A neve parara de cair durante a noite, o gelo do chão se derretera e o dia do casamento começou sob um sol radiante. Desde as sete da manhã, Jolan já estava de pé. Agora, de banho tomado, foi até o quarto da mãe e do padrasto. Lá, o vestido de noiva — com uma cauda que se arrastaria pelo chão —, o véu e a tiara estavam dispostos na grande cama de casal.
Barbara Arway não medira despesas. Só o enxoval da filha custara cem dólares, dinheiro retirado dos lucros da fabricação e da venda de bebidas.
Ajudada pela mãe, Jolan começou a se vestir. Pela primeira vez em sua vida experimentou a sensação de roupas de baixo macias e confortáveis, não as costuradas com sacos de farinha que usara desde a primeira infância.
Enquanto se ajeitava, Jolan Slezsak ouvia de sua mãe a primeira e única explicação sobre sexo, que praticamente não revelou coisa alguma.
“Filha”, disse Barbara, pouco à vontade, “não espere muita coisa de sua noite de núpcias”. E ficou nisso. A senhora Arway não queria criar uma falsa expectativa em Jolan, pois não tinha a menor ideia de como Steve Vargo iria agir — com jeito e carinho ou como macho possuidor querendo logo usufruir ao máximo as delícias de sua fêmea virginal.
Às nove da manhã, as doze damas de honra começaram a chegar, cada qual usando seu melhor vestido. Não demorou muito e todos os cômodos do andar de baixo da casa, inclusive a cozinha, estavam repletos de convidados.
Eram nove e meia quando o advogado Goldberger e o merceeiro Bokr, as duas figuras mais proeminentes da comunidade húngara da cidade, chegaram para desejar boa sorte à noiva. Após falar com Jolan, Bokr pediu aos convidados que se deslocassem para a igreja de St. Joseph.
Tal como convém nessas ocasiões, Jolan, acompanhada de seu padrasto, Andrew Arway, foi a última pessoa a chegar à St. Joseph. Pontualmente às dez horas os dois subiram as escadas da igreja e desfilaram de braços dados pelo corredor central da nave até o altar, em meio aos olhares de admiração dos presentes. Em seus trajes de noiva, Jolan pouco se assemelhava à moleca esmolambada que até então fazia as entregas da “destilaria” da família. Por sua vez, Andrew exibia um sorriso de orelha a orelha.
Oitocentos quilômetros a leste de Flint, no curto pregão de sábado da Bolsa de Valores de Nova York, as cotações desmoronavam. Nas primeiras duas horas alguns papéis chegaram a cair quarenta dólares. As ações da Simmons Company, nas quais Winston Churchill prudentemente se contentara em realizar na véspera um lucro de mil dólares, cederam onze pontos. A Otis Elevator caiu de 401 para 396; a General Electric, de 347 para 339; a Auburn Auto, de 390 para 375. A blue chip United States Steel, que naquela semana fora negociada a 223 dólares, estava agora a 209.
Se na igreja de St. Joseph o casamento era uma alegria só, no Centro de Flint só restava aos cavalheiros da Liga do Union Industrial Bank rezar para que a situação em Wall Street melhorasse. Cada um deles sabia que não só seu dinheiro, sua liberdade e sua honra estavam em jogo, como também os saldos das contas-correntes e das poupanças de boa parte da população da cidade.
A cerimônia de casamento terminara. Sem saber que suas modestas poupanças bancárias estavam correndo sério risco, Steve e Jolan Vargo contemplavam extasiados a “pequena fortuna” em notas de dólares que os convidados jogavam em uma chaleira de cobre posta para esse fim sobre uma das mesas do subsolo da St. Joseph, onde agora se iniciavam os comes e bebes. Essas doações em dinheiro eram o modo tradicional dos húngaros de presentear os noivos.
Sua primeira providência na segunda-feira, planejava Steve, seria depositar o dinheiro das doações no Union Industrial. Jolan, por sua vez, não estava tão certa disso. Ela continuava intrigada com o fato de que não conseguira, na véspera, sequer saber o saldo de sua conta.
Aproveitando-se da presença do senhor Goldberger, os noivos o consultaram sobre o caso. O advogado prometeu dar uma olhada no assunto na semana seguinte.
“Por enquanto”, aconselhou ele, “é melhor transferir o dinheiro que vocês estão ganhando de presente para o cofre do meu escritório”.
Encerrado o lauto café da manhã matrimonial, a música começou. Os dançarinos rodopiavam sobre o chão de cimento do subsolo da St. Joseph ao som de czardas húngaras. Nas mesas, as garrafas de bebida eram substituídas tão logo se esvaziavam. De vez em quando aparecia lá embaixo um dos policiais de Flint que vigiavam o lado de fora da igreja para enxotar os fiscais da Lei Seca, tal como lhes solicitara o senhor Bokr. Desciam para tomar um gole.
Ao final do pregão em Nova York, 3.488.100 ações haviam trocado de dono. Era o segundo maior movimento da história da Bolsa em um sábado. A média industrial do Times caíra onze pontos. As blue chips tinham sofrido forte baixa, embora menor do que os papéis preferidos pelos especuladores, que simplesmente desabaram. A J. I. Case, por exemplo, perdera quarenta pontos.
A maioria das sociedades corretoras manteve seus funcionários administrativos fazendo serão naquela noite para calcular as chamadas de margem dos clientes que estavam a descoberto. Cada um desses especuladores receberia um telegrama no dia seguinte, domingo, com uma convocação para depositar o dinheiro na primeira hora de segunda-feira. Caso contrário, suas posições seriam liquidadas sem aviso prévio.
Wall Street precisava de dinheiro.