82

Gregory Morrison viu o comandante Fairfax e o chefe da segurança entrarem no seu quarto. Olhou para eles e para lá dos dois.

— Onde está o inspetor Clouseau da Interpol? — perguntou ele. — Eu disse que também o queria aqui.

— Eu pedi ao senhor Michaelson que se juntasse a nós — disse o comandante Fairfax, nervoso. — Mas ele disse-me que não tinha nenhuma intenção de vir aqui ser humilhado por si.

— Não era para lhe pedir que viesse. Eu disse-lhe que era para lhe dizer que tinha de vir — declarou Morrison. Suspirou. — Esqueça. Seja como for, é inútil.

Morrison começou a andar às voltas na sua suíte enquanto falava.

— Aquela vaca da Brenda Martin anda a circular pela sala de refeições a mostrar o pescoço inchado a quem a quiser ouvir. Vocês não percebem que os passageiros vão ficar todos com medo de estar sozinhos nos quartos?

Olhou para John Saunders fixamente.

— Consegue dar-me um bom motivo para eu continuar a pagar-lhe? Depois de terem matado um passageiro e roubado as suas joias, como não lhe ocorreu pôr alguém de guarda no corredor?

Saunders já se tinha treinado para ignorar as diatribes de Morrison.

— Permita-me que lhe lembre, senhor Morrison, que concordamos em manter as coisas a bordo o mais normais possível. Ter guardas armados nos corredores à porta das suítes dos passageiros não é normal. Eu lembro-me especificamente de o senhor ter dito que não estamos a dirigir uma prisão.

— Julgo que tem razão — respondeu Morrison, de mau grado.

O comandante Fairfax interveio.

— Francamente, senhor Morrison — disse ele, com firmeza —, devíamos concentrar-nos em como vamos responder a este último acontecimento… — fez uma pausa — incidente. Quando vim para cá, ainda não tinha sido captado pelos sites de notícias, mas…

Morrison remexeu no bolso e encontrou o telemóvel. Digitou o nome do navio.

— Precisamente aquilo que eu receava — desdenhou. — «Mais um passageiro atacado no Queen Charlotte.»

Morrison continuou a ler.

— Acreditam nisto? Já se estão a referir ao navio como o Titanic do século vinte e um.

Ninguém falou.

— O meu navio — acrescentou Morrison, e a voz falhou-lhe. — Agora saiam os dois daqui e certifiquem-se de que não acontece mais nada até chegarmos ao porto.

O comandante Fairfax e John Saunders anuíram e saíram do quarto. Morrison instalou-se numa cadeira confortável, teclou no telemóvel e viu os emails do escritório. Havia um do seu responsável pelo gabinete financeiro, enviado há dez minutos, que lhe dava conta de que trinta passageiros que estava previsto embarcarem em Southampton tinham cancelado as suas reservas.

Levantou-se imediatamente e dirigiu-se ao bar. Desta vez escolheu um Johnny Walker Blue e encheu o copo. Enquanto bebia, pensou: e isso foi antes do que aconteceu à Brenda Martin. Vamos ver quanto é que tenho de pagar pela garganta ferida dela.