um dia inteiro; e, consequentemente, para poder começar de novo o mesmo processo no dia seguinte. Em sua capacidade de trabalho – na medida em que existe nele como ser vivo ou instrumento de trabalho vivo – está objetivado somente meio dia de trabalho. O dia vital completo (dia de vida) do trabalhador é o resultado estático, a objetivação de meia jornada de trabalho. O capitalista, à medida que se apropria da inteira jornada de trabalho por meio da troca com o trabalho objetivado no trabalhador – i.e., por meia jornada de trabalho –, e que em seguida a consome no processo de produção, aplicando-a à matéria da qual consiste seu capital, cria o mais-valor de seu capital – no caso suposto, meia jornada de trabalho objetivada[56]. Suponhamos agora que as forças produtivas do trabalho dupliquem, i.e., que no mesmo tempo o mesmo trabalho forneça o dobro do valor de uso. (Na relação em questão, só é provisoriamente determinado como valor de uso aquilo que o trabalhador consome para se manter vivo como trabalhador; o quantum de meios de subsistência pelo qual troca, com a mediação do dinheiro, o trabalho objetivado em sua capacidade de trabalho viva.) Nesse caso, o trabalhador teria de trabalhar somente ¼ do dia para viver um dia inteiro; o capitalista só precisaria dar em troca ao trabalhador ¼ de dia de trabalho objetivado para aumentar seu mais-valor mediante o processo de produção de ½ para ¾; em lugar de ½ dia de trabalho objetivado, ganharia ¾ de dia de trabalho objetivado. O valor do capital, tal como sai do processo de produção, teria aumentado ¾, em lugar de 2/4. O capitalista precisaria, portanto, fazer trabalhar somente ¾ de dia para acrescentar ao capital o mesmo mais-valor – ½ ou 2/4 de trabalho objetivado. Mas o capital, como representante da forma universal da riqueza – do dinheiro –, é o impulso ilimitado e desmedido de transpor seus próprios limites. Cada limite é e tem de ser obstáculo para ele. Caso contrário, deixaria de ser capital – o dinheiro que se produz a si mesmo. Tão logo deixasse de sentir um determinado limite como obstáculo, mas se sentisse à vontade nele como limite, o próprio capital teria degenerado de valor de troca a valor de uso, da forma universal da riqueza a uma existência substancial determinada dela. O capital enquanto tal cria um mais-valor determinado porque não pode pôr |de uma vezi um mais-valor ilimitado; ele é o movimento contínuo de criar mais mais-valor. O limite quantitativo do mais-valor aparece para o capital somente como barreira natural, como necessidade que ele procura incessantemente dominar e transpor.
{O obstáculo aparece como um acaso que tem de ser vencido. Isso é evidente mesmo na observação mais superficial. Se o capital cresce de 100 para 1.000, o 1.000 é agora o ponto de partida de onde o aumento tem de se dar; a decuplicação de 1.000% não conta para nada; lucro e juro, por seu lado, devêm eles mesmos capital. O que aparecia como mais-valor, aparece agora como simples pressuposto etc., como incorporado à própria existência simples do capital.}
Por conseguinte, o capitalista (abstraindo completamente das determinações a ser adicionadas em momento posterior, concorrência, preços etc.) não fará o trabalhador trabalhar somente ¾ de jornada, já que esses ¾ lhe proporcionam o mesmo mais-valor que antes proporcionava a jornada inteira, mas o fará trabalhar a jornada inteira; e o aumento da força produtiva que possibilita ao trabalhador viver o dia inteiro com ¼ de jornada de trabalho se expressa simplesmente no fato de que ele agora tem de trabalhar ¾ de jornada para o capital, enquanto anteriormente trabalhava para ele só 2/4 de jornada. A maior força produtiva de seu trabalho, na medida em que é redução do tempo necessário à reposição do trabalho objetivado no trabalhador (para o valor de uso, para a subsistência), aparece como prolongamento de seu tempo de trabalho para a valorização do capital (para o valor de troca). Considerado desde o ponto de vista do trabalhador, ele tem de realizar agora um trabalho excedente de ¾ de jornada para viver um dia, enquanto antes tinha de realizar só um trabalho excedente de 2/4 de jornada. Pelo aumento da força produtiva, por sua duplicação, o seu trabalho excedente aumentou ¼ [de jornada]. Aqui é preciso notar uma coisa: a força produtiva dobrou, mas o trabalho excedente para o trabalhador não dobrou, só cresceu ¼ [de jornada]; tampouco dobrou o valor excedente do capital, que também só cresceu ¼ [de jornada]. Fica patente, portanto, que o trabalho excedente (do ponto de vista do trabalhador) ou o valor excedente (do ponto de vista do capital) não cresce na mesma proporção numérica em que aumenta a força produtiva. Como se dá isso? A duplicação da força produtiva é a redução do trabalho necessário[57] (para o trabalhador) de ¼ [de jornada] e, portanto, também a produção do valor excedente de ¼ [de jornada maior], porque a proporção original foi posta como ½. Se o trabalhador tivesse de trabalhar inicialmente 2/3 de jornada para viver um dia, o valor excedente teria sido 1/3, da mesma maneira que o trabalho excedente. A duplicação da força produtiva do trabalho teria, portanto, capacitado o trabalhador a limitar seu trabalho com vistas ao necessário à metade de 2/3 ou 2/3×2, 2/6 ou 1/3 de jornada, e o capitalista teria ganho 1/3 [de jornada] de valor. Mas o trabalho excedente total teria se convertido em 2/3 [de jornada]. A duplicação da força produtiva que, no primeiro exemplo, resultou em ¼ [de jornada] de valor excedente e trabalho excedente, resultou agora em 1/3 [de jornada] de valor ou trabalho excedente. Por conseguinte, o multiplicador da força produtiva – o número pelo qual ela é multiplicada – não é o multiplicador do trabalho excedente ou do valor excedente, mas, se a proporção inicial do tempo de trabalho objetivado no preço do trabalho era de ½ do trabalho objetivado em 1 jornada de trabalho, que sempre aparece como limite (na verdade, os senhores fabricantes o prolongaram inclusive noite adentro. Lei das Dez Horas[58]. Veja o relatório de Leonard Horner. A própria jornada de trabalho não tem nenhum limite no dia natural; ela pode ser prolongada até muito tarde da noite; isso faz parte do capítulo sobre o salário), a duplicação é igual à divisão de ½ (a proporção inicial) por 2, ou seja, ¼. Se a proporção inicial é de 2/3, a duplicação é igual à divisão de 2/3 por 2, ou seja, 1/3. Por isso, o multiplicador da força produtiva nunca é o multiplicador, mas o divisor da proporção inicial; nunca é o multiplicador de seu numerador, mas de seu denominador. Caso fosse o multiplicador da proporção inicial, a multiplicação do valor excedente corresponderia à multiplicação da força produtiva. Mas o valor excedente[59] sempre é igual a uma divisão da proporção inicial pelo multiplicador da força produtiva. Se a proporção inicial era de 8/9, i.e., o trabalhador necessitava 8/9 da jornada de trabalho para viver e, portanto, na troca pelo trabalho vivo o capital ganhava somente 1/9, o trabalho excedente era igual a 1/9, o trabalhador poderia agora viver com a metade de 8/9 de jornada de trabalho, i.e., com 8/18 = 4/9 (tanto faz se dividimos o numerador ou multiplicamos o denominador), e o capitalista, que o faz trabalhar a jornada inteira, teria um valor excedente total de 5/9 de jornada; deduzido desse total o valor excedente inicial de 1/9, resta 4/9. Nesse caso, portanto, a duplicação da força produtiva = ao aumento de 4/9 do valor excedente ou [do] tempo excedente. Isso é simplesmente consequência do fato de que o valor excedente é sempre igual à proporção da jornada de trabalho total à parte da jornada de trabalho que é necessária para conservar vivo o trabalhador. A unidade pela qual se calcula o valor excedente é sempre uma fração, i.e., a fração determinada de uma jornada que representa exatamente o preço do trabalho. Se essa fração é = ½, o aumento[60] da força produtiva é = a redução do trabalho necessário a ¼; se a fração é = 1/3, a redução do trabalho necessário é para 1/6; logo, no primeiro [caso], o valor excedente total é = ¾; no segundo, = 5/6; o valor excedente relativo[61], i.e., o valor excedente em relação ao antes existente no primeiro caso, é = ¼, no segundo, = 1/6. O valor do capital, portanto, não cresce na mesma proporção em que aumenta a força produtiva, mas na proporção em que o aumento da força produtiva, o multiplicador da força produtiva, divide a fração da jornada de trabalho que expressa a sua parte pertencente ao trabalhador. Consequentemente, a proporção com que a força produtiva do trabalho aumenta o valor do capital depende da proporção inicial em que a parte do trabalho objetivado no trabalhador está para seu trabalho vivo. Essa parte sempre se expressa como uma fração da jornada de trabalho total, 1/3, 2/3 etc. O aumento da força produtiva, i.e., sua multiplicação por um certo número, é igual à divisão do numerador ou à multiplicação do denominador dessa fração pelo mesmo número. Assim, o aumento maior ou menor do valor depende não só do número que expressa a multiplicação da força produtiva, mas também da proporção antes dada que constitui a parte da jornada de trabalho pertencente ao preço do trabalho. Se essa proporção é de 1/3, a duplicação da força produtiva da jornada de trabalho é = a uma redução da proporção a 1/6; se ela é de 2/3, a proporção é reduzida a 2/6. O trabalho objetivado contido no preço do trabalho é sempre igual a uma fração da jornada total; expressa de forma aritmética, é sempre uma fração; sempre uma proporção numérica, jamais um número simples. Se a força produtiva duplica, é multiplicada por 2, de modo que o trabalhador precisa trabalhar tão somente ½ do tempo anterior para sacar o preço do trabalho; mas quanto tempo de trabalho ele ainda precisa para tal propósito depende da primeira proporção dada, a saber, do tempo que precisava para tanto antes do aumento da força produtiva. O multiplicador da força produtiva é o divisor dessa fração inicial. Por essa razão, o valor [excedente] ou o trabalho excedente não aumenta na mesma proporção numérica que a força produtiva. Se a proporção inicial é ½ e a força produtiva duplica, o tempo de trabalho necessário (para o trabalhador) se reduz a ¼ e o valor excedente só aumenta ¼. Se a força produtiva quadruplica, a proporção inicial torna-se 1/8 e o valor [excedente] só cresce 3/8. O valor [excedente] jamais pode ser igual ao da jornada de trabalho inteira; ou seja, uma parte determinada da jornada de trabalho sempre tem de ser trocada pelo trabalho objetivado no trabalhador. O mais-valor é tão somente a relação do trabalho vivo com o trabalho objetivado no trabalhador; em consequência, este último termo da relação tem sempre de permanecer. Uma relação determinada entre o aumento da força produtiva e o aumento do valor já está dada pelo fato de que a relação como relação é constante, não obstante variem seus fatores. Por isso, nós vemos, por um lado, que o valor excedente relativo é exatamente igual ao trabalho excedente relativo; se a jornada [necessária] de trabalho era ½ e dobra a força produtiva, a parcela pertencente ao trabalhador, o trabalho necessário, reduz-se a ¼ e o valor novo acrescentado é também exatamente ¼; mas o valor [excedente] total é agora ¾. Enquanto o valor excedente aumentou ¼, logo, à proporção de 1:4, o valor excedente total = ¾ = 3:4.
Suponhamos agora que a jornada de trabalho necessário inicial é ¼ e que há duplicação da força produtiva, de modo que o trabalho necessário é reduzido a 1/8 e o trabalho excedente [acrescido] ou valor [excedente aumentado] é exatamente = 1/8 = 1:8. Por contraste, o valor excedente total = 7/8. No primeiro exemplo, o valor excedente total inicial era = 1:2 (½) e aumentou para 3:4; no segundo caso, o valor excedente total inicial era ¾ e aumentou para 7:8 (7/8). No primeiro caso, ele aumentou de ½ ou 2/4 para ¾; no segundo, de ¾ ou 6/8 para 7/8; no primeiro, em ¼, no segundo, em 1/8; ou seja, no primeiro caso aumentou duas vezes mais do que no segundo; mas no primeiro caso o valor excedente total é somente ¾ ou 6/8, enquanto no segundo é 7/8, logo, 1/8 a mais.
Supondo que o trabalho necessário é 1/16, de modo que o valor excedente total = 15/16; que, na proporção anterior, era 6/8 = 12/16[62]; portanto, o valor excedente total pressuposto é 3/16 mais elevado do que no caso anterior. Supondo agora que a força produtiva duplica, de modo que o trabalho necessário = 1/32; que anteriormente era = 2/32 (1/16); logo, o tempo excedente aumentou 1/32, assim como o valor excedente. Se consideramos o valor excedente total, que era 15/16 ou 30/32, temos que agora é 31/32. Comparado à proporção anterior (em que o trabalho necessário era ¼ ou 8/32), o valor excedente total é agora 31/32, ao passo que anteriormente era apenas 28/32, portanto, aumentou 1/32. No entanto, relativamente considerado, ele aumentou no primeiro caso 1/8 ou 4/32 pela duplicação da produção, ao passo que agora aumentou só 1/32, portanto, 3/32 a menos.
Se o trabalho necessário já estivesse reduzido a 1/1.000, o valor excedente total seria = 999/1.000. Se a força produtiva agora se multiplicasse por mil, o trabalho necessário cairia a 1/1.000.000 de jornada de trabalho e o valor excedente total resultaria 999.999/1.000.000 de uma jornada de trabalho, ao passo que, antes desse aumento da força produtiva, totalizava somente 999/1.000 ou 999.000/1.000.000; teria crescido, portanto, 999/1.000.000 = 1/1.001 (somado a isso ainda 1/[1.001+1/999]); i.e., o excedente total não teria crescido nem mesmo 1/1.001 com a multiplicação por mil da força produtiva, i.e., nem mesmo de 3/3.003, ao passo que, no caso anterior, pela simples duplicação da força produtiva, aumentara 1/32. Se o trabalho necessário cai de 1/1.000 para 1/1.000.000, ele cai exatamente 999/1.000.000 (pois 1/1.000 = 1.000/1.000.000), i.e., do montante do valor excedente[63].
Se resumirmos isso, temos que:
Em primeiro lugar: o aumento da força produtiva do trabalho vivo aumenta o valor do capital (ou diminui o valor do trabalhador), não porque aumenta o quantum dos produtos ou valores de uso criados com o mesmo trabalho – a força produtiva do trabalho é sua força natural –, mas porque diminui o trabalho necessário, ou seja, porque, na mesma proporção em que ele diminui o trabalho necessário, cria trabalho excedente ou, o que é a mesma coisa, valor excedente; porque o mais-valor do capital, que este obtém mediante o processo de produção, consiste tão somente do saldo do trabalho excedente sobre o trabalho necessário. O aumento da força produtiva só pode aumentar o trabalho excedente – i.e., o excedente do trabalho objetivado no capital como produto sobre o trabalho objetivado no valor de troca da jornada de trabalho –, à medida que ele diminui a proporção do trabalho necessário em relação ao trabalho excedente, e somente na medida em que a diminui. O valor excedente é exatamente igual ao trabalho excedente; o aumento do valor excedente é medido exatamente pela diminuição do trabalho necessário.
Em segundo lugar: o mais-valor do capital não aumenta da mesma maneira que o multiplicador da força produtiva, i.e., no número de vezes pelo qual aumenta a força produtiva (posta como unidade, como multiplicando); mas cresce do excedente da fração da jornada de trabalho vivo, que inicialmente representa o trabalho necessário, sobre essa mesma fração dividida pelo multiplicador da força produtiva. Em consequência, se o trabalho necessário = a ¼ da jornada de trabalho vivo e a força produtiva duplica, o valor do capital não aumenta o dobro, mas 1/8; o que é igual a ¼ ou 2/8 (a fração inicial da jornada de trabalho que representa o trabalho necessário) - ¼ dividido por 2, ou = a 2/8 - 1/8 = 1/8. (O fato de que o valor se duplica pode também ser expresso afirmando que ele se multiplica por 4/2 ou 16/8. Portanto, se no exemplo aumentado a força produtiva tivesse crescido 16/8, o lucro teria crescido somente 1/8. O seu crescimento se relacionaria ao da força produtiva = 1:16. (|É issoi!) Se a fração fosse 1/1.000 e a força produtiva crescesse mil vezes, o valor do capital não cresceria mil, nem sequer 1/1.000; ele cresceria 1/1.000 - 1/1.000.000, ou seja, 1.000/1.000.000 - 1/1.000.000 = 999/1.000.000)[64].
Por conseguinte, a soma absoluta em que o capital aumenta seu valor por um aumento determinado da força produtiva depende da fração dada da jornada de trabalho, da parte alíquota da jornada de trabalho que representa o trabalho necessário e que, portanto, expressa a proporção inicial do trabalho necessário na jornada de trabalho vivo. O aumento da força produtiva em uma proporção determinada pode, portanto, aumentar de forma diferente o valor do capital nos diferentes países, por exemplo. Um aumento generalizado da força produtiva na mesma proporção pode aumentar de maneira diferente o valor do capital nos diversos ramos industriais, e o fará segundo a diferente proporção do trabalho necessário na jornada de trabalho vivo nesses ramos. Naturalmente, em um sistema da livre concorrência essa proporção seria a mesma em todos os ramos de negócio se o trabalho em todas as partes fosse trabalho simples, ou seja, se o trabalho necessário fosse o mesmo. (Caso representasse o mesmo quantum de trabalho objetivado.)
Em terceiro lugar: quanto maior o valor excedente do capital antes do aumento da força produtiva, quanto maior o quantum pressuposto do trabalho excedente ou do valor excedente do capital, ou quanto menor já for a fração da jornada de trabalho que constitui o equivalente do trabalhador, fração que expressa o trabalho necessário, tanto menor é o crescimento do valor excedente que o capital obtém do aumento da força produtiva. O seu valor excedente cresce, mas em proporção sempre menor que o desenvolvimento da força produtiva. Consequentemente, quanto mais desenvolvido o capital, quanto mais trabalho excedente criou, tanto mais extraordinariamente tem de desenvolver a força produtiva do trabalho para valorizar-se em proporção ínfima, i.e., para agregar mais-valor – porque o seu limite continua sendo a proporção entre a fração da jornada que expressa o trabalho necessário e a jornada de trabalho total. O capital pode se mover unicamente no interior dessas fronteiras. Quanto menor é a fração que corresponde ao trabalho necessário, quanto maior o trabalho excedente, tanto menos pode qualquer aumento da força produtiva reduzir sensivelmentei o trabalho necessário, uma vez que o denominador cresceu enormemente. A autovalorização do capital devém mais difícil à proporção que ele já está valorizado. O aumento das forças produtivas deviria indiferente para o capital; inclusive a valorização, porque suas proporções teriam se tornado mínimas; e o capital teria deixado de ser capital. Se o trabalho necessário fosse 1/1.000 e a força produtiva triplicasse, o trabalho necessário só cairia 1/3.000 ou o trabalho excedente só teria crescido 2/3.000. No entanto, isso não ocorre porque cresceu o salário ou a participação do trabalho no produto, mas porque o salário já caiu muito, considerado em relação ao produto do trabalho ou à jornada de trabalho vivo.
{O trabalho objetivado no trabalhador manifesta-se aqui como fração de sua própria jornada de trabalho vivo; pois essa fração é a mesma proporção que há entre o trabalho objetivado que o trabalhador recebe do capital como salário e a sua jornada de trabalho inteira.}
(Todas as proposições nessa abstração são corretas unicamente para a relação sob o ponto de vista considerado. Vão intervir outras relações que a modificarão consideravelmente. A totalidade, na medida em que de modo geral não se [apresenta] por inteiro, pertence de fato à teoria do lucro.)
Em geral, temos até o presente: o desenvolvimento da força produtiva do trabalho – antes de tudo, o pôr do trabalho excedente – é a condição necessária para o crescimento do valor ou para a valorização do capital. Como impulso infinito ao enriquecimento, o capital tende, consequentemente, ao aumento infinito das forças produtivas do trabalho, e as engendra. Por outro lado, todo aumento da força produtiva do trabalho – abstraindo do fato de que ela aumenta os valores de uso para o capital – é aumento da força produtiva do capital e, desde o presente ponto de vista, só é força produtiva do trabalho na medida em que é força produtiva do capital.[65]
Isso já está claro ou, pelo menos, pode ser antecipadamente sugerido: o aumento da força produtiva em si e por si mesmo não aumenta os preços. Por exemplo, o alqueirei de trigo. Se meia jornada de trabalho se objetivasse em um alqueirei de trigo, e se este fosse o preço do trabalhador, o trabalho excedente somente pode produzir 1 alqueire de trigo. Dois alqueires de trigo são, portanto, o valor de uma jornada de trabalho, que, se expresso em dinheiro, = 26 sh. O alqueirei = 13 sh. Se agora a força produtiva duplica, o alqueire de trigo é tão somente = ¼ de jornada de trabalho = 6½ sh. O preço dessa fração da mercadoria diminuiu por meio da produtividade. Porém, o preço total se manteve; mas o excedente agora é de ¾ de jornada de trabalho. Cada quarta parte = 1 alqueire de trigo = 6½ sh. Logo, o produto total = 26 sh. = 4 alqueires. Tanto quanto antes. O valor do capital aumenta de 13 para 183/2 sh. O valor do trabalho diminui de 13 para 6½ [sh.]; a produção material aumenta de 2 alqueires para 4. Agora, é 183/2 [sh.]. Se a força produtiva na produção de ouro também duplicasse, de modo que se antes 13 sh. eram o produto de meia jornada de trabalho e meia jornada de trabalho era o trabalho necessário, os 13 sh. seriam agora o produto de ¼ de jornada de trabalho, de maneira que seriam produzidos 52 sh., ou 52 - 13, ou 39 sh. a mais. 1 alqueire de trigo, agora, é = 13 sh.; o mesmo preço fracional que antes; mas o produto total = 52 sh.; antes, era só = 26 sh. Por outro lado, os 52 sh. comprariam agora 4 alqueires, ao passo que, antes, os 26 só compravam 2.
Bemi. |Em primeiro lugarf, está claro que se o capital já aumentou o trabalho excedente a tal ponto que a inteira jornada de trabalho vivo é consumida no processo de produção (e aqui assumimos a jornada de trabalho como o quantum natural do tempo de trabalho que o trabalhador pode pôr à disposição; ele põe à disposição sua capacidade de trabalho somente por um tempo determinado, i.e., por um tempo de trabalho determinado), o aumento da força produtiva não pode aumentar o tempo de trabalho e, portanto, tampouco o tempo de trabalho objetivado. Uma jornada de trabalho está objetivada no produto, |quer o tempo de trabalho necessário seja representado por 6 ou por 3 horas, por ½ ou ¼i da jornada de trabalho. O mais-valor do capital aumentou; i.e., seu valor em relação ao trabalhador – pois se antes era somente = 2/4 de tempo de trabalho objetivado, agora é = ¾; todavia, o valor cresceu não porque aumentou o quantum de trabalho absoluto, mas porque aumentou o quantum de trabalho relativo; i.e., não foi a quantidade total de trabalho que aumentou; trabalha-se, como antes, um dia; portanto, não há nenhum aumento absoluto de tempo excedente (tempo de trabalho excedente); ao contrário, o quantum do trabalho necessário é que diminuiu e, dessa maneira, aumentou o trabalho excedente relativo. Antes, o trabalhador trabalhava |de fatoi a jornada inteira, mas só ½ jornada de tempo excedente; [agora], ele trabalha, como antes, a jornada inteira, mas com ¾ de jornada de tempo excedente. Nesse caso, portanto, o preço (pressupondo que o valor do ouro e da prata seguem os mesmos) ou o valor de troca do capital não aumentou pela duplicação da força produtiva. Tal duplicação envolve, portanto, a taxa de lucro, não o preço do produto ou o valor do capital, que, no produto, se reconverteu em mercadoria. |Na verdadei, todavia, os valores absolutos também aumentam dessa maneira, porque aumenta a parte da riqueza posta como capital – como valor que se autovaloriza. (Acumulação dos capitais.) Suponha nosso exemplo anterior[66]. Seja o capital = 100 táleres, e se decomponha no processo de produção nas seguintes partes: 50 táleres de algodão, 40 táleres de salário, 10 táleres de instrumento. Suponha, ao mesmo tempo, para simplificar o cálculo, que o instrumento de trabalho é inteiramente consumido em um ato de produção (e isso, nesse ponto, ainda é totalmente indiferente), e que seu valor reaparece integralmente, portanto, sob a forma do produto. Nesse caso, suponha que o trabalho, em troca dos 40 táleres que expressam o tempo de trabalho objetivado em sua capacidade viva de trabalho, digamos, um tempo de trabalho de 4 horas, dá ao capital 8 horas. Pressupostos o instrumento e a matéria-prima, o produto total totalizaria 100 táleres, caso o trabalhador só trabalhasse 4 horas, i.e., se a matéria-prima e o instrumento lhe pertencessem e ele trabalhasse somente 4 horas. Ele aumentaria os 60 táleres em 40, que ele poderia consumir, uma vez que, em primeiro lugar, ele repõe os 60 táleres – a matéria-prima e o instrumento necessários à produção – e lhes acrescenta um mais-valor de 40 táleres, como reprodução de sua própria capacidade de trabalho viva ou do tempo nele objetivado. Ele sempre poderia recomeçar o trabalho, uma vez que teria reproduzido no processo de produção tanto o valor da matéria-prima quanto do instrumento e da capacidade de trabalho, e esta última precisamente pelo fato de que ele aumenta de maneira contínua o valor dos primeiros em 4 horas de trabalho objetivado. Agora, contudo, ele receberia os 40 táleres de salário tão somente quando trabalhasse 8 horas, quando, portanto, desse ao material e ao instrumento de trabalho, que agora se lhe contrapõem como capital, um mais-valor de 80 táleres; ao passo que o primeiro mais-valor de 40 táleres que lhes dava correspondia exatamente só ao valor de seu trabalho. Ele acrescentaria, assim, um mais-valor exatamente = ao trabalho excedente ou ao tempo excedente.
