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A atividade das sete horas da manhã seguinte era uma aula de ioga. Celia mal tinha começado a dormitar, mas forçou-se a levantar-se e a participar. Compareceram cerca de vinte pessoas.
Não ficou surpreendida ao ver que a professora era Betty Madison, uma instrutora de ioga famosa que tinha escrito um êxito de vendas sobre o assunto. Neste navio não há amadores, pensou, enquanto desenrolava o seu tapete e se instalava. Nem em nenhum dos navios de cruzeiro em que ela dava palestras. Nessas outras viagens costumava convidar a sua amiga íntima, Joan LaMotte a acompanhá-la. Desta vez não se atrevera a convidá-la. Joan e o marido tinham perdido duzentos e cinquenta mil dólares no fundo de Steven.
O mesmo que eu perdi, pensou Celia, mas eu fui o bode de Judas que guiou os cordeiros até à morte.
Havia tantos sinais, pensou ela. Porque não os vi? Porque lhe dei sempre o benefício da dúvida? Eu e o Steven gostávamos de fazer coisas juntos: ir a museus, ao cinema, ao teatro e fazer jogging no Central Park. Quando fazíamos coisas com outros casais, era sempre com amigos meus. Os amigos mais antigos dele, dizia-me, estavam no Texas. E Steven achava que era boa política não socializar com colegas de trabalho fora do escritório.
— É mais profissional — dizia ele, quando se referia a isso.
A vantagem de ver as coisas em perspetiva era que se tornava muito claro por que motivo eles não socializavam com os amigos de Steven. Ele não tinha amigos. O número reduzido de «amigos» dele que tinham ido ao jantar de ensaio conhecia-o da liga de basquetebol que ele jogava uma noite por semana e da aula de ginástica que ele frequentava no ginásio.
Quando a sessão de ioga terminou, Celia voltou para o seu camarote e pediu o pequeno-almoço. A revista diária de quatro páginas de notícias do navio fora posta debaixo da porta durante a noite. Receou que na secção de Wall Street pudesse haver alguma alusão à entrevista que Steven tinha dado à revista People. Seria certamente uma excelente fonte de boatos. Abriu a revista e ficou satisfeita por não haver menção nenhuma a Steven.
Mas vamos esperar até a People sair para as bancas amanhã. Aquele pensamento era recorrente, como o bater de um tambor na sua cabeça.