O PRIMEIRO ABRAÇO COM duas voltas no ar em 1984 é acompanhado de uma notícia que cai na minha cabeça como cem baldes de água gelada: Pablo pensa em deixar a política e quer saber o que acho, para comparar com a opinião de sua família, seus sócios e, obviamente, seu candidato.
Respondo que não preciso ser um Einstein para saber o que todos eles pensam e imploro que, pela primeira vez na vida, mande todos para o inferno e pense só nele. Peço que não desista diante do ministro Lara, do galanismo, do governo, nem da opinião pública, nem dos gringos. E peço que lembre à sua família de onde vêm os diamantes e as Mercedes, os Boteros e os Picassos. Aconselho que, em vez de atacar de frente o Tratado de Extradição e investir milhões em políticos, inicie em Bogotá obras sociais das mesmas dimensões de Medellín sin Tugurios, para que sua popularidade o proteja a ponto de torná-lo intocável, e que comece a pensar em se aposentar do negócio ou deixá-lo nas mãos de seus sócios, que são leais e firmes como rochas.
— Ou por acaso você acredita que a sua vai ser a única futura dinastia neste país que tem dois mortos como lastro, hein? A única diferença entre vocês é que aos 34 anos você já tem 1 bilhão ou 2 bilhões de dólares! E no país da compra de votos você não está inventando nada de novo, só que paga esses votos com casas e quadras esportivas em vez de sanduíches! Nunca vou entender por que Belisario Betancur nomeou como ministro da Justiça o inimigo mortal das pessoas que financiaram boa parte das campanhas presidenciais. Alfonso López nunca teria cometido uma estupidez dessas. Você não precisa de Santofimio para nada, e pare de chamá-lo de “doutor”, porque pessoas como eu e você chamam de doutor alguém como Álvaro Gómez, não como Alberto!
Pablo nunca perde a calma. Pablo nunca reclama. E Pablo nunca me interrompe quando estou furiosa. E já aprendeu que só me calo e me acalmo completamente quando ele me toma em seus braços, e por isso age comigo como um adestrador que sussurra coisas nos ouvidos dos cavalos até que fiquem tranquilos. Ele faz isso desde o dia em que confessei que, se colassem meu corpo ao dele com Super Bonder no inferno para toda a eternidade, eu não ficaria chateada e me sentiria no paraíso, e ele respondeu que essa era a declaração de amor mais perfeita de todos os tempos. Nesta noite, admite que ele e seu candidato já se acertaram para uma separação oficial, mesmo que por debaixo dos panos a cooperação continue, porque agora, mais do que nunca, os dotes de persuasão de Santofimio para com os outros congressistas são imprescindíveis para ajudar toda a sua corporação a derrubar o Tratado de Extradição. Ele me explica que há outro motivo de peso pelo qual decidiu, por ora, deixar a política para os profissionais: a rota de Cayo Norman com Carlos Lehder está tendo sérios problemas e, mais cedo ou mais tarde, vai cair, porque seu sócio está se transformando aos poucos num drogado megalomaníaco e causando todo tipo de problemas ao governo de Lynden Pindling, nas Bahamas.
— Já entrei em contato com os sandinistas, que estão desesperados por dinheiro e me ofereceram o que eu quiser para usar a Nicarágua como escala e base para a distribuição da mercadoria até Miami. Em algumas semanas, eu e você vamos juntos para Manágua e vamos estrear um dos meus passaportes. Quero que você conheça a Junta e me diga qual é sua opinião sobre eles. Você tem razão em tudo o que me falou, mas tem que entender que acima da política está o meu negócio e que tenho que continuar organizando tudo até que seja fisicamente impossível explorá-lo mais. Aí, sim, posso pensar em me aposentar, para voltar ao Congresso quando toda essa confusão tiver passado. Você vai ver como em seis meses as coisas começam a entrar nos eixos. Você sabe que vejo os problemas surgir com meses de antecedência e que, quando aparecem, já tenho a solução cuidadosamente planejada e pronta para entrar em ação. Tudo, menos a morte, se ajeita com dinheiro. E o meu dinheiro chega aos montes, amor.
Eu pergunto como os fundadores do MAS fazem para se entender com um governo comunista tão próximo aos grupos guerrilheiros da Colômbia. Ele me responde que quando estivermos lá vou entender tudo. Fico, finalmente, tranquila. Duas semanas depois, Pablo anuncia sua aposentadoria da política e penso que, já que é provisório e não definitivo, é uma decisão acertada porque vai tirá-lo do olho do furacão público.
