Kerstin

Eu vi-as. É claro que não consegui ouvir uma palavra, mas não foi preciso, eu vi-as. Estou tão zangada que até tremo.

Será estranho que uma mãe queira defender a sua filha a qualquer custo? Será errado? Não será natural que uma mãe reaja com raiva quando a sua filha é ameaçada?

Não. Não é errado. É natural. É assim que deve ser.

A Isabelle abre a porta e entra para o átrio. Eu continuo a dobrar a roupa lavada. Ela chega à sala. Eu olho para ela. Está a chorar. Está ali na soleira da porta sem se atrever a entrar ou a sair. E tem aquele ar de quando era pequenina. É outra vez a minha menina.

Eu largo os lençóis que tenho na mão. Vou até junto da Isabelle e abraço-a. Ela está a soluçar. As lágrimas correm-lhe pela cara, não para de fungar, soluça e tenta controlar a respiração.

Pronto, pronto, minha linda. A mamã agora está aqui e nada te pode fazer mal. Era o que eu deveria dizer.

É o que eu geralmente digo.

Geralmente, afago-lhe o cabelo e murmuro palavras reconfortantes. Mostro-lhe que compreendo, que estou aqui para ajudá-la e apoiá-la, conversar.

Mas desta vez não.

Abraço a minha menina, sim, mas estou em silêncio, não digo uma palavra.

Quero que a Isabelle saiba como aquela mulher é perigosa, como é doente e louca. Não digo quaisquer palavras de conforto, deixo que o medo a afete durante algum tempo. Agora, finalmente, ela tem a hipótese de compreender. De tornar-se mais forte e encontrar a força interior. Continua fraca. Precisa de mim. Da sua mãe. E eu estou aqui. Estarei sempre aqui para o meu bebé.

A Isabelle ainda não sabe muito bem o que é a vida, mas saberá.