Casados havia 21 anos, o megaespeculador Billy Durant e sua segunda mulher, Catherine, continuavam apaixonados um pelo outro. Uma das razões pelas quais o casal vivia tão bem era o fato de que ela tolerava todas as excentricidades do marido. Que não eram poucas.
Não raro Billy saía à noite do apartamento em que viviam, no número 905 da Quinta Avenida, com magnífica vista para o Central Park, para disputar uma partida de xadrez com o cabineiro do elevador do prédio — enquanto os dois subiam e desciam transportando os usuários —, ou então passar um fim de semana ausente de casa numa maratona de pôquer, em cuja mesa era capaz de apostar 10 mil dólares numa única mão de cartas.
Para aquele dia Durant tinha planos especiais, dos quais apenas Catherine tomara conhecimento. Ele viajaria de Nova York a Washington para discutir aspectos do mercado de ações com o presidente Herbert Hoover. O detalhe curioso era que não se dera ao trabalho de telefonar solicitando uma audiência.
“Hoover é meu amigo”, pensava Billy, “e não vai deixar de me receber”.
Em vez de ir para a estação ferroviária com seu chofer, Billy Durant, para preservar o sigilo, pegou um táxi. No início da tarde, já em Washington, se hospedou no Hotel Carlton. Naquela noite, sem que Durant soubesse, Hoover seria anfitrião de um jantar para as figuras mais importantes do Poder Judiciário Federal.
Pouco depois das nove da noite, Billy Durant, vestindo um terno cinzento escolhido por Catherine, seguiu de táxi para a Casa Branca. Embora três presidentes dos Estados Unidos — Abraham Lincoln, James Garfield e William McKinley — tivessem sido assassinados, a segurança do palácio era precária. Quando os guardas de um dos portões viram o táxi que conduzia Durant se aproximar, julgaram que se tratava de um dos convidados para o jantar. Sem pedir nenhuma identificação, fizeram sinal para que o carro seguisse para o pátio.
Mais adiante, já na entrada do prédio, um porteiro negro se dirigiu ao táxi. Perguntou o nome do passageiro e constatou que não havia nenhum William Crapo Durant na lista de convidados.
“Eu sou o senhor Billy Durant”, disse o próprio. “Desejo ver o presidente. Vá chamar o mordomo.”
O tom de comando de Durant foi tão incisivo que o porteiro, pedindo para que o visitante aguardasse ali na porta, entrou. Poucos minutos depois, voltou com o mordomo, um homem vestindo casaca e luvas brancas e que olhou arrogantemente para Billy Durant.
“William Durant, para ver o presidente.”
Billy tinha uma maneira toda especial de lidar com criados esnobes. Deu certo. O mordomo, intimidado, voltou para o interior do prédio e retornou com o secretário particular de Hoover.
“Senhor Durant, o financista?”, indagou o secretário.
“Sou eu mesmo. Trata-se de um assunto importante e inadiável, de interesse do país. Agora vá até Hoover e diga-lhe que seu amigo Billy Durant está aqui e deixe que ele decida se quer me receber ou não.”
“Mas ele está no meio de um jantar com...”
William Durant não deixou que o homem prosseguisse.
“Faça o que eu disse. Vá e chame o presidente. Hoover ficará muito grato com o que vou lhe dizer.”
Enquanto o secretário, entre perplexo e indeciso, sumiu lá para dentro, o mordomo encaminhou Durant para uma sala de espera.
Para surpresa dos serviçais, minutos depois Herbert Hoover veio até onde Durant o aguardava.
“Billy”, disse Hoover. “É melhor que isso seja mesmo importante. Eu abandonei meus convidados.”
Em pouco mais de dez minutos William Crapo Durant explicou ao presidente Herbert Hoover que se o Conselho da Reserva Federal continuasse insistindo em controlar os empréstimos para compra de ações (call loans), um colapso na Bolsa de enormes proporções seria inevitável.
“Impedir isso ou não depende exclusivamente de você”, Billy disse a Hoover.
Sem fazer nenhum comentário, Herbert Hoover agradeceu o alerta de Durant e voltou para seus convidados. Mas o especulador saiu da Casa Branca certo de que impressionara o presidente e que este tomaria algum tipo de atitude, mesmo sendo a Reserva Federal uma instituição autônoma.
Hoover confiava muito na competência de Durant. Por isso, transmitiu como se fossem seus os temores do financista de Nova York ao presidente do Conselho da Reserva, Roy Young, que não quis assumir os riscos de um crash na Bolsa. Após consultar seus colegas, a Reserva abandonou a ideia de cercear os call loans, tal como vinha insistindo Charles, chairman do National City Bank e diretor da Reserva em Nova York.
Até o momento o boom de 1929 estava salvo. Haveria dinheiro farto para a orgia da especulação alavancada, pois todas as cancelas estavam abertas para o expresso desembestado do bull-market.