Nas semanas seguintes, estamos extremamente felizes. Nossa relação é conhecida apenas por seus sócios, três amigas minhas e algumas pessoas que trabalham para ele: Fáber, o secretário — um homem muito bom, encarregado sempre de me buscar e levar ao aeroporto —, e seus três homens de absoluta confiança: Otto, Juan e Aguilar. Pablo e eu negamos veementemente qualquer romance, em consideração à sua mulher e à minha carreira, que está ascendendo: O show das estrelas, meu programa aos sábados às oito da noite, é visto em vários países e tem 53 pontos de audiência, porque em 1984 a Colômbia só tem três canais de televisão e o canal oficial não é visto por ninguém. Meu outro programa, Revista de segunda-feira, tira audiência nesse dia do noticiário que Andrés Pastrana Arango apresenta no canal concorrente, dizem que é porque cruzo as pernas de forma muito sensual. Por esse motivo, a Meias Di Lido, propriedade da família Kaplan, de Caracas e Miami, me contratou para um segundo comercial em Veneza, depois de ter conquistado 61% do mercado nacional. Para ir a Veneza, coloquei como condição para a Di Lido os honorários equivalentes aos das cem modelos mais bem pagas do país juntas, passagens na primeira classe e uma suíte no Cipriani ou no Gritti Palace. Feliz, digo a Pablo que, depois de Veneza, os Kaplan vão ter que me pagar como uma estrela de cinema num país sem indústria cinematográfica! E ele sorri, porque sabe que alguns anos antes recebi uma oferta de um produtor de Hollywood que colocou à minha disposição um bangalô em Bel Air, o hotel preferido da princesa Grace Kelly em Beverly Hills e um filme com Michel Landon, Priscilla Presley e Jürgen Prochnow, oferta que tive que declinar por ordem fulminante de Margot:
— No fim das contas você quer ser uma jornalista séria ou uma artista de cinema? Você vai me deixar falida com essa produtora, agora que finalmente estamos deixando de ser pobres?
Uma manhã, por volta das onze horas, Pablo chega de surpresa em meu apartamento. Ele me diz que vem se despedir porque vai para o Panamá e para a Nicarágua, mas que não pode me levar com ele. As pessoas que trabalham para ele no acordo com a Junta Sandinista pediram que por motivo nenhum viaje acompanhado de uma jornalista de televisão. Ele me explica que só vai ficar uma semana e promete que na volta faremos uma viagem juntos, talvez para Cuba para conhecer Fidel Castro. Não acredito numa única palavra dele, menos ainda quando me propõe que, em sua ausência, eu vá fazer compras e não fique triste pela mudança de planos. Fico furiosa, mas não reclamo: Nova York é definitivamente muito mais chique que Manágua, e o The Pierre é outro paraíso na Terra. Não apenas porque fica a uma quadra e meia de Bergdorf Goodman, mas porque a vingança é doce.
A cena na suíte enorme, uma semana depois, é surrealista: numa linha telefônica, em seu quarto, está David rindo ao telefone com “Sonny”, o duque de Marlborough. Na outra, em meu quarto, estou eu, rindo ao telefone com Pablito, o Rei da Coca, que me pede para comprar todos os exemplares da revista Forbes antes que ela se esgote porque ele acaba de ser eleito o sétimo homem mais rico do mundo! E, quando ambos desligam, ali, no salãozinho do meio, está Julio Mario, o Rei da Cerveja, gargalhando porque Metcalfe vai ser waistcoated! (Entre os mafiosos de famílias ilustres — Genovese, Bonnano, Gambino, Lucchese e Maranzano —, existe uma tendência única de vestir seus inimigos com coletes de concreto líquido e esperar pacientemente que solidifiquem antes de jogá-los no fundo do mar, dentro do que se poderia definir como “estilo nova-iorquino de desaparecer com as pessoas” ou a versão contemporânea de “prender uma pedra de moinho no pescoço” dos eleitos por suas namoradas para colocar neles, com ou sem razão, chifres dignos do Rei dos Alces.)
Julio Mario me pergunta se são, realmente, tão ricos “todos esses peões” que são meus amigos. Respondo que agora são as pessoas mais ricas do mundo, e ele comenta que devo ter ficado louca de fazer tantas compras. E, como os donos de tantos títulos estão hoje tão felizes, deixo Metcalfe e Santo Domingo rindo de meio mundo e desço para comprar cigarros. Compro todas as revistas Forbes que encontro. Subo e, sem dizer uma palavra, dou um exemplar para cada um, aberto na página com a lista dos mais ricos do ano. Os Ochoa ocupam o sexto lugar, e Pablo Escobar, o sétimo.
— Então o concorrente tem 3 bilhões… — diz David. — Pois essa quantidade de dinheiro deveria servir não apenas para comprar girafas, pagar o The Dirt (o Sujo) e financiar suas compras, mas sim para viver com um pouquinho mais de estilo, como Stavros Niarchos!
— Você devia ter um filho com ele, boneca! — completa Julio Mario. — Não está ficando mais nova, não é? Está na hora!
David reage horrorizado e exclama que eu “nunca seria esse tipo de mulher!”.
