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O professor Longworth estava sentado sozinho à mesa do pequeno-almoço quando Brenda Martin se juntou a ele. Uma mulher que acho especialmente entediante, pensou ele, enquanto se levantava educadamente e a cumprimentava com um sorriso.
— E como está Lady Em esta manhã? — perguntou. — Ontem à noite fiquei preocupado com ela. Estava muito pálida.
— Uma vez que não me disse nada até às nove horas, isso quer dizer que toma o pequeno-almoço na suíte dela — respondeu Brenda. — O empregado de mesa estava ao lado dela. Ela pediu o generoso pequeno-almoço do costume, composto por: sumo de laranja, melão amarelo, ovos escalfados com molho holandês, salsichas e café.
Foi então que Yvonne Pearson chegou à mesa.
— Já não conseguia estar sozinha mais tempo — explicou numa voz entrecortada. — Queria estar com amigos. — Quase não estava maquilhada, acentuando a sua aparência supostamente perturbada pela dor. Uma vez que não tinha trazido roupa preta na viagem, fora para a segunda opção. Vestia um fato de treino cinzento. A sua única joia era a aliança de casamento de diamante. Dormira profundamente e sabia que não tinha a aparência exausta que mais lhe convinha. Mas, quando o empregado de mesa lhe segurou a cadeira, ela disse: — Passei a noite a chorar. Só conseguia pensar no meu querido Roger a cair. Se ao menos ele me tivesse dado ouvidos. Eu implorei-lhe para não se sentar no corrimão. — Limpou uma lágrima imaginária, sentou-se e pegou na ementa.
Brenda anuiu compassivamente, mas o professor Longworth, observador astuto da natureza humana, viu para lá da fachada. Ela é boa atriz, pensou. Não me parece que eles os dois fossem felizes juntos. A tensão entre ambos era evidente. O Roger andava sempre em cima de Lady Em e a Yvonne não disfarçava que os achava entediantes aos dois.
Naquele momento, ecoou pelo navio o anúncio triste do comandante de que Lady Em tinha falecido durante o sono.
Brenda arfou.
— Oh, não. — Levantou-se e saiu da sala de refeições a correr. — Porque não me disseram? Porque não me disseram?
Henry Longworth e Yvonne Pearson entreolharam-se com uma expressão de choque e fitaram os pratos, sem reação.
Na sua mesa, Alvirah, Willy, Anna DeMille e Devon Michaelson reagiram ao anúncio com incredulidade. Foi Anna quem falou primeiro.
— Dois mortos em dois dias — susteve a respiração. — Já a minha mãe dizia «não há duas sem três».
Alvirah respondeu:
— Também já ouvi dizer, mas de certeza que se trata apenas de um provérbio popular.
Pelo menos, rezo para que assim seja, pensou para os seus botões.