{No ponto em que nos encontramos, não é ainda de todo necessário supor que, com o trabalho excedente ou o tempo excedente, o material e o instrumento têm de aumentar. Sobre como o mero trabalho excedente aumenta a matéria-prima, ver Babbage[67], p. ex. nos trabalhos de fiação de ouro etc.}
O valor do capital teria aumentado, consequentemente, de 100 táleres para 140.
{Suponha ainda que a matéria-prima duplique e o instrumento de trabalho aumente (para simplificar o cálculo) [na mesma proporção]. As despesas do capital seriam agora de 100 táleres de algodão, 20 táleres de instrumento, logo, 120 táleres, e 40 táleres para o trabalho, exatamente como antes; |no totali, 160 táleres. Se o trabalho excedente de 4 horas aumenta 100 táleres em 40%, ele aumenta 160 táleres em 64 táleres. Logo, o produto total = 224 táleres. É pressuposto aqui que a taxa de lucro permanece a mesma, independentemente da magnitude do capital, e o material e o instrumento de trabalho não são ainda considerados eles mesmos como realizações de trabalho excedente, como capitalização de trabalho excedente; como vimos[68], quanto maior o tempo excedente já posto, i.e., a magnitude do capital enquanto tal, tanto mais está pressuposto que o aumento absoluto do tempo de trabalho é impossível e que o aumento relativo pelo aumento da força produtiva diminuii em proporção geométrica.}
Considerado agora como simples valor de troca, o capital seria absolutamente maior, 140 táleres, em lugar de 100; mas, |de fatoi, seria apenas criado um valor novo, i.e., um valor que não é somente necessário para repor os adiantamentos de 60 táleres para o material e o instrumento de trabalho e de 40 táleres para o trabalho, mas um valor novo de 40 táleres. Os valores em circulação seriam acrescidos de 40 táleres; de mais 40 táleres de trabalho objetivado.
Admita agora o mesmo pressuposto. 100 táleres de capital, a saber, 50 para algodão, 40 para trabalho, 10 para instrumento de produção; o tempo de trabalho excedente continua igual ao do caso precedente, quer dizer, 4 horas, e o tempo de trabalho total continua sendo 8 horas. Em consequência, em todos os casos o produto é só = 8 horas de tempo de trabalho = 140 táleres. Suponha agora que a produtividade do trabalho duplique; i.e., 2 horas seriam suficientes ao trabalhador para valorizar a matéria-prima e o instrumento na extensão necessária à manutenção de sua capacidade de trabalho. Se 40 táleres fossem o tempo de trabalho objetivado em prata de 4 horas, 20 táleres seriam o tempo de trabalho objetivado de 2 horas. Esses 20 táleres expressam agora o mesmo valor de uso que os 40 táleres expressavam anteriormente. O valor de troca da capacidade de trabalho diminui pela metade porque a metade do tempo de trabalho original cria o mesmo valor de uso, mas o valor de troca do valor de uso é medido unicamente pelo tempo de trabalho nele objetivado. Todavia, o capitalista, como antes, faz o trabalhador trabalhar 8 horas, e, por conseguinte, seu produto representa, da mesma maneira, um tempo de trabalho de 8 horas = 80 táleres de tempo de trabalho, ao passo que o valor da matéria-prima e do instrumento continua o mesmo, a saber, 60 táleres; |no totali, como antes, 140 táleres. (Para sobreviver, o próprio trabalhador precisaria acrescentar aos 60 táleres de matéria-prima e instrumento tão somente um valor de 20 táleres; ele teria criado, portanto, somente um valor de 80 táleres. O valor total de seu produto teria diminuído, em virtude da duplicação da produção, de 100 [táleres] para 80, em 20 táleres, i.e., em 1/5 de 100 = 20%.) Mas o tempo excedente ou o valor excedente do capital é agora 6 horas, em lugar de 4, ou 60 táleres, em lugar de 40. Seu crescimento é de 2 horas, 20 táleres. A conta do capitalista seria agora: 50 [táleres] para matéria-prima, 20 para trabalho, 10 para instrumento; despesas = 80 táleres. Ganho = 60 táleres. Como antes, ele continuaria vendendo o produto por 140 táleres, mas obteria agora um ganho de 60 táleres, em lugar dos 40 de antes. Portanto, ele lança na circulação somente o mesmo valor de troca de antes, 140 táleres. Contudo, o mais-valor de seu capital aumentou em 20 táleres. Em consequência, cresce somente a participação que tem nos 140 táleres, a taxa de seu lucro. |Na verdadei, o trabalhador trabalhou grátis para ele 2 horas a mais, a saber, 6 horas, em lugar de 4, e para o trabalhador isso seria o mesmo que, na relação anterior, trabalhar 10 horas, em lugar de 8, seu tempo de trabalho absoluto teria aumentado. Todavia, também surgiu de fato um novo valor; a saber, mais 20 táleres são postos como valor autônomo, como trabalho objetivado que é liberado, que é desobrigado de só servir para trocar pela força de trabalho precedente. Pode-se descrever isso de duas maneiras. Ou com os 20 táleres é posto tanto trabalho a mais em movimento que eles devêm capital e criam um valor de troca aumentado, fazem do trabalho objetivado a mais ponto de partida do novo processo de produção; ou o capitalista troca os 20 táleres, como dinheiro, por mercadorias diferentes das que necessita em sua produção como capital industrial; por conseguinte, todas as mercadorias, com exceção do trabalho e do próprio dinheiro, trocam-se por 20 táleres a mais; por 2 horas de tempo de trabalho objetivado a mais. O seu valor de troca aumentou, portanto, precisamente no montante dessa soma liberada. |Na verdadei, 140 táleres são 140 táleres, como observa contra Boisguillebert o muito “perspicaz” editor francês[69] dos fisiocratas. Mas é falso que esses 140 táleres só representam mais-valor de uso; eles representam uma parte maior de valor de troca autônomo, de dinheiro, de capital latente; portanto, de riqueza posta como riqueza. Os próprios economistas reconhecem isso, quando mais tarde admitem que pela acumulação dos capitais não se acumula apenas a massa dos valores de uso, mas também dos valores de troca; porque o elemento da acumulação dos capitais, segundo o próprio Ricardo, é posto tão completamente pelo trabalho excedente relativo – e como não poderia deixar de ser – como o é pelo absoluto[70]. Por outro lado, na formulação melhor desenvolvida pelo próprio Ricardo já está implícito que esses 20 táleres excedentes, que são criados inteiramente pelo aumento da força produtiva, podem devir novamente capital[71]. Anteriormente, dos 140 táleres (deixando de lado provisoriamente o consumo do capital), só 40 podiam devir capital novo; 100 não devinham capital, mas continuavam capital; agora, podem devir 60, logo, está disponível um capital aumentado em um valor de troca de 20 táleres. Por conseguinte, os valores de troca, a riqueza enquanto tal, aumentaram, não obstante a sua soma total, assim como antes, não tenha aumentado imediatamente. Por que a riqueza aumentou? Porque aumentou a parte da soma total que não é simples meio de circulação, mas dinheiro, ou que não é simples equivalente, mas valor de troca para si. Ou os 20 táleres liberados são acumulados como dinheiro, i.e., são adicionados sob a forma abstrata do valor de troca aos valores de troca existentes; ou eles todos circulam, subindo assim os preços das mercadorias adquiridas com eles; todas elas representam mais ouro e, como os custos de produção do ouro não caíram (pelo contrário, subiram proporcionalmente às mercadorias produzidas pelo capital tornado mais produtivo), mais trabalho objetivado (isso faz com que o excedente, que primeiro aparecia do lado daquele capital produtivo, apareça agora do lado dos outros, dos capitais que produzem as mercadorias que se tornaram mais caras); ou os 20 táleres são diretamente utilizados como capital pelo próprio capital que circulava originalmente. Assim, é posto um novo capital de 20 táleres – soma de riqueza que se autoconserva e se autovaloriza. O capital aumentou em um valor de troca de 20 táleres. (A circulação realmente ainda não nos interessa, porque aqui estamos preocupados com o capital em geral e a circulação só pode mediar entre a forma do capital como dinheiro e sua forma como capital; o primeiro capital pode muito bem realizar o dinheiro enquanto tal, i.e., trocá-lo por mercadorias que consome mais do que antes consumia; mas, na mão do produtor dessas mercadorias, esse dinheiro devém capital. Consequentemente, o dinheiro devém capital, diretamente, na mão do primeiro capital ou, indiretamente, na mão de um outro capital. Mas o outro capital é sempre capital enquanto tal; e aqui estamos preocupados com o capital enquanto tal, |digamos, o capital de toda a sociedadei. A diversidade etc. dos capitais ainda não nos interessa.) De qualquer maneira, esses 20 táleres só podem se apresentar de duas formas. Como dinheiro, de tal forma que o próprio capital existe de novo na determinação de dinheiro que ainda não deveio capital – seu ponto de partida; a forma abstrata e autônoma do valor de troca ou da riqueza universal; ou ele próprio se reapresenta como capital, como nova dominação do trabalho objetivado sobre o vivo. {A força produtiva dobrou, aumentou 100%, [e] o valor do capital aumentou 20% no exemplo citado.} (Todo aumento da massa do capital empregado pode aumentar a força produtiva em uma proporção não somente aritmética, mas também geométrica; ao passo que, precisamente por isso – como multiplicador da força produtiva –, só pode aumentar o lucro em uma proporção muito menor. O efeito do aumento de capital sobre o aumento da força produtiva é, portanto, infinitamente maior do que o efeito do aumento da força produtiva sobre o crescimento do capital.) Os 20 táleres podem se apresentar seja como riqueza universal materializada na forma do dinheiro (da coisa em que a riqueza existe só de maneira abstrata), seja como novo trabalho vivo. Dos 140 táleres, o capitalista consome, digamos, 20 como valores de uso para si mesmo por meio do dinheiro como meio de circulação. Desse modo, na primeira suposição, só podia iniciar o processo de autovalorização com um capital maior, com um valor de troca maior, de 120 táleres (em lugar de 100). Depois da duplicação das forças produtivas, ele pode fazê-lo com 140 táleres sem limitar seu consumo. Uma parte maior dos valores de troca se fixa como valor de troca, em lugar de desaparecer no valor de uso (quer se fixe diretamente ou por meio da produção). Criar um capital maior significa criar um valor de troca maior, muito embora o valor de troca em sua forma imediata, como valor de troca simples, não tenha sido aumentado pelo crescimento da produtividade, [mas] o foi em sua forma potenciada como capital. Esse capital maior, de 140 táleres, representa absolutamente mais trabalho objetivado que o capital anterior de 120 táleres. Por essa razão, ele também põe, ao menos de modo proporcional, mais trabalho vivo em movimento e, dessa maneira, também reproduz afinal maior valor de troca simples. O capital de 120 táleres a 40% produziu um produto ou valor de troca simples de 60 táleres a 40%; o capital de 140 táleres, um valor de troca simples [de] 64 táleres[72]. Nesse caso, o aumento do valor de troca na forma do capital também está posto imediatamente como aumento do valor de troca em sua forma simples. É da maior importância lembrar disso. Não basta dizer, como Ricardo[73], que o valor de troca não aumenta, i.e., a forma abstrata da riqueza, mas só o valor de troca como capital. Em tal afirmação, Ricardo tinha em mente apenas o processo de produção original. Mas se o trabalho excedente relativo aumenta – e, por isso, o capital aumenta em termos absolutos –, também aumenta necessariamente no interior da circulação o valor de troca relativo existente como valor de troca, o dinheiro enquanto tal, e, por isso, pela mediação do processo de produção, o valor de troca absoluto. Em outras palavras, do mesmo quantum de valor de troca – ou dinheiro – e nessa forma simples aparece o produto do processo de valorização (o mais-valor é o produto só em relação ao capital, ao valor, tal como ele existia antes do processo de produção; considerado por si mesmo, como existência autônoma, ele é simples valor de troca determinado quantitativamente), é liberada uma parte que não existe como equivalente para os valores de troca existentes ou também para o tempo de trabalho existente. Se ela é trocada pelos valores de troca existentes, não o faz por um equivalente, mas por mais do que um equivalente, liberando assim do lado deles uma parte do valor de troca. Estaticamente, esse valor de troca liberado, de que a sociedade se enriqueceu, só pode ser dinheiro; nesse caso, só aumentou a forma abstrata da riqueza; em movimento, só pode se realizar em novo trabalho vivo (seja porque é posto em movimento trabalho antes sem utilização, seja porque novos trabalhadores são criados (o crescimento da população é acelerado), seja porque é criado um novo círculo dos valores de troca ou ampliado o circuito de valores de troca que se encontram em circulação, o que pode acontecer, do lado da produção, se o valor de troca liberado abre um novo ramo de produção, portanto, um novo objeto da troca, o trabalho objetivado na forma de um novo valor de uso; ou o mesmo resultado pode ser atingido se o trabalho objetivado em um novo país é introduzido na esfera da circulação pela expansão do comércio). Esse trabalho novo, portanto, tem de ser criado.
A forma na qual Ricardo procura esclarecer essa matéria (e ele é muito pouco claro nesse aspecto), |no fundof nada mais significa que, ele já introduz uma proporção determinada, em lugar de dizer simplesmente que da mesma soma de valores de troca simples, uma parte menor se põe na forma do valor de troca simples (do equivalente) e uma parte maior, na forma do dinheiro (do dinheiro como a forma primitiva, antediluviana, a partir da qual o capital sempre ressurge; do dinheiro em sua determinação como dinheiro, não como moeda etc.); que, portanto, a parte posta como valor de troca para si, i.e., como valor, aumenta, a riqueza em sua forma como riqueza (ao passo que Ricardo chega exatamente à conclusão falsa de que essa parte só aumenta na forma de riqueza material, física, como valor de uso). A gênese da riqueza enquanto tal, na medida em que não se origina da renda, i.e., de acordo com Ricardo, na medida em que não se origina do aumento da força produtiva, mas, ao contrário, de sua redução, é por essa razão totalmente incompreensível para ele, com o que ele se enreda nas mais fantásticas contradições. Consideremos por um momento o problema na forma de Ricardo. Um capital de 1.000 pôs 50 trabalhadores em movimento, ou 50 jornadas de trabalho vivo; com a duplicação da força produtiva, ele poderia pôr em movimento 100 jornadas de trabalho. Mas estas últimas não existem no pressuposto e são introduzidas de maneira arbitrária, porque, do contrário – se não entram mais jornadas de trabalho efetivas –, ele não compreende o aumento do valor de troca em virtude do aumento de produtividade. Por outro lado, o crescimento da população como um elemento do aumento dos valores de troca não é desenvolvido por ele em parte alguma; tampouco expresso de maneira clara e definida. Seja o pressuposto dado 1.000 de capital e 50 trabalhadores. A consequência correta, que Ricardo também extrai (veja o Caderno…)[74], é: um capital de 500 com 25 trabalhadores pode produzir o mesmo valor de uso que antes; os outros 500 com os outros 25 trabalhadores fundam um novo negócio e produzem também um valor de troca de 500. O lucro permanece o mesmo, uma vez que não resulta da troca dos 500 pelos 500, mas das cotas em que o lucro e o salário originalmente repartem entre si os 500, sendo a troca, pelo contrário, troca de equivalentes, que, como no comércio exterior, onde Ricardo desenvolve esse ponto expressamente, tampouco pode aumentar o valor. Como a troca de equivalentes nada mais significa que o valor que existia na mão de A antes da troca com B ainda existe em suas mãos depois da troca com B, o valor total, ou riqueza, permanece o mesmo. Mas duplica o valor de uso, ou a matéria da riqueza. Agora, não há absolutamente nenhuma razão para que deva aumentar a riqueza enquanto riqueza, o valor de troca enquanto tal – na medida em que se considere o aumento das forças produtivas. Se as forças produtivas duplicam de novo em ambos os ramos, o capital a, do mesmo modo que o b, pode agora se separar em 250 com 12½ jornadas de trabalho e 250 com 12½ jornadas de trabalho. Existem agora quatro capitais com o mesmo valor de troca de 1.000 libras esterlinas, que, como antes, consomem em conjunto 50 jornadas de trabalho vivo {|na verdadef, é falso afirmar que o trabalho vivo consome o capital; é o capital (o trabalho objetivado) que consome o trabalho vivo no processo de produção} e produzem um valor de uso quatro vezes maior do que o que havia antes da duplicação do valor do consumo. Ricardo é por demais clássico para cometer as tolices dos que pretensamente aperfeiçoam sua obra, autores que, em consequência do aumento das forças produtivas, fazem o valor maior ter origem no fato de que na circulação um dos capitalistas vende mais caro do que o outro. Em lugar de trocar o capital de 500, tão logo ele deveio mercadoria, valor de troca simples, por 500, ele o troca por 550 (a 10%), mas nesse caso o outro evidentemente só recebe em valor de troca 450, em lugar de 500, e a soma total permanece, como antes, igual a 1.000. Isso sucede com bastante frequência no comércio, mas só explica o lucro de um capital às custas do prejuízo do outro capital e, por conseguinte, não explica o lucro do capital, e sem esse pressuposto não existe lucro nem de um lado nem do outro. Portanto, o processo de Ricardo pode continuar sem que haja outro limite além do aumento da força produtiva (e este, por sua vez, é material, situando-se por ora no exterior da própria relação econômica) que pode ter lugar com um capital de 1.000 e 50 trabalhadores. Ver a seguinte passagem: “Capital é a parte da riqueza de um país que é |empregada tendo em vista a produção futura, e [que] pode ser aumentada da mesma maneira que a riquezai”[75]. (É que, para Ricardo, a riqueza é o excedente em valores de uso, e, considerado do ponto de vista da troca simples, o mesmo trabalho objetivado pode se expressar em valores de uso ilimitados e continuar sempre o mesmo valor de troca desde que continue o mesmo quantum de trabalho objetivado, pois seu equivalente é medido não pela massa de valores de uso em que ele existe, mas por seu próprio quantum.) “|Um capital adicional será igualmente eficaz na formação de riqueza futura, seja ele obtido por meio do aperfeiçoamento da qualificação ou da maquinaria, seja pela utilização de mais receita de maneira produtiva; porque a riquezai” (valor de uso) “|sempre depende da quantidade de mercadorias produzidasi” (também um pouco de sua |variedade, ao que parecei), “|sem considerar a facilidade com que podem ter sido produzidos os instrumentos empregados na produçãoi” (i.e., o tempo de trabalho neles objetivado). “|Uma certa quantidade de roupas e mantimentos sustentará e empregará o mesmo número de homens; mas terão o dobro do valori” (valor de troca) “|se 200 forem empregados em sua produçãoi”[76]. Se mediante o aumento da força produtiva 100 produzirem em valores de uso o mesmo que se produzia antes com 200, então:
a metade dos 200 será demitida, de modo que os 100 restantes produzirão tanto quanto produziam antes os 200. Uma metade do capital pode, portanto, ser retirada do ramo de produção; é liberada a mesma proporção de capital e de trabalho. E como uma metade do capital presta exatamente o mesmo serviço que prestava antes o capital inteiro, formaram-se agora dois capitais etc.[77] (Cf. 39, 40, ibidem, sobre o comércio nacional, ao qual temos de retornar.)[78]
Ricardo não fala aqui de jornada de trabalho; ele não fala que o capitalista, quando trocava anteriormente meia jornada de trabalho objetivado por uma jornada de trabalho vivo inteira do trabalhador, |no fundof não ganhava senão somente meia jornada de trabalho vivo, porque ele dava ao trabalhador a outra metade sob a forma de objetividade e a recebia sob a forma da vitalidade, i.e., pagava ao trabalhador uma metade da jornada de trabalho, mas o fazia sob a forma de jornadas de trabalho simultâneas, i.e., por conseguinte, de trabalhadores distintos; isso não altera em nada o problema, mas só a sua expressão. Cada uma dessas jornadas de trabalho fornece assim muito mais tempo excedente. Se o capitalista tinha antes como limite a jornada de trabalho, agora tem 50 jornadas de trabalho etc. Como foi dito, dessa forma, com o aumento dos capitais pela produtividade não é posto nenhum aumento dos valores de troca e, por essa razão, de acordo com Ricardo, a população poderia diminuir, digamos, de 10 milhões para 10 mil sem que o valor de troca ou a quantidade dos valores de uso diminuísse (ver a conclusão de seu livro)[79]. O fato de que há contradições contidas no capital, nós somos os últimos a negar. Nosso objetivo é, na verdade, desenvolvê-las completamente. Ricardo, entretanto, não as desenvolve, |mas se livra delas ao considerar o valor de troca como indiferente para a formação da riqueza. Em outras palavras, ele sustenta que em uma sociedade baseada no valor de troca e na riqueza resultante de tal valor não existem as contradições às quais essa forma de riqueza é compelida com o desenvolvimento das forças produtivas etc., que em tal sociedade um crescimento do valor não é necessário para garantir o crescimento da riqueza e, consequentemente, que o valor como a forma de riqueza não afeta de modo algum essa própria riqueza e seu desenvolvimentoi, i.e., ele considera o valor de troca como puramente formal. Todavia, ocorre-lhe então 1) que aos capitalistas só lhes interessa o valori e 2) que, historicamente, com o progresso das forças produtivas (e igualmente, do comércio internacional, ele deveria ter pensado), cresce a riqueza enquanto tal, i.e., a soma de valor. Nesse caso, como explicá-lo? Os capitais acumulam-se mais rápido do que a população; com isso, sobe o salário; com isso, aumenta a população; com isso, sobem os preços dos cereais; com isso, aumenta a dificuldade da produção e, com isso, os valores de troca. Portanto, chega-se enfim aos valores de troca de modo indireto. Por ora vamos ainda omitir inteiramente o momento da renda, onde não se trata de uma maior dificuldade da produção, mas, ao contrário, do aumento das forças produtivas. Com a acumulação dos capitais, o salário sobe, se a população não cresce ao mesmo tempo; o trabalhador casa, a produção [dos filhos] é estimulada e seus filhos vivem melhor, não morrem prematuramente etc. Em resumo, a população cresce. O seu crescimento, entretanto, ocasiona a concorrência entre os trabalhadores e, desse modo, compele o trabalhador outra vez a vender sua capacidade de trabalho ao capitalista por seu valor, ou inclusive transitoriamente abaixo dele. Agora, então, o capital acumulado, que nesse ínterim cresceu de maneira mais lenta, dispõe novamente em dinheiro do excedente que antes gastava na forma do salário, ou seja, como moeda, para comprar o valor de uso do trabalho de modo a valorizar o dinheiro, como capital, no trabalho vivo, e, como agora também dispõe de maior quantidade de jornadas de trabalho, o seu valor de troca cresce novamente. (Isso inclusive não está desenvolvido corretamente em Ricardo, mas confundido com a teoria da renda; porque o aumento da população agora retira do capital sob a forma da renda o excedente que antes ele perdia sob a forma de salário.) Mas tampouco o crescimento da população é de fato compreensível em sua teoria. Ele não mostrou em lugar nenhum que se dá uma relação imanente entre a totalidade do trabalho objetivado no capital e a jornada de trabalho vivo (para a relação é indiferente se a jornada é representada como uma jornada de trabalho de 50 × 12 horas ou como o trabalho de 12 horas de 50 trabalhadores), nem mostrou que essa relação imanente é precisamente a relação da fração da jornada de trabalho vivo, ou do equivalente do trabalho objetivado com que é pago o trabalhador, à jornada de trabalho vivo; relação em que a totalidade é a própria jornada, e a relação imanente, a relação variável (a própria jornada é uma grandeza constante) entre a fração das horas de trabalho necessárias e as horas de trabalho excedentes. Justamente por não ter desenvolvido essa relação, Ricardo também não mostrou (o que até aqui não nos interessava, porque para nós se tratava do capital enquanto tal, e o desenvolvimento das forças produtivas foi introduzido como relação exterior) que o próprio desenvolvimento da força produtiva pressupõe tanto o aumento do capital quanto das jornadas de trabalho simultâneas, mas que, no interior do limite dado do capital que põe em movimento uma jornada de trabalho (ainda que seja uma de 50 × 12 horas, de 600 horas), o próprio desenvolvimento é o limite para o desenvolvimento da força produtiva do capital.