Olho para Julio Mario e, para que David não entenda, falo em espanhol:
— Sim, se não tive filhos com você, que era lindo, por que vou ter justamente com “esse peão”? E não esqueça que sempre serei 26 anos mais nova que você.
Comento que ambos estão com um pouquinho de inveja porque agora os novos magnatas colombianos têm cacife mundial e não simplesmente local. E porque meus amigos são uns meninos da mesma idade que eu e uns peões inteligentíssimos.
— Meu Deus, darling! — exclama David, com uma charmosa bofetada no ar soando como lorde Curzon ao descobrir que Pablo toma sopa no brunch. — Inteligente é Henry Kissinger!
— A verdade é que, agora sim, acredito que você é o mais corajoso dos homens! — diz Julio Mario às gargalhadas. — Ai, que susto, David! Começa logo a contar os dias antes que Junior Corleone te coloque um colete!
Parece que, agora que meus homens preferidos me olham com novos olhos, esse é o dia mais feliz da minha vida. E digo a mim mesma que Deus sabe o que faz e por isso estou aqui, rindo com eles e com todas as minhas sacolas de compras em meu quarto, e não olhando para a cara de “Abacaxi”18 Noriega ou para Danielito Ortega.
Uns dias depois, estou de volta aos braços de Pablo, e, por diferentes razões, ambos estamos festejando. E mesmo que o Rei da Coca seja, junto com o neto do Vice-Rei da Índia, o mais corajoso dos homens, na hora da verdade é tão humano como qualquer Rei da Cerveja.
— Ai, que susto, meu amor! Eu estava lá, sozinho, com todos aqueles caras feios vestidos de uniforme militar… pensando que podiam me jogar no mar porque disse a eles que ninguém no mundo tem 50 milhões de dólares líquidos, você acredita? Isso era o que todos esses filhos da puta queriam pedir “de adiantamento”! Só essa mixaria, o que você acha? Os comunistas acreditam que dinheiro dá em árvore ou o quê? E estávamos num jardim que tinha um murinho branco de mais ou menos um metro de altura, e eu olhava várias vezes para ele calculando se podia pular e sair correndo até o meu avião, antes que pudessem me sequestrar e me vender para os gringos. E pensava o tempo todo: “Por que eu não trouxe a minha beleza adorada que me faz tanta falta? Este lugar tem umas mulheres tão feias!…”. Bem, o importante é que já estamos juntos, que baixaram o preço para um valor bem inferior e que já tenho essa rota no caso de os gringos começarem a pressionar Noriega, que é dos nossos desde que nos ajudou como mediador no sequestro de Martha Nieves Ochoa, mas pode mudar de lado porque sempre trabalha com quem paga melhor. E como foi em Nova York?
— E são os sandinistas que vão te apresentar a Fidel Castro? — pergunto antes de responder.
— Sim, só que mais adiante, depois de verem se nos entendemos.
— E para que você quer conhecer Fidel Castro?
— Porque sua ilha está mais perto do arquipélago da Flórida que qualquer outra. E agora que já sabemos que podemos pagar o preço dos ditadores comunistas…
— Sim, mas este sim é inteligente e rico; não bronco e pobre, como esses sandinistas. Não conte com ele para nada, Pablo, porque Fidel não tem os gringos por perto: ele tem os gringos nas ilhas e lá dentro, em Guantánamo!
Mudo de assunto e conto que, enquanto almoçava com uma amiga no Le Cirque, me encontrei com Santo Domingo e um lorde inglês conhecido meu. Que tinham escutado algo sobre nós e estavam mortos de curiosidade pela matéria da Forbes. Que os dois me perguntaram sobre ele, e vi que ficaram com um pouquinho de inveja dos seus 3 bilhões. E que Julio Mario teve a cara de pau de me sugerir que tivesse um herdeiro. Agora você me pergunta o que respondi:
— Que logo ele, que me deu de presente a autobiografia de Fernando Mazuera, sabia perfeitamente que várias gerações de mulheres muito bonitas da minha família tiveram a precaução de se casar sempre antes de ter filhos. E que você já estava muito bem casado.
Pablo fica pensando um momento enquanto processa a informação. Não percebo o nervo que toquei até que ele comece a falar:
— Isso foi muito, mas muito bom, meu amor… E agora vou te contar uma história que nunca contei a nenhuma mulher… É que, antes de te conhecer, a pessoa que eu mais amei na vida se chamava Wendy… Sim, como a de Peter Pan, e não ria. E Wendy Chavarriaga não era uma leoa, não, não e não. Era uma alcateia! Cada vez que pensava que eu estava com outra, batia no meu carro, cortava a porta com serra, me atacava com marteladas, chutes, ameaçava me matar, arrancar a minha pele e me esquartejar, me dizia todos os palavrões do pior vocabulário espanhol, colombiano e chibcha… e eu aguentava tudo, tudo, porque eu a adorava e a idolatrava. Bem, eu simplesmente morria pela Wendy! E ela ia para Nova York com umas dez amigas, nunca sozinha, como você, e eu pagava tudo o que elas queriam. Mas, apesar das minhas advertências, um dia ficou grávida. E foi ao cabeleireiro onde minha mulher estava e gritou, triunfante: “Este sim é filho do amor e não do dever, como o seu!”.
