Mário Cláudio escritor

 

 

Bilhete-Postal

 

Meu Pai, meu Filho, meu Espírito Santo.

 

Estendo as mãos à caveira da noite, e a criatura que sou consome-a a areia do vidro do tempo. Nada digo que não te pertença, nada escrevo que não corra à eternidade.

De cada vez que caio subo mais alto, e ao reencontrar-te, voo acima de mim mesmo. Aquieto-me contigo, com o pão e o vinho, e não há luz que pese como o absoluto cristal do ar.

Mas quando o teu rosto se afasta, e a treva se desdobra, o Mundo fica um caroço de mágoa que endurece no lugar do coração.

Livra-me da tua ausência. Fica comigo enquanto o dia acaba.