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Ted Cavanaugh estava a terminar o pequeno-almoço e envolvido numa conversa telefónica com o seu sócio do escritório de advogados, quando o anúncio da morte de Lady Em se fez ouvir no sistema de altifalantes do navio. Tinha uma chávena de café na mão, que teve de segurar com força para não a deixar cair.
Teve pena por Lady Em, mas o seu próximo pensamento foi: espero que o colar de Cleópatra esteja a salvo. Será que o anúncio da morte dela já saiu para as notícias, pensou, enquanto começava a digitar no seu iPhone. Claro que tinha.
«Lady Emily Haywood Assassinada e Famoso Colar Pode Estar Desaparecido», era o título no Yahoo News. Isto não pode ser verdade, pensou ele, apesar de pensar que a informação devia ter sido sujeita a alguma verificação. O anúncio do comandante não falara de homicídio. Havia sempre rumores selvagens na Internet, mas pareceu-lhe que aquilo era demasiado extraordinário para não ser verdade. A história prosseguia, relatando que nas primeiras horas dessa madrugada Lady Haywood tinha sido asfixiada com uma almofada, quando se encontrava na cama. Dizia ainda que o cofre se encontrava aberto e que havia joias espalhadas pelo chão.
O colar de Cleópatra. Que tragédia se tivesse desaparecido. Era a última joia que Cleópatra tinha pedido para lhe trazerem antes de se preparar para cometer suicídio, em alternativa a deixar-se fazer refém de Octávio. Pensou nas antiguidades que ele e os sócios tinham recuperado e devolvido aos legítimos proprietários. Quadros para as famílias das vítimas de Auschwitz. Quadros e esculturas para o Louvre, que haviam sido roubados durante a ocupação francesa na Segunda Guerra Mundial. E também tinham sido bem-sucedidos a processar antiquários e comerciantes de arte que haviam impingido a compradores insuspeitos réplicas de artefactos valiosos, fazendo-as passar pelos originais.
O seu pensamento acelerou quando pensou nas pessoas no navio que eram próximas de Lady Em.
Brenda Martin, certamente.
Roger Pearson, mas esse estava morto. Lady Em e a viúva Pearson seriam próximas?
E Celia Kilbride? Lady Em assistia às conferências dela, conversava com ela no final e convidara a gemóloga para a sua mesa.
Escreveu «Celia Kilbride» no Google. A história principal era uma entrevista da revista People ao antigo noivo, acusado de fraude e que jurava que ela estava envolvida no esquema com ele.
Como advogado, sabia que depois de aquela entrevista ser publicada, o FBI ver-se-ia forçado a analisar mais atentamente o potencial envolvimento dela no roubo. As contas de representação dela deviam ser exorbitantes.
Teria sido levada a roubar o colar? Se o tivesse roubado, como entrara no quarto de Lady Em?
Tentou imaginar o que teria acontecido na suíte de Lady Em? Teria a senhora acordado e descoberto Celia a abrir o cofre?
E, se assim fosse, teria Celia Kilbride entrado em pânico, pegado numa almofada e asfixiado Lady Em?
Mas, ao mesmo tempo que tudo aquilo lhe passava pela cabeça, Ted conseguia visualizar Celia Kilbride a entrar na receção na noite anterior, completamente deslumbrante, e a cumprimentar as outras pessoas que se encontravam na sala.