“No dia seguinte mandei quatro dos meus homens procurá-la. Eles a levaram arrastada até um veterinário, e eu mandei fazer um aborto sem anestesia. Nunca mais voltei a vê-la e, a partir desse dia, não senti falta dela nem por um segundo. Graças a Deus você, sim, é uma princesa. E perto da Wendy, e por mais que me chute às vezes, você é o meu oásis, Virginia.”
Fico muda. Fico gelada. Fico espantada. Um calafrio me percorre enquanto digo:
— Sim, Graças a Deus não me chamo Wendy e meu sobrenome não é Chavarriaga.
Algo da minha adoração por ele começa a morrer nessa noite depois de escutar aquela história horrível, dolorosa como um punhal no coração de qualquer mulher com entranhas. E penso que Deus sabe o que faz e me alegro de saber até onde pode chegar esse homem tão corajoso com os assuntos gerais e tão monstruoso com as exceções. Em silêncio, me pergunto se algum dia toda essa veia de crueldade poderia se voltar também contra mim; mas digo a mim mesma que é impossível, porque sou o oposto daquela pobre garota e por esse motivo ele me chama de sua “doce pantera”.
Pablo está que não cabe em si por seu sétimo lugar na lista da Forbes. Quando concede uma entrevista no rádio, diz que nenhum deles tem uma quantia igual em dinheiro e que nem sequer sabem o valor de tudo isso em pesos! Que essas são as fortunas de Santo Domingo e Ardila e que a Forbes confundiu os dois com eles! E que se tivesse 3 bilhões de dólares daria 2,9 bilhões aos pobres e deixaria só 100 milhões para que sua família pudesse viver tranquila por um século!
É claro que para Pablo os pesos não interessam; mas porque sabe mais de dólares do que qualquer banqueiro suíço. E não apenas falamos sempre em dólares: como falamos em dezenas, centenas e milhares de milhões de dólares. Primeiro, porque seu negócio é feito nessa moeda, que em 1984 é ainda uma das mais sólidas do mundo. E, segundo, porque ambos temos absoluta convicção de que as estimativas em pesos não são confiáveis a médio e longo prazo, porque as desvalorizações constantes da moeda colombiana, que chegam a 35% ao ano, fazem com que todos os cálculos com filas de zeros à direita se distorçam com o passar do tempo: 1 milhão de pesos — uma grande quantia em dinheiro em 1974 — vai ser uma quantidade insignificante em 1994, ao passo que nesses vinte anos 1 milhão de dólares sofre uma desvalorização de cerca de 50%.
Uma semana depois, Pablo anuncia que me trouxe um presente: ele está escondido em alguma parte de seu corpo e eu devo procurá-lo muito, mas muito lentamente. Como abre os braços e está de mãos vazias, imagino que deve ser algo pequeno e muito valioso, talvez uma esmeralda “gota de azeite” ou um rubi “sangue de pombo”. Fica muito imóvel e calado enquanto começo a procurar desde o couro cabeludo e, à medida que vou percorrendo cada centímetro do seu corpo com meus dedos, começo a despi-lo. Primeiro tiro a camisa, depois o cinto, a calça… e nada! Ao chegar aos pés, e depois de tirar os sapatos, vejo escondida na meia uma Beretta 9 mm com coronha de marfim, marcada com suas quatro iniciais e totalmente carregada.
— Olha só o que temos aqui. Pois agora é minha vez, senhor parlamentar suplente, e vou me vingar da noite do revólver. Mãos ao alto!
Numa fração de segundo, ele salta sobre mim. E torce meu braço, me desarma e coloca a pistola na minha boca. Fico pensando que ele descobriu sobre David e vai me matar.
— Desta vez não é um jogo, Virginia, e eu trouxe a arma porque você vai precisar. O salvo-conduto está em meu nome, e é um empréstimo, entendeu? No caso de você ter que usá-la, quero que saiba que eu tenho o melhor serviço de lavagem de tapetes do país: não deixo uma única gota de sangue. E agora você vai saber a verdade, meu amor: eu não vou ser parlamentar, nem presidente, nem nada disso. Muito em breve você vai se transformar na mulher de um guerreiro, e eu vim te explicar o que os órgãos de segurança vão fazer com você no dia em que aparecerem por aqui perguntando por mim. Vou te ensinar, também, como dar um tiro em si mesma para que morra na hora, não desfigurada ou paraplégica. Você pode ter uma ótima pontaria fazendo tiro ao alvo, mas, se você não perde o medo de matar, um especialista te desarma em segundos. E a primeira coisa que esses carniceiros vão fazer é arrancar a sua roupa… e você é… a coisa mais linda do mundo, não é verdade, meu amor?… Por isso, vá tirar já esse vestido de 2 mil ou 3 mil dólares antes que eu o deixe em farrapos, e venha até o banheiro e pare na frente de todos esses espelhos de corpo inteiro. Eu disse imediatamente! O que você está esperando?
