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Pague um, leve dez

Embora os preços das ações nas bolsas de valores americanas conti­nuas­sem subindo havia mais de um ano, os olhos mais gulosos de Wall Street se voltavam para a península da Flórida, onde oportunidades fantásticas no setor imobiliário surgiam todos os dias.

Na verdade, os especuladores não negociavam imóveis, mas sim papéis, ou melhor, promessas de venda. Se determinado terreno era oferecido — segundo a avaliação exagerada dos corretores — por 10 mil dólares, era possível comprá-lo dando uma entrada de mil. O comprador recebia a promessa, que podia ser negociada, e ficava devendo o resto.

Como o mercado só subia, logo o título passava para o comprador seguinte, que pagava, digamos, 1,5 mil e assumia o saldo devedor. O próximo dono comprava a dívida por 2 mil e a passava adiante por 3 mil dólares. Era um negócio espetacular para todos os envolvidos desde que o mercado, é claro, continuasse subindo para sempre.

O melhor de tudo é que dava para alavancar. Com 10 mil dólares se adquiria dez terrenos de 10 mil, pagando mil pela promessa de venda de cada um. Ao se vender as dez promessas por 15 mil, lucrava-se 50% em algumas semanas. E podia se partir para a próxima.

Segundo os contratos, os terrenos se localizavam em Miami, Miami Beach, Coral Gables, Palm Beach e outros lugares paradisíacos, com calor o ano todo e palmeiras à beira-mar. Só que os compradores não iam lá ver se suas terras realmente ficavam a um pulo da praia, como mostravam os prospectos dos vendedores. E assim as tais promessas quase sempre correspondiam a loteamentos em brejos, pântanos, às vezes a mais de cem quilômetros de distância da orla marítima. Aliás, esses detalhes não tinham a menor importância, já que os jogadores não estavam pensando em se mudar para a Flórida, mas apenas em dar uma tacada rápida e fácil. E comentavam com os amigos:

“Só 10% de entrada, meu chapa. Lotes na beira da praia. Com o dinheiro de um você compra dez. E vende tudo com lucro em poucas semanas. Só não entra nessa quem é otário. Vou lhe dar o telefone do meu corretor. Mas liga logo porque já está difícil encontrar os melhores terrenos.”

Jessie, mulher de Jack Morgan, morrera em 1925, aos 57 anos, vítima de encefalite. Mas, se Jack sofreu muito com isso, quase ninguém percebeu. Nessa época ele tinha aprendido a não exteriorizar suas emoções em nenhuma circunstância.

Nesse mesmo ano, Thomas Lamont, segundo em hierarquia na Casa Morgan, foi a Roma encontrar-se com Benito Mussolini. Acertou com o ditador italiano liderar um consórcio para investir 250 milhões de dólares no país. Quando a imprensa dos Estados Unidos criticou a operação por estar beneficiando o regime fascista, Jack Morgan limitou-se a declarar aos jornalistas: “Foi apenas um negócio. Um bom negócio. Para isso estamos no mercado.”

A fortuna de Joe Kennedy, assim como a de sua família, não parava de crescer. Desde o seu casamento com Rose, em 1914, Joe e a mulher produziam filhos em intervalos regulares. Joseph Patrick, o Joe Jr., nasceu em 1915, e John (Jack) Fitzgerald, dois anos depois. Vieram então quatro meninas: Rosemary (1918); Kathleen (Kick), em 1920; Eunice Mary (1921) e Patricia, em 1924. Seguiu-se um menino, Robert (Bobby), um ano depois. Ia se formando o clã mais famoso dos Estados Unidos.

“Não haverá perdedores nesta família”, dizia Joe Kennedy aos filhos, tão logo eles chegavam à idade de compreender o sentido dessas palavras. “Vamos nos manter juntos e cada um ajudará o outro sempre que for necessário”, arrematava Joe com seu orgulho irlandês.