ataíde

Alferes de milícias Manuel da Costa Ataíde:

eu, paisano,

bato continência

em vossa admiração.

 

Há dois séculos menos um dia, contados na folhinha,

batizaram-vos na Sé da Cidade Mariana,

mas isso não teria importância nenhuma

se mais tarde não houvésseis olhado ali para o teto

e reparado na pintura de Manuel Rabelo de Sousa.

O rumo fora traçado.

Pintaríeis outras tábuas de outros tetos

ou mais precisamente

romperíeis o forro para a conversação radiante com Deus.

 

Alferes

que em São Francisco de Assis de Vila Rica

derramais sobre nós no azul-espaço

do teatro barroco do céu

o louvor cristalino coral orquestral dos serafins

à Senhora Nossa e dos Anjos;

repórter da Fuga e da Ceia,

testemunha do Poverello,

dono da luz e do verde-veronese,

inventor de cores insabidas,

a espalhar por vinte igrejas das Minas

“uma bonita, valente e espaçosa pintura”:

em vossa admiração

bato continência.

 

E porque

ao sairdes de vossa casinha da Rua Nova nos fundos do Carmo

encontro-vos sempre caminhando

mano a mano com o mestre mais velho Antônio Francisco Lisboa

e porque viveis os dois em comum o ato da imaginação

e em comum o fixais em matéria, numa cidade após outra,

porque soubestes amá-lo, ao difícil e raro Antônio Francisco,

e manifestais a arte de dois na unidade da criação,

bato continência

em vossa admiração.