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Alvirah segurou a mala com firmeza depois de ter deixado Celia e enquanto se dirigia ao seu quarto. Willy estava lá e ergueu os olhos com expectativa. Ficou surpreendido por Alvirah, antes mesmo de o cumprimentar, virar-se e trancar a porta da suíte.

— Que se passa? — perguntou Willy.

— Eu mostro-te o que se passa — sussurrou ela. — E fala baixo.

Abriu a mala, enfiou a mão no interior e tirou de lá o colar de Cleópatra.

— Isso é aquilo que eu penso? — perguntou ele, tirando-lhe o colar de três voltas da mão.

— É, sim — respondeu Alvirah.

— Onde o arranjaste?

— A Celia deu-mo.

— Como é que ela o tinha? Não me digas que foi ela que asfixiou a pobre idosa.

— Willy, tu sabes tão bem como eu que a Celia não é uma assassina nem uma ladra. O que aconteceu foi o seguinte…

Ainda em voz baixa, contou a Willy tudo o que Celia tinha partilhado com ela. Terminou dizendo:

— Tu percebes como ela está assustada. Ela estava certa de que se as pessoas descobrissem que ela tinha o colar, não iam acreditar que Lady Em lho tinha entregado.

— Eu percebo — concordou Willy. — Então, o que fazemos agora? Eu não quero que ninguém descubra que és tu que o tens e te mate.

— Tens razão, Willy. E é por isso que és tu quem deve ficar com ele e trazê-lo sempre contigo. Vai ficar mais seguro nas tuas mãos.

— Mas e depois de sairmos do navio? O que fazemos com ele? — perguntou Willy.

— A Celia contou-me que Lady Em ia entregá-lo ao Ted Cavanaugh, porque concordou que ele pertencia ao povo do Egito.

— Bom, só espero que não me limpem o sebo — comentou Willy num tom casual.

Levantou-se e enfiou o colar no bolso das calças, onde imediatamente formou um inchaço visível. Alvirah viu a expressão desapontada no rosto dele.

— Quando vestires o casaco, ninguém vai notar — disse-lhe.

— Espero que não — disse Willy. Depois de uma pausa, perguntou: — Muito bem, o que faço agora?

Parecia alarmado.

— Não me digas que vais tentar deslindar o mistério. Não te esqueças que estás a lidar com um assassino ou assassina que não consegui o que pretendia.

— Eu sei disso. Mas, se pensares bem, Lady Em contou à Celia que tinha a certeza de que o Roger Pearson e a Brenda andavam a enganá-la. Não é horrível?

— Nós ouvimos o Roger e a Yvonne a atacarem-se mutuamente na outra noite. É uma coincidência do caraças que ele tenha morrido menos de vinte e quatro horas depois.

— Eu sei disso. E Lady Em morreu poucas horas depois de ter dito à Celia que a Brenda andava a substituir as joias dela — disse Alvirah, prosseguindo: — Sabes, Willy, eu tenho andado a pensar se o Roger Pearson terá caído à água ou se terá tido uma ajudinha da Yvonne.

— Tu não achas que ela o empurrou, pois não? — perguntou Willy, incrédulo.

— Não estou a dizer que o fez, mas estou a pensar nisso, a questionar-me. Quero dizer, via-se bem que aqueles dois não eram propriamente chegados. Ela estava na conferência da Celia hoje com duas amigas. E não parecia nada uma viúva enlutada. E, se pensares bem, com Lady Em e o Roger mortos, a questão acerca do que ele andaria a fazer às finanças dela é capaz de desaparecer. E isso são excelentes notícias para a Yvonne.

O casal fitou-se. Willy foi o primeiro a falar.

— Tu achas que a Yvonne também pode ter matado Lady Em?

— Não me surpreendia.

— E esse rumor do ladrão de joias, o Homem das Mil Caras?

— Não sei. Não sei mesmo — respondeu Alvirah, perdida nos seus pensamentos.