Obedeço, porque não vou deixar que despedace um Saint Laurent, porque sinto um grande alívio e uma enorme curiosidade e, na verdade, porque sempre amei esses olhares inflamados que precedem todas as suas carícias. Pablo descarrega a Beretta e se posiciona atrás de mim. Ele me diz que, se alguém saca uma arma para matar, deve fazê-lo com a cabeça completamente fria para ter controle total. Em seguida me ensina como devo posicionar os pés e as pernas, o tronco e os braços, os ombros e a cabeça quando se está diante de vários homens mas protegida por uma arma de fogo. Depois me mostra qual deve ser a expressão dos olhos, da boca, de todo o rosto e qual é a linguagem corporal. Por último me explica o que devo sentir, como devo pensar, o que eles vão tentar fazer. Com um brilho estranho no olhar, vai me indicando qual devo matar primeiro se forem dois, se três ou quatro e estiverem desarmados ou a uma distância prudente. Porque, se forem cinco ou mais e estiverem armados ou se aproximarem, devo me dar um tiro antes de cair nas mãos deles. E me ensina o que fazer neste último caso: como colocar os dedos e para onde, exatamente, apontar o cano. Aperta o gatilho várias vezes, e várias vezes torce meu braço até que eu não aguente mais de dor, e eu aprendo a não me deixar desarmar. Enquanto observo naqueles espelhos a imagem dos nossos corpos nus lutando pelo controle da arma, não posso deixar de pensar nos lançadores de disco atenienses e nos lutadores espartanos. Como ele é cem vezes mais forte do que eu, me domina uma e outra vez enquanto vai usando sem compaixão toda aquela coreografia como uma montanha-russa para me obrigar a sentir o terror, a perder o medo, a exercer o controle, a imaginar a dor… a morrer de amor. De repente, joga a Beretta no chão e me pega pelo cabelo com a mão esquerda enquanto a parte final daquela lição começa a desfilar agora por seus lábios e meus ouvidos, por sua outra mão e pela minha pele: são as narrações sem fim, com as mais detalhadas descrições, das formas mais anormais de tortura, inimagináveis, das arrepiantes modalidades de que o suplício pode se revestir; trato de silenciá-lo, de tapar meus ouvidos com os dedos para não escutá-lo, mas ele segura meus dois braços e cobre a minha boca com a mão enquanto continua sem parar um segundo. Quando termina de recitar todo aquele castigo sonhado por um inquisidor beneditino, todo aquele sofrimento desenhado pela mente depravada de algum militar sul-americano durante a operação Condor, esse demônio que me rouba e me devolve a vida, esse homem que me mima e me ama como ninguém jamais poderá fazê-lo, me diz ao pé do ouvido com voz sibilante que tudo aquilo é apenas uma parte do que me espera se eu não aprender a me defender dos seus inimigos, a odiá-los com a mesma ferocidade que ele, a matá-los sem vacilar quando atravessarem meu caminho e a não duvidar nem por um segundo que eu também tenho capacidade para acabar com eles no dia em que se atreverem a me procurar para saber dele.
Depois de dois minutos de silêncio celestial, pergunto a ele por que sabe tanto sobre essas coisas. Ainda exausto, me responde:
— Porque na minha vida tive que apertar muita gente… muito sequestrador. Por isso, meu amor.
Depois de outros dois minutos de um repouso idílico, pergunto a ele quanta gente. Após uma pausa e com um suspiro, ele me responde com a maior tranquilidade que… cerca de duzentas pessoas. Depois de outros dois minutos, pergunto a ele quantos desses duzentos “restaram”. Após outra pausa e com outro suspiro, me responde que “muitos, muitos”. Dessa vez não espero uma pausa para perguntar o que aconteceu com todos os que ficaram vivos. E dessa vez Escobar não me responde. Então, me levanto do lugar onde sempre terminam nossas batalhas de campo, recolho as balas e carrego a Beretta. Levo-a até o meu cofre, tiro a cópia das chaves do elevador particular que leva diretamente ao meu apartamento, volto com a arma em uma mão e o chaveiro na outra e o entrego a ele.
— Nunca dei isso para ninguém, Pablo. Se algum dia você não tiver mais para onde ir, sempre poderá se esconder aqui. Ninguém em sã consciência teria a ideia de vir te procurar na minha casa; talvez venham por mim, mas não por você. Aqui dentro desse coraçãozinho está a combinação do meu cofre; nele você encontrará sempre sua pistola quando eu estiver fora da cidade, porque a partir de hoje estará sempre comigo e não vou me separar dela, apenas para tomar um voo comercial. Agora você tem que me dizer que nome quer que eu coloque na portaria para que te deixem entrar na garagem e para que possa subir quando eu não estiver.
