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Ted Cavanaugh assistiu à discussão sobre joias e ficou impressionado com a capacidade de comunicação de Celia ao vê-la responder a todas as perguntas que lhe eram lançadas. Tomou também mais uma vez nota de que ela era uma mulher lindíssima. E admirou a compostura dela quando respondeu a uma pergunta a respeito da morte de Lady Em.
Todos os presentes estavam certamente a par do artigo na revista People e da alegação do ex-noivo de que ela tinha conspirado com ele no roubo, pensou Ted.
Quando a sessão terminou, várias pessoas do público esperaram para falar com ela. Sendo o último a sair da sala, Ted levantou-se e parou Celia junto à porta.
— Ted Cavanaugh — disse-lhe, estendendo a mão. — Depois de ter falado tanto, deve ter a garganta seca. Tomamos um copo de vinho ou um cocktail?
O primeiro instinto de Celia fora recusar, mas hesitou. Certamente que não estava ansiosa por ficar sozinha com o peso permanente dos seus pensamentos. E o peso do colar, acrescentou em silêncio.
— Seria agradável — respondeu.
— O Bar Regency é o mais próximo. E se fôssemos ver como é?
— Parece-me bem.
Passados alguns minutos, o empregado de mesa pousava as bebidas na mesa. Chardonnay para Celia e um vodca com gelo para Ted.
Ted manteve o seu plano de não mencionar nem a morte de Lady Em nem o colar de Cleópatra. Em vez disso, perguntou:
— Celia, deve ter estudado imenso para se tornar uma gemóloga tão conhecedora. Há alguma escola específica que se possa frequentar?
Era uma pergunta fácil acerca de um tema seguro.
— Depois de terminar a faculdade, fui para Inglaterra e tornei-me bolseira no Instituto Gemológico da Grã-Bretanha. Mas, como um professor meu costumava dizer, «Ser um mestre gemólogo demora uma vida inteira».
— Como se interessou por essa carreira?
Ted não deixou escapar a expressão perturbada no rosto de Celia. Ela estava a recordar que tivera uma conversa parecida com o professor Longworth há poucos dias, acerca de como entrara no ramo da joalharia. Só tinham passado uns dias? Lembrava-se de se ter sentido desconfortável nessa ocasião, mas, por algum motivo, sentia-se à vontade a conversar com Ted Cavanaugh.
— O meu pai era gemólogo. Quando era pequena, eu adorava pôr joias, falsas obviamente, às minha bonecas. Ele começou a ensinar-me a diferença entre as imitações e as genuínas e como usar uma lupa — disse, acrescentando: — O meu pai morreu há dois anos. Deixou-me duzentos e cinquenta mil dólares que eu perdi num esquema fraudulento.
Olhou diretamente para ele.
— Eu li acerca do que lhe aconteceu — admitiu Ted.
— Nesse caso, sabe que há muitas pessoas que acreditam que eu estava envolvida na fraude e que ajudei a enganá-las e a despojá-las do dinheiro que tanto lhes custou a ganhar.
— Eu li a versão do seu ex-noivo na revista People…
— É completamente mentira! — exclamou Celia, perentória.
Ted pensou e de seguida respondeu:
— Se lhe servir de consolo, não a consigo imaginar como ladra. Ou assassina. — Porque estou a fazer uma afirmação desta natureza? Porque é verdade, pensou.
— Porque havia ele de me fazer isto?
— Penso que a primeira razão óbvia é por vingança. A segunda é que ele está à espera de conseguir negociar um acordo com o procurador-geral. No artigo, ele praticamente confessou, mas sabe que há provas para o incriminar. Ele diz-lhes que a Celia estava envolvida e que ele colabora com eles contra si. Acredito sinceramente que é disso que se trata.
— Mas eu também fui vítima — protestou Celia.
— Eu sei, Celia, eu sei.
Ele voltou para um assunto seguro.
— Disse que o seu pai era gemólogo e que morreu há dois anos. E a sua mãe?
— Morreu quando eu era bebé.
— Irmãos? Irmãs?
— Não tenho. O meu pai nunca voltou a casar. E acredita que eu estou zangada com ele por não o ter feito? Eu adorava ter irmãos e irmãs.
Ted pensou na sua família. Ambos os pais ainda estavam em excelente forma e tanto eles como os seus dois irmãos eram uma presença constante na sua vida.
— Tenho a certeza de que tem muitos bons amigos.
Celia abanou a cabeça.
— Tinha. Receio ter perdido bons amigos, aqueles que investiram no fundo do Steven.
— De certeza que não a culpam?
— Eu apresentei-os ao Steven e ele tem uma grande lábia. Isso não me tornou popular entre eles. Os meus amigos não eram ricos. Ficaram muito magoados quando perderam o seu dinheiro.
Aposto que isso também a magoou, pensou Ted, mas não verbalizou aquela opinião. Em vez disso, recostou-se, bebeu um longo gole da sua bebida e olhou para Celia. Tinha a certeza de que ela estava inocente na morte de Lady Em e que não era uma ladra. Os olhos dela são tão tristes, pensou. Ela já passou por tanto.