Jack Morgan e seus sócios na J. P. Morgan se sentiam tão superiores aos outros banqueiros, e mesmo aos demais homens de negócio da América, que não deram, ou pelo menos não pareceram dar, muita importância ao crash e à depressão que se seguiu. Era como se nada pudesse afetá-los negativamente.
O chairman da Casa Morgan costumava passar suas férias na Grã-Bretanha, onde não raro recebia em Wall Hall, seu castelo de estilo gótico em Aldenham, Hertfordshire, integrantes da família real. Em 1931, quando a situação da libra esterlina ameaçou se tornar insustentável, mais do que depressa Jack, que se sentia mais inglês do que americano, se ofereceu para prestar auxílio financeiro ao Banco da Inglaterra. Ofereceu-lhes um empréstimo de emergência, prontamente aceito por Sir Montagu, governor do banco.
O valor foi de 25 milhões de libras. Embora não se tratasse de uma grande soma, principalmente sendo tomador o Império britânico, o que valia era o simbolismo da operação. Significava que a J. P. Morgan tinha confiança no poder de recuperação da moeda inglesa. Imediatamente o FED (Federal Reserve Bank) ofereceu ao Banco da Inglaterra outros 25 milhões. O mesmo fez o Banco da França.
A comunidade financeira e empresarial americana não achou a menor graça ao ver seu banco central e sua casa bancária mais prestigiosa socorrendo um país estrangeiro justo no momento em que os Estados Unidos da América mais precisavam de liquidez. Jack Morgan foi metralhado por críticas. “Anglófilo impatriótico” foi o mínimo que se disse dele.
A colaboração externa em pouco ajudou a Inglaterra, e o dinheiro dos empréstimos de emergência logo evaporou, com os investidores exigindo ouro — a Grã-Bretanha adotava o padrão-ouro, lastreando sua moeda no metal — em troca de suas libras.
Por fim a situação da libra esterlina tornou-se insustentável. No dia 21 de setembro de 1931, agindo por ordem do primeiro-ministro Ramsay MacDonald, o Banco da Inglaterra anunciou que não mais entregava ouro a quem o exigisse em troca de libras, tal como vinha fazendo desde 1925.
A cotação da libra frente ao dólar, até então fixada em 4,86665 dólares, caiu imediatamente para 3,75 dólares e passou a flutuar ao sabor do mercado. Como a Casa Morgan fizera o empréstimo em libras, e iria, ao final, receber em libras, o prejuízo em dólares tornou-se inevitável. Embora isso não abalasse as finanças da Morgan, abalava seriamente seu prestígio, pois dera seu aval a uma moeda que não se sustentara. Isso era apenas o primeiro de uma série de reveses que Jack Morgan iria sofrer nos anos 30.
Como a J. P. Morgan era uma empresa de capital fechado, ela não publicava balanços nem divulgava seus resultados. Mas rumorejava-se em Wall Street que a firma acumulara no crash e nos dois anos que se seguiram perdas de 65 milhões de dólares. Isso não impediu que Jack lançasse um novo iate de 2,5 milhões de dólares. Ou quem sabe o fez para mostrar que estava bem financeiramente.
Só que as coisas continuaram piorando. Em 1932 o Senado americano criou uma comissão de inquérito presidida pelo senador Ferdinand Pecora para investigar as causas do crash. Jack Morgan foi uma das primeiras pessoas convocadas para depor.
Pouquíssima gente nos Estados Unidos conhecia a fisionomia e a voz de Morgan, que mantinha uma vida reservada, não frequentava eventos sociais e jamais dava entrevistas. Certa vez ele dera uma bengalada em um fotógrafo que tentara retratá-lo. Agora o banqueiro era obrigado a se expor e explicar aos senadores como funcionavam seus negócios. Entre uma e outra audiência na Comissão Pecora, os jornais o chamavam de bankster, combinando as palavras “banqueiro” e “gângster”.
Tendo Franklin Delano Roosevelt tomado posse na Casa Branca em 1933, a situação de Jack Morgan se deteriorou ainda mais. Suas empresas passaram a pagar muito mais impostos, criados por Roosevelt, e Jack começou a ser perseguido por Joe Kennedy, chairman da Comissão de Títulos e Câmbio (SEC), que não se esquecia da desfeita que Jack lhe fizera quatro anos antes.
Como se não lhe bastassem tantos contratempos, em função da lei Glass-Steagal, recém-promulgada, Morgan se viu obrigado a vender parte de suas instituições financeiras, pois os bancos passaram a ter de optar entre captar depósitos ou fazer investimentos. Ficou proibido exercer simultaneamente as duas atividades.
Ao longo da segunda metade dos anos 30, a J. P. Morgan — que se viu obrigada a aceitar novos sócios e passou a se chamar Morgan, Stanley & Co. — foi emagrecendo. Assim como emagreceu a fortuna pessoal de Jack. Para seu profundo desgosto, ele foi obrigado a fazer economias, dispensar serviçais e vender obras de arte, tudo pelos preços minguados da depressão.
Quando Jack Morgan morreu, na Flórida, em 13 de março de 1943, aos 75 anos, sua fortuna pessoal, que chegara a ser a maior do mundo, era de apenas 16 milhões de dólares, sendo que dois terços desse montante foram imediatamente engolidos pelos impostos de herança criados por Roosevelt.
Nunca mais a Morgan teve alguém com o sobrenome da família na direção de seus negócios. Na aldeia inglesa de Aldenham quase não há indícios de que um dia Jack Morgan conviveu por lá com reis, rainhas, príncipes e princesas. Sobrou como lembrança apenas uma bucólica rua residencial chamada Morgan Gardens.