Um carinho terno e um grande silêncio, a tristeza profunda em seu olhar de sempre e duas palavras impossíveis de esquecer respondem agora à gratidão infinita que deposito nas mãos daquele homem formidável, único e terrível. Ele me dá uma pistola, e eu entrego a ele um coração de ouro. E quando, ao nos despedirmos, não fico com duas, mas com duzentas almas disputando minha compaixão e minha razão, algum demônio interno diz para a minha consciência que, se os amantes que têm as respostas replicassem sempre as perguntas dos amantes que conhecem as verdades, o mundo inteiro se congelaria em alguns instantes.
“Se quiser matar uma ave, corte a árvore onde ela faz o ninho”, reza o provérbio. E em março de 1984 cai a “Tranquilândia”, o maior laboratório de processamento de drogas do mundo. A cidadela nas florestas de Yarí foi rastreada por um satélite norte-americano, e o governo dos Estados Unidos passou a informação ao ministro Lara e à polícia colombiana. O conjunto de catorze laboratórios que se estendem ao longo de quinhentos hectares produz 3,5 mil quilos de cocaína por semana e conta com pistas de aterrissagem para levar a droga diretamente para o exterior, estradas próprias e instalações cômodas para quase trezentos trabalhadores. Catorze toneladas de coca são jogadas no rio Yarí pela polícia, e são apreendidos sete aviões, um helicóptero, veículos, armas e quase 12 mil cilindros de insumos para o processamento da pasta de coca em cocaína pura.
Vejo Pablo alguns dias antes de viajar para Veneza. Está sorridente e tranquilo. Ele me conta que os laboratórios da Tranquilândia e da Villa Coca eram de Jorge e de Gonzalo, não dele, e que as perdas reais são apenas uma parte das cifras reportadas pela polícia. Pablo explica que todos eles aprenderam uma valiosa lição: a partir de agora as “cozinhas” nas matas vão ser móveis e nas zonas guerrilheiras e pagarão propina aos grupos de rebeldes. Em todo caso, a mercadoria perdida é só de 10% e, diante dos 90% que se conseguem, irrelevante: a cada quilo, seus clientes deixam 5 mil dólares pelo transporte com seguro, e para cada quilo próprio — porque não é necessário pagar transporte, já que os aviões e as rotas são seus — deixa um resultado financeiro de mais que o dobro, depois de descontar todos os gastos com pilotos, combustível e pagamentos para as autoridades que cooperam com eles em cada país, que são conhecidas em sua corporação pelo nome de “a rota”. Nos carregamentos de várias toneladas, a tripulação chega a ganhar até 1 milhão de dólares por viagem, assim, se caírem nas mãos da lei, e no caso de os subornos não darem certo, seus pilotos podem contratar os melhores advogados e pagar fiança sem ter que ligar para a Colômbia. Vou aprendendo que, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá, as propinas sempre funcionam. As pessoas essenciais da rota são o ditador ou governante, o comandante da Força Aérea ou da polícia, ou o chefe da alfândega do país tropical onde o avião faz escala para abastecer. Todos, químicos, “cozinheiros”, vigias, pilotos, contadores, ganham salários extravagantes para não roubar, não delatar seus superiores na organização, nem entregar as rotas. Pablo quase sempre usa a palavra mercadoria, não cocaína, e me conta essas coisas para que eu fique tranquila e deixe de me preocupar tanto com o rumo que está tomando a implacável perseguição do ministro Lara Bonilla.
Como agora vou para a Itália, meu orçamento para compras é de 100 mil dólares. Peço uma licença do Grupo Radial, deixo programas de televisão gravados para três semanas e vou feliz para Veneza, a cidade mais esplendorosa que os comerciantes mais ricos da história puderam construir na face da Terra e sobre as águas do mar.
No início de abril de 1984, tudo no meu mundo é quase perfeito: meu jovem amante é talvez o mais impressionante negociante de seu tempo, e, graças a ele, também me sinto a mulher mais feliz, mimada e bonita da Terra. Primeiro passo por Roma para comprar as roupas do comercial que vamos gravar em Veneza. Hoje saí do salão de beleza de Sergio Russo e me pergunto por que nunca pude ficar assim na Colômbia; com certeza porque essa aparência ia me custar centenas de dólares, uma parte insignificante do preço da minha roupa de Odicini e da bolsa e dos sapatos de crocodilo.