O salário não inclui somente o trabalhador, mas também sua reprodução; de modo que se esse exemplar da classe trabalhadora morre, um outro o substitui; se os 50 trabalhadores morrem, há 50 novos trabalhadores para substituí-los. Os próprios 50 trabalhadores – como capacidade de trabalho viva – representam não somente os custos de sua própria produção, mas os custos que tiveram de ser pagos a seus pais acima de seus salários como indivíduos, para se substituírem em 50 novos indivíduos. Por conseguinte, a população também avança sem aumento do salário. Agora, por que não avança suficientemente rápido e por que tem de receber um estímulo particular? Ora, pela simples razão de que de nada serve ao capital receber simplesmente mais “riquezai” no sentido ricardiano, porque ele quer comandar mais valori, mais trabalho objetivado. No entanto, de acordo com Ricardo, o capital só pode comandar de fato mais trabalho objetivado se o salário cai; i.e., se, para o mesmo capital, mais jornadas de trabalho vivo são trocadas por trabalho objetivado e, por isso, é criado maior valori. Para fazer cair o salário, Ricardo pressupõe o aumento da população. E para demonstrar aqui o aumento da população, ele pressupõe que cresce a demanda por jornadas de trabalho, em outras palavras, pressupõe que o capital pode comprar mais trabalho objetivado (objetivado na capacidade de trabalho) e, portanto, que seu valori cresceu. Todavia, ele partiu justamente do pressuposto inverso e fez o rodeio só porque partiu dele. Se £ 1.000 podem comprar 500 jornadas de trabalho e a força produtiva aumenta, o capital pode continuar a utilizar as 500 no mesmo ramo de produção, ou pode se separar e utilizar 250 em um ramo de produção e 250 em outro, de modo que o capital também se desagrega em dois capitais de 500. Mas o capital nunca pode comandar mais do que 500 jornadas de trabalho, porque, do contrário, de acordo com Ricardo, teriam que ter se multiplicado não somente os valores de uso produzidos por ele, mas seu valor de troca, o tempo de trabalho objetivado que ele comanda. Por conseguinte, dado o seu pressuposto, não pode haver maior demanda por trabalho. Contudo, se ela acontece, o valor de troca do capital cresceu. Comparar Malthus on value, que sente as contradições, mas cai no vazio ali onde ele próprio pretende desenvolvê-las[80].
Falamos tão somente dos dois elementos do capital, das duas partes da jornada de trabalho vivo, das quais uma representa o salário, a outra, o lucro; uma, o trabalho necessário, a outra, o trabalho excedente. Nesse caso, onde ficam as duas outras partes do capital, que são realizadas no material de trabalho e no instrumento de trabalho? No que se refere ao processo de produção simples, o trabalho subentende a existência de instrumento que facilita o trabalho, e de material em que o trabalho se representa, ao qual dá forma. Essa forma confere ao material o valor de uso. Na troca, esse valor de uso devém valor de troca na medida em que contém trabalho objetivado. Todavia, como partes constitutivas do capital, material e instrumento de trabalho são valores que o trabalho tem de substituir? No exemplo anterior (e tais objeções a Ricardo são abundantes: que considerou simplesmente lucro e salário partes constitutivas dos custos de produção, omitindo a máquina e o material), portanto, quando o capital de 100, dividido [em] 50 para algodão, 40 para salário e 10 para instrumento, sendo o salário de 40 táleres = 4 horas de trabalho objetivado, determina agora uma jornada de 8 horas, parece que o trabalhador, que teria de reproduzir 40 táleres para salário, 40 táleres de trabalho excedente (lucro), 10 táleres de instrumento e 50 táleres de algodão = 140 táleres, só reproduz 80. Pois 40 táleres são o produto de meia jornada de trabalho e 40, a outra metade excedente. Mas 60 táleres é o valor das duas outras partes constitutivas do capital. Como o produto efetivo do trabalhador é de 80 táleres, ele só pode reproduzir 80 e não 140. Ele teria, na verdade, diminuído o valor dos 60; uma vez que, dos 80, 40 são reposição para seu salário, e os 40 restantes de trabalho excedente são inferiores [em] 20 aos 60. Em lugar de um lucro de 40, o capitalista teria um prejuízo de 20 na parte original do capital que consiste de instrumento e material. Como pode o trabalhador criar, além dos 80, um valor de 60 táleres, uma vez que uma metade de sua jornada de trabalho, como o demonstra seu salário, cria somente 40 táleres com instrumento e material; que a outra metade faz o mesmo; e que ele só dispõe dessa única jornada de trabalho, não podendo, em uma jornada, trabalhar duas? Suponha que 50 táleres de material = x libras de fio de algodão; os 10 táleres de instrumento = fuso[81]. No que concerne primeiramente ao valor de uso, é evidente que o trabalhador não poderia produzir nenhum tecido, nenhum valor de uso mais elevado, se o algodão não tivesse já a forma de fio nem a madeira e o ferro, a forma do fuso. Para o próprio trabalhador, no processo de produção os 50 táleres e os 10 táleres nada mais são do que fio e fuso, e não valores de troca. O seu trabalho deu ao fio e ao fuso um maior valor de uso e lhes adicionou um quantum de trabalho objetivado de 80 táleres, a saber, 40 táleres em que ele reproduz seu salário, 40 de tempo excedente. O valor de uso – o tecido – contém uma jornada de trabalho a mais, mas da qual uma metade somente repõe a parte do capital que foi trocada pela disposição sobre a capacidade de trabalho. O tempo de trabalho objetivado que está contido no fio e no fuso, e que forma uma parte do valor do produto, não foi criado pelo trabalhador; para este último, eles eram e continuaram sendo um material ao qual ele deu outra forma e que incorporou trabalho novo. A única condição é que ele não devia desperdiçá-los, e isso ele não fez, na medida em que seu produto tinha valor de uso, e maior valor de uso que antes. Ele contém agora duas partes de trabalho objetivado – a sua jornada de trabalho e o trabalho contido em seu material, fio e fuso, independente dele e anterior ao seu trabalho. O trabalho previamente objetivado era a condição de seu trabalho; somente esse trabalho objetivado é que fez do seu trabalho, trabalho, mas não lhe custa nenhum. Presuma que eles não sejam já pressupostos como partes constitutivas do capital, como valores, e que não tivessem lhe custado nada. Nesse caso, o valor do produto seria de 80 [táleres] se ele trabalhasse uma jornada inteira, de 40 táleres se trabalhasse meia jornada. O valor do produto seria exatamente = a uma jornada de trabalho objetivado. De fato, na produção, não lhe custam nada. Mas isso não abole o tempo de trabalho neles objetivado, que subsiste e somente recebe outra forma. Caso o trabalhador tivesse de criar na mesma jornada de trabalho, além do tecido, o fio e o fuso, o processo seria |na verdadei impossível. Por conseguinte, é justamente o fato de que o fio e o fuso não requerem o trabalho do trabalhador nem como valores de uso em sua forma original nem como valores de troca, mas estão disponíveis, que faz com que a adição de um dia de trabalho pelo trabalhador crie um produto de valor superior a um dia de trabalho. Mas o cria na medida em que não tem de produzir este mais acima da jornada de trabalho, mas o depara como material, como pressuposto. Nesse sentido, portanto, só se pode afirmar que ele [o trabalhador] reproduz esses valores porque, sem o trabalho, eles se perderiam, seriam inúteis; contudo, sem eles o trabalho seria igualmente inútil. Na medida em que o trabalhador reproduz esses valores, isto não ocorre pelo fato de que lhes dá maior valor de troca, ou porque entra em qualquer processo com seus valores de troca, mas tão somente porque os sujeita ao processo da produção simples, tão somente trabalha. Mas isso não lhe custa nenhum tempo de trabalho maior, ao lado do tempo de trabalho que precisa para a sua elaboração e maior valorização. É uma condição na qual o capital o colocou para trabalhar. O trabalhador os reproduz somente pelo fato de que lhes dá um maior valor, e esse dar-maior-valor é = ao seu dia de trabalho. De resto, o trabalhador os deixa como são. O fato de que seu valor antigo é preservado se dá porque o trabalhador lhes acrescenta um valor novo, não porque o valor antigo é ele próprio reproduzido, criado. Na medida em que eles são produto de trabalho anterior, uma soma do trabalho objetivado anteriormente permanece um elemento do seu produto, de modo que o produto, além do seu valor novo, contém ainda o valor antigo. Por conseguinte, o trabalhador produz de fato nesse produto só o tempo de trabalho que lhe adiciona, e a conservação do valor antigo não lhe custa absolutamente nada mais do que lhe custa adicionar o valor novo. Para ele, é somente material, e continua material a despeito de mudar de forma; portanto, é algo existente independentemente de seu trabalho. O fato de esse material, que subsiste, uma vez que só ganha outra forma, já contém ele próprio tempo de trabalho, é problema do capital, não do trabalhador; é independente de seu trabalho e subsiste depois dele, da mesma maneira que existia antes dele. Essa assim chamada reprodução não lhe custa nenhum tempo de trabalho, mas é a condição de seu tempo de trabalho, uma vez que nada mais é do que pôr a matéria existente como material de seu trabalho, do que se relacionar com a matéria como material. Portanto, pelo próprio ato do trabalho ele repõe o antigo tempo de trabalho, não pela adição de tempo de trabalho específico com tal propósito. O trabalhador repõe o antigo tempo de trabalho simplesmente pela adição de novo tempo de trabalho, pelo que o antigo é preservado no produto e devém elemento de um novo produto. Em consequência, o trabalhador não repõe, com sua jornada de trabalho, a matéria-prima e o instrumento, na medida em que eles são valores. Tal conservação do antigo valor, portanto, o capitalista ganha de maneira tão gratuita quanto o trabalho excedente. Mas ele a recebe grátis [não] porque ela nada custa ao trabalhador, mas porque é resultado do fato de que o material e o instrumento de trabalho, segundo o pressuposto, já se encontram nas mãos do capitalista, e que o trabalhador, por conseguinte, não pode trabalhar sem fazer de material de seu trabalho o trabalho existente em forma objetiva já nas mãos do capitalista e, em consequência, [sem] conservar também o trabalho objetivado nesse material. O capitalista, portanto, nada paga ao trabalhador para que o fio e o fuso – seu valor – reapareçam, no que se refere aos seus valores, no tecido, ou seja, sejam conservados. Tal conservação se dá simplesmente pela adição de trabalho novo, que adiciona mais valor. Da relação original entre capital e trabalho resulta, portanto, que o mesmo serviço que o trabalho vivo presta ao trabalho objetivado, por sua relação com ele como trabalho vivo, nada custa ao capital, assim como também nada custa ao trabalhador, mas só expressa a relação em que o material e o instrumento de trabalho estão contrapostos ao trabalhador como capital, como pressupostos independentes dele. A conservação do valor antigo não é um ato separado da adição de valor novo, mas se dá automaticamente; aparece como resultado natural desse ato. Mas o fato de que essa conservação nada custa ao capital e também nada custa ao trabalhador já está posto na relação de capital e trabalho, que em si já é o lucro de um e o salário do outro.
O capitalista singular pode imaginar (e isso em nada afeta os seus cálculos) que, se possui um capital de 100 táleres, composto de 50 táleres de algodão, 40 táleres em meios de subsistência para manter o trabalho e 10 táleres de instrumento, e calcula um lucro de 10% sobre seus custos de produção, o trabalho tem de lhe repor 50 táleres de algodão, 40 táleres de meios de subsistência, 10 táleres de instrumento e 10% sobre 50, sobre 40 e sobre 10; de maneira que, em sua imaginação, o trabalho cria para ele 55 táleres de matéria-prima, 44 táleres de meios de subsistência, 11 táleres de instrumento, |em conjuntoi = 110 [táleres]. Mas, para economistas, essa é uma ideia estranha, muito embora sua validade tenha sido afirmada com enorme pretensão como uma inovação contra Ricardo[82]. Se a jornada de trabalho do trabalhador = a 10 horas, e se ele pode criar 40 táleres em 8 horas, i.e., pode criar seu salário ou, o que é o mesmo, pode conservar e repor sua capacidade de trabalho, ele precisa de 4/5 da jornada para repor o seu salário ao capital, e lhe dá 1/5 de trabalho excedente ou 10 táleres. Logo, o capital recebe em troca dos 40 táleres de salário, das 8 horas de trabalho objetivado, 10 horas de trabalho vivo, e esse excedente constitui todo o seu lucro. Por conseguinte, o total de trabalho objetivado criado pelo trabalhador é de 50 táleres, e, quaisquer que sejam os custos do instrumento e da matéria-prima, mais ele não pode lhes adicionar, pois a sua jornada não pode se objetivar em mais trabalho; ora, o fato de que o trabalhador, ao adicionar aos 60 táleres de matéria-prima e instrumento os 50 táleres – 10 horas de trabalho (das quais 8 são somente reposição do salário) –, simultaneamente conserva o material e o instrumento – eles são conservados precisamente pelo fato de que entram de novo em contato com o trabalho vivo e são utilizados como instrumento e material –, não lhe custa nenhum trabalho (ele também não teria nenhum tempo supérfluo para tanto) nem lhe é pago pelo capitalista. Essa força natural vivificante do trabalho – que, ao utilizar material e instrumento, os conserva nessa ou naquela forma, logo, conserva igualmente o trabalho neles objetivado, o seu valor de troca –, como qualquer força natural ou social do trabalho que não seja produto de um trabalho anterior, ou que não seja produto de tal trabalho anterior que tem de ser repetido (p. ex.: o desenvolvimento histórico do trabalhador etc.), devém força do capital, não do trabalho. Consequentemente, também não é paga pelo capital. Assim como tampouco o trabalhador é pago porque pode pensar etc.
Vimos como, originalmente, o valor autonomizado em relação à circulação – i.e., a mercadoria para a qual a determinação do valor de troca não é determinação simplesmente formal, evanescente para se trocar por um outro valor de uso e desaparecer finalmente como objeto de consumo –, o dinheiro como dinheiro, o dinheiro que é subtraído à circulação e se afirma negativamente por oposição a ela, é o pressuposto a partir do qual devém o capital[83]. Por outro lado, o produto do capital, na medida em que não é sua própria mera reprodução (mas essa reprodução é somente formal; porque das três partes do seu valor, só uma é efetivamente consumida, logo, reproduzida, a parte que repõe o salário; o lucro, contudo, não é reprodução, mas adição de valor, valor excedente), tem de novo como resultado o valor, que não entra mais na circulação como equivalente e que ainda não está potencializado como capital, e que é, por conseguinte, valor autonomizado negativamente em relação à circulação – dinheiro (em sua forma adequada, a terceira)[84]. O dinheiro, que de início aparecia como pressuposto do capital, como sua causa, aparece agora como seu efeito. No primeiro movimento, o dinheiro procedia da circulação simples; no segundo, procede do processo de produção do capital. No primeiro, ele se converte em capital; no segundo, ele aparece como um pressuposto do capital posto pelo próprio capital; e, por isso, já é posto em si como capital; já tem em si a relação ideal com o capital. Ele já não se converte mais simplesmente em capital, mas, como dinheiro, já é posto nele que pode ser transformado em capital.
O aumento dos valores é, portanto, o resultado da autovalorização do capital; seja essa autovalorização o resultado do tempo excedente absoluto ou relativo, i.e., de um aumento efetivo do tempo de trabalho absoluto ou de um aumento do trabalho excedente relativo, i.e., de uma redução da parte alíquota da jornada de trabalho que é determinada como tempo de trabalho necessário para a manutenção da capacidade de trabalho; como trabalho necessário pura e simplesmente.
O tempo de trabalho vivo nada mais reproduz do que a parte do tempo de trabalho objetivado (do capital) que aparece como equivalente para dispor da capacidade de trabalho viva e que, por isso, tem de repor, como equivalente, o tempo de trabalho objetivado nessa capacidade de trabalho, vale dizer, tem de manter vivos os trabalhadores como trabalhadores. O que o tempo de trabalho vivo produz a mais não é reprodução, mas criação nova, na verdade, nova criação de valor, porque é objetivação de novo tempo de trabalho em um valor de uso. O fato de que o tempo de trabalho contido na matéria-prima e no instrumento é simultaneamente conservado não é resultado da quantidade do trabalho, mas de sua qualidade como trabalho enquanto tal; e sua qualidade universal, que não é nenhuma qualificação particular do trabalho – não é trabalho especificamente determinado –, mas significa que o trabalho como trabalho é trabalho –, não é especificamente paga, porque o capital comprou esta qualidade na troca com o trabalhador. Mas o equivalente para essa qualidade (do valor de uso específico do trabalho) é medido simplesmente pelo quantum de tempo de trabalho que a produziu. Antes de tudo, ao utilizar o instrumento como instrumento e ao conformar a matéria-prima, o trabalhador adiciona ao valor da matéria-prima e do instrumento tanto de forma[85] nova quanto é = ao tempo de trabalho contido em seu salário; o que ele adiciona a mais é tempo de trabalho excedente, valor excedente. Mas pela simples circunstância de que o instrumento é usado como instrumento e a matéria-prima é posta como matéria-prima do trabalho, pelo simples processo em que entram em contato com o trabalho postos como seu meio e objeto e, desse modo, são postos como objetivação do trabalho vivo, como momentos do próprio trabalho, eles são conservados, não quanto à forma, mas quanto à substância, e, do ponto de vista econômico, o tempo de trabalho objetivado é a sua substância. O tempo de trabalho objetivado deixa de existir em uma forma objetiva unilateral – e, consequentemente, deixa de estar sujeito à dissolução como mera coisa pelo processo químico etc. – [pelo fato de] que é posto como modo de existência material – meio e objeto – do trabalho vivo. Do mero tempo de trabalho objetivado, em cuja existência física o trabalho existe tão somente como forma externa, desvanecida da sua substância natural, forma que é exterior a essa própria substância (por exemplo, a forma da mesa à madeira ou a forma do cilindro ao ferro), existindo simplesmente na forma externa do material, daí se desenvolve a indiferença do material em relação à forma; o tempo de trabalho objetivado conserva a forma não por meio de qualquer lei da reprodução imanente, viva, como a árvore, p. ex., conserva sua forma como árvore (a madeira conserva-se como árvore em determinada forma porque esta forma é uma forma da madeira; ao passo que a forma como mesa é contingente em relação à madeira, não é a forma imanente da sua substância), [mas] ele existe somente como forma exterior ao material, ou ele próprio só existe materialmente. Por isso, a dissolução a que está sujeita sua matéria dissolve igualmente a forma. Todavia, postos como condições do trabalho vivo, eles próprios são reanimados. O trabalho objetivado deixa de existir morto no material como forma exterior, indiferente, porque ele próprio é posto novamente como momento do trabalho vivo; como relação do trabalho vivo consigo mesmo em um material objetivo, como objetividade do trabalho vivo (como meio e objeto) (as condições objetivas do trabalho vivo). Desse modo, na medida em que o trabalho vivo, por sua efetivação no material, modifica o próprio material, uma modificação que, pela finalidade, determina o trabalho e sua atividade finalística – (uma modificação que não é, como no objeto inerte, o pôr da forma como algo exterior ao material, simples aparência evanescente de sua existência) –, o material é conservado sob determinada forma, a mudança de forma do material é submetida à finalidade do trabalho. O trabalho é o fogo vivo, conformador; a transitoriedade das coisas, sua temporalidade, como sua conformação pelo tempo vivo. No processo de produção simples – abstraindo-se do processo de valorização –, a transitoriedade da forma das coisas é usada para pôr sua utilidade. Quando do algodão devém fio, do fio, tecido, do tecido, tecido estampado, tingido etc., e destes, digamos, uma roupa, 1) a substância do algodão se conservou em todas essas formas (no processo químico, no curso do metabolismo regulado pelo trabalho, em todas as partes trocaram-se equivalentes (naturais) etc.); 2) em todos esses processos subsequentes o material obteve uma forma mais útil, porque uma forma mais apropriada ao consumo; até que, por último, recebe a forma em que pode devir diretamente objeto desse consumo, onde, por conseguinte, o consumo do material e a supressão de sua forma devêm satisfação humana, onde sua transformação é o seu próprio uso. O material do algodão se conserva em todos esses processos; ele se extingue em uma forma do valor de uso para dar lugar a uma forma superior, até que surge o objeto como objeto do consumo imediato. Mas quando o algodão é posto como fio, ele é posto em uma relação determinada com um tipo ulterior de trabalho. Caso esse trabalho não ocorra, não somente a forma lhe terá sido posta inutilmente, i.e., o trabalho prévio não é confirmado pelo novo, mas também o material terá sido perdido, porque ele só tem valor de uso na forma de fio se é novamente processado: só é valor de uso com referência ao uso que faz dele o trabalho futuro; só é valor de uso contanto que sua forma como fio seja abolida na de tecido; enquanto o algodão, em sua existência como algodão, é suscetível de infinitas aplicações úteis. Assim, sem o trabalho posterior, o valor de uso do algodão e do fio, material e forma, seria perdido; seria destruído, em lugar de produzido. Tanto o material quanto a forma, tanto a matéria quanto a forma, são conservados pelo trabalho posterior – conservados como valor de uso, até que tenham recebido a figura do valor de uso enquanto tal, cujo uso é o consumo. No processo de produção simples está implícito, portanto, que a etapa prévia da produção é conservada pela posterior, e que, pelo pôr do valor de uso superior, o valor de uso antigo só é conservado ou modificado se é elevado como valor de uso. É o trabalho vivo que conserva o valor de uso do produto do trabalho inacabado, porque faz dele o material de um trabalho ulterior. Mas só o conserva, i.e., só o preserva da inutilidade ou da deterioração porque o elabora de acordo com sua finalidade, porque, enfim, o faz objeto de novo trabalho vivo. Tal conservação do valor de uso antigo não é um processo que tem lugar paralelamente ao seu aumento ou à sua finalização pelo novo trabalho; ao contrário, ela se dá pelo próprio trabalho novo de aumento do valor de uso. Pelo fato de que o trabalho da tecelagem transforma o fio em tecido, logo, trata o fio como matéria-prima da tecelagem (um tipo particular de trabalho vivo) (e o fio só tem valor de uso se é tecido), ele conserva o valor de uso que o algodão enquanto tal possuía e havia conservado de maneira específica no fio. Tal trabalho conserva o produto do trabalho ao fazê-lo matéria-prima de novo trabalho; mas ele não 1) adiciona novo trabalho nem conserva, 2) à parte, o valor de uso da matéria-prima por meio de um outro trabalho. Ele conserva a utilidade do algodão como fio ao tecê-lo. {Tudo isso já é parte do primeiro capítulo da produção em geral.} Conserva-a pela tecelagem. Essa conservação do trabalho como produto, ou do valor de uso do produto do trabalho, visto que ele devém matéria-prima de novo trabalho porque é posto novamente como objetividade material do trabalho vivo finalístico, está dada no processo de produção simples. Em relação ao valor de uso, o trabalho possui essa propriedade de conservar o valor de uso existente ao aumentá-lo, e o aumenta ao fazê-lo objeto de um novo trabalho determinado pela finalidade; converte-o novamente da forma da existência indiferente na forma do material objetivo, do corpo do trabalho. (O mesmo vale para o instrumento. Um fuso só se conserva como valor de uso ao ser consumido na fiação. Caso contrário, pela forma determinada posta aqui no ferro e na madeira, seria perdido para o uso tanto o trabalho que a pôs quanto o material em que o trabalho a pôs. O valor de uso da madeira e do ferro, bem como sua forma, só são conservados se o fuso é posto como meio do trabalho vivo, como um momento de existência objetivo de sua vitalidade. Ser consumido é a determinação do fuso como instrumento de trabalho, mas ser consumido no processo de fiação. A maior produtividade que ele empresta ao trabalho cria mais valores de uso e repõe assim o valor de uso gasto no consumo do instrumento. Isso se apresenta de maneira mais clara na agricultura, uma vez que [seu produto], imediatamente meio de subsistência e valor de uso, aparece de maneira mais clara, porque mais primitiva, como valor de uso em contraste com o valor de troca. Se a enxada permite ao agricultor colher o dobro do cereal que colheria sem o seu concurso, ele precisa empregar menos tempo para a produção da própria enxada; ele possui provisão suficiente para fazer uma nova enxada.) No processo de valorização, todavia, os componentes de valor do capital – dos quais um existe sob a forma do material, o outro, sob a forma do instrumento – aparecem perante o trabalhador, i.e., o trabalho vivo (pois é só nesse processo que o trabalhador existe enquanto tal), não como valores, mas como simples momentos do processo de produção; como valores de uso para o trabalho, como as condições objetivas de sua eficácia, ou como seus momentos objetivos. É da própria natureza do trabalho que o trabalhador os conserve ao usar o instrumento como instrumento e ao dar à matéria-prima uma forma superior de valor de uso. Mas os valores de uso do trabalho assim conservados são, como componentes do capital, valores de troca; e, enquanto tais, são determinados pelos custos de produção neles contidos, pelo quantum de trabalho objetivado neles contido. (Para o valor de uso, trata-se somente da qualidade do trabalho já objetivado.) O quantum de trabalho objetivado é conservado à medida que sua qualidade como valores de uso para trabalho posterior é conservada pelo contato com o trabalho vivo. O valor de uso do algodão, bem como seu valor de uso como fio, são conservados pelo fato de que, como fio, é tecido; pelo fato de que existe como um dos momentos objetivos (juntamente com a roda de fiar[86]) na tecelagem. Dessa maneira, portanto, também se conserva o quantum de tempo de trabalho que estava contido no algodão e no fio de algodão. O que aparece no processo de produção simples como conservação da qualidade do trabalho precedente – e, em consequência, também do material em que está posto –, aparece no processo de valorização como conservação do quantum do trabalho já objetivado. Para o capital, essa conservação é a [conservação] do quantum do trabalho objetivado pelo processo de produção; para o próprio trabalho vivo, é somente a conservação do valor de uso já existente, existente para o trabalho. O trabalho vivo adiciona um novo quantum de trabalho; porém, ele não conserva o quantum de trabalho já objetivado por essa adição quantitativa, mas por sua qualidade como trabalho vivo, ou pelo fato de que relaciona-se como trabalho com os valores de uso em que existe o trabalho passado. Todavia, o trabalho vivo também não é pago por essa qualidade que possui como trabalho vivo – ele não seria nem mesmo comprado se não fosse trabalho vivo –, mas pelo quantum de trabalho contido nele mesmo. Somente é pago o preço de seu valor de uso, como em todas as outras mercadorias. A qualidade específica que possui, pela qual ele adiciona novo quantum de trabalho ao quantum de trabalho já objetivado, ao mesmo tempo que conserva o trabalho objetivado em sua qualidade como trabalho objetivado, tal qualidade não é paga, e também nada custa ao trabalhador, uma vez que é a característica natural de sua capacidade de trabalho. No processo de produção, a separação do trabalhador de seus momentos de existência objetivos – instrumento e material – é superada. Sobre a separação repousa a existência do capital e do trabalho assalariado. A superação da separação que se dá efetivamente no processo de produção – porque, caso contrário, não se poderia trabalhar de modo algum –, o capital não paga. (A superação também não tem lugar pela troca com o trabalhador – mas pelo próprio trabalho no processo de produção. Todavia, enquanto tal, como trabalho corrente, ele próprio já está incorporado ao capital, já é um momento dele. Essa força de conservação do trabalho aparece, por conseguinte, como força de autoconservação do capital. O trabalhador só adicionou trabalho novo; o trabalho passado – em que o capital existe – tem existência eterna como valor, completamente independente de sua existência material. Assim a coisa aparece para o capital e o trabalhador.) Se o capital também tivesse de pagar essa abolição, deixaria de ser capital. Isso faz parte inteiramente do papel material que o trabalho, por sua natureza, desempenha no processo de produção; do seu valor de uso. No entanto, como valor de uso, o trabalho pertence ao capitalista; como simples valor de troca, pertence ao trabalhador. A sua qualidade viva no próprio processo de produção de conservar o tempo de trabalho objetivado pelo fato de que faz dele o modo de existência objetivo do trabalho vivo, não diz respeito ao trabalhador. Essa apropriação pela qual o trabalho vivo, no próprio processo de produção, faz de instrumento e material o corpo de sua alma e assim os ressuscita dos mortos na verdade está em antítese com o fato de que o trabalho é privado de objeto, ou só [é] realidade no trabalhador em sua vitalidade imediata – ao passo que material e instrumento de trabalho existem no capital como seres por si mesmos. (Retornar a esse ponto.) O processo de valorização do capital tem lugar pelo e no processo de produção simples, pelo fato de que o trabalho vivo é posto em sua relação natural com seus momentos de existência material. Contudo, à medida que o trabalho entra nessa relação, a relação já não existe para ele mesmo; ela própria já é um momento do capital.
