Após o crash de 1929, o engraxate Pat Bologna, tendo perdido seu precioso “capital de risco”, voltou a se dedicar exclusivamente ao enfadonho esfrega-e-lustra na banca do número 60 de Wall Street. Já não havia tantos clientes, e mesmo esses gatos-pingados davam gorjetas magras, compatíveis com os novos tempos.
Nunca mais Bologna deu conselhos de investimentos, mesmo porque ninguém os solicitou, e ele mesmo evitava falar no assunto para não perder o freguês. Nas cinco décadas seguintes Pat continuou por lá, até que um dia pegou suas tralhas, foi embora e não se ouviu falar mais dele.
O judeu russo Michael Levine, faz-tudo, fornecedor de bebidas e dono de uma firma de mensageiros, também continuou na Rua. Como seria de se esperar, seu negócio encolheu. Agora, muitas vezes o próprio Levine se encarregava de entregar as mensagens e as encomendas da clientela.
Apesar de Amadeo Peter Giannini ter antevisto o crash, seu grupo financeiro sofreu pesadas perdas. Para piorar as coisas, Giannini e seu sócio Elisha Walker travaram uma disputa feroz pelo controle acionário do Transamerica e das demais empresas associadas.
Walker desejava vender o banco para Charles Mitchell, do National City, enquanto A. P. Giannini queria continuar tocando o negócio, concentrando-o cada vez mais em operações de varejo, atendendo correntistas, poupadores e investidores pequenos. O confronto entre os dois sócios acabou sendo resolvido litigiosamente em uma assembleia de acionistas, para a qual Giannini conseguiu reunir procurações de padeiros, merceeiros, açougueiros, verdureiros, garçons, operários etc., todos acionistas do banco. Isso foi suficiente para que ele derrotasse, ainda que por escassa margem, o grande capital que apoiava Elisha Walker.
Livre de Walker, Amadeo Giannini voltou a perseguir seu sonho de montar um grande banco dirigido às pessoas de menor renda. Para ficar mais com a cara de sua instituição, A. P. livrou-se de seu Rolls-Royce. O chofer Joe Garcia passou a dirigir um carro americano comum, sem sirene de bombeiros e outros espalhafatos.
Giannini entregou a direção do Bank of America a seus filhos, inclusive Claire, que se casou e passou a se chamar Claire Giannini Hoffman. Ela se aposentou com quase 80 anos e viveu até os 92. Teve a alegria de ver o banco fundado por seu pai, que morrera em 1949, aos 79 anos, transformar-se no maior do mundo.
John Jakob Raskob, o idealizador e construtor do Empire State Building, teve a esperteza de ficar vendido a descoberto em ações durante o crash e os meses de queda que vieram depois. Com isso, Raskob não só manteve sua fortuna como a vitaminou e pôde manter vivo seu sonho de construir seu arranha-céu.
Na segunda-feira 17 de março de 1930, dia de São Patrício, os primeiros alicerces do Empire State foram colocados em posição para sustentar as 365 mil toneladas de aço, pedra, concreto e vidro. Nos 410 dias que se seguiram, a construção subiu em ritmo vertiginoso. Sentados em uma arquibancada que Raskob mandou montar em frente à obra, curiosos e palpiteiros nova-iorquinos podiam ver o prédio se elevando nas alturas, não raro seu topo furando a camada de nuvens.
O Empire State foi construído após o crash da Bolsa
Nova York, EUA, 1931
Fotógrafo: Philip Gendreau
Latinstock/© Bettmann/corbis/Corbis (DC)
Finalmente, no dia 1o de maio de 1931, em plena Grande Depressão, o presidente Herbert Hoover cortou a fita inaugural do Empire State Building. Em seu discurso, John Jakob Raskob disse que aquele edifício era uma prova de que os bons tempos iriam voltar. Não se pode dizer que Raskob errou, mas seu prognóstico levaria mais de uma década para se tornar realidade.
Charles E. Merrill, da Merrill Lynch, fora um dos primeiros financistas de Wall Street a prever o crash. Ele fizera isso, num comunicado aos seus clientes, um ano e meio antes da Terça-Feira Negra, levando alguns investidores cautelosos a liquidar suas carteiras de ações.
Charles Merrill fez da Merrill Lynch a maior sociedade corretora do mundo
S.l., s.d.
Latinstock/© Bettmann/corbis/Corbis (DC)
Após o colapso do mercado, todo mundo se lembrou de Merrill. E o prestígio de sua sociedade corretora cresceu imensamente. Merrill e seu sócio Edmund Lynch se juntaram à empresa E. A. Pierce & Co., formando a Merrill Lynch, Pierce, Fenner & Smith, que se tornou a maior corretora de valores do planeta.
Durante o bull-market dos Roaring Twenties, a ação mais prestigiada e mais negociada do mercado havia sido a da RCA, Radio Corporation of America, a popular Radio. Evidentemente, sua cotação despencou junto com as outras. Só que a RCA tinha um negócio bom demais para naufragar, mesmo em um cenário de depressão.
David Sarnoff, o bielorrusso que chegara à América ainda criança, era agora, aos 39 anos, presidente da Radio. Sarnoff tinha enorme fé na empresa que dirigia, mesmo naqueles anos de penúria. Novidades na área de comunicação surgiam a todo momento e a RCA se beneficiava imensamente delas. Conquanto sua firma se dedicasse mais à fabricação e à venda de aparelhos de rádio e a transmissões radiofônicas, David, em seu amplo e suntuoso escritório no 53o andar do Rockefeller Center, na Quinta Avenida, pensava longe e grande. Televisão, ele tinha certeza, seria o grande negócio do futuro em seu campo de atividade.
No dia 30 de abril de 1939, durante a Feira Mundial de Nova York, David Sarnoff, dirigindo-se a uma câmera, participou da primeira transmissão de televisão do país.
Amadeo Peter Giannini, do Bank of America, John Jakob Raskob, do Empire State Building, Charles E. Merrill, da Merrill Lynch, e David Sarnoff, da RCA, assim como o já citado Joe Kennedy, foram notáveis exceções naquela década de fracassados.