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Morrison ficou deliciado ao ver que Celia Kilbride se tinha juntado à mesa. A presença dela fazia com que fosse muito mais fácil para ele estar ali. E ela é uma mulher lindíssima, pensou ele, enquanto atravessava a sala.

Para seu desapontamento, percebeu que a sala de jantar estava meio vazia. A refeição final devia ser festiva. Era a altura em que se trocavam contactos que cimentavam novas amizades.

Consolou-se com as boas notícias que tinha recebido do escritório nessa manhã. Apesar de a publicidade que se tinha seguido ao assassínio de Lady Em e ao ataque a Brenda ter gerado cancelamentos, havia passageiros novos a ligar para a central de reservas, a tentarem apanhar uma das vagas deixadas. Não tinha ficado contente ao saber que havia vendedores ambulantes à espera na doca de Southampton com t-shirts que diziam: EU SOBREVIVI AO MEU CRUZEIRO NO QUEEN CHARLOTTE.

Fico feliz por ver este grupo pelas costas, pensou ele, enquanto cumprimentava com a cabeça para a mesa ao lado e fazia um grande sorriso para Celia e para o professor Longworth.

A seguir, para seu incómodo, verificou que Brenda tinha chegado e que não fizera nenhum esforço para esconder as marcas do seu pescoço. Por um grande milagre, ela tinha recuperado o apetite, pensou. Com quantas mais pessoas terá conseguido falar antes de vir jantar?

De uma coisa ele tinha a certeza: ela não voltava a viajar no Queen Charlotte. O escritório tinha-lhe confirmado que fora Lady Em quem pagara as passagens dela. Da viúva quase alegre Yvonne e do seu marido resgatado.

Quando olhou à volta, ficou contente por ver Fairfax na mesa do comandante a entreter um novo grupo de passageiros.

Sabia que, por cortesia, tinha de perguntar a Yvonne se ela tinha conseguido contactar o marido salvo das águas. Reparou que em vez do cinzento que vinha a usar ultimamente, antecipando, tinha a certeza, passar para o preto, desta vez ela trazia um casaco rosa e umas calças de caqui a condizer. Ela confirmou-lhe que tinha falado com o médico do navio. Roger estava a recuperar bem, mas estava a dormir quando ela telefonou. Ela tinha dito para não o acordarem e deixara-lhe uma mensagem carinhosa.

Quase me vêm as lágrimas aos olhos, pensou Morrison, com desdém.

Voltou-se para Celia. Gostava do casaco azul-escuro que ela envergava e do lenço simples que tinha enrolado à volta do pescoço.

— Apesar da tristeza pela morte de Lady Em — disse-lhe ele —, espero que tenha tido algum prazer na sua viagem, menina Kilbride.

— Foi um privilégio viajar neste navio — respondeu ela, com sinceridade.

Sentindo-se excluída, Brenda explodiu:

— Senhor Morrison, eu espero sinceramente que possamos pôr de parte as nossas diferenças depois da — fez uma pausa — invasão do meu quarto. Mas, quando isso terminar, eu e o meu amigo próximo teremos todo o gosto em aceitar a oportunidade de viajar de novo consigo. Como seus convidados, obviamente — acrescentou, de forma direta.

Morrison tentou mostrar os dentes num sorriso. O primeiro prato estava servido e ele reparou que Brenda se servira de uma dose generosa de caviar e estava a pedir mais.

O professor Longworth sabia que estava na altura de tornar a sua presença notada.

— Eu tenho de dizer que esta viagem foi um deleite — começou por dizer, enquanto empilhava caviar no seu prato. — E que gosto imenso de ser orador nos seus navios, senhor Morrison. Como dizia o Bardo, «A separação é uma sensação amarga e doce».

O meu pai costumava dizer «Deus te leve», pensou Morrison para os seus botões.