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Quando deixou Ted Cavanaugh, Celia foi diretamente para o seu quarto. Admitiu para si mesma que tinha gostado muito de tomar uma bebida com ele, mas não quis pensar muito nisso. Estava desesperada para perceber o que as pessoas pensavam efetivamente dela.
Tinha visto Yvonne e as suas duas amigas na audiência. Nem imaginava com ela estaria a sentir-se. Espero que a minha sessão a tenha ajudado a distrair-se durante um bocado, pensou Celia. Acabara de chegar à suíte quando o telefone tocou. Esperava que fosse Alvirah e ficou satisfeita quando ouviu a voz dela.
— Celia, a sua apresentação foi simplesmente maravilhosa — disse Alvirah. — Eu achei que foi fantástica há dias, mas hoje foi ainda melhor.
Protege-te, coração, pensou Celia para os seus botões. Mas tinha de admitir que o elogio de Alvirah a fez sentir-se muito melhor.
— Eu tenho pensado muito na sua situação — prosseguiu Alvirah. — Gostava de a visitar no seu quarto.
— Eu estou a precisar de uma amiga. Venha até cá.
Estava tão habituada a ver Alvirah e Willy juntos que foi uma surpresa para ela quando viu Alvirah sozinha à sua porta. Quando a deixou entrar, Alvirah perguntou-lhe, ansiosa:
— Tem a certeza de que não estou a incomodar? Sei que deve estar cansada depois da apresentação.
— Para ser franca, fico feliz por ter a sua companhia, Alvirah. Quando estou sozinha, tenho demasiado tempo para pensar.
— Bom, assim sinto-me melhor — disse Alvirah, que se sentou no sofá.
— Celia, eu e o Willy sabemos perfeitamente que nunca faria nem fez mal a Lady Emily, e também que não roubaria e não roubou o colar.
— Obrigada — murmurou Celia. Faço-o?, perguntou a si mesma. Decidiu que sim.
Enfiou a mão no bolso e tirou de lá o colar de Cleópatra. Ao ver a expressão de choque no rosto de Alvirah, disse:
— Eu não o roubei. Foi Lady Em que mo entregou. Deixe-me explicar o que aconteceu. Imediatamente após eu ter regressado à minha suíte na noite passada, Lady Em telefonou-me e pediu-me que fosse à suíte dela. Pediu-me para levar a minha lupa para examinar as joias. Quando cheguei à suíte dela, ela entregou-me uma pulseira e pediu-me a minha opinião em relação ao seu valor. Era fácil de perceber que era composta por diamantes de valor inferior. Não tinha praticamente valor. Quando o disse a Lady Em, ela ficou muito triste. Disse-me que acreditava que a Brenda, a assistente dela, andava a trocar joias suas por imitações baratas. E eu disse-lhe: «Mas a Brenda está com a senhora há vinte anos.» Mas Lady Em estava muito segura do que me estava a dizer e contou-me que a Brenda ficara muito desconfortável quando ela lhe tinha dito que havia qualquer coisa estranha naquela pulseira. E ela acrescentou que se sentia muito desapontada porque tinha sido sempre muito boa e generosa para com ela. — Que tristeza — suspirou Alvirah.
— Isto não é tudo — prosseguiu Celia. — Lady Em também me contou que estava convencida de que o Roger Pearson andava a roubá-la. Ao que parece, ela disse-lhe ontem que estava a considerar pedir uma auditoria externa às suas contas e que ele tinha ficado muito incomodado.
— Eu percebo isso — disse Alvirah. — Eu e o Willy ouvimo-lo a discutir com a Yvonne na outra noite quando passámos pela suíte deles. Ele estava a dizer-lhe que podia ir para a prisão vinte anos.
— Alvirah, o que faço em relação ao colar? Lady Em disse-me que tinha decidido fazer aquilo que o Ted Cavanaugh lhe pedira. Quando voltasse para Nova Iorque ia entregar o colar aos seus advogados e eles entregá-lo-iam ao Ted. Aparentemente, durante a receção o comandante terá sugerido a Lady Em que lho entregasse para o guardar no cofre dele. Ontem à noite, Lady Em entregou-me o colar e pediu-me que o entregasse ao comandante esta manhã — disse Celia, sacudindo a cabeça. — Eu tenho estado com tanto medo de dizer a alguém que o tenho. Tenho a certeza de que há imensas pessoas que já acham que eu sou uma ladra por causa do fundo de risco. É fácil acreditarem que eu matei Lady Em e roubei o colar.
— Tem razão — concordou Alvirah. — Mas não pode andar por aí com o colar no bolso. E ficava-lhe muito mal se alguém o encontrasse na sua suíte.
— É isso que eu acho — suspirou Celia. — Fico em sarilhos se admito que o tenho e fico em sarilhos se o guardo.
— Celia, quer que eu o guarde por si? Eu entrego-o ao Willy. Deixe que seja ele a andar com o colar. Fica seguro com ele. Posso garantir-lhe.
— Mas o que acontece quando chegarmos a Southampton? — perguntou Celia. — O que fazem a Alvirah e o Willy nessa altura?
— Tenho algum tempo para decidir — disse Alvirah, com uma expressão sombria. — Eu sou considerada uma boa detetive. Deixe ver se consigo deslindar este caso antes de chegarmos a Southampton.
Com uma sensação de ser aliviada de um fardo, Celia pegou no colar e entregou-o a Alvirah.
— É lindíssimo — comentou Alvirah, enquanto o guardava na mala de mão.
— É mesmo — concordou Celia. — Acho que é a joia mais bela que já vi.
Alvirah parou, olhou para Celia e perguntou-lhe, com um sorriso:
— Devo preocupar-me com a maldição de Cleópatra?
— Não — respondeu Celia, sorrindo-lhe de volta. — A maldição diz que «quem levar o colar para o mar jamais voltará para terra». E, se ela for verdadeira, a pobre Lady Em era a vítima.
Enquanto falava, a mente de Celia foi preenchida com a memória do rosto triste e perturbado de Lady Em quando lhe contara que os seus dois confidentes, Brenda e Roger, andavam a enganá-la.