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— Acompanhe-me — fora a resposta do comandante Fairfax a uma Yvonne emocionalmente perturbada. Conduziu-a para fora da sala apinhada e para uma divisão privada. Enquanto caminhavam, ele foi gritando ordens para o seu telefone, instruindo John Saunders, o chefe da segurança, a encontrar-se com ele no posto do comissário do navio. Só depois de a porta do pequeno gabinete se ter fechado atrás dele o comandante e Saunders começaram a interrogar Yvonne.
— Senhora Pearson — começou Fairfax. — Conte-me exatamente aquilo que viu e ouviu em relação ao que se passou com o seu marido.
Yvonne falou sobressaltada, tentando conter os soluços.
— Nós, ou seja, o Roger e eu, encontrávamo-nos na nossa suíte. Estávamos na varanda a conversar. Já tínhamos bebido alguns copos, os dois. O Roger estava sentado no corrimão. Eu pedi-lhe para não fazer isso. Ele disse-me para me meter na minha vida. E a seguir caiu — declarou Yvonne, que enterrou a cara nas mãos e começou a chorar convulsivamente.
— Senhora Pearson — começou a dizer o comandante. — Eu sei que isto é perturbador para si e lamento que tenhamos de lhe fazer estas perguntas. Garanto-lhe que queremos encontrar o seu marido tanto como a senhora. Mas antes de considerarmos dar a volta ao navio e ir atrás procurá-lo, preciso de saber exatamente o que viu.
Yvonne secou as lágrimas e aceitou o lenço de papel que Saunders estava a oferecer-lhe. Por entre as fungadelas, ocorreu-lhe um pensamento. Ela fora imediatamente a correr para a sala da receção, para anunciar que Roger tinha caído borda fora. Estava desesperada com a preocupação de que devia ter esperado um pouco mais. Não fazia ideia de quanto tempo um navio demorava a dar a volta e voltar atrás. Ou se eles enviariam um pequeno barco lá atrás à procura dele. Mas o comandante não me parece estar com pressa de começar as buscas, pensou.
— Peço desculpa. Isto é tão perturbador. Eu tenho de admitir que fiquei aborrecida quando o Roger me disse para me meter na minha vida. Voltei para a suíte e fechei a porta da varanda, zangada. Um minuto depois, quando voltei lá fora para lhe dizer que estava na hora de irmos para a receção, ele tinha desaparecido.
Yvonne rompeu novamente em lágrimas e pensou desfalecer, ou até mesmo desmaiar, mas não tinha a certeza se aquilo pareceria verdadeiro.
Foi Saunders quem fez a pergunta seguinte, enquanto lhe oferecia mais um lenço de papel.
— Senhora Pearson, a senhora disse que «um minuto mais tarde» foi à varanda e o seu marido tinha desaparecido. A razão para estarmos a interrogá-la com tanta minúcia prende-se com o facto de a maioria dos relatos de pessoas que caem à água serem alarmes falsos. A pessoa desaparecida está quase sempre noutra zona do navio, infelizmente algumas vezes num lugar onde não devia estar. O que fez, exatamente, nesse minuto, desde que viu o seu marido pela última vez sentado no corrimão e voltou lá para o chamar para a receção?
Yvonne fez um esforço consciente para esconder a intensa onda de alívio que a invadiu.
— Fui à casa de banho, muito rapidamente.
— Fechou a porta, quando foi à casa de banho? — perguntou Saunders.
— Claro que sim.
— Então, esteve na casa de banho com a porta fechada pelo menos um minuto — disse o comandante. — E é possível que o seu marido tivesse saído da suíte enquanto a senhora — hesitou — tinha a porta fechada?
— Bom, tenho quase a certeza de que teria ouvido a porta da varanda e depois a da suíte a serem fechadas — disse ela. — Mas, sabe, o barulho do autoclismo é assim para o alto.
— É, sim, e eu lamento o facto — disse o comandante. — Mas se abrando a marcha do navio e dou a volta, perdemos a oportunidade de chegarmos a Southampton a horas. Isto seria um incómodo para os nossos passageiros, alguns dos quais vão diretamente para os aeroportos, apanhar voos previamente marcados. Recomendo que se proceda a uma busca minuciosa dentro do navio para tentarmos encontrar o seu marido. Se não formos bem-sucedidos, pensamos no que faremos de seguida.
Saunders debruçou-se e entregou a Yvonne uma folha de papel e uma caneta.
— Senhora Pearson, há um protocolo que temos de seguir nestas infelizes circunstâncias. Vou pedir-lhe que preencha este formulário, que incluirá o seu relato detalhado do que sucedeu na suíte aproximadamente no momento em que viu o seu marido pela última vez. Depois de o ter redigido e de ter verificado a sua precisão, vamos ambos assiná-lo.
Yvonne sentia-se completamente a flutuar.
— Agradeço-lhe imenso estarmos todos a fazer tudo o que podemos para encontrar o meu pobre querido Roger.