Por conseguinte, fica patente que, por meio do processo de troca com o trabalhador, o capitalista – pagando efetivamente ao trabalhador um equivalente pelos custos de produção contidos em sua capacidade de trabalho, i.e., dando-lhe os meios para conservar sua capacidade de trabalho, mas apropriando-se do trabalho vivo – recebe grátis duas coisas, primeiro, o trabalho excedente, que aumenta o valor do seu capital; segundo, e ao mesmo tempo, a qualidade do trabalho vivo que conserva o trabalho passado materializado nos componentes do capital e, dessa maneira, conserva o valor do capital antes existente. No entanto, essa conservação não se dá porque o trabalho vivo aumenta a quantidade do trabalho objetivado, pois cria valor, mas simplesmente porque o trabalho, ao adicionar novo quantum de trabalho, existe como trabalho vivo na relação imanente com o material e o instrumento de trabalho posta pelo processo de produção; portanto, por sua qualidade como trabalho vivo. Mas, na condição de tal qualidade, ele próprio é um momento do processo de produção simples e custa muito pouco ao capitalista, da mesma maneira que pouco lhe custam, excetuados seus preços, o fio e os fusos[87], visto que são igualmente momentos do processo de produção.
Quando, p. ex., em épocas de |estagnação do comércioi etc., as fábricasi são paralisadas, verifica-se de fato que a máquina enferruja e o fio é uma carga inútil, assim como deteriora-se tão logo cessa sua relação com o trabalho vivo. Se o capitalista somente faz trabalhar para criar mais-valor – para criar um valor que ainda não existe –, fica patente que, tão logo ele deixa de fazer trabalhar o trabalhador, desvaloriza-se também seu capital já existente; que, por conseguinte, o trabalho vivo não só adiciona novo valor, mas, |pelo simples ato de adicionar um valor novo ao antigo, o preserva e o eternizai. (Assim, fica evidente a estupidez da acusação feita a Ricardo, segundo a qual ele considera somente lucro e salário como componentes necessários dos custos de produção, omitindo a parte do capital contida na matéria-prima e no instrumento[88]. Visto que o valor neles existente só é conservado, isso não acarreta novos custos de produção. Mas no que se refere a esses valores existentes, todos eles dissolvem-se, por sua vez, em trabalho objetivado – trabalho necessário e trabalho excedente –, salário e lucro. O material natural puro, se não tem nenhum trabalho humano nele objetivado, se, portanto, é matéria pura que existe independente do trabalho humano, não tem nenhum valor, visto que valor é simplesmante trabalho objetivado; enfim, tem tão pouco valor quanto os elementos naturais.) Por isso, a conservação do capital existente pelo trabalho que o valoriza nada custa ao capital e, consequentemente, não faz parte dos custos de produção; apesar disso, os valores existentes são conservados no produto e, portanto, é necessário dar equivalentes por eles na troca. Mas a conservação desses valores no produto nada custa ao capital e, por isso, também não podem ser classificados pelo capital sob a rubrica de custos de produção. Eles tampouco são repostos pelo trabalho, visto que não são consumidos, exceto quando são consumidos em seu modo de existência indiferente ao trabalho, existente fora dele, i.e., precisamente quando sua transitoriedade é consumida pelo trabalho (é abolida). Só o salário é realmente consumido.
Voltemos mais uma vez ao nosso exemplo[89]. 100 táleres de capital, a saber, 50 de matéria-prima, 40 de trabalho, 10 de instrumento de produção. Suponha que o trabalhador necessita de 4 horas para criar os 40 táleres, os meios necessários à sua vida, ou a parte da produção necessária à sua conservação; seja de 8 horas a sua jornada de trabalho. Assim, o capitalista recebe grátis um valor excedente de 4 horas; seu valor excedente é igual a 4 horas objetivadas, 40 táleres; logo, seu produto é = 50 + 10 (valores conservados, não reproduzidos; como valores, permanecem constantes, inalterados) + 40 táleres (salário; reproduzido porque consumido na forma de salário) + 40 táleres de mais-valor. Soma: 140 táleres. Portanto, desses 140 táleres, 40 são excedente. O capitalista teve de viver durante a produção e antes de começar a produzir; digamos, 20 táleres. Além de seu capital de 100 táleres, ele tinha de possuir esses 20 táleres; portanto, era preciso existir equivalentes para eles na circulação. (Não nos interessa aqui como surgiram esses equivalentes.) O capital supõe a circulação como grandeza constante. Esses equivalentes estão novamente disponíveis. O capitalista consome, portanto, 20 táleres do seu ganho, que entram na circulação simples. Os 100 táleres também entram na circulação simples, mas para serem novamente convertidos em condições de nova produção, 50 táleres de matéria-prima, 40 de meios de subsistência para os trabalhadores, 10 de instrumento. Resta o mais-valor adicionado enquanto tal, recém-criado, de 20 táleres. Esse mais-valor é dinheiro, valor autônoma e negativamente posto perante a circulação. Não pode entrar na circulação como simples equivalente para ser trocado por objetos do simples consumo, visto que a circulação é pressuposta constante. Mas a existência autônoma, ilusória, do dinheiro é abolida; ele existe tão somente para se valorizar; i.e., para devir capital. Todavia, para devir capital, teria de ser de novo trocado pelos momentos do processo de produção, meios de subsistência para os trabalhadores, matéria-prima e instrumento; todos esses momentos resolvem-se em trabalho objetivado, só podem ser postos pelo trabalho vivo. O dinheiro, na medida em que já existe agora em si como capital, é por essa razão simples título sobre trabalho futuro (novo). Objetivamente, ele existe somente como dinheiro. O valor excedente, o aumento do trabalho objetivado, tanto quanto ele existe para si, é dinheiro; mas o dinheiro agora já é em si capital; enquanto tal, título sobre trabalho novo. Aqui, o capital já não entra mais em relação só com o trabalho existente; mas com o trabalho futuro. Ele também não aparece mais dissolvido em seus elementos simples no processo de produção, mas aparece nele como dinheiro; contudo, não mais como dinheiro, que é simplesmente a forma abstrata da riqueza universal, mas como título sobre a possibilidade real da riqueza universal – a capacidade de trabalho e, de maneira mais precisa, a capacidade de trabalho que vem-a-ser. Como tal título, a sua existência material como dinheiro é indiferente e pode ser substituída por qualquer título. Assim como o credor do Estado, cada capitalista possui em seu valor recém-obtido um título sobre trabalho futuro, e pela apropriação do trabalho presente já se apropriou ao mesmo tempo do trabalho futuro. (Desenvolver posteriormente esse aspecto do capital. Fica evidente aqui a sua qualidade de existir como valor separado de sua substância. Com isso, a base do crédito já está posta.) Por essa razão, o seu acúmulo na forma de dinheiro não é de modo algum acúmulo material das condições materiais do trabalho. Ao contrário, é acúmulo de títulos de propriedade sobre trabalho. Pôr do trabalho futuro como trabalho assalariado, como valor de uso do capital. Não há nenhum equivalente para o valor novo criado; a sua possibilidade [existe] exclusivamente em trabalho novo.
Nesse exemplo, portanto, pelo tempo de trabalho excedente absoluto – trabalhar 8 horas, em lugar de 4 – é criado um valor novo, de 20 táleres em dinheiro, e de dinheiro já como capital no que se refere à sua forma (já como possibilidade posta do capital, e não como antes, quando só devinha capital pelo fato de que deixava de ser dinheiro enquanto tal); dinheiro, portanto, adicionado aos antigos valores, ao mundo da riqueza já existente.
Caso a força produtiva duplique outra vez, de maneira que o trabalhador tenha de fornecer 2 horas de trabalho necessário, em lugar de 4, e o capitalista, consequentementei, continue fazendo-o trabalhar 8 horas como antes, o cálculo fica assim: 50 táleres de material, 20 de salário, 10 de instrumento de trabalho; 60 de valor excedente (6 horas, antes 4). Incremento do valor excedente absoluto: 2 horas ou 20 táleres. Soma: 140 táleres (no produto)[90].
Como antes, a soma é 140 táleres; destes, entretanto, 60 são mais-valor, dos quais 40, como antes, [são] para o aumento absoluto do tempo excedente, 20, para o aumento relativo. Todavia, no valor de troca simples só estão contidos os mesmos 140 táleres. Nesse caso, somente são aumentados os valores de uso ou é criado um novo valor? Há pouco, o capital tinha de recomeçar com 100 [táleres] para aumentar de novo 40% O que é feito dos 20 a mais de mais-valor? Antes, o capital devorava 20 e restavam-lhe 20 de valor. Agora, devora 20; restam-lhe 40. Por outro lado, há pouco restava o capital de 100 que ingressava na produção; agora, ele é 80. O que se ganhou em valor em uma determinação, por um lado, perdeu-se como valor na outra determinação, por outro. O primeiro capital ingressa de novo no processo de produção; produz novamente 20 [táleres] de mais-valor (deduzido seu consumo). Ao fim desta segunda operação, [tem-se] valor recém-criado para o qual não há equivalente. 20 táleres, juntamente com os primeiros 40. Tomemos agora o segundo capital.
50 [táleres] de material, 20 de salário (= 2 horas), 10 de instrumento de trabalho. Com as 2 horas, contudo, o trabalhador produz um valor de 8 horas, vale dizer, 80 táleres (dos quais 20 para os custos de produção). Restam 60, uma vez que 20 só reproduzem o salário (logo, desapareceram como salário). 60 + 60 = 120. Ao fim desta segunda operação, 20 táleres de consumo, restam 20 de valor excedente[91]; juntamente com os primeiros 60. Na terceira operação, no primeiro capital, 60, no segundo, 80. Na quarta [operação], no primeiro [capital], 80, no segundo, 100. O primeiro capital aumentou como valor na proporção em que diminuiu seu valor de troca como capital produtivo.
Suponha que ambos os capitais estejam em condições de ser utilizados, juntamente com o seu excedente, como capital; i.e., para o excedente poder ser trocado por novo trabalho vivo. Temos, então, o seguinte cálculo (abstraindo do consumo): o primeiro capital produz 40%; o segundo, 60%. 40% de 140 são 56; 60% de 140 (ou seja, 80 de capital e 60 de valor excedente) são 84. No primeiro caso, o produto total é de 140 + 56 = 196 [táleres]; no segundo, 140 + 84 = 224. No segundo caso, por conseguinte, o valor de troca absoluto é superior em 28 [táleres]. O primeiro capital dispõe de 40 táleres para comprar novo tempo de trabalho; supôs-se que o valor da hora trabalhada era de 10 táleres; logo, com 40 táleres ele compra 4 novas horas de trabalho, que lhe produzem 80 [táleres] (dos quais 40 repõem o salário) (ou seja, 8 horas de trabalho dadas). Ao final, ele era de 140 + 80 (ou seja, reprodução do capital de 100; mais-valor de 40, ou reprodução de 140; os primeiros 100 táleres reproduzem-se como 140; os 40 (uma vez que só são despendidos para a compra de novo trabalho e, portanto, simplesmente não substituem nenhum valor – aliás, um pressuposto impossível) produzem 80; 140 + 80 = 220). O segundo capital de 140; os 80 produzem 40; ou os 80 táleres se reproduzem como 120; os 60 remanescentes, porém, reproduzem-se (pois são gastos inteiramente para a compra de trabalho e, portanto, simplesmente não repõem nenhum valor, mas se reproduzem a partir de si mesmos e põem o excedente) como 180; logo, 120 + 120 = 240. (40 táleres produzidos a mais do que pelo primeiro capital, exatamente o tempo excedente de 2 horas, porque o primeiro é tempo excedente de 2 horas igualmente suposto no primeiro capital). Portanto, maior valor de troca como resultado, porque mais trabalho foi objetivado; mais 2 horas de trabalho excedente.
Aqui, é preciso observar ainda outra coisa: 140 táleres a 40% rendem 56; capital e juros juntos = 140 + 56 = 196; mas nós obtivemos 220; caso em que os juros dos 140 [táleres] não seriam 56, mas 84, o que seriam a 60% de 140 (140 : 84 = 100 : x; x = 8.400/140 = 60). Da mesma forma, no segundo caso: 140 [táleres] a 60% = 84; capital e juros = 140 + 84 = 224; mas nós obtivemos 240; caso em que os juros dos 140 não seriam 84, mas 100 (140 + 100 = 240); i.e., em porcentagem (140 : 100 = 100 : x; x = 10.000/140 [=]) 713/7. Agora, como isso se dá? (No primeiro caso, 60%, em lugar de 40[%]; no segundo, 713/7%, em lugar de 60%.) No primeiro caso, resulta 60%, em lugar de 40, portanto, 20% a mais; no segundo caso, 713/7%, em lugar de 60, portanto, 113/7% a mais. Por conseguinte, de onde vem, em primeiro lugar, a diferença em ambos os casos e, em segundo lugar, a diferença em cada caso?
No primeiro caso, o capital original de 100 [táleres] = 60 (material e instrumento de trabalho) e 40 de trabalho; 2/5 de trabalho, 3/5 de material. Os primeiros 3/5 não rendem quaisquer juros; os outros 2/5 rendem 100%. Todavia, calculado sobre todo o capital, este só aumentou 40%; 2/5 de 100 = 40. Mas os 100% sobre os 40 dão somente 40% sobre os 100 como um todo; ou seja, um aumento do total de 2/5. Agora, caso somente 2/5 do capital recém-acrescentado de 40 [táleres] tivesse aumentado 100%, isso daria um aumento do total de 16 : 40 + 16 = 56. Esses 56 [táleres] somados a 140 = 196; que, nesse caso, é efetivamente 40% sobre 156, capital e juros somados. 40 [táleres] aumentados 100%, dobrados, são 80; 2/5 de 40 aumentados 100% são 16. Dos 80 [táleres], 40 repõem o capital, 40 são o ganho.
O cálculo, portanto: 100 c + 40 juros + 40 c + 40 j = 220; ou o capital de 140 [táleres] com juros de 80; mas caso tivéssemos calculado: 100 c + 40 j + 40 c + 16 j = 196; ou o capital de 140 [táleres] com juros de 56.
Juros de 24 [táleres] calculados sobre 40 de capital são exagerados; mas 24 = 3/5 de 40 (3 × 8 = 24); i.e., do capital, só 2/5 aumentaram 100%; o capital total, portanto, só aumentou 2/5, i.e., 16 táleres. O cômputo dos juros em 24 táleres é muito elevado sobre 40 (de 100% sobre 3/5 do capital); 24 sobre 24 é 100% sobre 3 × 8 (3/5 de 40). Todavia, sobre a soma total de 140 [táleres] tem-se 60%, em lugar de 40; i.e., calculado sobre 40, 24 (3/5) é muito elevado; 24 sobre 40 é 60%. Portanto, calculado sobre o capital de 40, 60% é excessivo (60 = 3/5 de 100). Mas 24 calculados a mais sobre 140 (e essa é a diferença de 220 para 196) nada mais significa do que calcular 1/5 a mais de 100 e 1/12 de 100; 1/5 de 100 = 20%; 1/12 de 100 = 84/12% ou 81/3%; logo, no total, 281/3% a mais. Portanto, sobre o total não é 60% a mais, como sobre 40, mas apenas 281/3%. O que resulta em uma diferença de 312/3%, se calculamos 24 demais sobre 140 de capital. Do mesmo modo no outro exemplo[92].
Nos primeiros 80 [táleres], que produziram 120, 50 + 10 foram simplesmente repostos; mas 20 reproduziram o triplo de si mesmos, 60; (20 de reprodução, 40 de excedente).
[93]Não é preciso deter-se por mais tempo nesse cálculo extremamente entediantef. O cerne da questão é simplesmente o seguinte: se, como em nosso primeiro exemplo, material e instrumento totalizam 3/5 (60 de 100), e o salário, 2/5 (40), e se o capital rendia um lucro de 40%, ao fim ele é igual a 140 (esse 40% de lucro equivale ao fato de que o capitalista põe para trabalhar 12 horas com 6 horas de trabalho necessário, portanto, ganhou 100% sobre o tempo de trabalho necessário). Caso os 40 táleres ganhos trabalhem de novo como capital sob os mesmos pressupostos – e no ponto em que estamos os pressupostos ainda não se alteraram –, 3/5 dos 40 táleres, i.e., 24 táleres, têm de ser novamente usados em material e instrumento, e 2/5, em trabalho; de maneira que, também nesse caso, somente o salário de 16 táleres dobra, passa a 32, 16 para reprodução e 16 de trabalho excedente; |no totali, portanto, ao fim da produção, 40 + 16 = 56 ou 40%. Sob as mesmas circunstâncias, por conseguinte, o capital total de 140 [táleres] teria produzido 196. Não se deve supor, como sucede na maior parte das obras de Economia, que os 40 táleres são despendidos exclusivamente em salário, na compra de trabalho vivo, e por isso fornecem 80 táleres no final da produção.
Caso seja dito: um capital de 100 [táleres] rende 10% em uma determinada época, 5% em uma outra, nesse caso nada é mais falso do que concluir, como Carey e consortes, que, no primeiro caso, a participação do capital na produção é 1/10 e, portanto, a do trabalho, somente 9/10; que, no segundo caso, a participação do capital era somente 1/20 e, portanto, a do trabalho, 19/20; que, em consequência, como a taxa do lucro cai, a do trabalho sobe[94]. Do ponto de vista do capital, que de forma alguma tem consciência sobre a natureza do seu processo de valorização e só tem interesse em ter tal consciência nas crises, o lucro de 10% sobre um capital de 100 é considerado como o aumento de 10% de cada um dos componentes de valor do seu capital – material, instrumento, salário –; considera-se, portanto, que o capital, como soma de valor de 100 táleres, como essa quantidade de uma certa unidade de valores, aumentou 10%. Mas, na verdade, a questão é: 1) como se relacionaram entre si as partes constitutivas do capital e 2) quanto trabalho excedente ele adquiriu com o salário – com as horas de trabalho objetivadas no salário. Se eu conheço a soma total do capital, a relação de suas partes constitutivas entre si (na prática, eu teria de saber também a proporção do instrumento de produção gasta no processo de produção, ou seja, que efetivamente entra nele), e se eu conheço o lucro, sei quanto trabalho excedente foi criado. Se o capital era constituído de 3/5 de material (por comodidade, é pressuposto aqui que se converte por completo em material da produção, que é consumido por completo de maneira produtiva), ou seja, 60 táleres, e de 40 táleres de salário, e se o lucro dos 100 táleres é 10, o trabalho comprado com 40 táleres de tempo de trabalho objetivado criou 50 táleres de trabalho objetivado no processo de produção, portanto, trabalhou um tempo excedente ou criou um valor excedente de 25% = ¼ do tempo de trabalho necessário. Por conseguinte, caso trabalhe um dia de 12 horas, o trabalhador trabalhou 3 horas de tempo excedente, e seu tempo de trabalho necessário para mantê-lo vivo um dia foi de 9 horas de trabalho[95]. O valor novo criado na produção é de fato só de 10 táleres, mas estes 10 táleres, do ponto de vista da taxa efetiva, têm de ser calculados sobre os 40, não sobre os 100. Os 60 táleres de valor não criaram nenhum valor novo; ao contrário, foi a jornada de trabalho que o fez. O trabalhador, portanto, aumentou o capital trocado por capacidade de trabalho 25%, e não 10%. O capital total obteve um aumento de 10%. 10 é 25% de 40; é só 10% de 100. Por isso, a taxa de lucro do capital não expressa de maneira nenhuma a taxa em que o trabalho vivo aumenta o trabalho objetivado; pois esse aumento é somente = ao excedente com o qual o trabalhador reproduz o seu salário, i.e., = ao tempo que ele trabalha a mais do que teria de trabalhar para produzir o seu salário. Se, no exemplo acima, o trabalhador não fosse trabalhador do capitalista, e caso se relacionasse com os valores de uso contidos nos 100 táleres não como capital, mas simplesmente como condições objetivas do seu trabalho, ele possuiria, antes de reiniciar o processo de produção, 40 táleres em meios de subsistência, que consumiria no decorrer da jornada de trabalho; [e] 60 táleres em instrumento e material. Ele só trabalharia ¾ da jornada, 9 horas, ao fim da qual seu produto não seria de 110 táleres, mas de 100, que ele trocaria de novo nas proporções acima e recomeçaria constantemente o processo. Mas ele trabalharia também 3 horas a menos; i.e., pouparia 25% de trabalho excedente = 25% de valor excedente na troca que teria feito entre os 40 táleres de meios de subsistência e seu tempo de trabalho, e se um dia trabalhasse três horas a mais, por dispor de material, bem como de instrumento, não lhe ocorreria dizer que criou um novo ganho de 10%, mas de 25%; porque com ¼ a mais poderia comprar mais meios de subsistência; em lugar de 40 táleres, 50, e só os meios de subsistência teriam valor para ele, pois só se interessa pelo valor de uso.
Baseado na ilusão de que o novo lucro não é criado pela troca das 9 horas de trabalho objetivadas em 40 táleres por 12 horas de trabalho vivo, de que não é criado, portanto, um valor excedente de 25% sobre essa parte, mas de que o capital total aumenta uniformemente 10% (10% de 60 é 6, e 10% de 40 é 4), sobre tal ilusão se baseia o cálculo dos juros compostos[96] do mal-afamado dr. Price, que levou o divinoi Pitt à idiotice de seu |fundo de amortizaçãoi[97]. Por meio da identidade do ganho a mais com o tempo de trabalho excedente – absoluto e relativo – é posto um limite qualitativo para a acumulação do capital: a jornada de trabalho, o período em que a capacidade de trabalho do trabalhador pode estar ativa nas 24 horas – o grau do desenvolvimento da força produtiva –, e a população, que expressa o número de jornadas de trabalho simultâneas etc. Se, ao contrário, o ganho a mais é compreendido apenas como juros – i.e., como a relação pela qual o capital aumenta por intermédio de qualquer truquei imaginário –, o limite é somente quantitativo e, nesse caso, não se pode absolutamente entender por que o capital não incorpora todas as manhãs os juros a si mesmo e cria, assim, juros sobre seus juros em progressão geométrica infinita. Os economistas viram na prática a impossibilidade da teoria de Price sobre o aumento dos juros; sem jamais descobrir o disparatei nela contido.