Depois de Pablo, nada me faz mais feliz do que os olhares das pessoas enquanto caminho por alguma rua principal de uma cidade europeia com lojas de luxo de um lado e de outro entre dois homens bonitos, elegantíssimos, risonhos e orgulhosos, com impecáveis blazers azul-marinho e anéis com brasões nos dedos. Nesse dia perfeito, vou pelo meio da Via Condotti com Alfonso Giraldo y Tobón e com Franco, conde Antamoro de Céspedes. Alfonso é um playboy lendário e o homem mais adorável e refinado que a Colômbia já produziu. Esbanjou uma enorme fortuna feita com Caspidosán, um produto para caspa inventado por seu pai, dançando com Soraya, imperatriz da Pérsia que era como um devaneio, e farreando com príncipes como Johannes von Thurn und Taxis, o mais rico de todo o Sacro Império Romano Germânico, “Princy” Baroda, da Índia, e Raimondo Orsini d’Aragona, do papado. Depois de ter cursos intensivos sobre mulheres com Porfirio Rubirosa — primogênito de Trujillo e, por isso, um dos homens mais ricos de sua época —, Alfonso vive agora em sua cidade favorita e numa ala de um palazzo, propriedade de Orsini. Franco, por sua vez, é sócio de um banco particular em Genebra e neto de Carlos Manuel Céspedes, o líder que tocou a campanha de liberdade em Cuba e o primeiro dos grandes proprietários de terras a libertar todos os seus escravos. Meus dois velhos amigos me fazem rir sem parar, me colocam apelidos carinhosos e são incrivelmente generosos com suas palavras. Franco exclama:
— Aos 34 anos você está impressionantemente jovem, Cartagenetta, porque a melhor idade das mulheres belas são os quarenta anos. O que uma mulher como você faz morando na Colômbia? Uma criatura tão luminosa precisa urgentemente de um marido rico, bom-moço, com título e que seja um grande amante!
— Amanhã — diz Alfonso — você vai jantar com um jogador de polo que é o homem mais belo de Roma para que ele te convide no domingo para visitar o Polo Club, onde estão os homens mais bonitos da Itália. Isso sim é eye candy, Amorosa! Já disse aos meus amigos que a mulher mais bonita da Colômbia vinha a Roma, e todos estão loucos para te conhecer!
Sorrio feliz porque, finalmente, também tenho um título! E rio por dentro porque adoro com toda a minha alma o sétimo homem mais rico do mundo, tenho um amante alternativo à altura de Porfirio Rubirosa e ainda não perdi a cabeça pelo jogador de polo mais lindo da Colômbia. E como Alfonso tem um gosto perfeito para tudo o que houve e há no mundo, peço a ele que me acompanhe até a Battistoni para comprar camisas e a Gucci para adquirir os mais divinos sapatos e jaquetas de couro para “um potro indomável que só usa jeans e tênis para supervisionar, de chicote na mão, centenas de pôneis e mil cuidadores de cavalos em sua fazenda”. Quando Aldo Gucci entra em sua loja, Alfonso nos apresenta e, muito sorridente, me acusa de ter gastado 25 mil dólares em bolsas de crocodilo; mesmo que tenham sido só 5 mil, o proprietário, encantado, volta minutos depois com dois foulards de presente, um com cavalinhos de polo e outro com flores que tenho até hoje.
Viajo para Veneza com meia dúzia de malas carregadas de tesouros e me instalo em minha suíte do Gritti Palace. Feliz, percorro a cidade, compro cristal de Murano, e um bronze que Pablo me encomendou para Tata, e me arrumo para a gravação do comercial. Tudo foi planejado até o último detalhe, mas trabalhar no Gran Canal é simplesmente impossível: como uso um espetacular terno branco da Léonard com flores, um grande chapéu de palha, minhas turquesas com diamantes e estou com as pernas cruzadas num ângulo perfeito, cada vez que os barcos de turistas veem as câmeras, seis ou sete deles nos rodeiam. Gritando “Un’attrice, vieni! Un’attrice!”, o guia me aponta e dezenas de japoneses vêm em nossa direção para tirar fotos e pedir meu autógrafo. No início, isso tudo me diverte muito. Mas, depois de cem tentativas que se prolongam por quase três dias, decidimos filmar num canaletto [canal menor] com uma pontezinha sobre a qual um ragazzo com roupas medievais me joga uma rosa, que recebo com um sorriso e um beijo no ar; conseguir o bello ragazzo biondo [belo rapaz louro] foi outro drama, porque em Veneza todo mundo vive do turismo e um modelo louro cobra milhares de dólares. No final tudo saiu bem, e com o tempo meu comercial veneziano se transformará num dos mais memoráveis de toda a história da publicidade colombiana. Pelo resto da minha vida, e por culpa daquela viagem inesquecível e dos meus honorários elevados, meus colegas dirão desdenhosamente que fui “só uma modelo”. As más línguas daquele país dirão inclusive que, para cortar os custos das passagens e do hotel, a Alas Publicidad teve que reconstruir sobre o rio Grande de la Magdalena uma grande parte de Veneza!
