Stella
O Henrik abraça-me. Ficamos imenso tempo no meio do quarto nos braços um do outro. Encosto-me ao peito dele, sinto a sua respiração no meu cabelo. Aconteceram tantas coisas nos últimos tempos que teríamos de falar sobre esses acontecimentos durante dias, semanas. Todavia, neste momento, não precisamos de palavras.
O Milo regressa ao quarto e deita-se na cama. Eu sento-me ao lado dele e falo-lhe sobre a sua irmã mais velha. Digo-lhe que ela está viva.
– Eu pensava que ela tinha morrido – diz.
– Eu também, mas ao mesmo tempo não. Parece estranho, mas não consigo explicar melhor.
– Mas ela tem uma sepultura e uma pedra com uma pomba branca.
– Nunca encontraram o corpo. A sepultura não tem ninguém.
– Mas porque achas que está viva?
– Encontrei-a.
– A Alice?
– Sim.
– Quando?
– Há algumas semanas. No princípio não tinha a certeza. Já foi há tanto tempo. É por isso que tenho andado esquisita.
O Milo remexe no cobertor, inquieto.
– Tens andado uma chata de primeira.
– Eu sei que deveria ter-te dito há mais tempo – digo e acaricio-lhe a cara. – A ti e ao papá. Desculpa.
O Milo olha para o Henrik.
– O que é que tu achas, papá? É a Alice?
– Tenho a certeza absoluta de que é ela – diz o Henrik. – A tua irmã mais velha.
Mostro-lhes a fotografia dela que tenho no telemóvel. O Milo e o Henrik analisam-na com atenção.
– Ela tem covinhas na cara como nós, mamã – diz o Milo.
– Pois tem – concordo.
– Sempre disseste que é parecida com a Maria – diz o Henrik. – Mas eu acho que é parecida contigo.
– Mas o que aconteceu? – pergunta o Milo. – Onde é que ela tem estado?
– É uma longa história. Conto-te tudo mais tarde, mas primeiro vou buscá-la. – Abraço-o durante muito tempo e beijo-o na testa. Depois, o Henrik segue-me até ao corredor.
Beijamo-nos. Ele abraça-me com força e eu olho-o nos olhos. Apesar de não querer que eu vá, sabe que tenho de ir.