Dos 110 táleres que resultam ao final da produção, 60 táleres (material e instrumento), visto que são valores, ficam absolutamente inalterados. O trabalhador não lhes tomou nada nem lhes adicionou nada. O fato de que o trabalhador, pelo |simples fato de seu trabalho ser trabalho vivoi, conserva grátis para o capital o trabalho objetivado aparece, porém, do ponto de vista do capitalista, de tal modo que o trabalhador teria de pagá-lo pela permissão que ele, capitalista, lhe dá de entrar como trabalho na relação adequada com seus momentos objetivados – com suas condições objetivas. No que se refere aos 50 táleres restantes, 40 deles representam não somente simples conservação, mas reprodução efetiva, uma vez que o capital os alienou na forma do salário e o trabalhador os consumiu; 10 táleres representam a produção para além da reprodução, a saber, ¼ de trabalho excedente (de 3 horas). O produto do processo de produção é exclusivamente esses 50 táleres. Por essa razão, se o trabalhador, como é erradamente afirmado, repartisse o produto com o capitalista de tal modo que este último recebesse 9/10, [o trabalhador] teria de receber não só 40 táleres (e ele os recebeu antecipadamente e, por isso, os reproduziu; na verdade, portanto, ele os restituiu inteiramente ao capital, e ainda conservou grátis para o capital o valor já existente), que são só 8/10; mas teria de receber 45 táleres, o que deixaria somente 5 para o capital. Em consequência, o capitalista teria, no final, só 65 táleres como produto do processo de produção que ele iniciara com 100 táleres. Mas o trabalhador nada recebe dos 40 táleres, tampouco dos 10 táleres de mais-valor. Se os 40 táleres reproduzidos devem ser interpretados de modo tal que são determinados a servir novamente como salário, portanto, a servir novamente ao capital para a aquisição do trabalho vivo, nesse caso, quando se trata de proporção, só se pode dizer que o trabalho objetivado de 9 horas (40 táleres) compra um trabalho vivo de 12 horas (50 táleres), e cria assim um mais-valor de 25% sobre o produto efetivo (em parte reproduzido como fundo salarial, em parte recém produzido como mais-valor) do processo de valorização.
Há pouco, o capital original era de 100 [táleres]:
Suponha agora que tivesse sido:
60 – 20 – 20. Seja o resultado 110 táleres; nesse caso, o economista vulgar e o capitalista mais vulgar ainda dizem que 10% foram produzidos de maneira uniforme por todas as partes do capital. 80 táleres de capital seriam de novo somente conservados; não teria havido nenhuma alteração de seu valor. Só os 20 táleres teriam se trocado por 30; portanto, o trabalho excedente teria aumentado 50%, e não 25%, como anteriormente.
Suponha um terceiro caso:
Logo, o valor inalterado [é] 90 [táleres]. O produto novo, 20; portanto, o mais-valor ou tempo de trabalho excedente, 100%. Temos aqui três casos em que o lucro sobre o capital total é sempre de 10 [táleres], mas, no primeiro caso, o valor novo sobre o trabalho objetivado despendido na compra de trabalho vivo é de 25%, no segundo, 50%, no terceiro: 100%.
O diabo que carregue esses malditos cálculos errados. Mas |não importai. |Comecemos de novof.
No primeiro caso tínhamos:
Supomos sempre a jornada de trabalho = 12 horas. (Poderíamos admitir também a jornada de trabalho crescente, por exemplo, que antes era só de x horas, mas agora é de x + b horas, e a força produtiva constante; ou [admitir] que ambos os fatores variam.)
O trabalho necessário do trabalhador totaliza, portanto, 93/5 horas (40 táleres); por isso, o trabalho excedente [é de] 22/5 horas (valor de 10 táleres). 22/5 horas é a quinta parte da jornada de trabalho. O trabalho excedente do trabalhador é 1/5 da jornada, portanto = ao valor de 10 táleres. Se agora considerarmos essas 22/5 horas como porcentagem que o capital ganhou sobre o tempo de trabalho objetivado nas 93/5 horas trocadas por trabalho vivo, temos: 22/5 : 93/5 = 12/5 : 48/5, i.e., = 12 : 48 = 1: 4. Portanto, ¼ do capital = 25%.
Resumamos o resultado geral:
(Poderia ser dito que o instrumento de trabalho, o seu valor, tem de ser reproduzido, e não somente reposto, uma vez que ele é de fato desgastado, consumido na produção. Aspecto a ser examinado quando tratarmos do capital fixo. Na verdade, o valor do instrumento transfere-se para o valor do material: ele só muda a forma, uma vez que é trabalho objetivado. Se, no exemplo acima, o valor do material era 50 [táleres] e o do instrumento, 10, agora que o instrumento foi desgastado em 5 [táleres], o valor do material é 55 e o do instrumento, 5; se o instrumento desapareceu por completo, o valor do material atinge 60. Esse é um elemento do processo de produção simples. O instrumento não foi consumido fora do processo de produção, como o salário.)
Vamos agora ao segundo pressuposto:
Se o trabalhador produz 30 táleres em 12 horas, produz 22/4 táleres por hora, 20 táleres em 8 horas, e 10 táleres em 4 horas. 10 táleres são 50% de 20 táleres; assim como 4 horas são 50% de 8 horas; o valor excedente = 4 horas, 1/3 da jornada ou 10 táleres de valor excedente.
Portanto:
No primeiro caso, assim como no segundo, o lucro sobre o capital total de 100 [táleres] é = 10%, mas, no primeiro caso, o mais-valor efetivo que o capital obtém no processo de produção é de 25%, no segundo, de 50%.
Os pressupostos no no II são em si tão factíveis quanto no no I. Porém, quando relacionados um ao outro, os pressupostos no no II parecem absurdos. Material e instrumento foram elevados de 60 para 80, a produtividade do trabalho caiu de 41/6 táleres por hora para 2¾, e o mais-valor aumentou 100%. (Mas supondo que a despesa adicional em salário exprime, no primeiro caso, mais jornadas de trabalho e, no segundo caso, menos, o pressuposto está correto.) Seria em si indiferente o fato de que caiu o salário necessário, vale dizer, o valor do trabalho expresso em táleres. Seja expresso o valor de 1 hora de trabalho em 2 ou 4 táleres, tanto no primeiro quanto no segundo caso o produto de 12 horas de trabalho é trocado (na circulação) por 12 horas de trabalho, e em ambos os casos o trabalho excedente aparece como mais-valor. A absurdidade do pressuposto resulta do fato de que 1) nós estabelecemos o máximo do tempo de trabalho como 12 horas; portanto, não podemos introduzir mais ou menos jornadas de trabalho; 2) quanto mais fazemos crescer o capital de um lado, tanto mais não só fazemos diminuir o tempo de trabalho necessário, mas temos de reduzir seu valor; quando o valor é o mesmo. No segundo caso, ao contrário, o preço teria de subir. O fato de que o trabalhador pode viver com menos trabalho, i.e., que produz mais nas mesmas horas, teria de se evidenciar não na redução dos táleres por hora de trabalho necessário, mas no número das horas de trabalho necessário. Se o trabalhador recebe, p. ex., 41/6 táleres, como no primeiro exemplo, mas o valor de uso desse valor, que tem de ser constante para exprimir valor (não preço), tivesse se multiplicado de tal forma que o trabalhador não precisasse mais, como no primeiro caso, de 93/5 horas para a produção de sua capacidade de trabalho viva, mas só de 4 horas, isso teria de se expressar no excedente de valor. No entanto, conforme as condições que estabelecemos, temos aqui variável o “valor inalterado”, e inalterados os 10% que aqui são constantes como adição ao trabalho reprodutivo, muito embora eles expressem diferentes percentuais dele. No primeiro caso, temos o valor inalterado menor do que no segundo caso, [e] o produto total do trabalho, maior; porque, quando uma parte constitutiva de 100 é menor, a outra tem de ser maior; e porque, ao mesmo tempo, a fixidez do tempo de trabalho absoluto é a mesma; como, além disso, o produto total do trabalho diminui na proporção em que o “valor inalterado” aumenta, e aumenta na proporção em que este diminui, obtemos para o mesmo tempo de trabalho menos produto (absoluto) do trabalho na mesma proporção em que é utilizado mais capital. Isso seria inteiramente correto, porque, quando de uma dada soma, tal como 100, é despendido mais em “valor inalterado”, menos pode ser despendido em tempo de trabalho e, por essa razão, relativamente ao capital despendido, menos valor novo pode ser criado; nesse caso, entretanto, o tempo de trabalho não deve ser fixado como aqui, ou, se é fixado, o valor da hora de trabalho não pode ficar menor como aqui, o que é impossível se aumentam o “valor inalterado” e o mais-valor; o número de horas trabalhadas teria de diminuir. Mas isso é pressuposto em nosso exemplo. Supomos no primeiro caso que em 12 horas de trabalho são produzidos 50 táleres; no segundo, só 30 táleres. No primeiro, fazemos o trabalhador trabalhar 93/5 horas; no segundo, só 6 horas, muito embora ele produza menos por hora. |É absurdof.
Todavia, concebido de forma diferente, não há algo correto nesses números? O valor novo absoluto não diminui, embora o relativo aumente, tão logo entra mais material e instrumento proporcionalmente ao trabalho nas partes constitutivas do capital? Em relação a um capital dado, é utilizado menos trabalho vivo; em consequência, mesmo se o excedente desse trabalho vivo acima de seus custos é maior, e, por isso, amplia-se justamente a porcentagem em relação ao salário, i.e., a porcentagem em relação ao capital efetivamente consumido, o valor novo absoluto não fica por necessidade relativamente menor do que no capital que utiliza menos material de trabalho e instrumento (esse é decerto o aspecto principal na alteração do valor inalterado, i.e., do valor inalterado como valor pelo processo de produção) e mais trabalho vivo; justo porque é utilizado relativamente mais trabalho vivo? O aumento da força produtiva corresponde então ao aumento do instrumento de trabalho, porque o seu mais-valor não guarda nenhuma relação com seu valor de uso, com sua força produtiva, da mesma maneira que no modo de produção anterior, e o simples aumento da força produtiva cria mais-valor, muito embora de forma alguma na mesma proporção numérica. O aumento da força produtiva que tem de se expressar no aumento do valor do instrumento – do lugar que ocupa nos gastos do capital – traz necessariamente consigo o aumento do material, porque mais material tem de ser elaborado de modo que possa ser produzido mais produto. (Mas o aumento da força produtiva também se refere à qualidade; de fato, refere-se exclusivamente à quantidade para um dado produto de qualidade determinada; refere-se exclusivamente à qualidade para uma determinada quantidade dada; pode referir-se a ambas.) Embora haja agora menos trabalho (necessário) proporcionalmente ao trabalho excedente, menos trabalho do que em geral é necessário, menos trabalho vivo em geral em relação ao capital, o seu mais-valor não pode aumentar, embora ele diminua proporcionalmente ao capital total, portanto, embora a assim chamada taxa de lucro diminua? Suponha, por exemplo, um capital de 100 [táleres]. Seja o material originalmente de 30. Instrumento, 30. (No total, 60 de valor invariável.) Salário, 40 (4 jornadas de trabalho). Lucro, 10. Nesse caso, o lucro é um valor novo de 25% sobre o trabalho objetivado no salário, e de 10% em relação ao capital. Suponha agora que o material passa a 40 [táleres] e o instrumento, a 40. A produtividade dobra, de modo que são necessárias somente 2 jornadas de trabalho = 20 [táleres]. Suponha agora que o lucro absoluto é menor que 10 [táleres]; i.e., o lucro sobre o capital total. O lucro sobre o trabalho empregado não pode ser maior que 25%, i.e., não pode ser, no caso em questão, mais que a quarta parte de 20? |Na verdadei, a terça parte de 20 é 62/3; portanto, menos que 10, mas é 331/3 sobre o trabalho utilizado, ao passo que, no caso anterior, era só 25%. No final, temos aqui somente 1062/3, ao passo que, antes, tínhamos 110, e, apesar disso, com a mesma soma (100), o trabalho excedente, o ganho adicional, é maior em relação ao trabalho utilizado que no primeiro caso; mas como é utilizado, em termos absolutos, menos 50% de trabalho, ao passo que o lucro maior sobre o trabalho utilizado é só 81/3 a mais que no primeiro caso, o resultado absoluto tem de ser menor, e, por conseguinte, também o lucro sobre o capital total. Pois 20 × 331/3 é menor que 40 × 25. Esse caso como um todo é improvável e não vale como exemplo geral na Economia; pois aqui são pressupostos o aumento do instrumento de trabalho e o aumento [do] material elaborado, apesar do número de trabalhadores ter diminuído não só em termos relativos, mas também absolutos. (Naturalmente, se dois fatores = a um terceiro, um tem de diminuir quando o outro aumenta.) Mas aumento em valor do instrumento de trabalho, em sua participação no capital, e aumento em valor do material de trabalho com redução relativa do trabalho pressupõem em geral divisão do trabalho, e, por conseguinte, aumento dos trabalhadores, pelo menos em termos absolutos, embora não proporcionalmente à grandeza do capital utilizado. Todavia, suponha, p. ex., no caso da máquina litográfica, que qualquer um pode usar para tirar cópias de litografias, que o valor do instrumento primeiro inventado fosse maior que o valor antes empregado por 4 trabalhadores, antes que estas coisas práticas fossem inventadas; suponha que ela necessite somente 2 trabalhadores (aqui, como no caso de muitas máquinas que são um tipo de instrumento, não se trata de forma alguma de uma divisão do trabalho mais extensa, mas, ao contrário, que a divisão qualitativa desaparece); suponha que originalmente instrumentos tivessem só um valor de 30 [táleres], mas que o trabalho necessário (i.e., necessário para o capitalista obter lucro) fosse de 4 jornadas de trabalho. (Há máquinas, p. ex., a tubulação de aquecimento a ar, em que o trabalho enquanto tal desaparece inteiramente, exceto em um ponto; a tubulação é aberta em um ponto; para alimentar a tubulação restante não é necessário nenhum trabalhador. Em geral, esse é o caso (veja Babbage) dos transmissores de energia[98], em que a energia antes [era transmitida] em forma material de um lugar a outro por tantos trabalhadores, há pouco, por foguistas – a transmissão de um espaço a outro, que agora se tornou processo físico, aparecia como o trabalho de tantos e quantos trabalhadores.) Se o litógrafo usa essa máquina como fonte de lucro, como capital, não como valor de uso, o material aumenta necessariamente, porque ele pode reproduzir mais litografias no mesmo tempo, e justamente daí vem seu lucro. Esse litógrafo usaria, portanto, instrumento de 40 [táleres], material de 40, 2 jornadas de trabalho (20), que lhe rendem 331/3%, i.e., 62/3 sobre 20 de tempo de trabalho objetivado, de modo que seu capital, [que,] como o do outro, consiste de 100 [táleres], rende-lhe só 62/3%, mas ele ganha 331/3% sobre o trabalho utilizado; o outro ganha 10[%] sobre o capital, mas 25% sobre o trabalho utilizado. O valor obtido sobre o trabalho utilizado pode ser menor, mas os lucros sobre todo o capital total são maiores quando os demais componentes do capital são proporcionalmente menores. Não obstante, o negócio com os 62/3% sobre o capital total e 331/3% sobre o trabalho utilizado poderia vir a ser mais lucrativo do que o originalmente baseado em 25% do trabalho e 10% de lucro sobre o capital total. Suponha, p. ex., que os cereais etc. aumentaram tanto que a subsistência do trabalhador aumentou 25% em valor. As 4 jornadas de trabalho custariam agora ao primeiro litógrafo 50 [táleres], em lugar de 40. Seus instrumentos e material continuariam os mesmos: 60 táleres. Consequentemente, ele teria de desembolsar um capital de 110 [táleres]. Com um capital de 110, seu lucro sobre os 50 táleres por quatro jornadas de trabalho seria de 12 (25%)[99]. Logo, 12 táleres sobre 110 (i.e., 91/6% sobre o capital total de 110). O outro litógrafo: máquina, 40; material, 40; mas as duas jornadas de trabalho, em lugar de 20, lhe custariam 25% a mais, i.e., 25. Portanto, ele teria de desembolsar 105 [táleres]; seu mais-valor sobre o trabalho seria de 331/3%, i.e., 1/3, logo, 81/3. Desse modo, sobre 105 ele ganharia 81/3; 131/8%. Suponha, então, em um ciclo de 10 anos, 5 outonos ruins e 5 bons nas proporções médiasi acima; nesse caso, nos 5 anos iniciais, o primeiro litógrafo teria ganho 50 táleres de juros, em comparação ao segundo; nos outros 5 anos, 455/6 táleres; no total, 955/6 táleres; juros médiosi nos 10 anos, 97/12 táleres. O outro capitalista teria ganho, nos primeiros 5 anos, 311/3 táleres; nos outros 5 anos, 655/8; no total, 9623/24 táleres; a médiai nos 10 anos, 987/120. Como o No II processa mais material ao mesmo preço, ele o fornece mais barato. Seria possível replicar que ele fornece mais caro porque desgasta mais instrumento; sobretudo porque a proporção em que gasta mais do valor da máquina é a mesma em que usa mais material; contudo, na prática, não é verdade que as máquinas se desgastam na mesma medida, i.e., que têm de ser substituídas no mesmo período em que processam mais material. Todavia, nada disso vem ao caso nesse ponto. Seja constante a proporção entre os valores da máquina e do material nos dois casos supostos.
O exemplo só adquire importância se supomos um capital menor, que emprega mais trabalho e menos material e maquinaria, mas que ganha uma porcentagem maior sobre o capital total; e um capital maior, que emprega mais maquinaria, mais material e proporcionalmente menos jornadas de trabalho, mas a mesma quantidade em termos absolutos, e que ganha um percentual menor sobre o total, porque menor o trabalho, que é mais produtivo porque utilizou a divisão do trabalho etc. Tem-se de admitir, nesse caso, que o valor de uso da máquina (o que não estava suposto acima) é consideravelmente maior que o seu valor; i.e., que sua desvalorização a serviço da produção não é proporcional ao seu aumento da produção.
Portanto, como anteriormente, uma prensa (em um caso, máquina impressora, mas manual; no segundo, máquina de imprimir automáticai).
O capital I, de 100 [táleres], utiliza 30 de material; 30 de prensa manual; de trabalho, 4 jornadas de trabalho = 40 táleres; ganho de 10%; logo, 25% sobre o trabalho vivo (¼ de tempo excedente).
O capital II, de 200 [táleres], utiliza 100 de material, 60 de prensa, 4 jornadas de trabalho = 40 táleres; lucro sobre as 4 jornadas de trabalho de 131/3 táleres: 1 jornada de trabalho e 1/3, ao passo que, no caso 1, só 1 jornada de trabalho. Soma total: 4131/3 táleres. Vale dizer, 31/3%[100], ao passo que, no primeiro caso, era de 10%. Todavia, nesse segundo caso, o mais-valor sobre o trabalho utilizado é de 131/3, no primeiro, somente 10; no primeiro, 4 jornadas em 4 dias criam 1 jornada de trabalho excedente; no segundo, 4 [jornadas] criam uma jornada e 1/3 de excedente. Mas a taxa de lucro sobre o capital total é inferior em 1/3 ou 331/3% ao primeiro; a soma total de lucro é 1/3 maior. Admitamos agora que os 30 [táleres] e os 100 de material sejam papel de impressão; [e] que o instrumento se desgasta no mesmo período, em 10 anos ou 1/10 por ano. Assim, o no I tem de repor 1/10 de 30 [táleres] de instrumento, i.e., 3; o no II, 1/10 de 60, i.e., 6. Em ambos os casos, o instrumento não entra mais que essa proporção na produção anual (as 4 jornadas de trabalho podem ser encaradas como jornadas de 3 meses) acima considerada.
O capital I vende 30 folhas impressas por 30 [táleres] de material + 3 de instrumento + 50 (tempo de trabalho objetivado[101]) = 83.
O capital II vende 100 folhas impressas por 100 [táleres] de material + 6 de instrumento + 531/3 = 1591/3.
O capital I vende 30 folhas impressas por 83 táleres; 1 folha impressa por 83/30 táleres = 2 táleres e 23 Silbergroschen[l].
O capital II vende 100 folhas impressas por 159 táleres e 10 Silbergroschen; 1 folha impressa por 159 táleres e 10 Silbergroschen/100; i.e., por 1 táler, 9 Silbergroschen e 10 Pfennig.
É claro, portanto, que o capital I está fodido, porque vende infinitamente mais caro. Agora, embora no primeiro caso o lucro sobre o capital total tenha sido 10% e no segundo, só 62/3%, o primeiro capital recebeu somente 25% sobre o tempo de trabalho, ao passo que o segundo recebeu 331/3. No capital I, é maior a proporção do trabalho necessário no capital total utilizado e, por isso, o trabalho excedente, apesar de menor em termos absolutos que no capital II, aparece como taxa de lucro maior sobre o capital total menor. 4 jornadas de trabalho em 60 [táleres] é mais do que 4 em 160; no primeiro, tem-se 1 jornada de trabalho por um capital existente de 15; no segundo, 1 jornada por 40. Mas no segundo capital o trabalho é mais produtivo (o que é posto tanto pela maior quantidade de maquinaria; daí também o espaço maior que ocupa dentre os valores do capital; quanto pelo maior material em que se expressa a jornada de trabalho que trabalha mais tempo excedente e, em consequência, processa mais material no mesmo tempo). Cria mais tempo excedente (tempo excedente relativo, portanto, condicionado pelo desenvolvimento da força produtiva). No primeiro caso, o tempo de trabalho excedente é ¼, no segundo, 1/3. Por conseguinte, cria no mesmo tempo mais valores de uso, bem como um maior valor de troca; este último, entretanto, não na mesma proporção que o primeiro, porque, como vimos[102], o valor de troca não cresce na mesma proporção numérica que a produtividade do trabalho. Por isso, o preço fracionário é menor que o preço total da produção – i.e., o preço fracionário multiplicado pelo quantum dos preços fracionários produzidos é maior. Agora, se tivéssemos suposto uma soma total das jornadas de trabalho maior em termos absolutos que no no I, embora relativamente menor, a coisa seria ainda mais surpreendente. O lucro do capital maior, o capital que trabalha com mais maquinaria, parece, por isso, inferior ao lucro do capital menor, o capital que trabalha relativa ou absolutamente com mais trabalho vivo, e precisamente porque o lucro maior sobre o trabalho vivo parece menor quando dividido por um capital total em que o trabalho vivo utilizado é uma fração muito pequena do total, parece inferior ao menor lucro sobre o trabalho vivo, lucro cuja proporção é maior em um capital total menor. Mas o fato de que a proporção em no II é tal que mais material pode ser processado e maior parte do valor é aplicada em instrumento de trabalho, é simplesmente a expressão da produtividade do trabalho.
Essa é, portanto, a famosa questão central do infeliz Bastiat[103], que tinha se convencido firmemente – sobre isso, o senhor Proudhon não soube como lhe responder – de que porque a taxa de lucro sobre o capital total maior e mais produtivo aparece menor, a parte do trabalhador ficou maior, precisamente quando, ao contrário, seu tempo de trabalho excedente ficou maior.
Ricardo parece também não ter entendido a coisa, pois, |do contrárioi, ele não teria explicado a periódica queda do lucro simplesmente pelo aumento dos salários provocado pela elevação dos preços dos cereais (e, com isso, da renda). Mas, |na verdadef, o mais-valor – na medida em que ele é de fato o fundamento do lucro, mas também é diferente daquilo que é comumentei chamado de lucro – jamais foi desenvolvido. O infeliz Bastiat teria dito, nesse caso, que, como no primeiro exemplo o lucro é 10% (i.e. 1/10) e no segundo, só 31/3%, i.e., 1/33 (deixemos de lado a porcentagem)[104], o trabalhador recebe 9/10 no primeiro caso e 32/33 no segundo. A proporção não é correta em nenhum dos dois casosi, tampouco a sua relação recíproca[105].
No que diz respeito agora à outra relação do valor novo do capital com o capital como valor total indiferente (assim o capital se apresentava para nós antes que fôssemos para o processo de produção, e é assim que ele tem de se apresentar no final do processo de produção), ela deve ser desenvolvida em parte sob a rubrica lucro, na qual o novo valor ganha uma nova determinação, em parte sob a rubrica acumulação. Nesse ponto, trata-se sobretudo de desenvolver a natureza do mais-valor como equivalente do tempo de trabalho, absoluto ou relativo, posto em ação pelo capital para além do tempo de trabalho necessário.
