O Garoto do Café Expresso está me encarando de novo.
Ele não quer que eu perceba. Toda vez que noto que está me olhando, ele desvia o olhar ou então finge que observa as camisetas do Joe, na parede atrás de mim.
Ele é bonitinho. Eu podia até ir conversar se estivesse interessada. Pela minha experiência, vale a pena ser direta. Os garotos ficam totalmente lisonjeados quando sabem que você gosta deles. Só que não é ele quem eu quero lisonjear.
Sadie disse que me encontraria aqui depois da aula. Ela está atrasada. Tento evitar contato visual com o Garoto do Café Expresso por mais tempo do que o aceitável. Está ficando impossível ler meu livro assim: ou sinto que ele está me encarando ou fico paranoica achando que pode estar me encarando. Quando vou até o balcão comer um lanche, percebo claramente que não está concentrado em seu laptop.
Estou prestes a ligar para Sadie quando meu telefone toca.
— Desculpe! — diz Sadie. — O senhor Peterson me pegou antes de sair e não parava de falar. Estou a caminho.
— Na verdade, não podemos nos encontrar em outro lugar?
— Por quê?
— Ele está aqui novamente — sussurro.
— O Garoto do Café Expresso?
— É.
— Será que ele não poderia ser um pouco mais óbvio?
— Não exatamente, não. Onde você está?
É impressionante como, em apenas três semanas, minha atitude com Sadie mudou. Eu achava que nunca poderíamos ser amigas e agora passeamos de vez em quando depois das aulas. A princípio, conversávamos principalmente sobre monitoria, mas já posso sentir uma mudança em nossas conversas. Começou no dia em que Sadie evitou Carlos na Rite Aid. O fato de ter compartilhado seu segredo nos tornou imediatamente mais próximas. Uma parte de mim está aliviada por ter uma amiga aqui, mesmo que eu não estivesse procurando.
Quinze minutos depois, nos encontramos na esquina da Greenwich com a Charles Street. Nós já esvaziamos as mochilas em casa para não ficarmos sobrecarregadas.
— Este — diz Sadie — é meu caminho favorito.
Nós descemos a Charles Street pelo lado preferido de Sadie. É um trajeto que já é familiar para mim. Quando vou sozinha ao parque, geralmente relaxo no jardim zen ou só observo as luzes da cidade, mas, desta vez, viramos à esquerda e continuamos caminhando pelo rio.
— O senhor Peterson adora você — comenta ela. — Ele só fala em você.
— Sério?
— Nós dois somos admiradores do seu grande cérebro.
— Para!
— Espera aí, você sabe que é verdade. Por que não admite que é um gênio?
Fiquei aterrorizada.
— O senhor Peterson te contou?
— Contou o quê?
— Nada. Podemos não falar sobre escola?
— A quitinete é descendo aqui. — Sadie muda de assunto. — Nós podemos ir lá um dia. Os cupcakes deles competem com o Crumbs.
— Estou dentro.
— Então, eu voltei ao Rite Aid...
— Quando?
— Ontem.
— Você o convidou para sair?
— Não, não o convidei para sair. Eu mal consegui olhar para ele!
— Tem algum jeito melhor de ganhar a confiança de um garoto do que convidá-lo para sair?
— Para você, é fácil dizer isso. Você é maravilhosa!
— Você comeu um prato de demência como acompanhamento no almoço?
— Se eu fosse como você, não teria nenhum problema em convidar alguém para sair.
Não consigo entender por que Sadie tem autoestima tão baixa. Será que ela já foi rejeitada por um garoto? Ou então teve uma experiência desagradável com alguém que amava, como eu tive?
Sadie está certa sobre este caminho que estamos fazendo. É impressionante! Não por causa de alguma coisa em especial, é mais pela sinergia da água e dos edifícios, da iluminação das ruas e das pessoas. Tudo isso está me deixando emocionada. Tem alguma coisa nesta energia que me faz lembrar todas as emoções que eu sentia na minha cidade, querendo tão desesperadamente estar aqui: o desejo profundo, o anseio pela agitação e a paixão pela vida na cidade. E é diferente de andar sozinha. Compartilhar isso com Sadie torna a experiência, de alguma forma, mais intensa, mesmo que ela não saiba o quanto isso significa para mim. Espero que esta pressa de estar finalmente fazendo parte de tudo que eu sonhei nunca desapareça.
Nós passamos por uma antiga fábrica de papel com letreiros desbotados. Adoro descobrir prédios que antes serviam para outra coisa. É bacana como eles conseguem ter a chance de se reinventar.
— Isso é tão legal! — exclamo.
— O quê?
— Aquele prédio. Aparentemente, era uma fábrica de papel.
— Ah, é... Que legal!
— E aquela caixa-d’água elevada ali.
— Você repara em caixas-d’água elevadas?
— Claro! Eu adoro.
— Por quê?
— Acho que são bonitas.
— Ah, nunca reparei.
Eu me lembro da primeira vez que vi Ree desenhando. Fiquei com tanta inveja porque ela morou aqui a vida inteira, envolvida pela energia, luzes e edifícios, mas talvez essas coisas sejam como barulho de fundo para quem é daqui. Talvez você tenha que experimentar a cidade como um lugar totalmente novo para apreciá-la como eu. A menos que você seja o John. Ele não é como todo mundo.
— É legal como você consegue fazer isso — diz Sadie. — Você só vê as partes boas da cidade.
— É impressionante o que você vê quando olha para cima.
— Acho que estou ocupada demais olhando para baixo. Não quero pisar em nada.
— Ei!
— Desagradável, mas é verdade.
— Bem, eu tinha vontade de morar aqui há muito tempo. Estou meio... apaixonada!
— Eu não sabia disso.
— Você é a primeira pessoa, aqui, para quem eu conto.
Não sei se é essa caminhada incrível ou o fato de ter uma inesperada amiga nova ou toda a empolgação por tudo que aconteceu desde que cheguei aqui. De repente, simplesmente quero contar para Sadie por que estou aqui. Quero compartilhar isso com alguém que não fique escandalizado com minha decisão, como Candice, ou empacada no meio, como April. Dei este salto enorme, que alterou toda a minha vida, sem realmente poder compartilhar a experiência com alguém.
Mas não posso contar para ela ainda. Scott tem de ser o primeiro a saber e, espero, ele vai gostar do que irá ouvir.