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Alvirah e Willy tinham acabado de chegar à sua suíte quando ela perguntou num tom preocupado:

— Willy, tu reparaste que Lady Em estava a dirigir-se para o Ted Cavanaugh e depois pareceu mudar de ideias?

— Achei que fosse simplesmente desejar-lhe boa noite — disse Willy. — O que há de errado nisso?

— Há alguma coisa na maneira como ele persegue Lady Em — declarou Alvirah com firmeza.

— O que quer isso dizer, querida?

— Acredita em mim, ele faz isso. Hoje, na receção, foi direito à Lady Em e ficou a olhar fixamente para o colar dela. Ouvi-o dizer: «Essa é a joia egípcia mais deslumbrante que alguma vez vi.»

— Parece um elogio simpático. — Willy bocejou, esperando que Alvirah percebesse que ele estava pronto para se deitar. Mas, no caso de ela ter reparado, isso não a impediu de discutir o assunto.

— Willy, eu estava a passear no convés de recreio esta tarde, quando tu voltaste a pegar no teu quebra-cabeças. Lady Em estava a uns quinhentos metros de mim. Alguém passou por mim apressadamente. Era o Ted Cavanaugh. Ele foi direito a Lady Em e começou a falar com ela. Tu sabes bem que as pessoas que vão dar uma caminhada no convés não estão na disposição de começar uma conversa com alguém que mal conhecem, especialmente alguém como Lady Em.

— Sim, Lady Em não é o tipo de pessoa com quem se ganhe confiança — concordou Willy.

— Eu tenho a certeza absoluta de que ele começou a discutir com ela, porque junto a uma das portas ela virou-se e como que a atravessou à pressa, como se estivesse a fugir dele.

— Bom, antes de fazer isso, tenho a certeza de que ela o pôs no lugar — disse Willy, levantando-se e despindo o casaco do smoking. — Querida, foi um dia e peras. Porque não…

— E reparei em mais uma coisa — interrompeu-o Alvirah, alisando uma ruga na saia do seu vestido de cerimónia. — Ontem à noite, nós estávamos num sítio com uma visão privilegiada para a mesa de Lady Em e eu estava a olhar para ela, porque a acho fascinante. Mas depois comecei a dar atenção ao Roger e à Yvonne.

— Willy, quando eles se entreolhavam, as expressões que faziam um ao outro eram capazes de fazer parar o tempo. Especialmente da parte da Yvonne. Ela tinha uma expressão tão maldosa quando olhou para ele. O que será que está a sentir agora, depois daquele acidente terrível? Quer dizer, o que sentirias tu se estivéssemos de costas voltadas e eu caísse ao mar?

— Querida, nós nunca estamos de costas voltadas, por isso, não me preocuparia muito com isso.

— Pois, mas eu não consigo deixar de pensar como a Yvonne deve estar arrependida se ela e o Roger tiverem discutido antes do acidente.

Ela não tinha sono e desejava dar continuidade à conversa, mas quando viu Willy bocejar outra vez, decidiu continuar de manhã. Depois de se deitar, não conseguia adormecer. Os seus ossos diziam-lhe que vinham aí problemas.

Problemas sérios.