O fato de que, no ato de produção, o consumo da parte constitutiva do valor que consiste de instrumento não pode de forma alguma distinguir o instrumento de produção do material – aqui, onde ainda só se trata de explicar o pôr do mais-valor, a autovalorização –, resulta simplesmente de que esse consumo pertence ao próprio processo de produção simples, e, portanto, mesmo neste último – para que ele tenha a capacidade de recomeçar a partir de si mesmo – o valor do instrumento consumido (seja do próprio valor de uso simples, seja do valor de troca, se a produção passou à divisão do trabalho e pelo menos o excedente é trocado) tem de se encontrar de novo no valor (valor de uso ou valor de troca) do produto. O instrumento perde seu valor de uso na mesma medida em que ajuda a elevar o valor de troca da matéria-prima e serve como meio do trabalho. Esse ponto realmentei tem de ser investigado, porque é de fundamental importância a diferenciação entre o valor invariável como uma parte do capital que fica conservada, o outro que é reproduzido (reproduzido para o capital; do ponto de vista da produção efetiva, do trabalho, produzido) e o valor novo que é produzido.
|Agora é hora dei |acabar com a questão referente ao valor resultante do crescimento das forças produtivasf. Vimos[106]: um mais-valor (não só um maior valor de uso) é criado, como no caso do aumento absoluto do trabalho excedente. Se é dado um determinado limite, digamos, p. ex., que o trabalhador só precisa de meio dia para produzir os seus alimentos para um dia inteiro – caso seja atingido o limite natural em que o trabalhador fornece trabalho excedente com um dado quantum de trabalho, um aumento do tempo de trabalho absoluto só é possível se mais trabalhadores são empregados simultaneamente, se a jornada de trabalho efetiva se multiplica simultaneamentei, em lugar de ser apenas prolongada (o trabalhador individual, de acordo com o pressuposto, só pode trabalhar 12 horas; caso deva ser obtido o tempo excedente de 24 horas, têm de ser colocados 2 trabalhadores). Nesse caso, antes de entrar no processo de autovalorização, o capital tem de comprar 6 horas de trabalho a mais na troca com o trabalhador, portanto tem de ceder uma parte maior de si mesmo; por outro lado, tem de despender, em média, mais em material a ser processado (abstraindo do fato de que o trabalhador excedente tem de estar disponível, i.e., que a população trabalhadora tem de ter aumentado). Portanto, a possibilidade da continuação do processo de valorização, nesse caso, depende de uma prévia acumulação do capital (considerada sob a ótica de sua existência material). Se, ao contrário, cresce a força produtiva e, por conseguinte, o tempo excedente relativo – do presente ponto de vista ainda é possível considerar que o capital é produtor direto de alimentos, matéria-prima etc., é necessária uma despesa menor para salário e o crescimento em material é criado pelo próprio processo de valorização. Mas essa questão se refere mais propriamentei à acumulação dos capitais.
Voltemos agora ao ponto há pouco interrompido[107]. A produtividade crescente aumenta o valor excedente, ainda que não aumente a soma absoluta dos valores de troca. Ela aumenta os valores porque cria um novo valor como valor, i.e., cria um valor que não deve ser simplesmente trocado como equivalente, mas deve se afirmar; em uma palavra, mais dinheiro. A questão é: a produtividade crescente também aumenta, enfim, a soma dos valores de troca? |No fundof, isso é admitido, já que Ricardo[108] também admite que, com a acumulação dos capitais, crescem as poupanças e, consequentementei, os valores de troca que são produzidos. O crescimento das poupanças nada mais significa que o crescimento de valores autônomos – do dinheiro. Mas a demonstração de Ricardo contradiz a sua própria afirmação.
Nosso velho exemplo[109]. 100 táleres de capital; 60 táleres de valor inalterado; 40 de salário; produz 80; logo, produto = 140 [táleres].
{Novamente, fica patente aqui que o valor excedente sobre a totalidade do capital é = à metade do novo valor produzido, porque uma metade deste valor = ao trabalho necessário. A proporção desse valor excedente, que é sempre igual ao tempo excedente, portanto = ao produto total do trabalhador – a parte que compõe o seu salário, depende 1) da proporção entre a parte inalterada do capital e a produtiva; 2) da proporção entre o tempo de trabalho necessário e o tempo excedente. No caso anterior, a proporção do tempo excedente ao necessário é 100%; perfaz 40% do capital de 100 [táleres]; por conseguinte, 3) depende não só da proporção indicada em 2), mas da grandeza absoluta do tempo de trabalho necessário. Se a parte inalterada do capital de 100 [táleres] fosse 80, a parte trocada pelo trabalho necessário seria = 20, e se esse trabalho necessário criasse 100% de tempo excedente, o lucro do capital seria de 20%. Mas se o capital fosse 200 [táleres], com a mesma proporção entre parte constante e variável[110] (a saber, 3/5 por 2/5), a soma seria 280, o que corresponde a 40 por 100. Nesse caso, a quantidade absoluta do lucro cresceria de 40 [táleres] para 80, mas a proporção permaneceria 40%. Se, ao contrário, os 200 tivessem novamente, digamos, o elemento constante de 120, o quantum do trabalho necessário de 80, mas este último aumentasse só 10%, logo, em 8 [táleres], a soma total seria = 208 [táleres], portanto, lucro de 4%; se ele aumentasse só 5%, o total da soma seria 205; portanto, 2½%.}
Seja esse valor excedente de 40 [táleres] o tempo de trabalho absoluto.
Suponha que a produtividade duplica: se 40 [de salário] fornecem 8 horas de trabalho necessário, o trabalhador pode agora produzir em 4 horas um dia inteiro de trabalho vivo[111]. O tempo excedente cresceria então em 1/3 (antes, 2/3 de um dia para produzir um dia inteiro, agora, 1/3 de um dia). Do produto da jornada de trabalho, 2/3 seriam mais-valor, e, se a hora de trabalho necessária fosse = 5 táleres (5 × 8 = 40), ele [o trabalhador] só precisaria agora de 5 × 4 = 20 táleres. Caberia ao capital, portanto, um ganho excedente de 20 [táleres], a saber, 60 em lugar de 40. No final, 140 [táleres], dos quais 60 = ao valor constante, 20 = ao salário e 60 = ao ganho excedente. Com 80 táleres de capital, o capitalista pode começar a produção de novo.
Suponha que o capitalista A, no mesmo nível da antiga produção, aplica o seu capital de 140 [táleres] em uma nova produção. De acordo com a proporção inicial, ele precisa de 3/5 para a parte invariável do capital, logo, 3 × 140/5 = 3 × 28 = 84, restando 56 para o trabalho necessário. Antes ele aplicava 40 para o trabalho, agora, 56; 2/5 de 40 a mais. Logo, o seu capital no final = 84 + 56 + 56 = 196 [táleres].
Suponha que o capitalista B, no nível da produção aumentada, aplica igualmente os 140 táleres para uma nova produção. Se ele precisa, de um capital de 80, de 60 como valor invariável e de apenas 20 para o trabalho, então, de [um capital de] 60, precisa de 45 para o valor invariável e de 15 para o trabalho; logo, a soma seria = 60 + 20 + 20 = 100 e, segundo, 45 + 15 + 15 = 75. Por conseguinte, o seu resultado total seria 175 [táleres][112], ao passo que o do primeiro capitalista seria = 196. O aumento da produtividade do trabalho nada mais significa que o mesmo capital cria o mesmo valor com menos trabalho, ou que o trabalho menor cria o mesmo produto com um capital maior. Menos trabalho necessário produz mais excedente de trabalho. E o trabalho necessário ser menor em relação ao capital, para o seu processo de valorização, é evidentemente a mesma coisa de o capital ser proporcionalmente maior do que o trabalho necessário que ele põe em movimento; pois o mesmo capital põe mais trabalho excedente em movimento, logo, menos trabalho necessário.
{Se é pressuposto, como em nosso caso, que o capital permanece o mesmo, i.e., que ambos recomeçam com 140 táleres, no mais produtivo tem de caber uma parte maior ao capital (a saber, à sua parte invariável), no mais improdutivo, uma parte maior ao trabalho. Por isso, o primeiro capital de 140 põe em movimento um trabalho necessário de 56, e este trabalho necessário supõe para seu processo uma parte invariável do capital de 84. O segundo põe em movimento um trabalho de 20 + 15 = 35 e um capital invariável de 60 + 45 = 105 (e, do que foi desenvolvido antes, segue-se também que o aumento da produtividade não aumenta o valor à mesma medida que ela aumenta a si mesma).}
{No primeiro caso, como já exposto anteriormente[113], o valor novo absoluto é maior que no segundo, porque a massa do trabalho aplicado é maior em relação ao capital invariável; ao passo que, no segundo caso, essa massa é menor, exatamente porque o trabalho é mais produtivo. Somente 1) a diferença no valor novo, que no primeiro caso era só de 40 [táleres], no segundo, de 60, impede que o primeiro capitalista possa recomeçar a produção com o mesmo capital, como no segundo caso; pois uma parte do valor novo, de ambos os lados, tem de entrar na circulação como equivalente para que o capitalista viva, e viva precisamente do capital. Se ambos consomem 20 táleres, o primeiro começa o novo trabalho com um capital de 120, o outro também com 120 etc. Ver acima[114]. Retornar mais uma vez a tudo isso; mas a questão de como o valor novo criado pela maior força produtiva se relaciona ao valor novo criado pelo trabalho aumentado em termos absolutos pertence ao capítulo da acumulação e do lucro.}
Por essa razão, também se diz da maquinaria que ela economiza trabalho; todavia, a simples economia do trabalho não é, como Lauderdale observou corretamente, o realmente característico; porque, com a ajuda da maquinaria, o trabalho humano faz e cria coisas que absolutamente não poderia criar sem ela[115]. O último aspecto se refere ao valor de uso da maquinaria. A economia do trabalho necessário e a criação do trabalho excedente são o característico. A maior produtividade do trabalho se expressa no fato de que o capital tem de comprar menos trabalho necessário para criar o mesmo valor e maiores quanta de valores de uso, ou de que um trabalho necessário menor cria o mesmo valor de troca, valoriza mais material e uma massa maior de valores de uso. Por conseguinte, o crescimento da força produtiva supõe, se o valor total do capital permanece o mesmo, que a sua parte constante (consistindo de material e máquinas) cresce em relação à variável, i.e., em relação à parte do capital que se troca com o trabalho vivo, e que forma o fundo do salário. O que se apresenta ao mesmo tempo como uma menor quantidade de trabalho que põe em movimento um maior quantum de capital. Se cresce o valor total do capital que entra no processo de produção, o fundo do trabalho (essa parte variável do capital) tem de diminuir relativamente, comparado à proporção que existiria caso a produtividade do trabalho, ou seja, a relação do trabalho necessário com o trabalho excedente, tivesse permanecido a mesma.
Admita que no caso anterior o capital de 100 [táleres] tivesse sido capital agrícola. 40 táleres de sementes, adubo etc., 20 táleres de instrumento de trabalho e 40 táleres de trabalho assalariado no antigo nível da produção. (Suponha que esses 40 táleres = 4 dias de trabalho necessário.) Estes criam a soma de 140 no antigo nível da produção. Suponha que a fertilidade dobre, seja pelo aperfeiçoamento do instrumento, seja por melhores fertilizantes etc. Nesse caso, o produto tem de ser = 140 táleres (supondo que o instrumento se desgaste totalmente). Admita que a fertilidade duplique, de maneira que o preço da jornada de trabalho necessário caia pela metade; ou que só 4 meias jornadas de trabalho necessário (i.e., 2 inteiras) sejam requeridas para produzir 8. 2 jornadas de trabalho para produzir 8 é o mesmo que ¼ (3 horas) de trabalho necessário para cada jornada de trabalho. Em lugar de 40 táleres, o arrendatário agora teria de gastar tão somente 20 pelo trabalho[116]. No final do processo, portanto, as partes constitutivas do capital se modificaram; dos 40 originais de sementes etc., que têm agora um valor de uso duplicado; 20 de instrumento de trabalho e 20 de trabalho (2 jornadas de trabalho inteiras). Antes, a relação da parte constante do capital para com a variável = 60:40 = 3:2; agora, = 80:20 ou = 4:1; se consideramos o capital como um todo, a proporção do trabalho necessário era = 2/5; agora, 1/5[m]. Se o arrendatário pretendesse agora continuar a empregar o trabalho na relação anterior, em quanto teria de crescer o seu capital? Ou, para evitarmos o pressuposto malicioso de que ele continuou a trabalhar com 60 [táleres] de capital constante e 40 de fundo de trabalho – depois de ter ocorrido a duplicação da força produtiva, com o que se introduzem falsas proporções {embora isso seja de todo correto, p. ex., no caso do arrendatário, quando as estaçõesi duplicaram em fertilidade, como é correto para cada industrial, se a força produtiva duplica, não em seu ramo de atividade, mas nos ramos utilizados por ele; se, p. ex., a lã crua custasse 50% menos, bem como os cereais (logo, o salário) e, finalmente, o instrumento, ele continuaria a adiantar, como antes, primeiro 40 táleres em lã crua, mas com o dobro do quantum, 20 em maquinaria, 40 em trabalho}; porque com isso supõe-se, na verdade, que, apesar da força produtiva duplicada, o capital continuou a trabalhar de acordo com as mesmas partes constitutivas, a utilizar a mesma quantidade de trabalho necessário sem despender mais em matéria-prima e instrumento de trabalho {suponha que só o algodão duplique em força produtiva, a máquina permanecendo igual, assim – isso deverá ser mais bem analisado}; portanto, duplicada a força produtiva, se antes ele precisava despender 40 táleres para trabalho, agora só precisa de 20 táleres.
(Se é suposto que foram necessários 4 dias de trabalho inteiros – cada = 10 táleres – para criar para ele um excedente de 4 jornadas de trabalho inteiras, e que esse excedente lhe é proporcionado pela transformação de 40 táleres de algodão em fio, agora ele só precisa de 2 jornadas de trabalho inteiras para criar o mesmo valor – a saber, 8 jornadas de trabalho; o valor do fio expressava antes o tempo excedente de 4 jornadas de trabalho, agora expressa de 6. Em outras palavras, cada um dos trabalhadores precisava antes de 6 horas de tempo de trabalho necessário para criar 12 [horas]; agora precisa de 3. O tempo de trabalho necessário totalizava 12 × 4 = 48 [horas] ou 4 jornadas. Em cada uma dessas jornadas o tempo excedente = ½ jornada (6 horas). Ele [o tempo de trabalho necessário] totaliza agora só 12 × 2 = 24 [horas] ou 2 jornadas; 3 horas [por jornada]. Para produzir o valor excedente, cada um dos 4 trabalhadores tinha de trabalhar 6 × 2 horas; i.e., 1 jornada; agora ele precisa trabalhar tão somente 3 × 2 = ½ jornada. Dá no mesmo se 4 trabalham ½ jornada ou 2, uma jornada inteira. O capitalista poderia demitir 2 trabalhadores. Ele teria mesmo de demiti-los, porque de um determinado quantum de algodão ele só pode produzir um determinado quantum de fio; portanto, não poderia mais fazer trabalhar 4 jornadas inteiras, mas só 4 meias jornadas. Todavia, se o trabalhador tem de trabalhar 12 horas para receber 3 horas, i.e., o seu salário necessário, se trabalhar 6 horas, ele receberá somente 1½ hora de valor de troca. No entanto, se com 3 horas de trabalho necessário ele pode viver 12, com 1½ só pode viver 6. Por conseguinte, cada um dos 4 trabalhadores, se todos os 4 fossem empregados, só poderia viver meio dia; i.e., todos os 4 não poderiam ser mantidos com vida, como trabalhadores, pelo mesmo capital, mas só 2. Com o antigo fundo, o capitalista poderia pagar 4 [trabalhadores] para 4 meias jornadas de trabalho; nesse caso, ele pagaria 2 a mais e, da força produtiva, daria um presente aos trabalhadores; visto que só pode empregar 4 meias jornadas de trabalho vivo; tais “possibilidades” não acontecem na prática nem tampouco vêm ao caso aqui, onde se trata da relação de capital enquanto tal.)
Agora, do capital de 100, 20 táleres não são empregados diretamente na produção. O capitalista continua empregando 40 táleres para matéria-prima, 20 para instrumento, logo, 60, mas somente 20 táleres para trabalho (2 jornadas de trabalho). Da totalidade do capital de 80, ele emprega ¾ (60) para a parte constante e só ¼ para o trabalho. Portanto, se ele emprega da mesma maneira os 20 [táleres] remanescentes, tem-se ¾ para o capital constante, ¼ para o trabalho; i.e., 15 para o primeiro, 5 para o segundo. Como agora é pressuposto que uma jornada de trabalho = 10 táleres, 5 são somente = 6 horas = ½ jornada de trabalho. Com o valor novo de 20 [táleres] ganho pela produtividade, o capital só pode comprar mais ½ jornada de trabalho para se valorizar na mesma proporção. Ele teria de crescer o triplo (a saber, 60) (juntamente com os 20, 80) para poder empregar inteiramente os 2 trabalhadores demitidos, ou as 2 jornadas de trabalho empregadas antes. Segundo a nova relação, o capital utiliza ¾ em capital constante para utilizar ¼ em fundo de trabalho.
Em consequência, com 20 [táleres] de capital total, ¾, i.e., 15, em capital constante e ¼ em trabalho (i.e., 5) = ½ jornada de trabalho.
Da mesma forma, com 4 × 20 de capital total, 4 × 15 = 60 em capital constante e, por isso, 4 × 5 em salário = 4/2 jornadas de trabalho = 2 jornadas de trabalho.
Portanto, se a força produtiva do trabalho duplicar, de maneira que um capital de 60 táleres de lã crua e instrumento precisa tão somente de 20 táleres de trabalho (2 jornadas de trabalho) para a sua valorização, quando antes precisava de 100 [capital total], o capital total teria de crescer de 100 para 160, ou, dito em outros termos, o capital de 80 em questão teria agora de duplicar para manter todo o trabalho posto fora do trabalho. Mas pela duplicação da força produtiva formou-se somente um capital novo de 20 táleres = ½ do tempo de trabalho empregado antes; e esse montante só é suficiente para empregar mais ½ jornada de trabalho. O capital, que antes da duplicação da força produtiva era de 100 [táleres] e empregava 4 jornadas de trabalho (sob o pressuposto de que 2/5 = 40 eram fundo de trabalho), teria agora, quando o fundo de trabalho caiu para 1/5 de 100, para 20 = 2 jornadas de trabalho (mas a ¼ de 80, o novo capital ingressando no processo de valorização), de subir a 160, 60%, para poder empregar as 4 jornadas de trabalho antigas. Com os 20 táleres subtraídos ao fundo de trabalho em consequência do aumento da produtividade, ele agora só pode empregar de novo ½ jornada de trabalho caso continue trabalhando com a totalidade do antigo capital. Anteriormente, com 100 [táleres] ele empregava 16/4 (4 jornadas) em jornadas de trabalho; agora, pode empregar tão somente 10/4. Por conseguinte, se a força produtiva duplica, o capital não precisa duplicar para pôr em movimento o mesmo trabalho necessário, 4 jornadas de trabalho, não precisa, portanto, crescer para 200, mas precisa crescer somente o total menos a parte subtraída ao fundo de trabalho (100 – 20 = 80) × 2 = 160. (Por contraste, o primeiro capital de 100 [táleres], que, antes do aumento da produtividade, despendeu 60 em capital constante e 40 em salário (4 jornadas de trabalho), precisa crescer só de 100 para 150 para empregar mais 2 jornadas; a saber, 3/5 em capital constante (30) e 2/5 em fundo de trabalho (20). Desde que se pressuponha que nos dois casos a jornada [total] de trabalho aumenta 2 dias[117], o segundo totalizaria, no final, 160; o primeiro, só 150). Da parte do capital subtraída ao fundo de trabalho em consequência do crescimento da força produtiva, uma parte tem de ser transformada de novo em matéria-prima e instrumento, outra tem de ser trocada por trabalho vivo; isso só pode se realizar de acordo com as proporções entre as diversas partes postas pela nova produtividade. Não pode mais se realizar na antiga proporção; porque caiu a proporção do fundo de trabalho em relação ao fundo constante. Se o capital de 100 empregava 2/5 para fundo de trabalho (40) e, em consequência da duplicação da força produtiva, [agora] emprega tão somente 1/5 (20), 1/5 do capital ficou livre (20 táleres); a parte empregada de 80 utiliza tão somente ¼ como fundo de trabalho. Portanto, os 20, da mesma forma, somente 5 táleres (½ jornada de trabalho). O capital total de 100, por conseguinte, emprega agora 2½ jornadas de trabalho; ou teria de crescer para 160 para voltar a empregar 4.
Se o capital inicial tivesse sido 1.000 [táleres] e repartido da mesma maneira: 3/5 de capital constante, 2/5 de fundo de trabalho, logo, 600 + 400 (seja 400 igual a 40 jornadas de trabalho; jornada de trabalho = 10 táleres). Duplicando agora a força produtiva do trabalho, portanto, se são exigidas 20 jornadas de trabalho para o mesmo produto (= 200 táleres), o capital requerido para recomeçar a produção seria = 800; a saber, 600 + 200; seriam liberados 200 táleres. Empregados estes últimos na mesma proporção, tem-se ¾ de capital constante = 150 e ¼ de fundo de trabalho = 50. Por conseguinte, se os 1.000 táleres são inteiramente empregados, tem-se agora 750 de capital constante + 250 de fundo de trabalho = 1.000 táleres. Mas 250 de fundo de trabalho seria 25 dias de trabalho (i.e., o novo fundo só pode empregar o tempo de trabalho na nova proporção, i.e., a ¼; para empregar todo o tempo de trabalho anterior ele teria de quadruplicar). O capital liberado de 200 empregava um fundo de trabalho de 50 = 5 jornadas de trabalho (¼ do tempo de trabalho liberado). (A própria parte do fundo de trabalho destacada do capital é empregada como capital, mas só com ¼ para fundo de trabalho; i.e., exatamente na proporção em que a parte do novo capital que é fundo de trabalho está para a soma total do capital.) Portanto, para empregar 20 jornadas de trabalho (4 × 5 jornadas de trabalho), esse fundo teria de crescer de 50 para 4 × 50 = 200 [táleres]; em consequência, a parte liberada teria de aumentar de 200 para 600, i.e., teria de triplicar; de modo que o novo capital total somasse 800. Desse modo, o capital total seria de 1.600 [táleres]; do qual 1.200 de parte constante e 400 de fundo de trabalho. Portanto, se o capital de 1.000 continha originalmente um fundo de trabalho de 400 (40 jornadas de trabalho), e se, pela duplicação da força produtiva, só precisa empregar um fundo de trabalho de 200 para comprar o trabalho necessário, i.e., só ½ do trabalho anterior, nesse caso, o capital teria de crescer em 600 [táleres] para empregar a totalidade do trabalho anterior (e ganhar o mesmo tempo excedente). Ele teria de poder empregar o fundo de trabalho duplicado, a saber, 2 × 200 = 400; mas, como a relação do fundo de trabalho ao capital total agora é = ¼, isso exigiria um capital total de 4 × 400 = 1.600.
{O capital total que seria necessário para empregar o tempo de trabalho anterior é, portanto, = ao antigo fundo de trabalho multiplicado pelo denominador da fração que expressa agora a relação do fundo de trabalho ao novo capital total. Se a duplicação da força produtiva reduziu essa relação a ¼, é × 4; se a reduziu a 1/3, multiplicado por 3. Se a força produtiva duplicou, o trabalho necessário e, em consequência, o fundo de trabalho se reduzem a ½ do seu valor antigo; mas perfazem ¼ em relação ao novo capital total de 800, ou 1/5 em relação ao antigo capital total de 1.000. Ou o novo capital total é = 2 × o antigo capital - a parte liberada do fundo de trabalho; (1.000 - 200) × 2 = (800) × 2 = 1.600. O novo capital total expressa justamente a soma total de capital constante e variável que é necessária para empregar a metade do antigo tempo de trabalho (1/3, ¼ etc, 1/x--, conforme a força produtiva tenha aumentado 3 ×, 4 ×, X ×); logo, 2 × o capital para empregá-la inteiramente (ou 3 ×, 4 ×, X × etc., dependendo da proporção em que cresceu a força produtiva). Aqui sempre tem de estar (tecnologicamente) dada a relação inicial das partes do capital entre si; disso depende, p. ex., as frações nas quais a multiplicação da força produtiva se expressa como divisão do trabalho necessário.}
Ou, o que dá no mesmo, é = 2 × o novo capital que toma o lugar do antigo na produção em consequência da nova força produtiva (800 × 2) (logo, se a força produtiva tivesse quadruplicado, quintuplicado etc., seria = 4 ×, 5 × o novo capital etc. Se a força produtiva duplica, o trabalho necessário é reduzido a ½; da mesma forma, o fundo de trabalho. Portanto, se o trabalho necessário totalizou, como no caso acima, do antigo capital de 1.000, 400, i.e., 2/5 do capital total, agora é 1/5 ou 200. Essa proporção, na qual é reduzido, é a parte liberada do fundo de trabalho = 1/5 do antigo capital = 200; 1/5 do antigo = ¼ do novo. O novo capital é = ao capital antigo + 3/5 dele. Mais sobre essas minudências posteriormente etc.).
Pressupostas as mesmas proporções iniciais entre as partes do capital e o mesmo aumento da força produtiva, é totalmente indiferente para as teses gerais se o capital é grande ou pequeno. Uma questão completamente diferente é se as proporções permanecem as mesmas quando o capital aumenta (mas isso faz parte da acumulação). Todavia, isso pressuposto, nós vemos como o aumento da força produtiva altera as proporções nas partes constitutivas do capital. Para 100 ou para 1.000, a duplicação da força produtiva atua da mesma maneira se nos dois casos havia inicialmente 3/5 de capital constante e 2/5 de fundo de trabalho. (O termo fundo de trabalho é usado aqui só por comodidade; nós ainda não desenvolvemos o capital nessa determinabilidade. Até agora, duas partes: uma trocada por mercadorias (material e instrumento), a outra, pela capacidade de trabalho.) (O novo capital, i.e., a parte do antigo capital que assume sua função é = ao antigo – a parte liberada do fundo de trabalho; contudo, essa parte liberada = a fração que expressava o trabalho necessário (ou, o que dá no mesmo, o fundo de trabalho) dividida pelo multiplicador da força produtiva. Desse modo, se o antigo capital é 1.000 e a fração que expressa o trabalho necessário ou fundo de trabalho é = 2/5, e se a força produtiva duplica, o novo capital, que assume a função do antigo, é = 800: a saber, 2/5 do antigo capital = 400; este dividido por 2, o multiplicador da produtividade, = 2/10 = 1/5 = 200. Logo, o novo capital = 800 e a parte liberada do fundo de trabalho = 200.)
