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Depois de falar com Alvirah e Ted, Celia entregou-se ao luxo de não ter nada para fazer. Não há mais conferências, só mais um dia de paz e descanso antes de chegarmos a Southampton.
Atirou o edredão para trás, saiu da cama, espreguiçou-se e dirigiu-se à porta da sua varanda. Deslizou-a e sentiu uma brisa forte e fresca que fez a sua camisa de noite esvoaçar. O mar, que na véspera estava muito tempestuoso e bravo, estava apenas ligeiramente mais calmo esta manhã.
Celia telefonou a pedir ovos mexidos, um queque inglês e café. Quando lhe trouxeram a refeição, havia também um jornal no tabuleiro. Sentiu-se tentada a ignorá-lo, mas não conseguiu resistir à tentação de lhe lançar uma olhadela.
Não era de surpreender que não mencionasse o que tinha acontecido a Lady Em ou ao colar, mas havia uma nota acerca do caso de Steven. Depois de o artigo na revista People, no qual ele assumia abertamente a sua culpa, ter saído, o valor da sua fiança fora aumentado. O juiz tinha afirmado que considerava que Steven apresentava um risco acrescido de fuga.
— Podem crer que é — disse Celia, em voz alta. Afastou o pensamento de que, mal chegasse a casa, teria de se encontrar com os agentes do FBI e ser novamente interrogada.
Terminou o pequeno-almoço, demorou-se a beber o café e a seguir voltou-se lentamente e ligou o duche e a cabina de vapor da casa de banho. Isto é o paraíso, pensou ela, quando estava no duche a lavar o cabelo. Tinha a sensação de que todos os poros do seu corpo exalavam medo e apreensão. Desligou o chuveiro, pôs creme no rosto e sentiu-se infinitamente refrescada.
Enquanto se vestia, a sua mente viajou. Estava a tentar decidir o que diria se viesse a saber-se que ela tinha o colar de Cleópatra na noite do assassínio de Lady Em.
Porque havia alguém de acreditar que Lady Em mo entregou a mim?, pensou. A resposta era que não acreditariam. Concentra-te no presente, ordenou a si mesma, enquanto apertava o robe, ligava o secador e escovava o cabelo. Depois de se ter maquilhado, dirigiu-se ao roupeiro. Tirou de lá um fato de treino novo que tinha comprado para a viagem.
Não sejas tonta, disse para si mesma, o Ted Cavanaugh não tem o mínimo interesse em ti, especialmente depois do artigo da People. Ele é o tipo de homem que qualquer mulher desejaria. Só estava a ser simpático quando me convidou para almoçar com ele.
Ainda era cedo, mas, quando acabou de se vestir, olhou-se ao espelho. Foi ao cofre e tirou de lá os pequenos brincos de ouro que o pai lhe tinha dado quando ela fora para a universidade.
Tinha-lhe dito:
— Eram da tua mãe. Agora quero que fiquem para ti. — E depois acrescentara: — Tu tens o rosto, os olhos e o riso dela.
Como era a minha mãe?, pensou Celia. Talvez eu devesse ter sentido mais a falta dela do que senti, mas era tão pequena e o meu pai esteve sempre lá para mim, de dia e de noite. Será que exigi demasiado dele? Talvez ele tivesse conhecido alguém e se tivesse apaixonado se não andasse sempre tão preocupado comigo. Não era um pensamento agradável. Tenho sido tão egoísta a culpá-lo pelos meus problemas. Teria sido mais honesto culpar-me a mim. Tenho-o culpado por ter morrido antes de eu ter conhecido o Steven, por não estar lá para me dar conselhos.
O que me deixou tão ansiosa por me apaixonar? Fui burra. Completamente burra. Mas uma coisa eu sei. O meu pai está com a minha mãe e tenho a certeza de que ele está feliz.
Não teve tempo para prosseguir naquele pensamento, pois o telefone tocou. Era Ted.
— Posso passar aí dentro de minutos para te apanhar?
— Estou pronta quando quiseres.
Quando ele bateu à porta, ela abriu. Viu o seu olhar de aprovação quando ele entrelaçou a mão na dela.
— Está muito agitado lá fora — anunciou. — Acho que era boa ideia agarrarmo-nos um ao outro.
Celia cerrou os lábios antes de conseguir responder:
— Com todo o gosto, Ted, com todo o gosto.