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Flint: os escroques e suas vítimas
Tão logo soube dos desfalques nas contas do Union Industrial Bank praticados pelos cavalheiros da Liga, todos eles dirigentes e funcionários da própria instituição, Charles Stewart Mott, chairman e maior acionista do banco, decidiu cobrir o rombo com seu próprio dinheiro. Isso lhe custou 3,392 milhões de dólares.
A corajosa atitude de Mott revelou-se inútil para salvar o Industrial. Embora o banco tivesse deixado de operar apenas durante não mais do que dois expedientes e meio, esse pequeno espaço de tempo — ainda mais tendo acontecido simultaneamente ao crash da Bolsa de Nova York — foi suficiente para quebrar a confiança dos depositantes.
Na dúvida, dinheiro na mão. Sempre fora assim no sistema bancário em todo o mundo ao longo dos tempos. Quando as portas do Union Industrial se reabriram, houve uma corrida aos caixas e a direção do banco se viu obrigada a interromper novamente os saques. Interrupção que acabou se tornando definitiva, pois o Industrial teve sua falência decretada.
Entre os que ficaram sem nada, estava o jovem casal Vargo, Jolan e Steve. Ela não conseguiu receber a herança que seu pai lhe deixara ao morrer. Steve, por sua vez, perdeu todas as economias que acumulara, tiradas de seu suado salário na Buick.
Os Vargo jamais se mudaram de Flint. Tal como a maioria dos americanos, eles passaram necessidades durante a Grande Depressão, mas conseguiram refazer suas vidas na próspera década de 1950. A história se esqueceu de registrar se tiveram filhos e netos. Na ausência de informações em contrário, vamos supor que viveram felizes para sempre e que Jolan tenha tomado muitos sorvetes de baunilha.
Homer Dowdy, o carteiro de Flint, foi outro que não conseguiu sacar seu dinheiro no Union Industrial Bank, justamente na época em que mais precisava, devido à doença de sua mulher, Gladys. Ela morreu sem a assistência médica que ele desejara. Como felizmente tinha um emprego estável, Homer, que se casou novamente, viveu melhor do que a maioria dos americanos nos difíceis anos 30 e pôde proporcionar uma boa educação aos filhos.
Em 15 de novembro de 1929, a promotoria de Flint acusou os cavalheiros da Liga de desfalque no banco. A maioria se declarou culpada e o julgamento teve início em janeiro de 1930.
O vice-presidente sênior do Union, John de Camp, foi sentenciado a dez anos de prisão. Ivan Christensen, tesoureiro assistente, pegou sete anos e meio. Frank Montague, outro vice-presidente, três anos e meio. Robert, filho de Grant Brown, apenas seis meses. Os demais trambiqueiros receberam sentenças leves.
Curiosamente, a Liga de Cavalheiros de Flint continuou se reunindo após o julgamento, pois seus membros foram enviados para o mesmo local, a prisão estadual de Michigan, onde receberam celas contíguas. Como se revelaram prisioneiros-modelo, e se tratavam de executivos experientes, logo receberam do diretor do presídio a tarefa de aprimorar a administração da cadeia, no que foram extremamente bem-sucedidos. Isso lhes valeu uma rápida liberdade condicional.
Após serem soltos, quase todos voltaram para Flint, sendo que alguns conseguiram empregos em bancos locais.
É bem possível que De Camp, Christensen, Montague, Robert Brown e outros pares da Liga tenham cruzado nas calçadas da cidade com os Vargo e com o carteiro Dowdy, sem que nenhum deles soubesse quem era quem.