Nós vimos que, nessas circunstâncias, um capital de 100 táleres tem de crescer para 160 e um de 1.000, para 1.600, para manterem o mesmo tempo de trabalho (de 4 ou 40 jornadas de trabalho) etc.; ambos têm de crescer 60%, i.e., 3/5 da própria grandeza (do antigo capital) para poder reempregar como capital o 1/5 liberado – o fundo de trabalho liberado (no primeiro caso, 20 táleres, no segundo, 200).
{Nota bene: vimos anteriormente[118] como a mesma porcentagem do capital total pode expressar proporções muito diferentes nas quais o capital cria seu mais-valor, i.e., põe trabalho excedente relativo ou absoluto. Se a relação entre a parte inalterada do valor do capital e a variável (trocada por trabalho) fosse tal que a última = ½ do capital total (portanto, capital 100 = 50 (capital constante) + 50 (capital alterado)), a parte trocada pelo trabalho precisaria aumentar só 50% para render 25% sobre o capital; a saber: 50 + 50 (+ 25) = 125; ao passo que, no exemplo acima, 75 + 25 (+ 25) = 125; logo, a parte trocada pelo trabalho vivo aumentou 100% para render 25[%] sobre o capital. Observamos aqui como, se as circunstâncias permanecem as mesmas, a porcentagem sobre o capital total permanece a mesma, seja o capital grande ou pequeno; i.e., se a relação do fundo de trabalho ao capital total permanece a mesma, então, no exemplo anterior, ¼. A saber: 100 dá 125, 80 dá 100, 1.000 dá 1.250, 800 dá 1.000, 1.600 dá 2.000 etc., sempre 25%. Se os capitais nos quais as partes constitutivas se encontram em diferentes proporções, e nos quais, portanto, também é diferente a força produtiva, rendem os mesmos percentuais sobre o capital total, o mais-valor efetivo tem de ser muito diferente nos diferentes ramos.}
{Consequentemente, o exemplo está correto ao comparar, sob as mesmas circunstâncias, a força produtiva com o mesmo capital antes do aumento da força produtiva. Suponha um capital de 100 [táleres] que emprega 50 de valor constante, 50 = fundo de trabalho. Admita que o fundo aumenta 50%, i.e., ½; assim, o produto total = 125. Suponha que o fundo de trabalho de 50 táleres emprega 10 jornadas de trabalho, pagas a 5 táleres por jornada. Como o novo valor é ½, o tempo excedente tem de ser = 5 jornadas de trabalho; i.e., o trabalhador, que precisava trabalhar só 10 jornadas de trabalho para viver 15, tem de trabalhar 15 para o capitalista para viver 15; e o seu trabalho excedente de 5 dias constitui o mais-valor do capital. Expresso em horas, se a jornada de trabalho = 12 horas, o trabalho excedente = 6 por dia[119]. Por conseguinte, em 10 dias ou 120 horas, o trabalhador trabalha 60 horas a mais = 5 dias. Agora, no entanto, com a duplicação da força produtiva, a proporção dos 100 táleres é 75 e 25, i.e., o mesmo capital precisa empregar somente 5 trabalhadores para criar o mesmo valor de 125; portanto, as 5 jornadas de trabalho = 10; duplicaram; i.e., são pagas 5 jornadas de trabalho, são produzidas 10. O trabalhador só precisava trabalhar 5 dias para viver 10 (antes do aumento da força produtiva, ele tinha de trabalhar 10 para viver 15; logo, trabalhando 5, podia viver somente 7 ½); mas ele tem de trabalhar 10 para o capitalista para viver 10; logo, este último lucra 5 dias; 1 dia por dia; ou, expresso em dia, antes ele tinha de trabalhar ½ para viver 1 (i.e., 6 horas para viver 12); agora ele só precisa trabalhar ¼ para viver 1 (i.e., 3 horas). Se ele trabalhasse um dia inteiro, poderia viver 2; se trabalhasse 12 horas, poderia viver 24; trabalhando 6, poderia viver 12. Agora, contudo, ele tem de trabalhar 12 horas para viver 12. Ele só precisava trabalhar ½ [dia] para viver 1; mas tem de trabalhar 2 × ½ = 1 para viver 1. Sob a condição anterior da força produtiva, ele tinha de trabalhar 10 dias para viver 15, ou 12 horas para viver 18; ou 1 hora para viver 1½, ou 8 horas para viver 12, i.e., 2/3 de dia para viver 3/3. No entanto, ele tem de trabalhar 3/3 para viver 3/3, quer dizer, 1/3 a mais. A duplicação da força produtiva aumenta a proporção do tempo excedente de 1:1½ (i.e., 50%) para 1:2 (i.e., 100%)[120]. Na proporção do tempo de trabalho anterior ele precisava de 8 para viver 12, i.e., 2/3 de tempo necessário da jornada de trabalho inteira; ele precisa agora tão somente de ½, i.e., 6 para viver 12. Por essa razão, o capital emprega agora 5 trabalhadores em lugar de 10. Se anteriormente os 10 (custando 50) produziam 75, agora os [5, que custam] 25, produzem 50; i.e., os primeiros só 50%; os segundos, 100%. Os trabalhadores continuam trabalhando 12 horas como antes; mas, no primeiro caso, o capital comprou 10 jornadas de trabalho, agora, compra tão somente 5; porque a força produtiva duplicou, as 5 produzem 5 jornadas de trabalho excedente; porque, no primeiro caso, 10 jornadas de trabalho renderam só 5 jornadas de trabalho excedente, agora, com a duplicação da força produtiva, aumentou, portanto, de 50% para 100% – 5 [jornadas de trabalho produzem] 5 [jornadas de trabalho excedente]; no primeiro caso, 120 horas de trabalho (=10 jornadas de trabalho) produzem 180; no segundo, 60 [horas de trabalho] produzem 60; i.e., no primeiro caso, o tempo excedente é 1/3 da jornada total (50% do tempo de trabalho necessário) (i.e., 4 de 12 horas; o tempo necessário, 8); no segundo caso, o tempo excedente é ½ da jornada total (100% do tempo de trabalho necessário) (i.e., 6 de 12 horas; o tempo necessário, 6); por essa razão, os 10 dias, no primeiro caso, rendem 5 dias de tempo (trabalho) excedente e, no segundo, os 5 rendem 5. (O tempo excedente relativo, portanto, duplicou; em relação à primeira proporção, cresceu só em ½ de 1/3; i.e., em 1/6, ou seja, em 164/6%.)}
Como o trabalho excedente, ou tempo excedente, é o pressuposto do capital, o capital se baseia, por conseguinte, no pressuposto fundamental de que existe um excedente para além do tempo de trabalho necessário para o sustento e a reprodução do indivíduo; no fato de que o indivíduo, p. ex., precisa trabalhar só 6 horas para viver um dia, ou 1 dia para viver 2 etc. Com o desenvolvimento das forças produtivas, o tempo de trabalho necessário diminui e, com isso, aumenta o tempo excedente. Ou, também, um indivíduo pode trabalhar por dois etc. (“|Riqueza é tempo disponível e mais nadai. Se todo o trabalho de um país só fosse suficiente |para prover o sustento de toda a população, não haveria nenhum trabalho excedentei, e, consequentemente, |nada que pudesse ser acumulado como capitali. [...] Uma nação é verdadeiramente rica quando não existe nenhum juro, ou quando se trabalha 6 horas em lugar de 12. [...] |O que quer que possa ser devido ao capitalista, ele só pode receber o trabalho excedente do trabalhador; porque o trabalhador tem de viveri.” (The source and remedy of the national difficulties.) (p. 27-8.[121]))
Propriedade. Origem na produtividade do trabalho. “Quando uma pessoa só pode produzir para uma pessoa, todo mundo é trabalhador; |não pode haver propriedade. Quando o trabalho de um homem pode manter cinco, haverá 4 homens ociosos para um empregado na produção. A propriedade tem origem nos aperfeiçoamentos no modo de produção. [...] O crescimento da propriedade, essa maior habilidade em manter homens ociosos e indústria improdutiva = capitali. [...] A própria |maquinaria raramente pode ser aplicada com êxito para abreviar os trabalhos de um indivíduo: mais tempo seria perdido em sua construção do que poderia ser economizado com sua aplicação. Ela só é realmente útil quando atua sobre grandes massas, quando uma única máquina pode auxiliar o trabalho de milhares. Por isso, é nos países mais populosos, em que há mais homens ociosos, onde a maquinaria é mais abundante. Ela não é mobilizada por causa de uma escassez de homens, mas pela facilidade com que eles são reunidosi. [...] Menos de ¼ |da população inglesa fornece tudo o que é consumido por todosi. Sob Guilherme, o Conquistador, p. ex., o número dos que participavam diretamente da produção era bem maior do que os |homens ociososi.” (Ravenstone, IX, 32.[122])
Se, de um lado, o capital cria o trabalho excedente, de outro, o trabalho excedente é igualmente pressuposto para a existência do capital. Todo o desenvolvimento da riqueza está baseado na criação de tempo disponível. A relação do tempo de trabalho necessário ao tempo supérfluo (assim se apresenta inicialmente, do ponto de vista do trabalho necessário) se altera nas várias fases do desenvolvimento das forças produtivas. Nos estágios mais primitivos da troca, os seres humanos trocam nada mais do que seu tempo de trabalho supérfluo; ele é a medida da sua troca, que, por isso, também só engloba produtos supérfluos. Na produção fundada sobre o capital, a existência do tempo de trabalho necessário é condicionada pela criação de tempo de trabalho supérfluo. Nos estágios mais inferiores da produção, em primeiro lugar, ainda há poucas necessidades produzidas e, em consequência, também há poucas para ser satisfeitas. Por isso, o tempo de trabalho necessário é limitado, não porque o trabalho é produtivo, mas porque pouco é necessário; e, em segundo lugar, existe em todas as etapas da produção certa comunidade do trabalho, um caráter social dele etc. Mais tarde se desenvolve a força produtiva social etc. (Voltar a isso.)
O tempo excedente existe como excedente da jornada de trabalho para além da parte que nós chamamos o tempo de trabalho necessário; existe, em segundo lugar, como aumento das jornadas de trabalho simultâneas, i.e., da população que trabalha. (O tempo excedente também pode ser produzido – mas isso, mencionado aqui só de forma alusiva, faz parte do capítulo do trabalho assalariado – pelo prolongamento forçado da jornada de trabalho para além de seus limites naturais; pela incorporação de mulheres e crianças à população que trabalha.) A primeira relação do tempo excedente do dia ao seu tempo necessário pode ser e é modificada pelo desenvolvimento das forças produtivas, de forma que o trabalho necessário é limitado a uma parte alíquota cada vez menor. Logo, o mesmo vale relativamente para a população. Uma população que trabalha, |digamos, dei 6 milhões, pode ser considerada como uma única jornada de trabalho de 6 × 12, i.e., 72 milhões de horas, de modo que as mesmas leis são aplicáveis aqui.
Como vimos, é lei do capital criar trabalho excedente, tempo disponível; ele só pode fazer isso ao pôr em movimento trabalho necessário – i.e., ao trocar com o trabalhador. Por essa razão, é sua tendência criar tanto trabalho quanto possível; assim como também é sua tendência reduzir o trabalho necessário ao mínimo. Consequentemente, é tendência do capital tanto aumentar a população que trabalha como pôr continuamente uma parte dela como população excedente – população que é inútil, até que o capital possa valorizá-la. (Daí a exatidão da teoria da população excedente e do capital excedente.) É tendência do capital tanto tornar o trabalho humano (relativamente) supérfluo como pressionar simultaneamente o trabalho humano de maneira desmedida. O valor é apenas trabalho objetivado, e valor excedente (valorização do capital) é somente o excedente para além da parte do trabalho objetivado que é necessária para a reprodução da capacidade de trabalho. Mas o trabalho é e continua sendo o pressuposto, e o trabalho excedente só existe em relação ao necessário, portanto, só à medida que este existe. Por isso, o capital tem de pôr continuamente trabalho necessário para pôr trabalho excedente; tem de aumentá-lo (a saber, as jornadas de trabalho simultâneas) para poder aumentar o excedente; mas tem igualmente de superá-lo como trabalho necessário para colocá-lo como trabalho excedente. Considerada a jornada de trabalho singular, o processo naturalmente é simples: 1) prolongá-lo até os limites da possibilidade natural; 2) encurtar cada vez mais a sua parte necessária (portanto, elevar de modo ilimitado as forças produtivas). Todavia, considerada espacialmente – o próprio tempo considerado espacialmente –, a jornada de trabalho é a contiguidade de muitas jornadas de trabalho. Quanto maior o número de jornadas de trabalho simultâneasi com as quais o capital pode fazer a troca, onde troca trabalho objetivado por trabalho vivo, tanto maior a sua valorização simultâneai. O capital só pode transpor o limite natural que constitui a jornada de trabalho vivo de um indivíduo em um dado nível do desenvolvimento das forças produtivas (e não altera nada o fato de que esse nível |está mudandoi) ao pôr simultaneamente uma outra jornada ao lado dessa jornada de trabalho singular – pelo acréscimo espacial de mais jornadas de trabalho simultâneas. P. ex., eu só posso forçar o trabalho excedente de A até 3 horas; mas se eu adicionar as jornadas de B, C, D etc., elas se convertem em 12 horas. Em lugar de um tempo excedente de 3 [horas], criei um de 12. Por essa razão, o capital requer o aumento da população, e o |próprio processoi por meio do qual é reduzido o trabalho necessário torna possível pôr em ação novo trabalho necessário (e, por isso, trabalho excedente). (I.e., a produção dos trabalhadores fica mais barata, mais trabalhadores podem ser produzidos no mesmo tempo, na mesma medida em que é menor o tempo de trabalho necessário ou é reduzido relativamente o tempo indispensável para a produção da capacidade viva de trabalho. Estas são proposições idênticas.) (Isso, mesmo sem levar em conta que o aumento da população aumenta a força produtiva do trabalho, ao tornar possível maior divisão e maior combinação do trabalho etc. O aumento da população é uma força natural do trabalho que não é paga. Sob esse ponto de vista, chamamos de força natural a força social. Todas as forças naturais do trabalho social são produtos históricos.) Por outro lado, no que diz respeito agora às muitas jornadas simultâneas de trabalho necessário (que, levando em conta exclusivamente o valor, podem ser consideradas uma única jornada de trabalho), a tendência do capital – da mesma forma que antes, com a jornada de trabalho singular – é de reduzi-las a um mínimo, i.e., de pôr como não necessárias o maior número possível dessas jornadas e de reduzir agora as jornadas de trabalho necessárias em relação ao total do tempo de trabalho objetivado, da mesma maneira que reduzia antes, no caso da jornada de trabalho singular, as horas de trabalho necessárias. (Se 6 jornadas de trabalho são necessárias para produzir 12 horas de trabalho excedente, o capital se empenha para [que] só 4 sejam necessárias. Ou as 6 jornadas de trabalho podem ser consideradas como uma única jornada de trabalho de 72 horas; se o capital tem êxito em reduzir em 24 horas o trabalho necessário, 2 jornadas de trabalho necessário são eliminadas – i.e., 2 trabalhadores.) Por outro lado, o novo capital excedente que é criado só pode ser valorizado enquanto tal pela troca com trabalho vivo. Daí a tendência do capital tanto a aumentar a população trabalhadora quanto a reduzir continuamente a parte necessária dela (a pôr continuamente uma parte como reserva). E o próprio aumento da população [é] o principal meio para a diminuição da parte necessária. |No fundof, isso é somente a aplicação da relação [do trabalho necessário e excedente] à jornada de trabalho singular. Aqui já se encontram, portanto, todas as contradições que foram expressas como contradições, embora sem serem compreendidas, na moderna teoria da população. O capital, como pôr do trabalho excedente, é igualmente e no mesmo momento pôr e não pôr do trabalho necessário; o capital só é à medida que o trabalho é e ao mesmo tempo não é.
{Já pode ser recordado aqui, embora não faça parte desse ponto, que à criação do trabalho excedente, de um lado, corresponde uma criação de menos-trabalho, de ociosidadei relativa (ou trabalho não produtivo, na melhor das hipóteses), de outro. No caso do próprio capital, em primeiro lugar, isso é autoevidente; mas também vale para as classes com as quais partilha; ou seja, os |miseráveis, lacaios, parasitasi etc. que vivem do |produto excedentei, em suma, por toda essa sériei de agregadosi; pela parte da classe de serviço que não vive de capital, mas de renda. Diferença fundamental entre essa classe de serviço e a classe trabalhadora. No que diz respeito à sociedade como um todo, a criação do tempo disponível, consequentemente, [é] também criação do tempo para a produção de ciência, arte etc. O processo de desenvolvimento da sociedade não é de forma alguma o de um indivíduo que, após ter satisfeito a sua necessidade, cria então o seu excedente; mas, ao contrário, porque um indivíduo ou uma classe de indivíduos é forçado a trabalhar mais do que o necessário para a satisfação da sua necessidade – porque [há] trabalho excedente, de um lado, do outro, é posto não trabalho e riqueza excedente. Na realidade, o desenvolvimento da riqueza só existe nessas antíteses; potencialmente, seu desenvolvimento é justamente a possibilidade da superação dessas contradições. Ou porque um indivíduo só pode satisfazer sua própria necessidade à medida que satisfaz, ao mesmo tempo, a necessidade e um excedente sobre tal necessidade para um outro indivíduo. Na escravidão, isso [é] brutal. Somente sob a condição do trabalho assalariado que isso leva à indústria, ao trabalho industrial. – Portanto, Malthus é bastante coerente quando, ao lado do trabalho excedente e do capital excedente, põe a necessidade de |ociosos excedentes, consumindo sem produziri, ou a necessidade de desperdício, luxo, prodigalidade etc.}
Se a proporção das jornadas de trabalho necessário no total das jornadas de trabalho objetivadas é = 9:12 (logo, trabalho excedente = ¼), o esforço do capital é reduzi-la para 6:9 (logo, 2/3, ou seja, trabalho excedente = 1/3). (Isso é para ser desenvolvido mais tarde com mais detalhes; no entanto, aqui, as linhas gerais fundamentais, onde se trata do conceito geral do capital.)
[1] Do Caderno III em diante, o título passa a ser “Capítulo do capital”.
[2] A página 8 do Caderno II começa com uma citação de Garnilh, inserida posteriormente, sobre um “|produto preferidof” como uma forma primitiva do dinheiro.
[a] Frase incompleta no original. (N. E.)
[3] Frédéric Bastiat, Harmonies économiques (2. ed., Paris, Guillaumin, 1851), p. 87-169.
[4] Marx refere-se aqui presumivelmente às seguintes passagens do Corpus iuris civilis [Corpo de direito civil]: Institutas, I, 8, 1: “quodcumque per servum adquiritur, id domino adquiritur” [sempre o que é adquirido por um escravo é adquirido para seu senhor]. Ibidem, II, 9, 3: “Ipse enim servus, qui in potestate alterius est, nihil suum habere potest” [Pois o próprio escravo, que está em poder de um outro, não pode possuir nenhuma propriedade].
[5]Frédéric Bastiat, Harmonies économiques, cit.
[6] Adversários de Bastiat, como Proudhon e seu discípulo Charles-François Chevé, sustentaram, em 1849-1850, uma polêmica contra ele em sete cartas abertas que, juntamente com sete cartas-resposta de Bastiat, foram publicadas como livro em 1850: Frédéric Bastiat e Pierre-Joseph Proudhon, Gratuité du crédit. Discussion entre M. Fr. Bastiat et M. Proudhon (Paris, Guillaumin, 1850).
[7] Jean-Baptiste Say, Traité d’économie politique (3. ed., Paris, Deterville, 1817, tomo 2), p. 428: “|Um capital [...] é uma acumulação de valoresf [...]”; p. 478: “|Riqueza. É a soma dos valoresf [...]” [ed. bras.: Tratado de economia política, São Paulo, Abril Cultural, 1983].
[b] {Assim como o valor de troca, i.e., todas as relações das mercadorias como valores de troca, aparece no dinheiro, como coisa, no capital aparecem como coisa todas as determinações da atividade criadora dos valores de troca, o trabalho.} [Nota de Marx. (N. E.)]
[c] Literalmente, limpeza das propriedades. (N. T.)
[8]David Ricardo, On the principles of political economy and taxation (3. ed., Londres, J. Murray, 1821), p. 327 e 499 [ed. port.: Princípios de economia política e de tributação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001]. Encontra-se na página 5 a expressão “|trabalho realizado em mercadoriasi”. Cf. também Adam Smith, An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations (Londres, C. Knight, 1836, v. 2), p. 356 [ed. bras.: Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, São Paulo, Hemus, 2008].
[9] A indicação de página refere-se ao caderno de extratos de 1846, intitulado “Geschichte der Nationalökonomie”, no qual “b” representa a coluna direita da página. Em Charles Ganilh, Des systèmes d’économie politique, de leurs inconvéniens, de leurs avantages, et de la doctrine la plus favorable aux progrès de la richesse des nations (Paris, Xhrouet, 1809, tomo 2), p. 11-2.
[10] A indicação de página refere-se a um caderno de extratos de 1844. A passagem extratada encontra-se em Jean-Baptiste Say, Traité d’économie politique, cit. Ver MEGA IV/2, p. 315.
[11] O algarismo romano indica a página de um caderno de extratos extraviado. Jean-Charles Sismondi, Nouveaux principes d’économie politique, ou de la richesse dans ses rapports avec la population (2. ed., Paris, Delaunay, 1827, tomo 1), p. 88-9. [Os trechos entre parênteses são de Marx. (N. T.)] A expressão “|quantidade metafísicaf” do original foi lida e interpretada por Marx como “qualidade metafísica”. Isso se repete também na página 26 do Caderno V e na página 19 do Caderno VII dos “Elementos”. Ver p. 443-4 e 635-6.
[d] Salto de linha conforme original de Marx. (N. E.)
[12] A indicação entre parênteses refere-se ao Caderno de Extratos XVI. Sobre Frédéric Bastiat, ver Bastiat e Proudhon, Gratuité du credit, cit., p. 177, 178-80 e 248-50. Grifos de Marx.
[13] Ibidem, p. 177.
[14] Ibidem, p. 179-80.
[e] {O valor não tem de ser concebido como a unidade de valor de uso e valor de troca? O valor enquanto tal, em si e para si, é o universal perante o valor de uso e o valor de troca como suas formas particulares? Isso tem significação na Economia? O valor de uso é pressuposto também na troca simples ou troca pura. Mas aqui, onde a troca se dá justamente em virtude do uso recíproco da mercadoria, o valor de uso, i.e., o conteúdo, a particularidade natural da mercadoria enquanto tal, não tem nenhuma existência como determinação formal econômica. A sua determinação formal é, pelo contrário, o valor de troca. O conteúdo é indiferente fora dessa forma; não é conteúdo da relação como relação social. Mas esse conteúdo enquanto tal não se desenvolve em um sistema de necessidades e de produção? O valor de uso enquanto tal não entra na própria forma como determinante da própria forma econômica, p. ex., na relação entre capital e trabalho? Nas diferentes formas do trabalho? – Agricultura, indústria etc. – Renda da terra? – Influência das estações do ano sobre os preços das matérias-primas? etc. Se apenas o valor de troca enquanto tal tivesse um papel na Economia, como poderiam intervir mais tarde tais elementos que se referem inteiramente ao valor de uso, como, p. ex., no caso do capital como matéria-prima etc.? Como aparece, de repente, em Ricardo, a constituição física da terra? etc. A palavra mercadoria (em alemão, “bens” [Güter] talvez, como |gênerosf [denrée] em contraste com |mercadoriaf [marchandise]?) contém a relação. O preço aparece nela como simples determinação formal. O que de modo algum contradiz o fato de que o valor de troca é a determinação predominante. Mas o uso não deixa, naturalmente, de existir pelo fato de que é determinado de maneira exclusiva pela troca; muito embora, evidentemente, receba dessa maneira sua própria orientação. De todo modo, isso tem de ser investigado com precisão na investigação sobre o valor, e não, como faz Ricardo, ser inteiramente abstraído, nem como faz o insípido Say, que afeta importância com o simples pressuposto da palavra “utilidade”. Antes de tudo, mostrar-se-á, e é preciso mostrar, no desenvolvimento das etapas isoladas, em que medida o valor de uso fica não só como substância pressuposta fora da economia e de suas determinações formais, mas em que medida entra nela. Sobre a |platitudef de Proudhon, ver a |Misériaf [Ccf. Karl Marx, Miséria da filosofia: resposta à filosofia da miséria do Senhor Proudhon (1847) (São Paulo, Centauro, 2003)]. Até aqui, uma coisa é certa: na troca (na circulação) temos a mercadoria – valor de uso – como preço; o fato de que ela é, além de seu preço, mercadoria, objeto da necessidade, é autoevidente. As duas determinações não entram absolutamente em relação uma com a outra, exceto na medida em que o [valor de] uso particular aparece como limite natural da mercadoria e, por isso, põe simultaneamente o dinheiro, i.e., o seu valor de troca, como existência fora dela mesma no dinheiro, mas só de maneira formal. O próprio dinheiro é mercadoria, tem por substância um valor de uso.} [Nota de Marx. (N. E.)]
