VERSOS DO PRISIONEIRO (8) 

Noturno sou, 

mas sem noite. 

 

A grade já não mais 

me prende a morada: 

a treva sou eu, 

o escuro morreu. 

 

Eis o meu segredo: 

todas as noites 

me deito num livro 

para em outra vida desaguar. 

 

Rio escapando da margem, 

margem escarpando um rio. 

 

Já quis riqueza. 

Roubei, 

aluguei a alma 

alarguei tendões 

para abarcar posses. 

 

Agora, 

meu ouro é a palavra. 

Agora, a poesia 

é a minha única visita de família. 

 

E quando me notam, 

noturno no canto mais escuro, 

não dão conta 

da minha silenciosa evasão 

nem escutam 

o tilintar das chaves em minha mão. 

 

Presos, agora, 

apenas os que não entram 

em meu novo cárcere. 

 

Maputo, 2006