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O Homem das Mil Caras não perdeu tempo a fazer o luto pela perda de Roger Pearson. Na verdade, aproveitou a distração que a situação gerou. As pessoas falavam daquilo, matutavam no assunto, comentavam que era uma pena. Concordavam que não se tratava apenas da perda pessoal para a família e os amigos de Roger, mas também era um incidente infeliz para a Castle Line. A viagem inaugural do Queen Charlotte ficaria para sempre na memória por aquela tragédia, na mesma medida em que o seria pela experiência de luxo oferecida.

Que pena, pensou ele, ao mesmo tempo que sentiu uma onda de energia que sentia sempre que estava prestes a atacar. A maior parte das vezes conseguia obter o objeto do seu desejo sem ter de ceifar uma vida para alcançar o seu propósito. Sabia que era capaz de não ser esse o caso naquela noite. Não era provável que Lady Em dormisse quando da sua visita ao quarto dela. Tinha-a ouvido queixar-se de que tinha o sono leve e de que o mínimo barulho a acordava.

Mas não podia esperar mais. Na receção, ouvira o comandante incitar Lady Em a entregar-lhe o colar para ele lho guardar. Se ela o fizesse, podia não voltar a ter a oportunidade de o roubar.

Na festa do comandante, tivera dificuldade em desviar os olhos da joia. Era mais do que extraordinária. Era perfeita.

E, dentro de algumas horas, de uma maneira ou de outra, estaria nas suas mãos.