[15] Ver p. 201.
[16] Ver p. 150 e 201.
[17] Ver p. 163, nota 151.
[18] Em um de seus cadernos de extratos de Bruxelas, de 1845, no qual é extratado o livro de Heinrich Storch, Cours d’économie politique, ou Exposition des principes qui déterminent la prospérité des nations, avec des notes explicatives et critiques par J.-B. Say (Paris, J. P. Aillaud, 1823, tomo 1), Marx resume como se segue, na página 25 do caderno, a exposição feita por Storch na página 154 do primeiro tomo: “A indústria humana só é produtiva quando produz um valor suficiente para compensar os custos de produção [...] a bem da verdade [eigentlich], essa reprodução não é suficiente: ela teria de produzir |um valor a maisf.”
[f] Na Inglaterra medieval, camponês ao qual, em compensação por seu trabalho, o senhor permitia o usufruto de uma choupana [cot] e de uma parcela de terra. Na Irlanda, um camponês que aluga uma pequena porção de terra sob um sistema [cottier tenure] de aluguel da terra pela maior oferta. (N. T.)
[19] James Steuart, An inquiry into the principles of political economy (Dublin, James Williams e Richard Moncrieffe, 1770, v. 1), p. 50, 153 e 156-7.
[20] O termo em alemão é “durchwadend”. Anglicismo criado por Marx, do inglês “to wade through”.
[g] Em tradução literal, o despejo ou a limpeza das propriedades, denominação dada à expulsão dos camponeses despejados de suas terras pelos grandes latifundiários ingleses. (N. T.)
[21] Simon-Nicolas-Henri Linguet, Théorie des loix civiles, ou, Principes fondamentaux de la société (Londres, s.n., 1767, tomo 1), p. 462-513.
[22] A página 29, última do Caderno II, se perdeu. Marx reproduziu seu conteúdo em “Informações sobre meus próprios Cadernos” da seguinte maneira: “Perante o trabalhador, o capital [é] só poder coisal. Sem valor pessoal. Diferença da prestação de serviço. Objetivo do trabalhador na troca com o capital – consumo. Tem sempre de começar de novo. Trabalho como Capital do trabalhador.” Marx esclareceu a última frase logo em seguida, ainda no texto de “Informações”: “(Capacidade de trabalho como Capital!)”. Ver MEGA II, 2, p. 275-6. O texto ao final da página 29, foi reconstruído com base em uma passagem da página “A” do Caderno II dos Manuscritos de 1861-1863, uma vez que Marx evidentemente transcreveu essa passagem da página extraviada do manuscrito dos “Elementos...”, como indica a continuação da última frase da página 29 na página 8 do Caderno III dos “Elementos...”. Ver MEGA II/3.1, p. 146-7.
[23] No centro da página 8, está escrito sobre o texto: “Capítulo do Capital. (Continuação) (do Caderno II)”. Acima, à esquerda, consta: “(Último dia de novembro)”.
[h] Potencialmente. (N. T.)
[24] Antoine Cherbuliez, Richesse ou pauvreté, exposition des causes et des effets de la distribution actuelle des richesses sociales (Paris, A. Le Gallois, 1841), p. 16.
[25]John Francis Bray, Labour’s wrongs and labour’s remedy, or, The age of might and the age of right (Leeds, D. Green, 1839), p. 59.
[26]A referência aqui é sobretudo ao escrito publicado anonimamente por Thomas Hodgskin, Labour defended against the claims of capital; or, the unproductiveness of capital proved with reference to the present combinations amongst journeymen, by a labourer (Londres, B. Steil, 1825) [ed. bras.: Defesa do trabalho contra as pretensões do capital, São Paulo, Abril, 1983].
[27] Adam Smith, An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations, cit., v. 2, p. 335-85.
[28] Em seu livro Principles fondamentaux de l’économie politique (Paris, J. P. Aillaud, 1836), p. 195-206, Nassau William Senior polemiza contra a teoria de Smith sobre trabalho produtivo e improdutivo. Todavia, não há ali o exemplo do fabricante de pianos e do pianista. Algo semelhante sobre o “|trabalho que produz instrumentos musicaisi” e “|os instrumentistas, que são os únicos que podem usá-los adequadamentei” (o exemplo foi formulado dessa maneira por Thomas Malthus) encontra-se no texto de German Garniers, “Notes du traducteur”, no tomo 5 de sua tradução da obra de Adam Smith, Recherches sur la nature et les causes de la richesse des nations (Paris, H. Agasse, 1802, tomo 5), p. 173 e 179. Malthus refere-se a essas páginas no Principles of political economy considered with a view to their practical application (2. ed., Londres, W. Pickering, 1836), p. 46-7, 391 [ed. bras.: Princípios de economia política e considerações sobre sua aplicação prática, São Paulo, Nova Cultural, 1996].
[29] Deveria constar “(X, 40)”. A indicação refere-se ao Caderno de Extratos X, p. 40, onde é feita referência a uma passagem do livro de Malthus, Principles of political economy considered with a view to their practical application, cit. A passagem citada por Marx se encontra em uma nota de rodapé do editor (p. 47), onde se lê: “|O vendedor de um comerciante aumenta a riqueza de seu patrãoi”. No Caderno de Extratos, essa passagem é assim reproduzida: “Trabalhador produtivo que, diretamente, aumenta ‘|a riqueza de seu patrãoi’”.
[30]Jean-Charles Sismondi, Nouveaux principes d’économie politique, cit., p. 90. O algarismo romano identifica a página de um caderno de extratos desaparecido, elaborado entre 1844 e 1847, que incluía, além do texto citado de Sismondi, excertos de Droz e Cherbuliez.
[31] Ibidem, p. 105.
[32] O algarismo romano identifica a página do mesmo caderno de extratos extraviado (ver p. 239, nota 29). A passagem citada encontra-se na obra de Cherbuliez, Richesse ou pauvreté, cit., p. 55-6.
[33]Ibidem, p. 64.
[34] A indicação de fonte “(Say, 21)” refere-se a um caderno de extratos de 1844. A passagem citada encontra-se em Jean-Baptiste Say, Traité d’économie politique, cit., p. 429, nota. Cf. MEGA IV/2, p. 324.
[35] Marx refere-se aqui à página LX de seu Caderno de Extratos de Bruxelas, de 1845. A passagem citada encontra-se em Jean-Charles Sismondi, Études sur l’économie politique, cit., p. 273. Grifo de Marx.
[36] Ver p. 198.
[37] Ver p. 147, nota 132.
[38] A indicação de fonte refere-se ao Caderno de Extratos IX. A passagem citada encontra-se no livro de George Ramsay, An essay on the distribution of wealth (Edimburgo, A. e C. Black, 1836), p. 184.
[39]O termo “mais-valor” [Mehrwert] aparece aqui pela primeira vez no manuscrito.
[40] A indicação de fonte “(Ricardo, 39, 40.)” refere-se ao Caderno de Extratos VIII, de 1851, no qual estão contidos, entre outros, excertos detalhadamente comentados da obra principal de David Ricardo, On the principles of political economy and taxation (3. ed., Londres, J. Murray, 1821) [ed. port.: Princípios de economia política e de tributação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001]. Nas páginas 39 e 40 desse caderno, Marx reproduz em uma tradução própria para o alemão as passagens mais importantes do capítulo 7 “On foreign trade” [Sobre o comércio exterior] do livro de Ricardo, e acrescenta suas próprias anotações críticas. A passagem citada no texto é um resumo de Marx, que sintetiza as principais ideias de Ricardo sobre o comércio exterior.
[i] Despesas gerais ou incidentais de produção. (N. T.)
[41] Frédéric Bastiat e Pierre-Joseph Proudhon, Gratuité du crédit. Discussion entre M. Fr. Bastiat et M. Proudhon (Paris, Guillaumin, 1850).
[42] Acrescentado por Marx na margem inferior sem indicação de inserção: “A própria relação entre capital e trabalho, entre capitalista e trabalhador, como resultado do processo de produção.”
[43] Ver p. p. 178, 196-7 e 200-4.
[44] Ver p. 206-8.
[j] Para o rei da Prússia, a saber, de graça. (N. T.)
[45] Ver Frédéric Bastiat, Harmonies économiques (2. ed., Paris, Guillaumin, 1851), p. 378.
[46] Sobre trabalho assalariado e lucro, assim como sobre lucro e juro, Bastiat se manifesta em ibidem, p. 381-3.
[47] O termo “trabalho excedente” aparece aqui pela primeira vez no manuscrito.
[48] Trata-se do artigo anônimo “Negroes and the slave trade. To the editor of the Times”, assinado por “Expertus”, The Times (Londres), n. 22.844, 21/11/1857, p. 9, col. 5-6.
[49] Cf. anotação de Marx em seu Caderno de Extratos VIII, de 1851, p. 58: “A maior parte dos adversários de Ricardo, como Wakefield, p. ex., afirmava que ele não podia explicar o excedente. Dessa maneira, p. ex.: um fabricante adianta 30 libras para matéria-prima, 20 libras para maquinaria, 50 libras para salário. Summa Summarum 100 libras. Ele vende sua mercadoria por 110 libras. De onde vêm as 10 libras?”.
[50] Provavelmente Marx pensava na obra de Thomas Robert Malthus, The measure of value, stated and illustrated, with an application of it to the alterations in the value of the English currency since 1790 (Londres, J. Murray, 1823). Em seus excertos do livro de Malthus, Definitions in political economy, preceded by an inquiry into the rules which ought to guide political economists in the definition and use of their terms (Londres, J. Murray, 1827), no Caderno de Extratos IX, de 1851 (p. 51), figura: “Com relação ao seu Measure of value stated etc., Malthus afirma: ‘|[…] Eu não havia visto formulado em lugar nenhum que a quantidade de trabalho usual que uma mercadoria irá comandar tem de representar e medir a quantidade de trabalho inserida nela, com a adição do lucro [...] (196)i’”. Em 1862, Marx comentou como se segue essa formulação das principais ideias da obra de Malthus, The measure of value, cit.: “O sr. Malthus pretende inserir desde logo o lucro na definição do valor, com o que o valor resulta diretamente dessa definição, coisa que não ocorre em Ricardo. Daí se vê que ele percebe onde reside a dificuldade.” (Manuscritos de 1861-1863. Caderno XIII, p. 754.)
[51] Ver David Ricardo, On the principles of political economy and taxation, cit., p. 1-12.
[52] Ibidem, p. 60-1.
[53] Ver p. 247-8.
[k] Portanto. Em latim no original. (N. T.)
[54] Adam Smith, An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations (Londres, C. Knight, 1836, v. 2), p. 356 [ed. bras.: Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, São Paulo, Hemus, 2008].
[55] Ver p. 257-8.
[56] Ver p. 254-5.
[57] O termo “trabalho necessário” aparece aqui pela primeira vez no manuscrito.
[58] A Lei das Dez Horas, de 8 de junho de 1847, entrou em vigor em 1o de maio de 1848. Os industriais ingleses criaram, contudo, diversos subterfúgios a fim de prolongar a jornada de trabalho das 6h às 21h, como observou o inspetor de fábricas Leonard Horner em Reports of the inspectors of factories to Her Majesty’s Principal Secretary of State for the Home Department, for the half year ending, 30th April 1849 (Londres, 1849), p. 5.
[59] Deveria constar “o aumento do valor excedente”. Ver p. 266.
[60] Deveria constar “duplicação”. Ver acima.
[61] O termo “valor excedente relativo” aparece aqui pela primeira vez no manuscrito.
[62] A referência é ao segundo caso citado nesta página, com o valor excedente total original de ¾.
[63] Deveria constar “do aumento do valor excedente”.
[64] Em lugar de “lucro”, deveria constar “mais-valor”; em lugar de “1:16”, “162/3:100” ou “1:6”, porque no segundo caso mencionado por Marx (p. 267) a força produtiva aumenta 100%, ao passo que o mais-valor se eleva de ¾ para 7/8 de uma jornada de trabalho, i.e., só cresce 162/3%.
[65] Nesse ponto, a seguinte passagem está riscada no manuscrito: <Se o capital, tão logo a produtividade se duplicasse e o trabalho necessário fosse igualmente ½, portanto, diminuísse ¼, e o trabalho excedente disponível subisse, portanto, de 2/4 para ¾, se o capital, nessas circunstâncias, comandasse só ¾ da jornada de trabalho, o aumento da força produtiva na verdade não aumentaria o valor, o valor do capital, como imaginava Ricardo. Ele permaneceria o mesmo: antes ele representava um excedente de 2/4 da jornada de trabalho objetivada no capital sobre a parte da jornada pertencente ao trabalhador, o que continua ocorrendo como antes. É criado o mesmo trabalho objetivado excedente. No entanto, como vimos, está na natureza do capital consumir todo o trabalho excedente disponível; dado que seu conceito é justamente a criação de trabalho excedente. Sem dúvida, nesse ponto poder-se-ia perguntar>.
[66] Ver p. 245-9.
[67] Charles Babbage fala sobre trabalhos de fio de ouro no início do capítulo 18 de seu livro, que Marx leu e resumiu em uma tradução francesa: Traité sur l’économie des machines et des manufactures (Paris, Bachelier, 1833), p. 216-9.
[68] Ver p. 269-70.
[69] Referência a Eugène Daire, editor do livro Économistes financiers du XVIIIe siècle (Paris, Guillaumin, 1843), p. 419, nota 1.
[70] Aqui se faz referência sobretudo à passagem do livro de David Ricardo, On the principles of political economy and taxation (3. ed., Londres, J. Murray, 1821), p. 89 [ed. port.: Princípios de economia política e de tributação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001].
[71] As referências são aos argumentos de Ricardo, tais como expressos em ibidem, p. 340.
[72] Os números nessa última frase claramente se contradizem e não conferem com os exemplos dados. Em lugar de “40%”, foi escrito originalmente “20%”. Não é possível realizar uma correção clara e permanente desses números.
[73] Ibidem, p. 325-6.
[74] Referência ao Caderno de Extratos VIII, de 1851, onde se encontram, nas páginas 35-43, os extratos do capítulo 20 “Value and riches, their distinctive properties” [Valor e riqueza, e suas propriedades distintivas] e do capítulo 7 “On foreign trade” [Sobre o comércio exterior] do livro de Ricardo, minuciosamente comentados por Marx.
[75] Ibidem, p. 327.
[76] Ibidem, p. 327-8. Ênfases de Marx.
[77] Marx resume aqui o pensamento de Ricardo nos capítulos 7 e 20.
[78]Referência ao Caderno de Extratos VIII, mencionado anteriormente (p. 278). Nas páginas 39-40, encontram-se resumos do capítulo 7 do livro de Ricardo, acompanhados das observações críticas de Marx, sob o título “O comércio exterior e o valor de troca”.
[79] Referência ao capítulo 26 “On gross and net revenue” [Sobre a receita bruta e líquida] do livro de Ricardo.
[80] Cf. p. 257, nota 50.
[81] Tanto aqui como na continuação do texto deveria constar “tear”, em lugar de “fuso”, pois se trata da produção de tecido.
[82]Referência a economistas como George Ramsay, em cujo livro An essay on the distribution of wealth (Edimburgo, A. e C. Black, 1836), p. 55, consta: “|[...] o capital é uma fonte de valor independente do trabalhoi”; e em especial Nassau William Senior, em cujas Letters on the factory act, as it affects the cotton manufacture (Londres, B. Fellowes, 1837), p. 12-3, consta que “|todo lucro líquido é obtido na última horai” de uma jornada de trabalho de 11,5½, já que as restantes 10,5½ “‘simplesmente repõem o capitali”, sob cujo título Senior entende todo o capital adiantado (c+v).
[83] Ver p. 193-213.
[84] Ver p. 161-3.
[85] Provavelmente deveria constar “trabalho”, em lugar de “forma”.
[86] Deveria constar “tear”.
[87] Deveria constar “o tear”.
[88] Cf. p. 282.
[89] Ver p. 245-9, 272-4 e 282-3.
[90] Esse parágrafo foi riscado no manuscrito, provavelmente em conexão com a expressão seguinte “Dessa vez”, que inicia uma nova frase, mas foi de novo apagada. Como Marx se refere à passagem riscada no próximo parágrafo, ela foi restituída ao texto editado.
[91] Deveria constar “40 de valor excedente”. De acordo com o pressuposto de Marx, o segundo capital produz 60 táleres de valor excedente, dos quais o capitalista consome 20, e os 40 restantes são acumulados. Tem início aqui uma série de erros de cálculo que, entretanto, não modificam substantivamente a demonstração teórica, uma vez que esses números servem somente como ilustrações aproximadas. Em outra passagem, o próprio Marx comenta sobre alguns desses erros de cálculo: “O diabo que carregue esses malditos cálculos errados.”
[92] Depois dessa linha Marx deixou um espaço em branco no manuscrito para seis ou sete linhas de texto, provavelmente para trabalhar detalhadamente esse “outro exemplo”.
[93] Aqui começa o Caderno IV do manuscrito. A primeira página é intitulada “Caderno 4. Dezembro de 57. Capítulo do capital. (Continuação.)”.
[94] Marx provavelmente se refere aqui ao livro de Henry Charles Carey, Principles of political economy, parte 1: Of the laws of the production and distribution of wealth (Filadélfia, Carey, Lea & Blanchard, 1837), que ele resumiu em seu Caderno de Extratos X, de 1851. Na página 29 desse caderno estão contidas, entre outras, passagens do livro de Carey, ibidem, p. 338-9. Sobre Bastiat como “companheiro” de Carey, ver também p. 308-9 e as explicações correspondentes.
[95] Na p. 301, Marx expressou com mais precisão os números para as horas excedentes e as horas necessárias de uma jornada de 12 horas (sob o pressuposto de que a taxa de mais-valor é igual a 25%): 22/5 de horas excedentes e 93/5 de horas necessárias.
[96] Referência aos seguintes escritos de Richard Price, resumidos no Caderno de Extratos de 1851: An appeal to the public, on the subject of the national debt (2. ed., Londres, T. Cadell, 1772) e Observations on reversionary payments, on schemes for providing annuities for widows and for persons in old age, on the method of calculating the values of assurances on lives, and on the national debt (2. ed., Londres, T. Cadell, 1772). Em seu Caderno de Extratos de 1851, Marx resumiu o livro de Robert Hamilton, An inquiry concerning the rise and progress, the redemption and present state, and the management of the national debt of Great Britain (2. ed., Edimburgo, Oliphant, Waugh e Innes, 1814). Na página 36 desse caderno de extratos, Marx cita a seguinte passagem do livro de Hamilton: “O espírito do grande dr. Price é muito ingênuo: ‘|é tomar dinheiro emprestado a juros simples, de modo a valorizá-lo a juros compostosi.’ (p. 133)”.
[97] Referência ao fundo de amortização das dívidas estatais, constituído pelo primeiro-ministro britânico William Pitt (o mais jovem), em 1786.
[98] Marx provavelmente se refere às “|máquinas que têm por objetivo simplesmente transmitir energia e executar um trabalhof”, da tradução do livro de Babbage, extratada em 1845. Ver Charles Babbage, Traité sur l’économie des machines et des manufactures (Paris, Bachelier, 1833), p. 21-2.
[99] Marx pressupõe aqui que a taxa de mais-valor, depois do encarecimento da capacidade de trabalho, permaneceu a mesma, que, portanto, ela ficou igual a 25% para o capital I e a 331/3% para o capital II. Isso só é possível se a jornada de trabalho tiver se tornado proporcionalmente mais longa. Com base em seu pressuposto, esse cálculo aritmético de Marx e os seguintes são mais uma vez inexatos. Em lugar de “12 táleres”, deveria constar “12½ táleres” (25% de 50 = 12½). Há outros erros de cálculo similares. No texto editado eles são deixados tal como figuram no manuscrito, sem serem indicados em cada caso.
[100] Aqui começa outra vez uma série de erros de cálculo. Em lugar de “4131/3”, deveria constar “2131/3”; em lugar de “31/3%”, “62/3%”. No texto que se segue, somam-se a esses erros outros cálculos inexatos sobre o preço unitário da folha impressa.
[101] Acima dessas palavras, sem indicação de inserção: “(tempo de produção)”.
[l] Antiga moeda de prata alemã, cujo valor corresponde a 1/30 do táler. (N. T.)
[102] Ver p. 266.
[103] Ver Frédéric Bastiat e Pierre-Joseph Proudhon, Gratuité du crédit. Discussion entre M. Fr. Bastiat et M. Proudhon (Paris, Guillaumin, 1850), p. 130-1 e 133-57.
[104] Marx escreveu primeiro “1/331/3” e depois apagou a fração “1/3” que estava no denominador. Todos esses cálculos são incorretos. Em lugar de “31/3”, deveria constar “62/3” (ver correção na página 307); em lugar de “1/331/3”, simplesmente “1/30”; e quando se parte, como se deve, de “62/3”, a fração não é “1/30”, mas “1/15”. De acordo com isso, nesta página deveria constar apenas “14/15”, em lugar de “32/33”.
[105] Ver David Ricardo, On the principles of political economy and taxation (3 ed., Londres, J. Murray, 1821), em especial cap. 6, p. 119-22 [ed. port.: Princípios de economia política e de tributação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001].
[106] Ver p. 270-5.
[107] Ver p. 276-82.
[108] Ver p. 274-5, 278-9.
[109] Ver p. 245-9, 272-6, 282-3 e 292-7.
[110] Esses termos para as duas partes fundamentalmente distintas do capital aparecem aqui pela primeira vez.
[111]Na p. 292-3, Marx partiu do pressuposto de que a jornada de trabalho = 8 horas; agora, ele a fixa = 12 horas.
[112] Marx abandona aqui o pressuposto de que o capitalista B produz com produtividade do trabalho duplicada. De acordo com o pressuposto anterior, os cálculos deveriam ser: “logo, a soma é, primeiro, = 60 + 20 + 60 = 140 e, segundo, 45 + 15 + 45 = 105. Por conseguinte, o seu resultado total é 245”. O número 224, indicado na p. 295, se aproxima mais de 245 do que 175, que figura nesta página.
[113] Ver p. 292-5.
[114] Ver p. 294-5. Por isso, os dois capitalistas iniciam o segundo ciclo com 120 táleres, porque o capitalista A iniciou o primeiro ciclo com 100 táleres (após a duplicação da produtividade pelo capitalista B) e o capitalista B, somente com 80 táleres (60c + 20v).
[115] James Lauderdale, Recherches sur la nature et l’origine de la richesse publique, et sur les moyens et les causes qui concourent à son accroissement (trad. E. Lagentie de Lavaisse, Paris, Dentu, 1808), p. 119-20.
[116] No sentido do verbo inglês to spend (pagar, despender, gastar).
[m] Há um equívoco nessa relação entre capital constante e capital variável. Claramente, com esses números (80 para capital constante e 20 para variável), Marx quer manter o capital total do novo capital igual a 100 táleres. Porém, isso não funciona, uma vez que a duplicação da produtividade, que se reflete na queda pela metade do valor da força de trabalho, faz com que o novo capital tenha de gastar apenas 20 táleres com trabalho. Há ainda a questão do valor dos elementos constitutivos do capital constante. Supondo-se que tenham sido afetados pelo aumento da produtividade, o mesmo dispêndio em capital constante compraria mais sementes etc. No entanto, abstraindo deste último ponto – que é o que Marx parece fazer –, resta o erro referente à nova relação entre capital constante e variável, que deveria ser de 60:20, em lugar de 80:20, como figura no texto. Naturalmente, os erros que se seguem são decorrentes deste. No desdobramento do exemplo, porém, o equívoco é corrigido. Cabe lembrar que esta edição não se propõe corrigir todos os erros de cálculo cometidos pelo autor em seus manuscritos. (N. T.)
[117] De acordo com esta página, no caso do primeiro capital, antes do aumento da força produtiva, não se trata de uma duplicação das 4 jornadas de trabalho empregadas, mas de seu aumento em 2 jornadas.
[118] Ver p. 297-309.
[119] De acordo com o pressuposto formulado por Marx nesta página, o número de horas excedentes diárias não totaliza 6, mas 4 horas. E, desse modo, o número diário de horas necessárias não é 6, mas 8, como Marx corretamente afirma em seguida (p. 320). Em virtude dessa confusão do pressuposto inicial com um outro pressuposto da taxa de mais-valor de 100% resultam, no texto que se segue, distintos dados numéricos mutuamente incompatíveis.
[120] Por “duplicação da força produtiva do trabalho” Marx entende aqui a duplicação da taxa de mais-valor (de 50% a 100%), e não, como em outras passagens, a duplicação dos valores de uso produzidos no mesmo período de tempo.
[121] A indicação da página “(p. 27-28)” refere-se ao Caderno de Extratos XII, de julho de 1851. Os extratos retirados da publicação anônima The source and remedy of the national difficulties (Londres, 1821) foram em parte sintetizados por Marx de forma muito concisa; a maioria das ênfases é de Marx.
[122] A indicação “IX, 32” refere-se ao Caderno de Extratos IX de Marx, de 1851, de cujas páginas 32 e 40 foram retiradas as citações mencionadas anteriormente. As passagens são da obra de Piercy Ravenstone, Thoughts on the funding system, and its effects (Londres, J. Andrews, 1824).