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Às três e vinte, Celia estava nos bastidores do auditório. Espreitou por trás da cortina e viu que os lugares estavam quase todos ocupados. Alvirah e Willy Meehan, Ted Cavanaugh, Devon Michaelson e Anna DeMille estavam na primeira fila. Também reconheceu na primeira fila um homem chamado Gregory Morrison, o proprietário do Queen Charlotte. Porque está ele aqui?, pensou, com a boca subitamente seca.
Passou-lhe pela cabeça que apenas um dia antes também Lady Em estivera sentada na primeira fila. Involuntariamente, a sua mão agarrou o bolso onde tinha escondido o colar volumoso.
Ouviu o seu nome ser anunciado por Anthony Breidenbach, o diretor de entretenimento. Tentando sorrir, dirigiu-se ao palco e apertou-lhe a mão enquanto ele falava.
— Celia Kilbride é uma conhecida gemóloga da Carruthers de Nova Iorque. A sua perícia a avaliar pedras preciosas valiosas, bem como os seus conhecimentos da história das suas origens, fascinou-nos nas conferências anteriores. Hoje vai ser um pouco diferente. Ela vai responder a perguntas minhas e, de seguida, da audiência.
Celia e o diretor de entretenimento dirigiram-se a duas cadeiras que se encontravam frente a frente e sentaram-se.
— Celia, a minha primeira pergunta é acerca das pedras dos signos e do que elas simbolizam. Comecemos pelo âmbar.
— O âmbar é uma pedra astrologicamente relacionada com o signo Touro. Os primeiros médicos prescreviam-na como forma de afugentar dores de cabeça, problemas de coração e muitas outras maleitas. Os antigos egípcios punham um pedaço de âmbar junto dos seus mortos para garantirem que o corpo se mantinha íntegro — respondeu Celia, confortável, agora que se encontrava em terreno familiar.
— E a água-marinha?
— Essa é a pedra do mês de março, do signo Peixes. Pensa-se que traz alegria, felicidade e harmonia à vida de casado. Os antigos gregos acreditavam que era sagrada para o seu deus Poseidon. É uma ótima pedra para se levar em férias e em cruzeiros.
— Falemos de algumas pedras verdadeiramente valiosas — disse o diretor de entretenimento. — Que tal os diamantes?
— O diamante é a pedra do mês de abril, do signo do Carneiro — disse Celia e sorriu. — Acredita-se que traz pureza, harmonia, amor e abundância. Aqueles que tinham a sorte de poder comprar um acreditavam que ele os tornava imunes à praga.
— Então e a esmeralda?
— A esmeralda também é uma pedra do signo Touro. É a pedra do mês de maio. Supostamente, mantém o amor e atrai riqueza. Durante o Renascimento, as esmeraldas eram trocadas entre a aristocracia como símbolos de amizade. É a pedra sagrada da deusa Vénus.
— Mais uma. Fale-nos do ouro.
— O ouro não tem propriamente um lugar no calendário astrológico. Está intimamente ligado à divindade e aos deuses associados ao sol. É um símbolo de boa saúde. Brincos de ouro eram tidos como fortalecedores dos olhos e, entre marinheiros e pescadores, acreditava-se que preveniam a pessoa de se afogar.
Mal terminou aquela frase, Celia lembrou-se de Roger Pearson. Se o diretor de entretenimento pensou o mesmo, não o demonstrou.
— Muito bem, agora é a vez do público — disse Breidenbach. Por favor, ergam a mão se quiserem fazer uma pergunta. — O meu assistente leva-lhes o microfone.
Celia estava preocupada que a primeira pergunta fosse acerca do colar de Cleópatra. Em vez disso, uma mulher perguntou-lhe pelo colar de esmeraldas e diamantes que Sir Alexandre Korda tinha comprado para a atriz Merle Oberon em 1939.
— Esse colar era magnífico — disse-lhe Celia. Tinha vinte e nove esmeraldas. Acredita-se que tinham a mesma forma e o mesmo tamanho, na verdade, que seriam as mesmas pedras que anteriormente tinham adornado os marajás reais na Índia do século quinze.
Mal Celia terminou, havia uma dúzia de mãos no ar. As perguntas seguiram-se numa rápida sucessão. «Qual é a história do diamante Hope?» «E das joias da coroa da coroação britânica?» «É verdade que a tradição de se oferecer anéis de noivado com diamantes resultou de uma bem-sucedida campanha de marketing da joalharia De Beers, na década de 1930?» E uma pergunta que desencadeou o riso: «O anel que foi roubado à Kim Kardashian valia quatro milhões de dólares?»
Só no final da sessão é que foi feita uma pergunta acerca do colar de Cleópatra.
— Ele foi mesmo roubado e Lady Haywood foi assassinada?
— Não faço ideia se o colar foi roubado — respondeu Celia. — E não tenho motivos para acreditar que a morte de Lady Haywood não se tenha devido a causas naturais.
Um a zero para ti, pensou Morrison. Sentiu-se aliviado por ter decidido permitir que a apresentação de Kilbride se realizasse. Isso até à última pergunta.
— Menina Kilbride, muitos de nós, incluindo a menina, estivemos na receção do comandante e no jantar que se lhe seguiu. Vimos Lady Emily usar o colar de Cleópatra. Apesar dos fortes rumores de que ele terá sido roubado, o navio insiste que não foi. Pode confirmar isso mesmo?
— Ninguém do navio me contactou a propósito do colar — respondeu Celia, desconfortável.
— E não havia uma maldição sobre o colar que dizia que quem o levasse para o mar não chegaria vivo a terra?
A memória de Celia foi preenchida com a recordação de Lady Em a gracejar a propósito dessa maldição.
— Sim — respondeu. — De acordo com a lenda, uma maldição parecida com essa está associada ao colar.
— Obrigado, Celia Kilbride. E obrigado a todos na audiência — disse Breidenbach, levantando-se ao mesmo tempo que o público começava a aplaudir.