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Raymond Broad, o mordomo destacado para a suíte de Lady Em, entrou com uma bandeja, para recolher o que restava do chá da tarde. Ele vira-a sair, com a assistente no seu encalço, dirigindo-se ao Salão da Rainha, situado no sétimo piso.

Só os que têm as carteiras mais recheadas podem dar-se ao luxo de ir lá acima, pensou ele. É o tipo de pessoas de quem eu verdadeiramente gosto. Pôs na bandeja o serviço de chá, bem como os restos das sanduíches e do sortido de doces, com perícia.

A seguir, dirigiu-se ao quarto e olhou à volta. Abriu as gavetas das mesas de cabeceira dos dois lados da cama. Era frequente as pessoas ricas deixarem as joias ali em vez de as guardarem no cofre. Ele procurou por isso.

E as pessoas às vezes também são descuidadas em relação ao dinheiro. Se no final da viagem alguém deixasse uma carteira recheada numa das gavetas, a pessoa nunca daria pela falta de algumas centenas de dólares que nem se dava ao trabalho de contar.

Raymond tinha muito cuidado com aquilo que roubava e era precisamente por isso que nunca ninguém desconfiara dele, ao longo dos dez anos em que trabalhara para a Castle Line. E qual era o mal de ganhar um dinheirinho extra fornecendo aos jornais sensacionalistas fofocas suculentas acerca dos movimentos das celebridades a bordo? Ele sabia que era considerado um excelente mordomo.

Entrou novamente no salão, pegou na bandeja e saiu da suíte. O sorriso de satisfação que exibia sempre depois de ter vasculhado um local desapareceu quando abriu a porta. Com uma expressão solene no rosto, impecável no seu uniforme e o cabelo preto rarefeito cuidadosamente penteado por cima da careca, a sua expressão tornou-se de subserviência, não fosse cruzar-se com algum passageiro no corredor.