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O professor Henry Longworth verificou o seu laço, certificando-se de que estava bem posto. Apesar de o código de vestuário para aquela noite ser informal, ele não estava interessado em usar um polo. Simplesmente, não lhe agradava. Fazia-lhe lembrar a roupa andrajosa que usava na sua infância difícil nos bairros de lata de Liverpool. Quando tinha apenas oito anos, já era suficientemente perspicaz para perceber que a única esperança de ter um futuro era se apostasse na sua educação. Depois das aulas, enquanto os outros rapazes jogavam futebol, a que os americanos chamavam soccer, ele ficava a estudar.
Aos dezoito anos, recebeu uma bolsa para estudar em Cambridge. Quando ali chegou, o seu sotaque de Liverpool fora alvo de troça junto dos colegas. Exigira-lhe um esforço incessante conseguir eliminá-lo até terminar a licenciatura.
No seu percurso, desenvolveu uma paixão por Shakespeare e acabou por tornar-se professor em Oxford, lecionando esse tema até se reformar. Ele sabia que os colegas em Oxford troçavam dele e diziam que, quando ele morresse, ia ser depositado no caixão com um laço e um casaco de asas de grilo. Mas não se importava.
O laço estava direito e posicionado na perfeição sob o colarinho da camisa.
Vestiu o casaco leve de xadrez, perfeitamente adequado ao tempo que se fazia sentir em meados de setembro, e olhou para o relógio. Faltavam dez minutos para as sete horas. A pontualidade é apanágio dos reis, pensou para os seus botões.
A sua suíte ficava no piso concierge e ele tinha ficado agradavelmente surpreendido por as comodidades serem substancialmente mais luxuosas do que era habitual em navios mais antigos. Claro que era uma piada chamar suíte a um espaço comum de quarto e sala de estar, mas que assim fosse. Dirigiu-se ao espelho alto que havia na porta da casa de banho e lançou uma olhadela a si mesmo de alto a baixo, para se certificar de que não havia nada em falta na sua aparência. O seu reflexo mostrava um homem de sessenta anos, de estatura média, a usar óculos de aros transparentes por cima de uns olhos castanhos intensos, com uma cabeça calva e um aro de cabelo grisalho à volta. Anuiu com uma expressão de aprovação e a seguir dirigiu-se à cómoda para olhar mais uma vez para a lista de passageiros. Haver a bordo pessoas conhecidas de várias áreas da sociedade não era uma surpresa. Quantos deles serão convidados custeados pela Castle Line? Bastantes, imagino.
Desde que se aposentara que se tornara um orador frequente da companhia e era muito apreciado pelo diretor do cruzeiro. Há seis meses, quando lera a publicidade a respeito da viagem inaugural do Queen Charlotte, contactara o escritório de reservas e dera a indicação de que teria muito gosto em viajar como orador convidado naquela rota.
E ali estava ele. Com um sentimento reconfortante de satisfação, o professor Henry Longworth abandonou o seu camarote para se dirigir ao Salão da Rainha e conviver com os passageiros mais importantes que seguiam a bordo.