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Alvirah e Willy conversavam animadamente enquanto faziam a sua caminhada diária de dois quilómetros e meio no convés de recreio.

— Willy, sempre houve o risco de alguém roubar o colar da Cleópatra, mas é horrível que alguém tenha asfixiado aquela pobre senhora para o obter.

— A ganância é um motivo horrível — afirmou Willy com pesar, e a seguir reparou que Alvirah estava a usar o anel de safiras que ele lhe tinha oferecido pelo seu quadragésimo quinto aniversário de casamento. — Querida, tu nunca usas joias durante o dia além da aliança de casamento — comentou. — Porque decidiste usar a nova?

— Porque não vou permitir que alguém entre no nosso camarote e o roube — respondeu Alvirah. — E aposto que há muita gente neste navio a fazer o mesmo. E se não quiserem usar as joias, trazem-nas na mala de mão. Oh, Willy, só de pensar como este cruzeiro foi perfeito nos primeiros dias. E depois o pobre Roger Pearson caiu ao mar e agora Lady Em foi assassinada. Quem havia de acreditar nisto?

Willy não respondeu. Estava a olhar para as nuvens escuras que se formavam por cima das suas cabeças e a sentir os movimentos balançantes do navio a aumentarem de intensidade. Não me surpreendia que estivéssemos a entrar numa tempestade, pensou ele. E se estivermos, espero que não comecemos a sentir-nos como se estivéssemos no Titanic: luxo atrás de luxo, para no fim acabar tudo em desastre.

Que pensamento louco, repreendeu-se. Pegou na mão de Alvirah e apertou-a.