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Ao jantar, Lady Em apresentou os seus convidados ao professor Henry Longworth e a seguir virou-se para Celia.

— Minha querida, sei que já conhece a Brenda, mas julgo que não conhece o Roger Pearson e a mulher dele, a Yvonne. O Roger é o meu consultor financeiro e também é o executor do meu testamento. E obviamente espero que não venha a precisar dos serviços dele nesse domínio durante muitos anos — disse Lady Em e riu-se. — Já ouvi alguém referir-se a ele como «um osso duro de roer». E, apesar de não ser um comentário muito lisonjeiro, creio que é verdade.

Se ao menos fosse verdade, pensou ela. Todos se riram e ergueram os copos de vinho, quando Roger disse:

— Um brinde a Lady Emily. Eu sei que todos nós nos sentimos honrados por estarmos na companhia dela.

Celia reparou que Henri Longworth ergueu o copo, mas ficou algo surpreendido com o brinde que incluía todos eles. Ele mal a conhece, pensou ela. Foi literalmente forçado a juntar-se a ela e agora tem de se sentir honrado na sua presença. Quando ele olhou para ela e ergueu o sobrolho, ela soube que era precisamente aquilo que ele estava a pensar.

Quando o caviar chegou, Lady Em olhou para ele com satisfação.

— Ora era assim mesmo que se servia caviar em cruzeiros antigamente.

— Eu diria que num restaurante pagaríamos duzentos dólares cada um por esta quantidade — comentou Roger.

— Tendo em conta o que esta viagem custou, devíamos ter direito a uma tigela — comentou Brenda.

— A Brenda é muito poupada em relação ao meu dinheiro — disse Lady Em. — Não aceitou ficar numa suíte ao lado da minha. Insistiu em ficar no andar de baixo.

— E é perfeitamente luxuoso — respondeu Brenda, com convicção.

Lady Em virou-se para Celia:

— Lembra-se de uma vez eu lhe ter dito qual era a minha citação preferida em relação a joias?

Celia sorriu.

— Lembro, sim. «As pessoas vão olhar. Faça com que valha a pena.»

Todos na mesa se riram.

— Muito bem, Celia. Foi o famoso Harry Winston quem me disse isso quando eu o conheci num jantar de Estado na Casa Branca.

Ela explicou aos restantes convidados:

— A Celia é especialista em gemas. É a pessoa que eu consulto quando compro joias ou quando quero reparar as minhas peças que têm riscos ou lascas. É claro que eu gosto de usar as minhas melhores joias. Por que outro motivo havíamos de ter joias se não fosse para as usarmos? Alguns de vocês são capazes de ter lido que nesta viagem eu tenciono usar o famoso colar que se diz ter sido criado para Cleópatra. O pai do meu falecido marido trouxe-o para o país há mais de cem anos. Eu nunca o usei em público. Ele é simplesmente inestimável. Mas pareceu-me adequado à majestosidade deste belíssimo navio usá-lo nas noites de gala. Quando regressar a Nova Iorque, tenciono doá-lo ao Instituto Smithsonian. É tão maravilhoso que quero que o mundo o veja.

— É verdade que há uma estátua de Cleópatra a usar o que se acredita ser esse colar? — perguntou o professor Longworth.

— Sim, é verdade. E, como estou certa de que saberá, Celia, as esmeraldas no tempo de Cleópatra não eram habitualmente tratadas como são agora, para salientar todas as facetas do seu brilho. O artesão que tratou aquelas esmeraldas estava muito à frente do seu tempo.

— Lady Em, tem a certeza de que se quer separar do colar? — protestou Brenda.

— Tenho. Está na hora de deixar o público apreciá-lo.

Voltou-se para Henry Longworth.

— Nas suas palestras, recita passagens de Shakespeare?

— Recito, sim. Seleciono algumas e pergunto à audiência se quer ouvir algumas em particular.

— Eu vou estar na fila da frente — disse Lady Em, enfaticamente.

Todos murmuraram que iriam estar lá, com exceção de Yvonne, a mulher de Roger, que não tinha nenhuma intenção de ouvir uma palestra sobre Shakespeare.

Alguns minutos antes, ela tinha visto umas pessoas que conhecia de East Hampton. Pediu licença e foi ter com elas.

A mesa do comandante Fairfax situava-se no meio da sala. Quando o jantar estava a chegar ao fim, ele levantou-se:

— Habitualmente não servimos um jantar formal na primeira noite a bordo — disse ele. — Mas abrimos uma exceção. Quisemos que começassem já a viver a experiência da viagem fascinante que vão fazer ao longo dos próximos cinco dias. O nosso entretenimento desta noite consiste nos cantores de ópera Giovanni DiBiase e Meredith Carlino a cantarem uma seleção de peças das óperas Carmen e Tosca. Espero que passem um serão muito agradável.

— Gostaria imenso de ouvi-los — disse Lady Em, quando se levantou. — Mas estou um pouco cansada. Convido quem quiser a acompanhar-me numa bebida no Bar Eduardiano.

À semelhança de Yvonne, também Celia declinou, explicando que tinha de se preparar para a sua palestra. De volta à suíte, permitiu-se pensar nas possíveis consequências de Steven contar à revista People que ela estava envolvida no roubo dele.

Ele é um mentiroso, pensou ela. Nasceu a mentir. Tudo o que me disse é mentira.

A cobertura mediática na sequência da detenção de Steven durante o seu jantar de ensaio tinha-a deixado em estado de choque. Mas as coisas haviam piorado. O pai dele, um abastado investidor de petróleo e gás, de Houston, telefonara-lhe a explicar que Steven fora deserdado pela família. Também lhe tinha contado que Steven tinha mulher e um filho no Texas, que eram sustentados por eles.

A Carruthers propusera-lhe tirar uma licença quando o escândalo rebentara, cerca de um mês antes. Ela sugerira, e eles tinham concordado, tirar várias semanas de férias que não tinha gozado, para deixar que as coisas «se resolvessem».

Quem sabe o que iria acontecer quando eles vissem o artigo amanhã?

Ela não dormiu a noite toda.