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Não havia nada que Kim Volpone apreciasse mais do que dar um passeio antes do pequeno-almoço. Estava a bordo do Paradise, um navio que se dirigia à sua primeira paragem, Southampton. A pesada chuva que se fizera sentir durante a noite tinha parado e o sol acabara de aparecer no céu. O convés estava praticamente vazio de passageiros.

Enquanto caminhava, ela inspirava profundamente. Adorava o aroma fresco da brisa do mar. Com quarenta anos e recém-divorciada, viajava com a sua amiga maia chegada, Laura Bruno e estava a viver uma enorme sensação de alívio por a terrível fase de divisão de bens ter terminado. Walter, o ex-marido, acabara por se revelar do tipo Walter Mitty, só devaneios em vez de realidade.

A meio da caminhada, parou e olhou para o horizonte. Semicerrou os olhos e pestanejou. O que estava ela a ver? Seria algum pedaço de lixo flutuante daquele que infelizmente chega ao mar? Talvez, mas alguma coisa parecia agitar-se na água.

A cerca de sessenta metros dela, um homem mais velho estava em pé com o braço à volta de uma mulher aproximadamente da sua idade. Tinha à volta do pescoço uma fita com uns binóculos pendurados.

— Peço desculpa, mas não creio que nos conheçamos. Eu chamo-me Kim Volpone.

— Eu chamo-me Ralph Mittl e esta é a minha mulher, Mildred.

— Ralph, seria possível emprestar-me os seus binóculos?

Ele acedeu, com relutância.

— Tome cuidado, por favor — advertiu-a. — São muito caros.

— Eu tomo — garantiu-lhe Kim, distraidamente, enquanto lhe tirava os binóculos da mão. Passou a fita à volta do pescoço e ajustou as lentes. Quando focou o objeto em movimento, susteve a respiração. Parecia um braço a mover-se para a frente e para trás. Arquejou, retirou a fita do pescoço e devolveu os binóculos ao seu dono.

— Olhe para ali — disse, apontando. — O que vê?

Surpreendido pela urgência na voz dela, o homem pegou nos binóculos, ajustou-os novamente à sua visão e dirigiu-os para o horizonte.

— Está ali alguém — exclamou, voltando-se de novo para ela. — Eu fico a vigiar — disse ele. — Vá dizer a um tripulante que chame o comandante. Está alguém na água. Ele está a tentar fazer sinal para o barco.

Dez minutos mais tarde, um barco com quatro tripulantes a bordo tinha sido baixado e avançava a grande velocidade na direção da pessoa que se encontrava na água.