Em vez de ir dormir em seu apartamento, Hut Miller, da W. E. Hutton, limitou-se a descansar algumas poucas horas em um hotel nas proximidades da firma. Como não dispunha de aparelho de barbear, de manhã, antes de voltar para a Hutton, ele foi até um salão. Mas desistiu na porta ao ver a fila de espera. Pareceu-lhe que Nova York inteirinha passara a noite no Distrito Financeiro.
Michael Levine, o dono da empresa especializada em mensageiros, mas que aceitava qualquer tipo de encomenda, passou a noite na sede da firma. Mas não dormiu. Atendendo pedidos que vinham de todos os lados, Levine coordenou uma equipe de entrega de bebidas alcoólicas. Wall Street poderia estar moribunda, mas isso não impedia que estivesse sedenta.
Desde muito antes da abertura, os telefones das sociedades corretoras tocavam sem parar. Clientes de todos os estados e dos territórios do Alasca e do Havaí, tendo passado a noite fazendo planos para seus negócios na Bolsa — uns, desanimados, querendo pular fora; outros, achando que o mercado fizera um fundo na véspera, desejavam comprar a preços de barganha —, queriam logo passar suas ordens antes que as linhas ficassem congestionadas.
Percorrendo as filas que se formavam nas portas das corretoras, o engraxate Pat Bologna detectou um clima de otimismo. No entender de Bologna, tudo indicava que a recuperação iniciada no final do pregão de quinta-feira teria prosseguimento na sexta.
Na entrada do J. P. Morgan, populares saudaram com entusiasmo a chegada de cada um dos sócios e, finalmente, de Thomas Lamont. Isso trouxe grande desconforto aos austeros banqueiros, cujo último desejo na vida era serem tratados como celebridades.
Charles Mitchell voltou à rotina habitual. Seguido de perto pelo chofer guiando a limusine, o presidente do National City percorreu a pé os dez quilômetros de casa até o banco. No final da caminhada, Mitchell foi testemunha da calorosa recepção dada aos colegas do Morgan. Isso melhorou seu estado de espírito, que já não era de todo ruim desde que lera as manchetes otimistas de diversos matutinos.
Na entrada da Bolsa de Valores, a multidão ali reunida formara um corredor através do qual os operadores de pregão tinham de passar para entrar no prédio. Em vez de imprecações, ou outras manifestações de hostilidade, os traders ouviram gritos de incentivos, como se fossem jogadores de futebol chegando ao estádio antes do início de uma partida importante.
A mesma atmosfera favorável foi sentida pelo superintendente da Bolsa, William Crawford, ao atravessar o recinto de negociações rumo ao pódio. Ao final do saguão, Crawford subiu as escadas, esperou o relógio marcar dez horas e soou o gongo.
O superintendente viu sua percepção inicial confirmada quando os primeiros negócios mostraram ganhos, embora nada pudesse anular as pesadas perdas dos dias anteriores. Mesmo assim, só a descontinuidade do crash já era para Crawford e para os operadores e corretores motivo de comemoração.
Na Califórnia, apesar de ter ido para a cama de madrugada, o músico Irving Berlin acordou cedo para acompanhar a abertura em Nova York, que na Costa Oeste se dava às sete da manhã. Ao ver que o mercado estava em alta, Berlin passou algumas ordens de compra para seu corretor e foi tratar de coisas ligadas ao seu trabalho.
Ao longo daquela sexta-feira, 25 de outubro, o pregão esteve calmo. O índice industrial Dow Jones acabou fechando com uma alta irrisória de 1,75 ponto. Os preços já tinham caído demais para que os ursos se animassem a vender a descoberto e os touros atuaram com parcimônia. Pouco menos de 6 milhões de ações foram negociadas, volume inferior à metade da véspera, ainda assim um número alto.
À tarde, ao saírem da Bolsa, os profissionais tinham a sensação de que a crise havia ao menos sido estancada.
Embora poucos analistas tivessem se dado conta disso, um tumor maligno continuava se alimentando das entranhas pustulentas do mercado: uma enorme quantidade de especuladores não havia depositado os valores correspondentes às chamadas de margens para cobrir os prejuízos de quarta e quinta-feira. Havia rombos em quase todas as sociedades corretoras, que teriam de vender as ações das carteiras da clientela inadimplente.
Um dos mais endividados, agora sem chances de recuperação, era o magnata dos telégrafos, Clarence Mackay, sogro de Irving Berlin. Mackay — que se opusera ao casamento de sua filha Ellin com um reles músico, ainda por cima judeu — alavancara sua fortuna em operações a termo e estava irremediavelmente quebrado, tendo perdido quase 100 milhões de dólares, a maior perda individual do mercado de ações de Wall Street até então.