Pablo me ligou duas vezes por semana para me dizer que tudo está bem e que as coisas já estão mais tranquilas. Hoje estou de volta e contando as horas para vê-lo, para podermos nos jogar nos braços um do outro e dizermos quanto sentimos saudades, para entregar a ele seus presentes e dizer como a vida é generosa comigo e como as pessoas são maravilhosas quando estou fora da Colômbia, porque brilhar radiante de felicidade não é pecado nem crime capital em outros países. E sei que ele vai sorrir para mim com enorme ternura enquanto me contempla orgulhoso, porque me entende como ninguém e conhece como nenhum outro o poder que a inveja tem de nos fazer mal.
Depois de quase um mês de ausência, e em meio a tantos motivos de comemoração e alegria, quem poderia imaginar as dimensões da ira e do ódio dos donos de uma cidadela de quinhentos hectares diante de sua perda? E diante do descuido de perder cerca de catorze ou dezessete toneladas de coca e 40 mil a 50 mil dólares por quilo nas ruas dos Estados Unidos, mais os aviões, os insumos e todo o resto? Como eu poderia adivinhar que a Tranquilândia também pertencia a Pablo e que o valor das perdas chegava a quase 1 bilhão de dólares naquela época, ou seja, por volta de 2,5 bilhões de dólares de hoje?
E o tiro que arrebenta no dia seguinte à minha chegada a Bogotá e ressoa em cada canto da Colômbia e em todos os noticiários e jornais do planeta. Estoura na minha cabeça, e a minha felicidade vai voando em átomos, e minhas ilusões são feitas em pedaços. Explode em meus ouvidos, e meu mundo se destrói em instantes e meus sonhos viram cacos. E sei que nada mais voltará a ser como antes. Que enquanto eu viver não conhecerei outro dia de felicidade completa. Que quem mais amei na minha vida deixou de viver e nos condenou só a sobreviver. Que a partir de hoje o ser mais livre da Terra será apenas um eterno fugitivo da justiça. Que o homem que amo será só um eterno desertor até o dia em que o capturarem ou a noite em que o matarem.
Por que naquele dia da Beretta não me dei conta de que ele pretendia matar o ministro da Justiça? Por que fui para a Itália em vez de ficar do seu lado oferecendo 1 milhão de argumentos para impedir que cometesse tamanha estupidez? Por que ele está rodeado apenas por imbecis que não veem as consequências de seus atos e de assassinos de aluguel que obedecem a tudo o que pede como se ele fosse um deus? E por que você me castiga assim, Senhor, se eu nunca fiz mal a ninguém? E por que a vida é tão cruel e tudo é tão fugaz e nada dura? E por que você o colocou no meu caminho para que ele fosse minha cruz, se ele já tinha família e mulheres, e sócios e políticos, e seguidores e exército, enquanto eu não tinha ninguém e nunca tive nada?
No funeral de Rodrigo Lara Bonilla, o presidente Belisario Betancur anuncia a assinatura do Tratado de Extradição com os Estados Unidos, que entrará em vigor ipso facto. Várias vezes observo na tela da TV o rosto da jovem viúva Nancy Lara, tão banhado em lágrimas como o meu. Duas horas depois, Pablo me liga. Ele me suplica para que não fale, que não o interrompa e memorize cada uma de suas palavras.
— Você sabe que vão colocar esse morto na minha conta e que tenho que ir embora agora do país. Vou estar bem longe e não vou poder escrever nem telefonar para você, porque, a partir de agora, você será a mulher mais vigiada da Colômbia. Não se separe daquele marfim que eu te dei de presente e pratique tudo o que te ensinei. Não confie em ninguém, muito menos em amigas e jornalistas. Se perguntarem por mim, você vai dizer, sem exceção, que não me vê há quase um ano e que estou na Austrália. Deixe os presentes na casa da namorada do meu amigo, que eu mando buscar essa mala depois. Se não puder voltar à Colômbia, mandarei coisas para você quando tudo se acalmar. E você já vai ver que depois de um tempo tudo se acalma. Não esqueça que eu te amo com todo o meu coração e que vou sentir saudades todos os dias. Até logo, Virginia.
“Vá com Deus, minha vida. Vá com Deus, meu amor”, canta Connie Francis naquela despedida comovente que, sem saber por quê, emociona cada fibra do meu coração desde que sou pequena. Mas… como eu poderia enviar a Deus um assassino desses, sabendo que meu idealista morreu e que em seu lugar nasceu um vingador sem entranhas? Com a consciência de que tudo em meu líder popular morreu e que nasceu aquele guerreiro sem uma gota de compaixão?
Só sei que sou apenas uma mulher, impotente. Que a partir de agora ele será cada vez mais um estranho para mim, cada dia menos meu… Que estará cada vez mais ausente, cada dia mais longe… Que sua capacidade de defesa o fará cada vez menos misericordioso, sua sede de vingança cada dia mais implacável… E que de hoje em diante cada um de seus mortos será também meu, e que carregar todos eles talvez seja o meu único destino.