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Gregory Morrison dirigiu-se com relutância ao Salão da Rainha para tomar o pequeno-almoço. Não tinha nenhum desejo de ver os olhares inquiridores nos rostos das pessoas, nem responder às suas perguntas idiotas sobre se ele achava que mais alguém iria ser asfixiado ou estrangulado. Mas, se tomasse as refeições no quarto, iria parecer que estava a esconder-se.
Como se ele não tivesse mais com que se preocupar, o comandante Fairfax tinha-o chamado para lhe dizer que a tempestade estava a intensificar em vez de diminuir. O doutor Blake disse-lhe que a enfermaria estava cheia de passageiros com casos de enjoo. Que maravilha, pensou para os seus botões, amargurado. No meu belo barco, se se tiver a sorte de não se ser asfixiado ou estrangulado, passa-se parte da viagem com a cabeça na sanita.
Tinha uma consolação. Brenda Martin ainda não tinha voltado para a sua mesa. Deve estar na cozinha a torturar o pasteleiro, decidiu ele.
A verdade era que o balanço do barco deixara Brenda zonza. Tinha-se visto obrigada a cancelar o seu plano de descer aos três andares mais baixos e regalar o resto dos passageiros com a partilha da sua história de donzela em apuros.
O professor Longworth e Yvonne estavam à mesa. Morrison estava demasiado distraído para se aperceber que Yvonne o mirava com interesse. Tinha-o pesquisado na Internet e ficara a saber que ele estava divorciado há dez anos e não tinha filhos. Além de ser o único proprietário do Queen Charlotte, ele possuía uma frota de vinte barcos especializados em cruzeiros de rio. Ele tem sessenta e seis anos, pensou ela. É quase vinte anos mais velho do que eu, mas não está mal de todo. Tenho de o convidar para ir até East Hampton na altura da Páscoa.
Sorriu quando Morrison escolheu um lugar ao lado dela. O que estava ele a dizer? Ah, sim.
— Sabia que o Queen Charlotte não tem nenhuma responsabilidade se um passageiro cair borda fora?
Logo vemos, pensou ela, devolvendo-lhe um sorriso ainda maior. Foi então que reparou que um membro da tripulação tinha ido a correr ter com o comandante Fairfax e estava a sussurrar-lhe algo. Viu o rosto do comandante assumir uma expressão de surpresa antes de correr para junto de Morrison.
— Tenho de falar consigo, senhor Morrison. Com licença, minha senhora — disse Fairfax, quando os dois se afastaram.
O comandante falava muito suavemente e ela não o conseguia ouvir, mas não houve dúvida quanto à resposta de Morrison.
— Você está a dizer que o pobre tipo esteve a boiar durante onze horas?
Oh, não. Meu Deus, não, pensou Yvonne, certificando-se de que não revelava o que estava a pensar quando Morrison se dirigiu a ela apressadamente e lhe disse:
— Excelentes notícias, senhora Pearson. O seu marido foi recolhido por um navio de passagem. Tem uma pneumonia, mas está a recuperar rapidamente. Chega a Southampton um dia depois de nós.
— Oh, não sei o que dizer — conseguiu verbalizar Yvonne, antes de fechar os olhos e desmaiar.