81

Celia tinha dormido misericordiosamente bem a seguir ao jantar. Já não estar a guardar o colar de Cleópatra e ter confidenciado o seu segredo a Alvirah tinha-lhe tirado um peso de cima dos ombros. Mas quando abriu os olhos às seis e meia da manhã, apercebeu-se de que havia mais uma coisa. Ela tinha gostado imenso de conversar com Ted Cavanaugh. Ela sabia que ele estava a ser autêntico quando lhe dissera que acreditava que ela não tinha tido nada que ver com a morte de Lady Em. Gostava de lhe ter contado o que Lady Em lhe tinha dito acerca de Brenda e Roger, mas decidiu que isso o faria questionar porque sabia ela tanta coisa.

Depois de ter revivido a conversa de ambos na sua memória, dirigiu a sua atenção para a pergunta incómoda sobre porque se tinha deixado ser arrebatada por Steven. Porque não tinha sido mais cuidadosa? Uma pequena verificação teria revelado rapidamente que muito do que ele dizia não era verdade. Ela pensou se a culpa seria do pai, por ter morrido tão novo, deixando-a num estado vulnerável. Mas, ao pensar assim, sentia-se envergonhada e zangada por considerar sequer culpá-lo.

— Eu amo-o, papá — sussurrou, enquanto lágrimas reparadoras lhe enchiam os olhos. — A culpa é só minha.

Sentou-se, pegou num robe e telefonou para o serviço de quartos a pedir um café e um queque.

Eu não vou permitir que isto aconteça outra vez, pensou. Tenho de ter a certeza. Dirigiu-se à mesa e abriu o portátil. Celia não se lembrava do nome da firma de advogados de Ted, por isso, foi ao Google e escreveu: «Ted Cavanaugh, advogado, cidade de Nova Iorque». Um site da firma Boswell, Blitzer e Cavanaugh era uma das ligações. Clicou aí e o site abriu-se. Clicou na secção «Quem somos» e, quando a fotografia de Ted apareceu, ela leu a curta biografia que se encontrava por baixo. Deu um suspiro de alívio. Ted é precisamente quem disse que é.

Dali a minutos, o telefone tocou. Era Alvirah.

— Celia, eu só queria dizer-lhe que tenha cuidado — avisou Alvirah. — A Brenda Martin acaba de descer para tomar o pequeno-almoço. Ela contou que alguém tentou estrangulá-la e que teria morrido se o mordomo não tivesse entrado no seu quarto antes de ela ter asfixiado até à morte.

— Oh, pobre Brenda — suspirou Celia, apesar de se lembrar de que Lady Em lhe tinha dito que Brenda era uma ladra.

— A minha preocupação é que o ladrão possa andar à procura do colar de Cleópatra — prosseguiu Alvirah. — Por isso, nos próximos dois dias tem de ter cuidado. E tenha cuidado a andar. O navio está a começar a balançar de um lado para o outro. Se ainda não saiu, talvez não saiba que estamos a atravessar uma tempestade de chuvas muito intensas.

— Não saí — respondeu Celia. — Alvirah, preocupa-me que eu possa tê-la posto e ao William em perigo.

— Ah, nós ficamos bem — disse Alvirah, confiante. — Ninguém me vai matar com o Willy por perto e ninguém se vai meter com o Willy.

— Isso faz-me sentir melhor — respondeu Celia. — Mas, por favor, tenham cuidado.

— Nós temos — prometeu Alvirah.

Celia mal tinha desligado o telefone quando ele voltou a tocar. Era Ted Cavanaugh. A sua voz era solícita.

— Celia, não desceu para o pequeno-almoço. Está tudo bem?

— Eu estou ótima — assegurou-lhe ela. — Dormi até tarde esta manhã e é a primeira vez que o faço nos tempos mais recentes.

— Estou a ligar-lhe para a avisar que tenha cuidado — disse Ted. — A Brenda ia sendo morta ontem à noite. Ela diz que alguém a atacou no seu quarto e tentou estrangulá-la. Roubaram-lhe um colar de pérolas muito valioso.

Celia não comentou que Alvirah tinha acabado de lhe telefonar. Também não disse a Ted que o único colar que vira Brenda usar era de muito fraca qualidade. A não ser que o colar que ela alega ter sido roubado fosse um dos de Lady Em. Mas guardou aquele pensamento para si.

— Celia, o meu escritório acaba de me enviar material para uma apresentação que tenho de terminar hoje. Vamos almoçar amanhã?

— Eu gostava — respondeu Celia simplesmente.

— Ótimo. Que tal à uma da tarde no salão de chá do nosso piso?

— Está ótimo — confirmou Celia e segurou no telefone por um momento depois de Ted ter desligado. — Neste momento, não me sinto por minha conta e sozinha — disse em voz alta, desligando o telefone e pegando na sua chávena de café.