o retrato malsim

O inimigo maduro a cada manhã se vai formando

no espelho de onde deserta a mocidade.

Onde estava ele, talvez escondido em castelos escoceses,

em cacheados cabelos de primeira comunhão?

onde, que lentamente grava sua presença

por cima de outra, hoje desintegrada?

 

Ah, sim: estava na rigidez das horas de tenência orgulhosa,

no morrer em pensamento quando a vida queria viver.

Estava primo do outro, dentro,

era o outro, que não se sabia liquidado,

verdugo expectante, convidando a sofrer;

cruz de carvão, ainda sem braços.

 

Afinal irrompe, dono completo.

Instalou-se, a mesa é sua,

cada vinco e reflexão madura ele é quem porta,

e esparrama na toalha sua matalotagem:

todas as flagelações, o riso mau,

o desejo de terra destinada

e o estar ausente em qualquer terra.

3 em 1, 1 em 3:

ironia passionaridade morbidez.

 

No espelho ele se faz a barba amarga.