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Fim de uma era

Charles Stewart Mott, chairman do Union Industrial Bank, que viajara de Detroit para Flint tão logo foi informado pelo presidente do banco, Grant Brown, sobre o desfalque perpetrado pelos integrantes da Liga de Cavalheiros, fez questão de interrogar pessoalmente os defraudadores. Numa reunião realizada na sala do conselho do Union, a mesma que os trambiqueiros tinham usado para tramar seu desastrado golpe, Mott tomou conhecimento dos detalhes da participação individual de cada um deles.

Só às cinco da manhã de quarta-feira, dia 30, o chairman deu por encerrado o encontro. Antes, exigiu a renúncia por escrito de cada um dos “cavalheiros”, no que foi prontamente atendido. Depois mandou-os para casa. Não disse se iria dar conhecimento dos fatos à polícia nem se iria processá-los na Justiça.

Após determinar que o banco permanecesse fechado, Charles Mott foi para sua mansão local descansar um pouco. Por volta das nove da manhã, ele chamou o promotor público de Flint, Charles Beagle.

Até hoje o teor da conversa dos dois é motivo de controvérsias. Não se sabe se o chairman exigiu a punição dos malversadores ou se pediu a Beagle para relevar os trambiques e agir como se o rombo no banco tivesse sido provocado unicamente pelo crash do mercado de ações, evitando assim um escândalo maior. O certo é que o promotor não tomou nenhuma providência imediata.

Apesar do tombo colossal, a Bolsa de Valores de Nova York abriu no horário normal na quarta. Todas as transações efetuadas na Terça-Feira Negra foram processadas. Quem comprou, recebeu seus papéis. Quem vendeu, seu dinheiro.

O músico Irving Berlin viu o valor de sua carteira de ações reduzido a praticamente zero. Mas recebeu a notícia com tranquilidade. Continuou investindo na Bolsa, todos os meses, o dinheiro que recebia de direitos autorais. Iria fazer isso pelos próximos sessenta anos, nos quais recuperaria, e multiplicaria, cada centavo perdido.

Em todos os Estados Unidos muita gente reuniu seus últimos trocados para aplicar em ações, na esperança de que o crash de 29 de outubro tivesse representado o fundo do poço. A partir desse fundo, só teriam a ganhar — pensavam.

O que ninguém, ou quase ninguém, poderia supor é que a Terça-Feira Negra seria não só o marco do fim de uma era de gastança e prosperidade, mas também o ponto de partida da maior depressão econômica do século XX, depressão essa que iria atingir brutalmente a população americana e, por efeito dominó, a de todo o mundo, incluindo povos que jamais tinham ouvido falar sobre bolsas de valores e mercado de ações.

Essa depressão afetaria a humanidade por longos onze anos, após os quais seria seguida por uma catástrofe ainda maior.