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Com um desespero crescente, Roger Pearson assistira ao nascer do sol. Tinha os braços pesados como chumbo. Os dentes tremiam-lhe. Uma chuva fria fornecera-lhe água potável para beber, mas deixara-o a tiritar.

Era um esforço conseguir manter os braços e as pernas em movimento. Sabia que não estava em hipotermia, mas estava lá perto. Não sabia se teria energia para voltar a insuflar as calças que estava a usar como boia quando o resto do ar se soltasse. Não aguento muito mais, pensou.

E foi então que lhe pareceu vislumbrá-lo. Uma espécie de navio que se aproximava na sua direção. Há muito que se afastara de qualquer espécie de religiosidade, mas naquele momento deu por si a rezar. Meu Deus, permite que alguém olhe para aqui. Permite que alguém me veja.

Num aperto, todos somos crentes, foi o seu último pensamento consciente, enquanto se forçava a não ceder até estar no raio de visão do navio. Agora lutava por se manter à superfície, no meio das vagas que, entretanto, tinham começado a inundar-lhe as narinas e a afastá-lo do barco que se aproximava.