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— Isto é demasiado caro, Willy, apesar de fazermos quarenta e cinco anos de casados — suspirou Alvirah, olhando ao redor da suíte que o marido tinha reservado para comemorar aquela ocasião.

Apesar dos protestos dela, Willy conseguia perceber a excitação na voz da mulher. Ele encontrava-se na zona de estar e abria a garrafa de champanhe de oferta que arrefecia dentro de um balde prateado com gelo. Enquanto retirava a rolha da garrafa, olhou pelas janelas panorâmicas para as águas azul-escuras do Atlântico.

— Willy, não precisávamos de um quarto com uma varanda só para nós. Quando quiséssemos olhar para a água e sentir a brisa, podíamos ir até ao convés.

Willy sorriu.

— Querida, neste navio, aposto que todas as suítes têm uma varanda privativa.

Alvirah encontrava-se agora na casa de banho do quarto de ambos. E estava quase a gritar.

— Willy, tu acreditas nisto? Há uma televisão incorporada no espelho do toucador da casa de banho. Tudo isto deve custar uma fortuna.

Willy sorriu, com uma expressão indulgente.

— Querida, nós recebemos dois milhões de dólares brutos por ano. Há cinco anos que recebemos essa quantia e também ganhamos dinheiro a escrever para o Globe.

— Eu sei — suspirou Alvirah. — Mas preferia usar esse dinheiro para ajudar boas causas. É como diz a Bíblia, Willy: «Muito se espera daqueles a quem muito foi dado.»

Ai, meu Deus, pensou William. Que vai ela dizer quando eu lhe der o anel logo à noite? Decidiu dar-lhe uma pista.

— Querida, podes pensar nisto? Nada me faz mais feliz do que comemorar o tempo que passámos juntos. Fico muito magoado se não me deixares mostrar-te o quanto tenho sido feliz contigo nestes quarenta e cinco anos. E tenho mais uma coisa que te quero dar logo à noite. Se não aceitares, bem, vou ficar muito magoado — declarou. E pensou: «Pareço um político a falar.»

Alvirah pareceu apanhada de surpresa.

— Oh, Willy, desculpa. É claro que estou feliz por estar aqui. E pensando bem, foste tu que decidiste comprar a cautela da lotaria naquele dia. Eu comentei que mais valia pouparmos aquele dólar. Estou entusiasmadíssima por estar aqui e por receber o que tu me quiseres oferecer.

Estavam os dois junto à porta da varanda, a admirar a vista para o oceano. Willy passou o braço por cima dela.

— Assim está melhor, querida. E pensa só, ao longo da próxima semana vamos aproveitar cada minuto, todos os dias.

— Vamos, sim — concordou Alvirah.

— E tu estás linda.

Mais uma despesa, pensou ela. A cabeleireira onde costumava ir estava de férias e ela tinha ido pintar o cabelo a um salão caríssimo. A sugestão de lá ir partira da sua amiga a baronesa Von Schreiber, proprietária do Cypress Point Spa, onde Alvirah fora imediatamente depois de ela e Willy terem ganho a lotaria. Eu já devia saber que a Min só me iria sugerir aquele sítio, pensou. Mas tinha de admitir que o cabelo ficara com aquele tom de ruivo de que ela sempre gostara. E monsieur Leopoldo tinha-lhe feito um corte que a favorecia. E ela perdera oito quilos desde o Natal e já podia voltar a usar as roupas muito elegantes que Min tinha escolhido para ela há dois anos.

Willy abraçou-a.

— Querida, que bom saber que num navio como este só vais ter de escrever sobre viagens relaxantes.

Mas, no preciso momento em que dizia aquelas mesmas palavras, Willy teve uma aterradora sensação de que as coisas não iriam ser assim. Nunca eram.