Os jornais de segunda-feira, 28 de outubro, continham farto material de propaganda enganosa: anúncios, artigos caracterizados como matéria paga e artigos pagos por baixo do pano pelas sociedades corretoras a jornalistas inescrupulosos. De acordo com essas matérias, uma quantidade fabulosa de ordens de compra proveniente de investidores que queriam se valer das baixas cotações dos papéis aguardava a abertura do mercado.
Desde as primeiras horas de segunda, milhares de turistas se concentravam no Distrito Financeiro. Alguns eram investidores novos, marinheiros de primeira viagem, com dinheiro vivo para investir na Bolsa.
Entre os especuladores veteranos, também havia gente otimista. Um dos touros mais entusiasmados era Mike Meehan, especialista nas ações da RCA, a gigantesca cadeia de comunicações controlada por David Sarnoff. A Radio vinha caindo havia seis meses, de cem dólares, cotação de abril, para 44, mínima alcançada na Quinta-Feira Negra, recuperando-se na sexta e no sábado para sessenta dólares, preço que, na opinião de Meehan, continuava sendo uma pechincha.
Alguns achavam que o pool de banqueiros liderado por Thomas Lamont, do Morgan, tinha como objetivo puxar os preços para cima. Nada mais inexato. Os bancos queriam apenas estabilizar o mercado para defender seus próprios cofres, ou seja, para evitar a inadimplência generalizada dos tomadores de empréstimo para compra de ações garantidas por margens, inadimplência essa que lhes traria enormes prejuízos. Só que os recursos alocados para o pool tinham limite, que os analistas mais perspicazes sabiam ser insuficiente para reverter a maré vendedora que vinha prevalecendo desde o início de setembro.
De seu quartel-general de emergência na cobertura do Mark Hopkins Hotel, em São Francisco, Amadeo Peter Giannini telefonou às cinco e meia da manhã (oito e meia em Nova York) para seu irmão Doc, a postos no Bank of America, na Baixa Manhattan.
“Esse negócio de ‘suporte organizado’ é conversa fiada”, A. P. disse para Doc. “Nessas horas, o medo é que prevalece”, advertiu. “Se todo mundo estiver pensando em vender, o mercado vai romper o fundo da quinta-feira. Nem nós mesmos vamos sustentar a Transamerica. É melhor deixar que os papéis encontrem seu nível, seja ele qual for.”
Um sentimento unia Mike Meehan, Thomas Lamont, Amadeo e Doc Giannini e os demais profissionais em todo o país: a enorme ansiedade com que aguardavam o início dos negócios na Bolsa.
Após bater o gongo, William Crawford ainda não tinha chegado ao pé da escada do pódio quando viu que o mercado caía. No Posto 2, a United States Steel estava sendo negociada a 202,25 dólares, 1,25 dólar abaixo do fechamento de sábado. No 17, a ITT abrira com uma queda de três dólares. E, pior de todas, no Posto 6 a General Electric desabara 7,5 dólares. Tudo isso em menos de um minuto.
Como seria de se supor, a ticker-tape não conseguiu acompanhar a ligeireza dos negócios. Às 10h10 a máquina registrava o que acontecera às 10h05. E a tendência, Crawford sabia disso, era piorar, alargando cada vez mais o gap.
Meia hora após a abertura, a U. S. Steel rompeu, para baixo, a barreira psicológica dos duzentos dólares. As demais blue chips também afundavam.
O pregão seguiu caindo. Os poucos compradores abriam a boca, apregoavam timidamente um preço bem abaixo da cotação anterior e, mesmo assim, os papéis lhes eram enfiados pelas goelas.
“Vendo mais, vendo mais”, os ursos de ofício, os ursos de ocasião e os ursos de puro desespero afrontavam os touros.
Por volta de uma da tarde, a ticker já exibia um atraso de noventa minutos. Com exceção daqueles poucos que estavam no recinto da Bolsa, ninguém sabia qual era o mercado real. Só restava aos especuladores uma alternativa:
“Vende, vende a mercado”, eles berravam no ouvido dos corretores.
“Mas já caiu muito…”
“Vende, vende a mercado.”
Quando Charles Mitchell, do National City, entrou no prédio sede da Casa Morgan, um rumor se alastrou pelas ruas próximas dando conta de que uma nova força-tarefa de suporte dos preços iria se formar. E, das ruas, se espalhou através das ondas de telégrafo de todo o país.
Na verdade, Mitchell foi ao Morgan pedir 12 milhões de dólares emprestados para poder sustentar as ações do próprio City. Mais por questão de princípios, Thomas Lamont impôs um abatimento e lhe concedeu dez.
O sorriso estampado no rosto de Charles Mitchell quando ele deixou o número 23 foi interpretado pelas testemunhas atentas como um bom sinal. Mais veloz do que se transmitida pelo telégrafo, a notícia chegou ao pregão da Bolsa. Imediatamente o mercado se estabilizou.
Meio na surdina, um corretor a serviço do J. P. Morgan começou a comprar ações da Steel, que rapidamente subiram de 193,5 para 198 dólares. No entanto, a alegria dos touros durou pouco. Surgiram maciças ordens de venda e a U. S. Steel voltou a ceder, agora para 190, fazendo nova mínima do dia.
Assim foi ao longo da segunda-feira. Apenas na última hora de pregão quase 3 milhões de títulos mudaram de dono. Na sessão inteira foram 9.212.800. A queda, de 49 pontos, significou um prejuízo de 14 bilhões de dólares em perda de valor das empresas negociadas na Bolsa.
De novo, Jesse Livermore, o rei dos ursos, fizera por desmerecer esse título. As perdas haviam sido tão rápidas que ele não tivera tempo, e muito menos coragem, de vender a descoberto. Só depois que o mercado fechou, Livermore, reunido com seus assessores, percebeu, ao analisar os gráficos das cotações, que, no dia seguinte, terça-feira, o tombo poderia ser maior, muito maior, quem sabe uma catástrofe sem precedentes em Wall Street.