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É agora ou nunca. O Homem das Mil Caras subiu propositadamente os dois lanços de escadas para evitar encontrar-se com alguém no corredor. Entrou devagar na sua suíte e começou a pôr o seu plano em prática.

O primeiro passo era alterar completamente a sua aparência. Apesar de ter quase a certeza de que ninguém o tinha visto nas noites em que entrara nos quartos de Lady Em e de Brenda, ia usar um disfarce diferente. Começou pelos olhos. Tirou umas lentes de contacto castanho-escuras de uma caixa e pô-las. Esta é a parte fácil. As que se seguem requerem tempo e perícia. Abriu o estojo de maquilhagem, olhou ao espelho e começou a praticar uma arte a que dera início quando trabalhara como voluntário nas produções teatrais dos seus tempos de liceu.

Um creme facial tornou a sua compleição amarelada. Um lápis de sobrancelhas transformou-lhe as sobrancelhas finas num sobrolho beligerante, de um castanho muito escuro. Riscos de rugas profundas alteravam-lhe por completo o rosto. Aplicou uma barba média grisalha. Satisfeito por ter ficado direita, estendeu uma peruca castanha em cima da cabeça e ajeitou-a no lugar. A experiência ensinara-lhe que uma potencial testemunha se deteria mais no contraste entre o cabelo escuro e barba grisalha do que no rosto.

Olhou bem ao espelho, virando a cara para um lado e para o outro. Excelente, pensou, satisfeito. Tirou uns sapatos da mala. Os seus tacões davam-lhe mais dez centímetros.

Vestiu o casaco de mordomo que tinha roubado da cozinha do seu piso. Ficava-lhe razoavelmente bem, com folga nos ombros e na cintura. Tirou fita adesiva de um compartimento da mala e enfiou-o no bolso lateral do casaco. Um alicate de metal foi cuidadosamente guardado no bolso do lado oposto.

Durante os quinze minutos seguintes, praticou coxear ligeiramente à esquerda e arrastar o pé pelo chão.