55
Irremediavelmente pobres

No dia 29 de outubro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova York só parou de cair quando o tempo acabou. No horário de sempre, quinze horas, o superintendente William Crawford bateu o martelo. Não se pode dizer que a Bolsa foi salva pelo gongo porque na Terça-Feira Negra não se salvou nada. Além disso, após o fechamento, as cotações continuaram caindo na ticker-tape por causa do atraso nas transmissões de dados. Caíram até que o 16.383.700o negócio do dia, mais uma vez um número recorde, foi registrado.

“Fique rico rapidamente”, “pague uma e leve dez”, “não hesite, use seu crédito”, “seja um touro”, “entre para o nosso consórcio”… De repente os slogans dos reclames que haviam atraído tanta gente por tanto tempo soavam falsos e ardilosos, soavam irreais, como se a ideia de que poderia haver uma sociedade em que todos os que quisessem seriam ricos só poderia resultar em uma sociedade na qual, por mais que não quisessem, as pessoas seriam irremediavelmente pobres.

As perdas acumuladas na Bolsa entre 3 de setembro, dia em que o mercado fez um topo, e a Terça-Feira Negra haviam somado espantosos 50 bilhões de dólares, dez vezes a quantidade de moeda em circulação nos Estados Unidos naquela época.

Na terça, 29 de outubro, o desempenho de alguns papéis foi aterrador. A White Sewing Machine Company, por exemplo, que no pico do bull-market fora negociada a 48 dólares, e na segunda-feira, dia 28, fechou a onze dólares, apareceu na ticker a um dólar. E só saiu a esse preço porque um gaiato, por simples molecagem, apregoou:

“Sewing, compro a um!”

Levou.

Entre os maiores corretores, apenas uns poucos, como Charles Merrill, da Merrill Lynch, haviam advertido seus clientes para a possibilidade de uma queda sem precedentes. Também não foram muitos os especuladores que não se deixaram levar pela ganância. Em meio a essas exceções, o ator Charles Chaplin. Ele se revelava engraçado e irresponsável na tela, mas, nascido e crescido na pobreza dos cortiços londrinos, o criador e intérprete do imortal vagabundo dos filmes mudos era extremamente sério quando se tratava de cuidar de seu dinheiro.

Além de Chaplin, que se limitara a ficar de fora do mercado no último ano do boom, desta vez alguns traders mais lúcidos e audaciosos venderam a descoberto, entre eles Jesse Livermore. Mas o grande ganhador foi Albert H. Wiggin, do Chase National Bank, que ficou vendido em enormes lotes entre a quinta e a terça-feira “negras”.

Após o fechamento de terça-feira, Jimmy Walker, prefeito de Nova York, fez um apelo aos produtores de jornais cinematográficos.

“Por favor”, pediu ele, “mostrem imagens que restabeleçam a coragem e a confiança dos investidores”.

Evidentemente Walker não foi atendido. As cenas do crash, preservadas em arquivos de mídia, são exibidas até hoje.