O AMOR, MEU AMOR 

(Para a Patrícia) 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nosso amor é impuro 

como impura é a luz e a água 

e tudo quanto nasce 

e vive além do tempo. 

 

Minhas pernas são água, 

as tuas são luz 

e dão a volta ao universo 

quando se enlaçam 

até se tornarem deserto e escuro. 

E eu sofro de te abraçar 

depois de te abraçar para não sofrer. 

 

E toco-te 

para deixares de ter corpo 

e o meu corpo nasce 

quando se extingue no teu. 

 

E respiro em ti 

para me sufocar 

e espreito em tua claridade 

para me cegar, 

meu Sol vertido em Lua, 

minha noite alvorecida. 

 

Tu me bebes 

e eu me converto na tua sede. 

Meus lábios mordem, 

meus dentes beijam, 

minha pele te veste 

e ficas ainda mais despida. 

 

Pudesse eu ser tu 

e em tua saudade ser a minha própria espera. 

 

Mas eu deito-me em teu leito 

quando apenas queria dormir em ti. 

 

E sonho-te 

quando ansiava ser um sonho teu. 

 

E levito, voo de semente, 

para em mim mesmo te plantar 

menos que flor: simples perfume, 

lembrança de pétala sem chão onde tombar. 

 

Teus olhos inundando os meus 

e a minha vida, já sem leito, 

vai galgando margens 

até tudo ser mar. 

Esse mar que só há depois do mar. 

 

Maputo, 2005